capítulo vinte e oito
Eu nunca visitara Paris.
Na verdade, eu nunca tinha saído dos Estados Unidos sem Nikolai antes. Como eu nunca tive dinheiro para esse tipo de coisa, a maioria das viagens que eu já fizera durante toda a minha vida aconteceram no ano em que namorei Nikolai. Logo nas primeiras semanas de namoro, ele me convidou para passar um final de semana em Nova York. Depois, ao longo do ano, visitamos mais alguns lugares, como as Ruínas de Pedra, na Jordânia, com sua beleza única esculpida inteiramente em arenito; certa vez, fomos ao Rio de Janeiro, no Brasil, porque, segundo Nikolai, ele sempre quis ver o Cristo Redentor de perto; e, no meu aniversário no ano anterior, ele levara eu e Naira para visitar o Taj Mahal, na Índia.
Contudo, agora, um ano depois, faltando poucos dias para o meu aniversário, tudo mudara. Minha festa de noivado foi atacada... Por mafiosos. Mafiosos inimigos, do outro lado do país, que queriam tomar para si a máfia da família do meu noivo. A máfia dos Tarasova. Aqueles mesmos Tarasova que eu tinha conhecido anos antes, que eram meus amigos e... Bem, no caso de Dimitri, bem mais que amigos. Todos eles envolvidos com uma máfia centenária da família, passada de geração em geração e agora, de alguma forma, conseguira me envolver no meio. Me envolver no meio de uma guerra.
Talvez eu devesse colocar na minha lista de características que eu procurava num homem "ser criminoso" já que aparentemente eu só atraía homens da máfia.
Era ainda difícil de processar. Henry, aquele rapaz divertido e forte que me acolhera como uma irmã mais nova, levara cinco tiros na perna e perdera o namorado numa guerra de máfias. Kessie, a gêmea divertida e gente boa que iluminava a vida de todas, levava uma arma escondida em sua coxa. Nikolai, meu noivo, a pessoa que eu mais amava e confiava no mundo... simplesmente escondera aquilo de mim. Escondera seu passado, e tudo que fizera contra seus irmãos. E, Dimitri, meu primeiro amor, terminou nosso relacionamento anos atrás para me proteger, e ainda insistira para que o irmão mais velho me contasse a verdade quando ficamos noivos. Mafiosos. Todos eles. Com sangue nas mãos e cercados de guerra.
Mas isso não deveria mudar a forma como eu os via, deveria? Não, ser parte da máfia... Não mudava quem eles eram, certo? Não deveria mudar... Não podia mudar.
Eles ainda eram os mesmos Henry, Kessie, Dimitri e Nikolai... certo?
Eu teria que descobrir. Descobrir se ainda confiava neles. Descobrir até que ponto... Até que ponto a máfia mudaria as coisas.
Mas eu realmente não queria que nada mudasse.
Eu estava acordada, mas sonolenta, quando aterrissamos em Paris. O chacoalhar e o barulho do jatinho particular ao pousar em terra arrancou qualquer sono do meu corpo. Não que eu tivesse coragem de dormir, sabendo dos pesadelos que esperavam em meu subconsciente. Olhei pela janelinha ao meu lado, apenas para ver uma grande pista de pouso, limpa e organizada, mas completamente vazia, com exceção de uma frota gigantesca dos mais variados tipos de avião.
— Essa pista é privativa. — explicou Dimitri, pondo-se de pé num suspiro. — E minha madrasta é obcecada por tudo que voa.
Não ousei responder, ou me levantar. Nem sabia se possuía forças para isso. Ou vontade. Eu podia até ter trocado de roupa na noite anterior, mas a falta de banho estava me incomodando até demais. Suspeitava que fosse precisar de uns cinco banhos para tirar aquela sensação de sangue da minha pele. O sangue da senhora Shopperau, principalmente. A mulher que levara um tiro na minha cabeça diante de mim. Nunca esqueceria dos olhos assustados e arregalados em seu corpo gélido; não tinha dúvidas de que eles se uniriam a Michael para assombrar meus pesadelos.
Esperei até que tudo e todos tivessem descido do avião para me levantar. Mas Dimitri não me apressou. Ele ficou esperando no carro com nossas malas, no assento ao lado do motorista, até eu ir até ele. E eu fui. Não queria atrapalhar seus compromissos, ou atrasá-lo. Então, mesmo totalmente exaurida de energias, caminhei apressadamente até aquele carro preto e me sentei no banco de trás. Dimitri me lançou um olhar rápido pelo retrovisor, como se quisesse garantir que eu não tinha me tornado uma morta-viva, e ordenou que o motorista começasse a dirigir. Mas não fomos só nós que demos partida; quatro motos, duas na frente e duas atrás de nós, nos seguiram. Para proteção, imaginei.
Vendo a pergunta nos meus olhos, Dimitri esclareceu:
— O Comerciante de Almas não tem jurisdição aqui. Mas prefiro não arriscar.
Assenti, recostando a cabeça na janela para analisar a paisagem. Eu sempre quis visitar Paris. E não apenas porque Paris era Paris, com todo seu esplendor cultural, romântico e sofisticado, com paisagens históricas e rica arquitetura; mas também simplesmente porque aquela cidade respirava arte. Paris carregava um acervo dos mais fascinantes museus e galerias, sem contar as pinturas e artistas famosos. Tudo sobre aquele lugar que eu via em sites, revistas e filmes fazia meu sangue artístico fervilhar em inspiração. Mas, naquele momento, eu simplesmente... Simplesmente não conseguia pensar como artista. Não naquela situação. Naquela... guerra de mafiosos.
Estava um pouco frio naquela manhã, mas não o suficiente para ser desagradável. O início da estação do outono começava a atingir a paisagem verde parisiense, desbotando-a pouco a pouco para tons de amarelo e laranja. As pessoas na rua usavam casaquinhos leves, mas consegui reparar em um ou outro que exagerara nas proteções contra o frio. E aquelas ruas... Magníficas e charmosas avenidas com ruelas estreitas, calçamento de paralelepípedos e grandes boulevards, além da prevalência do estilo haussmanniano na arquitetura contemporânea da cidade.
Eu estaria absolutamente deslumbrada, se não estivesse paranoica, pensando que algum dos homens com cicatrizes perto do olho do Comerciante de Almas surgiriam a qualquer momento na multidão.
A filial da rede de Hotéis e Resorts Tarasova em Paris era, sem sombra de dúvida, o local mais luxuoso e refinado que eu já estivera em toda a minha vida. Me senti quase cegada, minha visão tomada pela sua magnificência e pompa. Como se tivesse sido feito todo em ouro, as paredes, escadas e até os móveis do hotel tinham tons de dourado e bege; e eu não duvidava que alguns daqueles itens, como os quadros e espelhos, fossem realmente feitos de ouro. Sobretudo, um número adequado de vasos de flores elegantes e vistosas decorava os cantos e corredores. O salão de entrada brilhava à luz daquela manhã amena e, no minuto em que colocamos os pés para dentro, fomos imediatamente atendidos pelos mais gentis concierges.
Me perguntei se eles sabiam que estavam trabalhando para um mafioso.
Fomos levados até o último andar do hotel, onde o apartamento dos Tarasova nos aguardava. Não me surpreendi ao ver que o apartamento era tão sofisticado quanto o resto do hotel; talvez até mais. Reparei que, em alguns aspectos, aquela residência era parecida com a outra, no hotel de São Francisco, principalmente devido à presença de uma biblioteca suntuosa com um piano no centro. Em outros, era completamente diferente, como na maior quantidade de flores e a organização mais precisa. Certamente quem cuidava daquele lugar era um perfeccionista de carteirinha, porque tudo estava impecavelmente ordenado.
De repente, avistei uma mulher descendo as escadas diante de nós. Uma senhora, na verdade. Belíssima. Absolutamente bela. E elegante. Ela trajava roupas sociais todas na cor preta, um salto alto extremamente fino e um chapéu listrado preto e branco que escondia parte de seus cabelos crespos e combinava com o paletó que usava por cima. A mulher usava luvas também, além de joias tão caras que eu tive certeza que apenas um daqueles brincos deveria custar o valor de um órgão meu. Ela era negra, tinha um olhar sério, nariz achatado e lábios grossos. Apesar das pequenas rugas aqui e ali, sua face era muito bem-cuidada, dando-lhe a impressão de ser mais jovem do que realmente deveria ser.
— Ora, ora, ora... O que temos aqui? — disse ela, olhando para mim.
— Olá, Amara. — disse Dimitri, esboçando um sorriso divertido.
— Eu não estou falando com você, montanha de músculos, estou falando com a minha convidada de honra bem aqui. — a mulher sorriu para mim de maneira tão acolhedora que não tive outra escolha a não ser retribuir. — Você falará comigo quando eu me dirigir a você.
— Sim, Amara. — respondeu o líder da máfia Tarasova, ainda sorrindo e mantendo seu tom de brincadeira.
— Agora, você. — a mulher, Amara, semicerrou os olhos para mim, dando uma volta ao meu redor e me analisando.
— Oi. — falei timidamente.
— Quem é você? — perguntou ela, por fim, ao parar na minha frente.
— Eu sou a noiva de Nikolai.
— Não. — a mulher balançou a cabeça, cruzando os braços.
— Amara, deixe as charadas para outro dia... — reclamou Dimitri.
Franzi as sobrancelhas, confusa.
— Sim, eu sou...
— Qualquer pessoa poderia ser a noiva de Nikolai. — esclareceu ela. — Qualquer pessoa um pouco biruta da cabeça, ouso dizer. Com todo respeito. Eu quero saber quem é você.
— Eu... — engoli seco. A pergunta era simples, e mesmo assim me atingiu em cheio. — Eu sou Elaine Róson.
— Melhor. Trabalharemos nisso. — Amara me lançou uma piscadela, o que me fez sorrir envergonhadamente.
— Amara é... uma amiga da minha madrasta. — disse Dimitri. — Ela cuida de tudo por aqui enquanto a minha madrasta está... fazendo as coisas dela.
— E ela faz muitas coisas. — acrescentou Amara. — Agora, Elaine, vamos deixar expulsar logo esse brutamontes para eu cuidar da sua estadia. — em seguida, ela se inclinou e sussurrou em meu ouvido. — E maldisser dele secretamente, claro.
— Ei, eu ouvi isso. — reclamou Dimitri.
— Você sabe que eu te amo, não sabe, Dimitri?
— Claro que sei, Amara. — então, ele se virou para mim e disse com honestidade, olhando nos meus olhos: — Amara vai cuidar de você, está bem?
— Está bem. — disse eu, e logo a mulher enroscou nossos braços e me levou para fora dali.
.
Amara me levou para o quarto de hóspedes, que era extremamente aconchegante, todo decorado em tons de cinza, bege e dourado e uma enorme cama cheia de travesseiros. Obviamente, a parte mais interessante do cômodo era a vista para a Torre Eiffel, porém, eu estava tão exausta que nem parei para admirá-la por muito tempo.
Amara me deixou sozinha, e eu finalmente pude tomar um banho. Quer dizer, tomei vários banhos. Toda vez que eu saía do chuveiro eu sentia como se não tivesse lavado todo o sangue quente e vermelho que antes escorrera pela minha pele, então, eu voltava para a água para me lavar mais uma vez.
Até que, a um certo ponto, percebi que não haveria banho no mundo que me faria esquecer a sensação daquele sangue. A sensação da morte, da vida se esvaindo diante dos meus olhos. Talvez eu superasse, ou talvez a morte de Michael, da senhora Shopperau, e das outras quinze pessoas na minha festa de noivado — incluindo Declan Shopperau — me assombrassem pelo resto da minha vida. Não tinha certeza. Era muito para processar. Em menos de vinte e quatro horas, meu mundo tinha virado de cabeça para baixo e eu ainda estava tentando descobrir como lidaria com aquilo.
Quando saí do banho, a cama parecia extremamente atraente. Principalmente para alguém que não dormia desde a noite anterior ao dia da festa. Por isso, uma dor de cabeça irritante insistia em tomar conta da minha mente, até pensar doía. Ao mesmo tempo, tudo que eu fazia era pensar, pensar em tudo que acontecera e reviver aqueles momentos. Eu certamente precisava de um descanso — na realidade, meu corpo implorava por um —, mas estava com medo das imagens assombrosas que me acompanhariam no instante em que eu fechasse meus olhos.
Eu me sentia consumida pelo cansaço, minha vista pesava, minha cabeça doía, mergulhada em sentimentos de medo, confusão e indignação. Eu não soube exatamente o que viera primeiro, o sono, ou as lágrimas, mas, quando encostei a cabeça no travesseiro, comecei a chorar. E chorei até adormecer.
Naquela noite, e no dia seguinte, Amara insistiu que eu poderia fazer minhas refeições na sala de jantar, pois Dimitri não estaria lá, mas eu dei preferência a comer no quarto mesmo assim.
Não fiz praticamente nada. O que me fez sentir péssima, claramente, pois uma guerra estava prestes a começar e não havia nada que eu pudesse fazer. Eu não passava de um possível alvo que caíra de paraquedas no meio daquelas intrigas. Apenas fiquei de pijama o dia inteiro, observando a vista da janela e passando os canais de televisão — o que não adiantou muito porque eu não entendia francês.
Amara me chamou para explorar a casa depois do café da manhã. Ela me levou a biblioteca, e eu até ousei sentar no piano, mas não estava com muita vontade de tocar. Também lembrei como Dimitri tinha trauma de uma certa música, que tocava quando seu pai foi morto em sua frente. Eu nem conseguia imaginar a dor que ele deveria sentir. Eu só queria... queria que aquelas pessoas que eu tanto me importava não tivessem que levar aquela vida.
Pouco antes do almoço, eu estava sentada na varanda do meu quarto, refletindo enquanto admirava a vista para a bela cidade da luz, quando, de repente, escutei alguém bater na porta:
— É o Tarasova mais bonito! Posso entrar?
Respirei fundo. Dimitri.
— É a sua casa. — falei, indiferentemente, e logo escutei o som da porta se abrindo, mas não me dei ao trabalho de olhá-lo quando ele tomou a cadeira ao meu lado.
— É o seu quarto. — disse ele, olhando para mim e depois para a vista. — O que está fazendo?
— Jogando um jogo. — murmurei, sem tirar os olhos das pessoas lá embaixo. Dimitri ficou em silêncio, esperando que eu prosseguisse com a explicação. — Eu olho para as pessoas e tendo advinhar como são suas vidas.
— Hum... Como acha que é a vida daquela pessoa? — indagou o Tarasova de olhos azuis, apontando para um homem baixinho, careca e usando óculos que estava rodeando uma floricultura fazia alguns minutos.
— Ah, eu acho... — mordi o lábio, pensando. — Acho que ele nem gosta tanto de flores assim. Mas está apaixonado pela funcionária da floricultura. — acrescentei, apontando para uma moça jovem de pele negra e um belo sorriso, que organizava um arranjo de flores não muito longe do homem. — Por isso, ele vem aqui todos os dias, esperando que esse seja o dia em que ele consiga falar com ela. A casa dele já está cheia de flores, mas ele continua vindo.
— Uau. Você é... bem mais romântica que eu. — riu Dimitri, passando a mão no cabelo. — Eu ia dizer que ele é um homem terrível que compra flores para a esposa para se desculpar pelas traições.
— Isso é... bem, nada romântico. — ponderei, um leve sorriso triste ousando despontar dos meus lábios. Também, depois de tudo que ele vivera... — E aquele ali?
Um homem bem-vestido, com um enorme nariz, que discutia na calçada com uma moça de corpo curvilíneo usando um lindo vestido vibrante de cor carmesim. A discussão piorou tanto que ela começou a bater nele com uma bolsa.
— Ah, esse... Ele se meteu numa grande furada. Ele se apaixonou por essa moça com ele, mas guardava um segredo dela. Agora, ela voltou para a vida dele, descobriu o segredo e os dois estão brigando por isso.
Arrisquei olhar nos olhos de Dimitri, dentro daquelas esferas oceânicas. Ambos sabíamos que não era daquele casal lá embaixo ao qual ele se referia.
— Talvez ela só esteja confusa e chateada por descobrir, de repente, que todos que ela conhece são criminosos. — eu só pensei na minha frase depois de dizer. Meu pai... Meu pai também era um criminoso. Estava na cadeia por crimes que eu só fiquei sabendo que ele cometera quando foi pego. E mesmo assim ainda não entendia direito. "Tráfico humano" foi tudo que me disseram.
Meu pai, meu noivo, meu primeiro amor, meus únicos amigos da juventude... Todos tinham algo em comum.
— Ouch. — exclamou Dimitri, mas a postura brincalhona nunca o deixava. — Mas eu... eu acho que aquele homem está dizendo para aquela moça que ele não pode, e não irá, se desculpar por ser quem é.
Engoli seco, sem quebrar o contato visual.
— E eu acho... Acho que a moça diria que ele não precisa... Não tem que se desculpar, na verdade.
Um obrigado silencioso surgiu no olhar azul de Dimitri. Alguns segundos de contato visual depois, ele pigarreou e se ajeitou na cadeira antes de dizer:
— Eu vim trazer notícias. Não quero que mais nenhum segredo seja guardado de você. — assenti para que ele continuasse. — Nós estávamos seguindo um dos capangas do Comerciante de Almas, e descobrimos um ponto de tráfico em São Francisco, já em ação. E decidimos agir. As pessoas no caminhão de tráfico foram resgatadas e estão sendo assistidas.
Senti um aperto no coração. Aquilo era... horrível.
— Então, não tem mais pistas sobre esse cara?
— Não, mas seria desumano ignorar aquelas pessoas. — disse Dimitri, sem titubear. — Por enquanto, a investigação continua. — ele tentou soar otimista, e minha mente imediatamente se direcionou à Kessie.
— Obrigada por me contar.
Dimitri sorriu e se pôs de pé.
— Obrigado por não me bater com uma bolsa.
.
No jantar, comi no quarto mais uma vez. A vista estava deslumbrante, eu não podia negar. Todas aquelas luzes... A Torre Eiffel sozinha já fazia como se eu me sentisse dentro de uma obra de arte.
Quando terminei de comer, desci para levar meu prato para a cozinha. Porém, no caminho, escutei vozes — várias vozes — e aquilo por si só fez meu coração disparar. Sem contar que estava de noite, e eram poucos os cômodos da casa que estavam iluminados. Então, curiosa e assustada, segui as vozes com uma faca de jantar estendida até... Até a cozinha.
A pequena mesa no centro da cozinha estava cheia. Dimitri, Amara, e todos os outros funcionários da casa jantavam juntos, rindo e até mesmo fazendo comentários de zombaria sobre o Comerciante de Almas. A luz amarelada no teto, o pequeno espaço aconchegante e a união e diversão entre as pessoas ali tornava o lugar tão... acolhedor.
— Elaine? — disse Dimitri, surpreso, mas alegre ao me ver. Todos se calaram e olharam para mim, o que me fez corar.
— Desculpe, eu só estava trazendo os pratos, não queria incomodar...
— Nada disso! Onde já se viu convidada incomodar? — falou um homem, num tom engraçado mas, de certa forma, indignado.
— Junte-se a nós, Elaine. — convidou Amara, indicando o assento vazio ao seu lado. Todos os outros incentivaram, mas era para Dimitri que eu olhava quando me sentei.
Toda parte sua conectada com toda parte minha, dissemos um ao outro certa vez. Aquela... Aquela era uma parte de Dimitri que eu não conhecia. Ou melhor, que não sabia que ainda existia. Roupas informais, apenas rindo e batendo papo. Pelo seu sorriso, ele parecia feliz que eu estava ali... dentro do seu mundo. Nenhum de nós dois desviou o olhar.
— Nós estávamos aqui falando sobre como a aparência do Comerciante das Almas deve ser. — falou um outro homem.
— Aposto que ele é bem feioso! — gritou uma mulher.
— Ele deve ter uma cicatriz gigantesca perto do olho!
— Não, aposto que ele nem deve ser tão assustador assim!
— Eu acho que ele deve ter um nariz bem torto.
— Bem... — foi a vez de Dimitri de se pronunciar. — Se ele não tiver um nariz torno, ele terá depois do soco — ele fechou uma das mãos num punho e a mostrou para todos — bem forte que eu der na cara dele.
Todos começaram a urrar e gargalhar, incentivando e apoiando a fala de Dimitri, e eu não tive outra escolha a não ser rir. Um até mesmo bateu na mesa, e eu escutei Amara dizer em tom de aviso:
— Modos, por favor.
Então, me inclinei para ela, no meio daquela baderna e perguntei em seu ouvido se os funcionários sabiam da máfia.
— Ora, é claro que sabem. — ela respondeu num tom igualmente baixo. — Todos que trabalham para os Tarasova, desde o faxineiro até o contador, todos nós sabemos da máfia. Fazemos parte dela.
— Por que?
— Porque a máfia nos salvou. Todos nós. Porque aquele homem ali — ela apontou para Dimitri — faz qualquer coisa para ajudar alguém, e nunca pede nada em troca. Ele morreria salvando o mundo, Elaine. Morreria por nós, por nossas famílias. E nós morreríamos por ele. Lealdade, gratidão e respeito. Por isso o seguimos. Pergunte a qualquer um. A guerra está começando, e ele mais uma vez perguntou se queríamos ficar. Nos deu uma escolha, e ninguém quis sair.
— Vocês não se preocupam com as pessoas que se machucam?
— Você realmente acha que Dimitri permitira que alguém que não merece se machuque?
Não. Eu conhecia Dimitri o suficiente para saber que não. Sem sombra de dúvida.
Porque, como eu percebi naquele dia, a máfia Tarasova era diferente do que eu pensava que fosse. Diferente do que meu pai, um traficante de pessoas, era. A máfia Tarasova uma organização de pessoas que eram leais uma a outra, que protegiam e respeitavam os seus como parte da família, e mesmo que suas ações fossem ilícitas, eles nunca... Nunca atacariam civis. Nunca atacariam inocentes. Não como o Comerciante de Almas e seus capangas faziam.
De repente, a ideia de ver aquele mafioso do leste, aquele que ansiava a queda dos Tarasova, morto na minha frente parecia menos repulsiva e mais... atrativa. Isso acabaria com a guerra, afinal. E todas aquelas pessoas, tanto da máfia, como fora dela, estariam seguras.
Me juntei à Dimitri e aos outros no café da manhã.
.
oioi gente, como vcs estão?
mais um capítulo, agr em paris 🗼 espero que gostem da frança, porque a elaine vai ficar aqui por um tempo 👀
bjsss e até o próximo capítulo
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