capítulo vinte e dois
verão de 2013
— Nós já colocamos tudo? O papai já imprimiu nossos tickets de viagem? Ah! Os carregadores de celular, não podemos esquecer deles. E suas meias, mãe, você sempre esquece das meias embaixo da cama.
Eu andava de um lado para o outro no quarto dos meus pais, ajudando-os freneticamente a organizar as malas. Aquela era a nossa última noite em São Francisco, e, no dia seguinte, partiríamos de volta para casa. Por mais ansiosa que estivesse para começar a faculdade, meu coração se partia ao pensar em deixar Dimitri e meus amigos. Não tínhamos conversado sobre o futuro ainda, e todo o meu nervosismo estava sendo descontado na arrumação das malas.
— Elaine. — minha mãe me segurou pelos ombros, me fazendo encará-la. — Relaxe. Eu e seu pai somos adultos, imagino que conseguiremos arrumar nossas coisas sozinhos.
Suspirei, inquieta.
— Mas, mãe...
— Escute sua mãe, Elaine. — foi a vez do meu pai de se pronunciar. Ele estava diante da cama, gentilmente dobrando os vestidos da minha mãe. — Vá se divertir. É o último dia, afinal.
— Exato. — concordou minha mãe. — Você não tinha uma festa para ir?
— Sim... — murmurei em resposta. De fato, para celebrar o último dia do verão, todos os anos Kessie organizava um luau na praia. Nós tínhamos combinado de nos arrumarmos juntas, já que ela me emprestaria uma de suas roupas, mas eu provavelmente estava atrasada por passar tanto tempo naquela arrumação.
— Então, vá. — insistiu minha mãe. — Vá.
— Está bem. Amo vocês.
Com isso, deixei o quarto de hotel dos meus pais e disparei para o último andar, para o apartamento dos Tarasova. Foi Henry quem abriu a porta. Ele me cumprimentou rapidamente, pois estava ocupado assistindo a um jogo de basquete, e disse que eu poderia subir as escadas, já que Kessie me esperava lá. Mas também me alertou que sua gêmea estava estressada por não estar achando sua roupa preferida, e que eu deveria levar um travesseiro. Não entendi muito bem a última parte, contudo, segui seus comandos mesmo assim.
— Kessie? — a chamei, batendo na porta do seu quarto. Para a minha surpresa, a porta estava destrancada, e se abriu no instante em que eu toquei nela. Foi quando eu compreendi o motivo de Henry ter me mandado até lá com um travesseiro, pois um rímel voou pelos ares em minha direção, e foi a almofada que protegeu meu rosto.
— Elaine, desculpe! — escutei Kessie falar, fazendo uma careta e rindo fracamente.
— Sem problema. — ri também, adentrando no seu quarto. O cômodo todo decorado em cor de rosa estava uma bagunça. Roupas, maquiagem, acessórios e bichinhos de pelúcia para todo lado. Kessie estava bem no centro de uma pilha de roupas; ela já estava pronta, com exceção da roupa. — Henry me falou que você não está achando algo, quer ajuda?
— Sim, por favor! — exclamou ela, me entregando uma montanha de roupas. — Eu estou tentando achar a saia que eu uso todos os anos no luau. Na verdade, eu tenho duas, mas a azul é menor, então eu ia emprestá-la para você!
Olhei para o quarto ao nosso redor, para a desordem que nos cercava.
— Sabe, eu provavelmente estou errada, mas... Eu tenho a impressão que, talvez, seria um pouco mais fácil de encontrá-las se nós arrumássemos esse lugar.
— Arrumar tipo... Colocar tudo no lugar? — indagou Kessie, franzindo as sobrancelhas. Assenti com a cabeça. — E isso é possível?
— Eu pensei que nada fosse impossível para Kessie Tarasova. — falei, sorrindo de forma travessa. Minha fala imediatamente motivou Kessie, e ela concordou em arrumar o quarto. Trabalhando juntas, nem demoramos tanto e, felizmente, logo localizamos as duas saias.
As duas peças de roupa eram realmente muito bonitas. Eram saias longas retas, cada uma com fenda que destacava a perna de quem usava. A saia que eu usaria era azul e decorada com flores brancas, no tempo que a de Kessie tinha um tom amarelo sólido, combinando com o girassol em seu cabelo. Na parte de cima, eu usaria um top branco de alcinha, que deixava à mostra uma pequena linha da minha barriga. Eu amava joias, mas escolhi manter um estilo mais simples e elegante, colocando nada além de pequenos brincos dourados que harmonizavam com uma corrente no mesmo tom. Por incrível que pareça, ao me olhar no espelho, eu... Eu gostei do resultado.
Kessie fez a minha maquiagem rapidamente, e com uma maestria sem igual. A gêmea Tarasova era incrivelmente habilidosa com as mãos, de fato. Naquele momento, eu estava com os meus olhos fechados, sentada em sua cama, ao passo que ela suavemente aplicava uma camada de rímel em meus cílios. A noite caía lá fora, mas estávamos nos divertindo tanto juntas que nem percebemos.
— É à prova d'água. — escutei ela me dizer. — O rímel, digo. — apesar da sua risada, percebi um certo tom triste e até mesmo choroso em sua voz. — Só para o caso de você ficar muito emocionada e decidir chorar, nesse caso a minha linda maquiagem não vai estragar. — choramingou ela, me fazendo abrir os olhos apenas para vê-la tentar enxugar as próprias lágrimas. — Ah, que vergonhoso, sou eu que estou ficando emocionada.
— Kessie... — murmurei, surpresa com seu choro súbito.
— Desculpa, Elaine, é só que... Tem tantos homens aqui. — ela soluçou. — Não me deixe aqui com os homens, Elaine. Eu preciso de uma amiga.
— Kessie. — a chamei, puxando-a para sentar ao meu lado. Eu mesma estava ficando emocionada, nunca alguém verdadeiramente me chamara de amiga ou chorara somente por saber que ia sentir saudades minhas. — Eu não planejo deixar você nem se você quiser. Estou falando sério, você está presa comigo. Vai até enjoar de mim. — brinquei, e ela riu. — Só porque eu vou embora, não significa que a nossa amizade vai acabar.
— Céus, eu estou tão emotiva. — exclamou a gêmea Tarasova, enxugando as lágrimas e se acalmando. — Eu vou sentir tanto sua falta. Da mesma forma como eu sentiria falta de uma irmã. — ao escutar isso, segurei em suas mãos firmemente, tentando controlar o meu próprio choro.
— Eu vou sentir sua falta também, Kessie.
Não demoramos a ficar prontas. Enquanto descíamos as escadas, fomos recebidas por aplausos e assovios dos rapazes que já nos esperavam no andar de baixo. Dimitri, Henry e Aaron, os três prontos para o luau. Kessie fez uma reverência divertida, e eu apenas ruborizei.
— Você está linda. — disse Dimitri, estendendo a mão para me ajudar a descer os degraus. Não importava que três meses se passaram desde que o conheci, ainda sentia seu olhar azul penetrar em minha alma toda vez que nos encarávamos. E quando nossas mãos se tocaram... um exorbitante contraste entre minhas mãos pequenas e delicadas com as suas grandes e fortes. Sua mão envolveu a minha num abraço silencioso, e eu soube que não haveria nenhum outro lugar que eu me sentisse mais segura. — Você é linda.
Apenas sorri timidamente em resposta.
O local da praia onde acontecia luau organizado por Kessie já estava quase cheio quando chegamos. De todas as festas que eu já fora durante aquele verão, aquela era, de longe, a mais organizada. Havia uma grande fogueira no centro, com tapetes e troncos de árvore ao redor para nos sentarmos, além de várias mesas com petiscos e bebidas — todas elas servidas em copos com formato de abacaxi. Além disso, as árvores estavam todas decoradas com fios de luzes de led pisca-pisca amarelas, o que, juntando com a fogueira, tornava o clima do ambiente aconchegante e pitoresco. A música que tocava era animada, bem como as pessoas que dançavam ao redor do fogo. Sorri quando a areia fria tocou os meus pés descalços; eu estava disposta a aproveitar como nunca aquela última noite.
A primeira hora da festa passara num piscar de olhos. Nós cumprimentamos a maioria das pessoas e exploramos um pouco do local; até Kessie me puxar para dançar e eu não conseguir mais escapar.
De repente, uma música lenta começar a tocar. Não era lenta a ponto de ser uma valsa, mas o suficiente para que casais pudessem dançar abraçadinhos. Não demorou para eu sentir alguém cutucar o meu ombro e uma mão se ergueu diante de mim.
— Dança comigo? — perguntou Dimitri, fitando diretamente meus olhos, como se soubesse que seu olhar apenas bastava para enfraquecer meus joelhos. Honestamente, ele deveria saber sim.
— Pensei que nunca fosse perguntar. — respondi em tom de brincadeira, e segurei em sua mão. Dimitri nos guiou até mais perto da fogueira, onde outros casais dançavam, incluindo Aaron e Henry; Kessie observava, tirando foto de todos com a câmera fotográfica que pegara escondido do gêmeo.
Me distraí andando, e Dimitri teve que me puxar pela mão para eu voltar. Assim, nossos corpos imediatamente se conectaram e sua mão se posicionou em minha cintura; seu polegar tocando a linha exposta da minha pele e provocando arrepios em minha espinha. Sua mão livre se entrelaçou com a minha, e eu recostei as nossas mãos em seu peito. Então, nossos olhos se encontraram. E eu me deixei perder completamente no mar azul diante de mim, como uma náufraga louca que preferia ter seus últimos suspiros tomados pelo oceano do que encontrar refúgio em terra. Dimitri certa vez me dissera estar louco por mim, e aquilo nunca fizera tanto sentido. Eu era a náufraga louca, louca por ele. Por seus olhos. Olhos estes que me encaravam como se eu fosse a mais bela e formosa sereia de todo o seu oceano. Todavia, àquele ponto, eu não importava em ser náufraga, sereia, ou qualquer outra metáfora, desde que eu fosse dele.
Deixei que Dimitri nos embalasse ao som das músicas. A primeira estava um pouco mais agitada, e ele pode me rodopiar pela areia, e até mesmo me erguer no ar, fazendo a minha longa saia esvoaçar ao meu redor. Gargalhei quando ele me levantou pela cintura, e ainda mais quando ele me girou e me lançou de um lado para o outro tão rapidamente que eu mal tinha tempo de processar. Depois, a segunda música foi mais lenta. Deixei que ele controlasse o modo como meu corpo suavemente balançava no mesmo ritmo que o seu, enquanto eu me concentrava em nada além do calor da sua pele contra a minha e na minha respiração que se tornava cada vez mais pesada. Recostei minha cabeça em seu peito, e me permiti fechar os olhos. Segura. Eu me sentia segura.
E amada.
Mas não falamos aquilo em voz alta.
Assim como em todas as outras festas, quando o local começava a esvaziar, eu, os irmãos Tarasova e Aaron Hopkins nos uníamos para conversar, brincar, e simplesmente aproveitar a presença um do outro. Ainda mais que eu estaria partindo no dia seguinte. Nos sentamos ao redor da fogueira, e rimos e cantamos juntos quando Dimitri pegou meu violão para tocar. Eu não quis pensar no quanto sentiria falta daquilo. De estar ao redor dos meus amigos, nada além da boa companhia e do som das ondas do mar para tornar aqueles momentos memoráveis.
— Acho que essa... — escutei Aaron suspirar quando Dimitri encerrou mais uma canção. — essa é a parte em que eu agradeço por tornar meus verões tão maravilhosos. — disse, acanhado. Eu sabia o motivo. Os pais de Aaron eram separados, e ele costumava passar os verões com o pai, até ele morrer. Desde então, Aaron passou a ficar trancafiado no quarto durante aqueles meses, todo ano, até ele se tornar amigo dos Tarasova. — Nunca vou poder agradecer tudo que fizeram por mim.
Eu não os conhecia na época em que tudo aquilo aconteceu, mas segurei no ombro do loiro para demonstrar apoio, oferecendo-lhe um sorriso amigo.
— Eu me contentaria se você nomeasse um dos seus gatos em minha homenagem. — disse Dimitri, em tom de brincadeira, e Kessie o empurrou de leve. — Mas, sério, não tem que agradecer. Você é nosso amigo.
— Namorado, no meu caso. — corrigiu Henry, e todos riram.
Continuamos conversando até a praia esvaziar. Então, achei que dormiríamos na praia, como de costume, mas não havia lençóis suficientes para todos nós. O que me fez estranhar, pois Kessie sempre vinha preparada.
— Gente, acho que tem lençóis faltando. — comentei. Para a minha surpresa, Kessie e Dimitri trocaram olhares suspeitos, e meu namorado sorriu para mim ao dizer:
— Na verdade, Kessie me ajudou com uma pequena surpresinha de despedida.
— Uma surpresa? — arregalei os olhos, soltando uma risadinha, sentindo-me confusa e animada. Uma surpresa de despedida? O que isso significava? O que poderia ser?
— Só vá e me agradeça depois. — disse Kessie, me lançando uma piscadela. Então, me despedi dos gêmeos e de Aaron e acompanhei Dimitri para fora da praia, sempre segurando firmemente em sua mão. Nós fomos até o carro dele, a verdinha, o que atiçou ainda mais a minha curiosidade. Mas Dimitri conseguira me distrair muito bem com conversas e brincadeiras que eu quase me esqueci que ele estava dirigindo em direção à uma surpresa. Detalhe: dirigindo com somente uma mão, a outra estava em minha coxa.
— A praia de pedras. — falei, ao reconhecer o caminho, a estrada de areia. Era quase a nossa praia, pelo tanto de coisas que tínhamos vivido ali, nosso primeiro beijo, inclusive.
— Nada passa pelos seus instintos de detetive, não é mesmo? — zombou ele, e eu revirei os olhos. Quando estávamos quase chegando, o jovem Tarasova pediu que eu fechasse os olhos, e, apesar de estar curiosa, assim o fiz. — Quase lá. — disse ele, me ajudando a descer do carro e colocando as mãos sobre meus olhos para me guiar. Eu só conseguia sentir a delicadeza das suas palmas em meu rosto, a brisa leve da noite balançando meus cabelos e minha saia, e o cheiro de maresia. — Quase... Quase lá... Chegamos!
Fiquei boquiaberta no minuto em que abri meus olhos. Perto das grandes pedras daquela praia, Dimitri — e com certeza Kessie — organizara um agradável espaço para nós. Havia uma tenda improvisada com tecido, e decorada com as mesmas luzes amarelas das árvores no luau, e vários lençóis e travesseiros em cima. Estava tão aconchegante que eu estaria disposta a ficar ali para sempre.
— Foi ideia de Kessie, ela achou que fossemos preferir ficar sozinhos na nossa última noite antes de você ir embora. — explicou Dimitri, que parecia estar surpreendentemente nervoso. — Não para fazer qualquer coisa. — ele acrescentou depressa. — Apenas, ficar um com o outro, você sabe...
Interrompi sua fala ao selar nossos lábios com um beijo.
— É perfeito, Dimitri. — falei, sorrindo de orelha a orelha. — Obrigada.
Antes de irmos para a tenda, Dimitri e eu nos sentamos nas pedras para admirar a noite estrelada sobre nós. Entretanto, quando eu olhava aqueles pontos luminosos no céu noturno, tudo que eu conseguia pensar era nas pessoas que diziam que o destino estaria escrito nas estrelas. E, se aquilo fosse verdade, eu queria poder ler o meu destino e dar um jeito na ansiedade que eu sentia sobre a minha partida amanhã.
— Dimitri, acha que devíamos... — pigarreei, nervosa. — Devíamos falar sobre o futuro?
Minha pergunta inexperada pareceu chocar o jovem Tarasova. Ele se ajeitou em sua posição para ficar de frente para mim, e assentiu.
— Sobre o que você quer falar?
— Ah, você sabe... — engoli seco, cabisbaixa. — Eu vou para Miami amanhã. E tem a faculdade...
— Seu sonho é morar aonde? — indagou ele, encarando-me. Pensei por alguns instantes antes de responder.
— Não sei. — dei de ombros. — Paris, talvez.
Com isso, um largo sorriu nos olhos de Dimitri.
— Então, minha Lis... — sem quebrar o nosso intenso contato visual, ele tirou de trás de mim uma flor-de-lis num canteiro que crescia não muito longe de nós e colocou a flor em minha orelha. — É para lá que eu vou.
Não soube o que responder, mas meu corpo parecia saber exatamente como reagir aquelas palavras...
— E a faculdade? Eu não quero ir para Paris antes saber, pelo menos, um mínimo sobre arte e a história dela. Ou, então, como eu poderia entender as belas obras de arte no Louvre?
— Primeiro que você já é uma obra de arte. — disse ele, e eu ri timidamente. — E segundo, quem disse que não haverá faculdade? Você vai estudar em Miami, não é? — assenti. — Bem, deve ser apenas uma grande consciência da vida então, mas acontece que eu meio que posso ter me inscrito na Universidade de Miami, e eu meio que posso ter sido aceito.
— Espera, o que? — eu mal consegui raciocionar suas palavras. Dimitri... Universidade... Miami. — O que? — repeti, meu sorriso se alargando enquanto eu ria de emoção. — Você vai para Miami?
— Estarei lá uma semana depois de você, amor.
Não pude conter minha alegria e me joguei nos braços de Dimitri, abraçando-o fortemente.
— Você tem certeza? Mas e a sua vaga em Stanford? — perguntei, mas Dimitri segurou meu rosto e depositou um beijo na minha testa antes de dizer:
— A Universidade de Miami é muito boa também, e não só porque você vai frequentá-la. Além disso, já estava nos meus planos fugir do destino que meu pai impôs em mim faz tempo, mas você me fez realmente querer ir atrás do que eu quero. E, felizmente para nós dois, eu quero ir para Miami e ficar com você.
— Que bom... Porque eu quero ficar com você também.
Não havia um pingo de alcoól em meu sistema. E, mesmo assim, eu me sentia embriagada. Totalmente embrigada pelo rapaz diante de mim. O jeito que seu cheiro, seu olhar, seu toque, seu tudo, mexia com as minhas entranhas devia ser ilegal.
As mãos grandes e firmes de Dimitri delicadamente encontraram o meu pescoço, me trazendo vagarosamente para perto, como se eu fosse feita de porcelana e qualquer movimento brusco pudesse me quebrar. Quando nossos narizes se tocaram, os meus batimentos cardíacos já deveriam ter ultrapassado os limites aceitáveis. Ao respirar fundo, eu sentia o seu cheiro cítrico me invadir. Cada segundo que se passava meu corpo ansiava mais pelo encontro de nossas peles, ao passo que meus lábios se contrariam prontos para um beijo. A ansiedade parecia consumir minhas entranhas; eu nunca quis tanto beijar alguém. Porém, Dimitri parecia relutante em aproximar mais um centímetro sequer.
Eu sabia o motivo. Certa vez Dimitri me contara sobre o maior trauma de sua vida. Sobre como ele tinha dezesseis anos, era jovem e galanteador, e uma bibliotecária de dezenove da sua escola nunca impediu seus flertes, como deveria. Eles tiveram um caso, a primeira e única vez que Dimitri se deitara com alguém. Mas a mulher era obcecada e abusiva. Destruíra o psicológico de Dimitri até o momento em que sua família interviu. Mas o jovem Tarasova estava assustado, porque ela dizia que se mataria se ele a deixasse. E foi o que ela fez.
Tentei não pensar muito naquilo, ou o ódio e o nojo me fariam vomitar na praia naquele momento. Acima de tudo, eu queria envolver em meus braços o rapaz diante de mim que tanto sofrera; e nunca mais soltá-lo.
Não o beijei. Esperei que ele se sentisse confortável o suficiente para vir até mim. Por fim, senti os lábios de Dimitri pressionarem contra os meus. Então, abri levemente a boca, proporcionando espaço para que nossas línguas se tocassem em movimentos lentos e apaixonantes. Cada ação que Dimitri fazia era dolorosamente lenta, como se ele ele quisesse explorar cada sensação que nos invadia com o beijo, como se desejasse viver nos meus lábios para sempre.
Até que ele parou, soltando meu rosto e se afastando para me encarar.
— Por que você parou? — soprei baixinho.
— Não quero que pense que foi para isso que eu te trouxe aqui. — Dimitri murmurou, hesitante, e eu pude sentir seu hálito fresco contra minha face. Apenas sua voz rouca e arrastada bastava para que eu pulsasse. — Eu posso esperar, minha Lis. — fechei meus olhos ao sentir a ponta dos seus dedos acarinharem meu rosto. — Hoje, amanhã, daqui a um ano, dez anos, ou simplesmente nunca. Realmente não me importo.
Meu coração nunca bateu tão rápido quanto no momento em que abri meus olhos. Desejo. Puro desejo e lúxuria, era o que o meu olhar transbordava quando encontrei o olhar de Dimitri. Ele pareceu perceber, pois imediatamente mordeu o lábio inferior como se tentasse controlar um suspiro. Mais uma vez, eu perdera uma batalha para seus olhos azuis, e deixara que eles me vencessem. Deixara. Porque eu queria o dono deles. Queria Dimitri. E estava certa disso.
— Se você quiser o que eu quero... — consegui falar em voz fraca. Havia uma escolha por trás daquela frase. Não é porque eu estou pronta que você tem que estar. — Beije-me. — engoli seco ao ver o olhar de predador que Dimitri me lançara. E eu era a presa. — Beije-me e não pare.
Um pedido simples, mas cheio de certeza.
Dimitri atacou meus lábios como se não houvesse amanhã. Paixão, luxúria, desejo, fúria, todos aqueles sentimentos se confundiam e se misturavam quando se tratava do toque de Dimitri contra minha pele. Dos seus lábios contra os meus. Do seu corpo contra o meu. Como na dança, deixei que ele me guiasse, deixei que ele me fizesse arfar quando desceu suas mãos fortes pelas minhas coxas e me ergueu para nos levar até a tenta improvisada.
O modo como ele me deitou nos lençóis daquela tenda no meio da praia foi quase obsceno. Como se o que sentíamos um pelo outro fosse a brasa, o olhar de Dimitri se acendeu num fogo de loucura carnal enquanto ele se inclinou sobre mim e voltou a me beijar.
— Merda, eu quis isso por tanto tempo... — escutei ele admitir em meu ouvido, um suspiro involuntário deixando minha garganta quando ele mordeu de leve o lóbulo da minha orelha, lambendo-a em seguida. No tempo que seus lábios traçavam um caminho de beijos molhados do meu queixo, passando pelo meu pescoço, até o meu ombro, suas mãos passeavam pelo meu corpo, por todo o meu corpo, adorando cada centímetro, até parar em meios seios. De repente, tudo que vi foi carinho quando ele me beijou e perguntou contra os meus lábios: — Você tem certeza?
— Sim. — minha voz soava tão ofegante e pesada que eu quase não reconheci. Eu sabia do que ele estava falando, sobre ficar nua na frente dele... Mas eu me sentia tão segura com Dimitri que não parei para duvidar nem por um segundo, por mais que minha mente martelasse pensamentos autodepreciativos.
Dimitri não quebrou o contato visual quando removeu o meu top. Eu não fazia ideia de que meus seios eram tão sensíveis até soltar um gemido mais alto do que deveria quando Dimitri lambeu e mordiscou de leve o bico do meu peito, no tempo que massageava o outro. Ele fez questão de passar um tempo ali, seu rosto enterrado nos meus seios, completamente maravilhado.
— Tão linda. — ele murmurou mais para si mesmo do que para mim, o que não me impediu de ruborizar. — Tão linda. — o jovem Tarasova repetiu, dessa vez seus beijos o levaram por toda a minha barriga, parando na linha da minha virilha. Eu poderia muito bem ter chegado ao meu ápice no momento em que ele olhou para mim daquela posição, seus cabelos bagunçados e olhos vidrados; ele parecia adorar meu corpo como os antigos adoravam aos seus deuses.
Dimitri fez questão de roçar a ponta dos seus dedos por toda a minha perna quando removeu a minha saia. Depois, ele subiu traçando beijos pela parte interna da minha coxa, em seguida depositou um beijo demorado na minha intimidade molhada e coberta pela calcinha, o que me fez sentir vergonha e borboletas no estômago ao mesmo tempo.
— A mulher mais linda do mundo, e só minha... — disse ele, subindo para beijar meus lábios.
Num surto de adrenalina, meus dedos foram em direção da barra da sua camisa para puxá-la para cima, removendo-a completamente. Fiz questão de admirar o seu abdômen bem definido e deixei alguns beijos em suas duas tatuagens, a de punhal e a de onda. Tracei meu olhar por cada pedacinho de Dimitri. Eu o visualizava como se ele pudesse guardar fotografias mentais daquele momento. Cada sentido meu estava aguçado: a visão dele seminu sobre mim; o toque dele contra a minha pele; o cheiro dele em minhas narinas; o sabor dos seus lábios nos meus. Eu queria guardar tudo aquilo.
Em seguida, passei a beijar da sua barriga até o seu pescoço, enquanto ele acarinhava minhas costas. Os meus beijos provocantes fizeram Dimitri involuntariamente suspirar. Eu estava o enlouquecendo, o deixando impaciente. Eu senti quando seu tesão se tornou aparente até demais em suas calças, fazendo com que ele me puxasse pelo queixo para voltar a beijar meus lábios. Os meus dedos frios subiram para a parte de trás do seu pescoço, causando-o calafrios. Percorri todo o seu cabelo, brincando com os seus fios escuros e bagunçados.
— Porque o mundo não está preparado para pequenos Dimitris. — zombou ele, tirando um preservativo da carteira. Apenas gargalhei, observando atentamente quando ele se afastou para tirar seus shorts. Fiz como se fosse remover a minha calcinha, mas ele segurou minhas mãos, um sorriso travesso despontando de seus lábios. — Não, não não... Esse é o meu trabalho agora.
— Dimitri... — arqueei as costas, lançando a cabeça para trás, assim que ele removeu minha roupa íntima e depositou mais um beijo molhado ali. Então, ele movimentou o dedo indicador pela minha intimidade, parando sobre meu clitóris, onde colocou pressão. — Dimitri, por favor... — um gemido escapou de seus lábios novamente. Dimitri não pode deixar de esboçar um sorriso pretensioso ao me ouvir gemer seu nome, como se fosse melodia para seus ouvidos.
Revidei ao roçar minhas as unhas pela pele sob a barra da sua cueca; ele mordeu os lábios em resposta, e passou a mão pelo cabelo, depois impacientemente me puxou pela cintura para me deitar novamente, e retirou a última peça que faltava — agora, quando ele se posicionou sobre mim, não éramos nada além de pele contra pele, Dimitri e Elaine em seu todo.
— Diga que é minha — sussurrou Dimitri, entrelaçando uma de suas mãos com as minhas e as unindo no topo da minha cabeça. Enquanto isso, ele usou a mão livre para posicionar seu pênis ereto contra minha entrada, roçando nossas intimidades. Eu já não estava mais em condições de responder, meus olhos rolavam para a parte de trás da minha cabeça e qualquer pensamento não saia coerente. — Diga que é minha. — ele repetiu, pressionando seu membro contra meu clitóris.
— Eu sou sua! — exclamei, gemendo.
— Minha... — disse Dimitri, suprimindo um gemido meu com um beijo. Por fim, mordi seu lábio quando ele me penetrou devagar, gemendo fraco e apertando ainda mais as minhas mãos sobre minha cabeça. — Merda. — ele arfou. — Você está bem? — perguntou, olhando nos meus olhos. Apenas assenti, focando em me acostumar com o preenchimento. — Me diga quando eu puder me mover.
Então, devagar, eu soltei minhas mãos do seu aperto e segurei o rosto, trazendo seu ouvido para perto dos meus lábios.
— E você é meu?
Não havia palavras em qualquer dialeto que pudessem descrever o que sentíamos. Mas a nossa troca de olhares dizia tudo. O olhar profundo e oceânico de Dimitri parecia conversar com as minhas íris castanhas, formando ali uma conexão de paixão, que causava entre nós uma tensão quase que palpável. Apenas com o olhar, nós atravessamos a alma um do outro, devorando-nos com os olhos. Naquele instante, eu entendi porque o amor era associado a cor vermelha. Porque a paixão era a brasa que ascendia nosso fogo, nos envolvia, nos enlaçava enquanto nossos corpos se moviam em sintonia. E, juntos, nós queimaríamos.
— Todo seu. — Dimitri respondeu. — Todo seu.
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CARA COMO ASSIM
A GENTE TAVA NA FESTA DE NOIVADO E DE REPENTE BAM! 💥 VOLTAMOS AO PASSADO PRA QUANDO DIMITRI E ELAINE TÃO SÓ NO FOGO 🔥
o que vcs acharam?? por favor gente eu me dediquei MUITO nesse capítulo 🥺 me deem um feedback sincero ❤️
beijoss e até o próximo capítulo!
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