capítulo trinta e dois

Olhei para Dimitri, surpresa.

— Como... Como se lembra? — perguntei, ainda perplexa pelo meu primeiro amor da juventude se lembrar da data do meu aniversário. Eu o dissera apenas uma vez... Mais de oito anos atrás.

Dimitri esboçou seu típico sorriso brincalhão.

— Estou verdadeiramente ofendido que você duvide das minhas capacidades de memória. — brincou ele, fingindo drama. — É claro que eu me lembro, Elaine! — disse, como se fosse óbvio. — Eu me lembro de tudo que você já me contou. Até me lembro que você me disse que costumava ter medo de borboletas e palhaços quando era criança, achou mesmo que eu poderia esquecer seu aniversário?

Sorri timidamente, sentindo minhas bochechas corarem.

— Eu me lembro da data do seu aniversário também. — comentei. — Lembro que você e Kessie tentaram invadir uma aula de dança reggaetón uma vez e acabaram passando vergonha. E que você me disse que na pré-adolescência você esquecia de passar protetor solar de propósito para ficar mais bronzeado e impressionar as meninas, e isso fez você ficar todo queimado durante um verão inteiro.

— É verdade. — ele gargalhou. — E eu lembro que sua cor favorita é azul, e seu filme predileto é aquela da "Moça com Brinco de Pérola". De como você põe a língua para fora quando está concentrada, e quando está prestes a... você sabe. — sua fala me fez ruborizar. — Me lembro daquele vestidinho verde que você usava quando fomos apresentados, e de como você prefere joias douradas. — ele tocou gentilmente no meu brinco, seus dedos roçando na minha pele, o que foi suficiente para quase me fazer perder o fôlego.

— Parece que tudo isso foi em outra vida... — murmurei, minha voz quase saindo como um sopro. Éramos apenas dois jovens apaixonados, agora Dimitri era o líder da máfia e eu estava noiva do seu irmão.

— Quase isso. — sussurrou ele, rindo fracamente em resposta.

— Nós éramos tão novinhos... E agora nós somos...

— O quê? Desconhecidos? — suas palavras soavam tão tristes que não ousei responder. — Não acho que a nossa idade tenha feito qualquer diferença... Sabe, Elaine, eu posso ter muitas incertezas na vida, mas o que eu senti por você... Não é uma delas. Meu amor por você foi tão real quando o fogo das velas que nos cercam, quanto o tecido do seu vestido ou as estrelas no céu. Talvez tenha sido uma das únicas certezas que eu tenha tido em toda a minha vida.

Respirei fundo. Era... difícil assimilar tudo aquilo. Dimitri terminara o nosso relacionamento para me proteger, mas eu... Eu não sabia disso. E, durante todos aqueles anos, eu me perguntei o que fizera de errado. Me perguntei o que fizera para aquele rapaz que me fez juras de amor e prometeu me reencontrar ter sumido sem dar uma explicação. Dimitri superou nossa paixão por amor a mim, mas eu superara por dor. Por acreditar que ele simplesmente terminara comigo porque nada daquilo significou para tanto quanto significou para mim.

— Desculpe, é só... — inspirei e expirei, procurando as palavras certas. — É estranho escutar isso depois de passar oito anos pensando que você mentira para mim quando prometeu ir a Miami e que eu não passara de um caso de verão insignificante.

— Nunca tinha pensado dessa forma. — admitiu Dimitri, cabisbaixo. Minhas palavras pareciam ter genuinamente partido seu coração. — Eu sinto muito por ter feito você se sentir dessa forma. Por sumir sem dar uma explicação...

— Eu entendo agora, Dimitri... Você queria me proteger.

— Não é uma desculpa, Elaine, pelo jeito que você se sentiu todos esses anos. Eu juro por Deus, se eu pudesse voltar, mudar tudo... Eu daria um jeito. Salvaria Aaron, meu pai, impediria a guerra e daria uma explicação concreta a você do motivo pelo qual nunca poderíamos ficar juntos.

— Não pode, Dimitri. — o interrompi, fitando seu olhar no meu. — Não pode voltar. Mas você não pode deixar a culpa pelo que aconteceu com seu pai, Aaron, e até mesmo comigo, te consumir e te impedir de aproveitar o agora. Não é sua culpa, Dimitri.

— Então, por que eu sinto como se fosse?

Coloquei a mão no seu peito, indicando seu coração.

— Porque você é bom.

Dimitri sorriu. Você me faz querer ser melhor, ele me dissera certa vez.

— Sabe, não é o nosso passado, aquela outra vida, que vai tornar essa noite memorável para mim. Quer saber o que eu vou me lembrar dessa noite? Que a bela Elaine Róson me tirou para dançar e não ter negado foi a melhor coisa que eu poderia ter feito.

Não consegui dizer nada, apenas sorrir, rir até. E sentir meu corpo se aquecer pela proximidade. Uma reação ao resquício... um resquício do que tivemos.

— Obrigada por lembrar do meu aniversário.

— Não tem que me agradecer por isso. — disse ele, seu tom carregado de sinceridade.

Pigarrei, pensando em algo para mudar de assunto.

— Mas... e aí? Dimitri Tarasova ainda dança como antes ou está todo enferrujado?

Dimitri gargalhou.

— Uma vez um dançarino sedutor, sempre um dançarino sedutor. — brincou ele, me lançando uma piscadela antes de começar a me rodopiar pelo salão.

Ficamos girando e dançando de forma animada pelo salão até o cansaço nos atingir. Então, Dimitri me acompanhou de volta para o meu quarto no apartamento do hotel, e nós tivemos que tentar ao máximo para manter nossas risadas num tom baixo e não acordar o resto da casa, mergulhada na escuridão e silêncio da noite. Principalmente Amara — ou melhor, a senhora Tarasova — que deveria estar no meio do seu sono da beleza.

— Eu me diverti muito hoje. — disse eu, assim que abri a porta do meu quarto, e Dimitri recostou o braço na moldura dela, inclinando-se para frente, para perto de mim.

— Claro, você estava com o rei da diversão. — respondeu Dimitri, num tom de zombaria, e eu apenas ri e revirei os olhos.

— Claro, como eu pude sequer pensar que qualquer outra pessoa poderia ser o rei da diversão? — falei, entrando na brincadeira, e ele acenou, como se afirmasse que o que eu dissera era óbvio. — Eu tenho que admitir eu estava... Um pouco desanimada para o meu aniversário. Porque eu sabia que ia passar longe de Naira, de Nick e... — da minha mãe, completei mentalmente. — Meu aniversário também me lembra do que aconteceu com os meus pais, e...

— Espera, o que aconteceu com seus pais? — indagou Dimitri, ficando sério e preocupado de repente.

— Nada, é só... — um suspiro. — Meu pai cometeu uns crimes sério, foi para a cadeia. Minha mãe perdeu tudo que tínhamos tentando provar sua inocência. Ficamos com uma péssima reputação. Brigamos... E eu fui embora de Miami. Nunca mais voltei. — dei de ombros. — Me sinto culpada até hoje, eu sei que tem famílias em situações piores — os tarasova, por exemplo —, eu... Talvez eu tenha sido dura demais.

— Nossa, Elaine, eu... — Dimitri me encarou, perplexo. Mas, ao mesmo tempo, tinha uma expressão compreensiva em sua face. Reconfortante. — Eu não fazia ideia. Isso é uma droga, eu sinto muito.

— É, eu... Eu sei que é estupidez, e que eu deveria estar feliz e grata... Não sei, deve ser só aquilo que eles dizem... inferno astral ou algo assim. Mas... Surpreendentemente, eu me diverti. Com você e Amara. Foi definitivamente um bom aniversário.

— Eu teria encomendado um bolo, mas como você não disse que era seu aniversário a ninguém, achei que não seria legal divulgar isso sem sua permissão. — disse Dimitri.

— Eu agradeço. — falei, assentindo. — Prefiro aniversários mais reservados mesmo.

— Não faz ideia do quanto me alegra saber que eu pude colocar um sorriso no seu rosto, ainda mais no seu aniversário. Mas quero que saiba... O que está sentindo não é estúpido. Você tem todo o direito de não se sentir bem com algo ou ficar magoada. Ou até mesmo querer gritar com o mundo às vezes. — o jeito que ele falou foi tão engraçado que me fez rir. — E sempre que quiser falar sobre o que está sentindo, qualquer coisa mesmo, mesmo que essa cabecinha — ele tocou de leve em meu nariz — diga para você que é algo irrelevante... Estarei aqui para escutar.

Senti meu coração se apertar.

— Eu continuo dizendo "obrigada", mas eu nunca vou conseguir agradecê-lo o suficiente, vou? Por tudo?

— Você não precisa. — ele riu.

— Apenas saiba que se quiser falar... Estou aqui também.

Com isso, Dimitri deu uma varrida no quarto apenas com os olhos, como se certificasse que estava seguro e voltou a me encarar.

— Boa noite... velhinha.

Gargalhei, indignada.

— Você é literalmente mais velho que eu! — protestei.

— Alguns meses. — ele argumentou.

— Boa noite, Dimitri. — disse eu, já fechando a porta. Mas ainda consegui escutar seu "Boa noite, Lis" que soou do outro lado dela.

Então, ao entrar no quarto, finalmente pude ver o que era aquela notificação em meu celular.

Meu coração quase parou quando eu li.

Alguém queria comprar minha pintura. E estava oferecendo uma fortuna por ela.

.

Os advogados de Amara resolveram tudo para mim. Verificaram se o comprador era seguro, fizeram as negociações e entregaram minha obra. Quando menos esperava, lá estava. Aquela quantidade insana de dinheiro em minha conta bancária. Fiz uma nota mental para me lembrar de me sentar e organizar o que faria com tudo aquilo. Minha mãe e instituições de caridade estavam no topo da lista.

Eu estava almoçando com Amara e os funcionários quando Dimitri adentrou na sala de jantar com um relâmpado. Provavelmente acabara de sair do banho; estava com os cabelos molhados e usava apenas as calças sociais na cor preta e uma blusa branca de botão com as mangas dobradas para cima. Logo percebi que ele estava feliz, mas tentava se conter. Ele olhou para cada um de nós com atenção, claramente havia algo que ele queria dizer.

— Ora, quer nos matar de tanto esperar? Diga logo o que está na ponta da sua língua! — exigiu Amara.

— Bem, eu ia fazer uma surpresa, mas já que insistem... Adivinhem quem acabou de pousar na nossa pista de pouso privada? — perguntou Dimitri, por fim. Fiquei confusa a princípio, mas a expressão radiante que surgiu na face da senhora Tarasova me explicou tudo.

A porta de entrada do apartamento do hotel de Paris se abriu.

— A irmã mais bonita chegou!

Não pude deixar de sorrir também. Kessie.

— Às vezes penso que você esquece que somos gêmeos. — Henry.

Nunca vi alguém andar tão rápido e ainda permanecer elegante como Amara Tarasova. Ela lagou os talhes e o guardanapo de pano na mesa e disparou para a entrada, para ver seus filhos. Deixei a família se reencontrar primeiro, observando a maneira como Amara e Dimitri recebiam tão carinhosamente os gêmeos. A família deles passara por tanta coisa, e era muito mais complicada que a minha, mas, ainda assim... Permaneciam unidos. A união deles era essencial para a máfia.

E quando um deles se desviava, como Nikolai fizera... Já sabíamos o resultado.

— Eu tenho um abraço para você. Você o aceita? — escutei Kessie dizer a mim, me tirando dos meus pensamentos. Desculpas. Era um pedido de desculpas em forma de abraço. Quis dizer que ela não tinha motivos para se desculpar, mas apenas sorri e saí do meu cantinho na sala para abraçá-la.

— Seu abraço sempre será meu favorito. — murmurei em seu ouvido. — Não importa o que aconteceu ou aconteça, nada jamais mudará isso.

Ela me envolveu ainda mais forte. Um agradecimento silencioso.

— Ei, eu sou bem competitivo. O que tenho que fazer para meu abraço ser o favorito? — indagou Henry, e eu ri, balançando a cabeça.

— Por favor, não comecem uma guerra por causa de abraços. — brinquei, cumprimentando-o da mesma forma. Eu e ele sempre seríamos um grande contraste entre a mais baixa e fraca do grupo e o mais alto e forte.

— Do jeito que meu filho é, ele começaria uma guerra por muito menos. — disse Amara, em tom de zombaria, colocando a mão no ombro do filho. A saudades que ela sentira deles... estava refletida em seu olhar.

— Eu nem sou tão briguento assim. — reclamou Henry.

— Não, mas você não gosta muito de perder. — disse Dimitri, fazendo uma careta. — Principalmente no xadrez.

Os dois irmãos se encararam de forma ameaçadora.

— Por favor, meninos, não tragam o incidente da pedra de xadrez de volta à tona. — pediu Amara.

— Henry perdeu de Dimitri pela vigésima vez, eu contei, e ficou tão bravo que jogou uma peça na cabeça dele. — explicou Kessie em meu ouvido. Ri baixinho, me lembrando daquele lado de Henry que sempre surgia quando jogávamos qualquer coisa naquele verão; ele era muito competitivo e não desistia até ganhar. — Eu tenho certeza que já teriam resolvido isso se fossem um pouco mais maduros.

— Está bem, "senhorita maturidade". — zombou Dimitri, e a irmã bateu em seu braço.

Vocês dois... — disse Amara, num tom de aviso.

Assim que encerramos os cumprimentos, nos reunimos de volta na sala de jantar para terminarmos de almoçar. Os funcionários já tinham terminado, então estávamos apenas nós cinco; e eu nunca vira os Tarasova tão felizes quanto naquela refeição. E, melhor ainda, eu me sentia incluída com eles. Eram acolhedores, me tratavam como se eu fosse da família.

— Mas, espera... — ponderei, em algum ponto do almoço. — Se vocês dois estão aqui, quem está cuidando de São Francisco?

— Elaine, nós não somos uma gangue de rua qualquer. — esclareceu Kessie, com um sorriso divertido. — Somos a segunda maior máfia do país.

— E vamos crescer ainda mais. — interrompeu Henry.

— Somos os comandantes, mas várias pessoas fazem parte da gestão. — continuou a gêmea, ignorando o comentário do irmão. — E a maioria delas é mais do que apta para nos substituir. Como acha que saímos de férias? Falando nisso, eu realmente preciso de um bronze, podemos ir para alguma praia na próxima vez. Mas, claro... — ela olhou para Dimitri. — Claro que tínhamos que vir para Paris. Seja qual for o evento que está planejando, irmãozinho, nós nunca perderíamos. E caso precise de ajuda para organizar algo, estou aqui. — piscou.

Dimitri gargalhou.

— Sabe, obviamente a festa seria incrível apenas por eu estar lá, mas... — ele suspirou. — Estou feliz que estejam aqui. — olhou para mim. — Todos vocês.

— Não há nenhum outro lugar que eu gostaria de estar. — disse Amara, simplesmente radiante por estar reunida com todos os filhos. Bem, quase todos os filhos, pensei. De repente, eu queria que ele estivesse aqui. Queria Nikolai aqui.

Celine Han, a chefe de segurança, entrou tão subitamente na sala de jantar que eu me assustei. No minuto em que a viu, Kessie se pôs de pé num salto, encarando-a, mas nenhuma das duas disse nada uma a outra. O rosto de Celine permanecia impassível, mas...

— Tem algo errado, não tem? — bufou Dimitri. — Céus, eu realmente não posso ter uma refeição! — seu tom era de um drama fingido, mas eu sabia que havia uma verdade naquilo.

— Temos que conversar. — foi o que Celine disse. — Agora.

meu deus o que será que a celine quer falar

oiee gente tudo bem??

to feliz que a kessie e o henry voltaram hihi tbm tava com saudades de postar capitulo novo, mas é que foi feriado né ai enfim kk

beijoss e até o próximo capítulo!

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