capítulo dez
Depois que meu noivo, Nikolai, contratou uma cerimonialista, os preparativos para o casamento ficaram... mais fáceis. Eu estava pouco envolvida em tudo, mas, segundo ele, era melhor que me estressar.
A festa de noivado já estava praticamente pronta. Se faltava algo, eram mínimos detalhes que facilmente seriam organizados. Decoração, local, música, comida, convidados... Tudo pronto sem eu precisar erguer um dedo. Sobre a família de Nikolai... Eles estariam presentes. Com exceção da sua madrasta, que morava em Paris, todos haviam confirmado a presença. Eu só esperava que o noivado não se tornasse um funeral.
Naqueles últimos dias, eu estivera focando na festa da galeria de artes. Como de costume, nós exibiríamos uma nova coleção junto com a coleção fixa, e essa nova ficaria exposta por seis meses. Na festa, convidávamos as mais variadas pessoas com condições de pagar para analisarem as obras e comprarem, se quisessem. Normalmente, as festas eram bem sucedidas e raramente uma peça ficava de fora nas compras. Ao fim da exibição de seis meses, nós enviávamos cada arte ao seu devido comprador.
E, como sempre, nosso chefe, Michael Connor, não fazia nada a não ser nos dar dor de cabeça. Michael passava meses inteiros não dando à mínima à sua galeria, mas, na época das festas de exibição, ele reclamava e brigava conosco durante vinte e quatro horas por dia, sem contar que ele estava bêbado em muitas daquelas vezes. Apesar de o qual difícil era lidar com o meu chefe, como raramente nos perturbava fora dessa época, eu realmente gostava do meu emprego, pois ele me permitia estar perto da arte; além de valorizá-lo, pois me lembrava do quão complicado fora a minha vida quando estava desempregada.
Eu estava uma pilha de nervos no dia da festa. Não importava quantas vezes eu inspirasse e expirasse, a sensação de que algo daria errado não me deixava. Que eu falharia em algo. Minha ansiedade estava a mil enquanto eu andava de um lado para o outro pelos corredores da galeria, resolvendo os assuntos de última hora. Havia uma lista na minha mente que de coisas que eu precisava checar. Comida? Checado. Bebidas? Checado. Garçons? Checado. Obras de arte no lugar? Checado.
Estava tudo certo. Aparentemente. Mas aquilo não me impedia de ficar inquieta e com as palmas da mão suando.
— Vamos abrir em cinco minutos, espero que esteja tudo pronto! — escutei Michael gritar para mim e para os outros funcionários.
Para minha sorte, eu não era parte do grupo responsável por recepcionar os convidados. Mas o meu trabalho era bem exaustivo também. Eu ficava com um bloco de notas, anotando os pedidos de obras das pessoas. A pior parte era que eu tinha que fazer sozinha, pois caso outra pessoa trabalhasse comigo, podíamos acabar vendendo a mesma obra para pessoas diferentes. Então, eu tinha que me virar para atender todos os pedidos, sem perder a compostura elegante. Nunca agradeci tanto pela galeria ter apenas um andar, ou eu enlouqueceria de vez.
A galeria estava cheia. Barulhenta. A música se misturava ao caminhar das pessoas, suas conversas e risadas. Às vezes eu tinha que me espremer para alcançar algum local. Todo aquele alvoroço estava me dando dor de cabeça, e a noite estava apenas começando.
Para piorar, meu telefone começou a tocar. Ignorei uma, duas, três vezes. Porém, o toque irritante estava começando a irritar os clientes, então decidir ver quem era.
Meu coração deu um salto ao perceber que era a minha mãe.
Disparei para um lugar mais afastado, para poder conversar em privacidade. Minha mãe nunca ligava. No máximo no meu aniversário ou no natal. Se ela estava me ligando, só podia ser uma emergência. E uma bem ruim.
Foi quando eu me toquei. Xinguei mentalmente ao perceber que eu não contara a minha mãe sobre o pedido de casamento de Nikolai, mas nós havíamos saído no jornal. Ela deve ter visto, pensei, nervosa.
— Alô?
— Elaine? — murmurou a minha mãe do outro lado da linha. Respirei fundo. Escutar a voz da minha mãe era como voltar a um doloroso passado no qual nós tínhamos uma briga terrível e eu transferia de faculdade para o outro lado do país e nunca mais voltava. — Espero não estar interrompendo nada. Está numa festa?
— Estou trabalhando, mãe. — expliquei, num tom calmo. Eu sabia que era tão difícil para ela quanto era para mim.
— Elaine, eu... — escutei ela suspirar tristemente, e meu coração se partiu. Se partiu pela relação que tínhamos e talvez nunca voltasse; pelo jeito que eu sabia que a minha mágoa a machucava, mas não sabia como consertar aquilo. E me odiava por isso. Por não saber como... consertar. — Por que não me contou que estava noiva?
— Desculpe, mãe. — falei e fui sincera. — Eu ia contar, eu juro...
— É aquele rapaz, não é? Nicholas, ou algo assim.
— Nikolai, sim.
Nossa ligação de repente ficou silenciosa. Silenciosa demais.
— Bem... — disse minha mãe, quebrando o gelo. — Espero que esteja feliz, Elaine. Realmente espero.
— Eu estou. Obrigada, mãe.
— Elaine, eu posso... Posso conhecê-lo?
A pergunta me atingiu em cheio. Eu nem havia pensado naquilo. Eu ia me casar, e minha mãe nem conhecia meu noivo. Mas para ela conhecê-lo, significava... Significava ir para Miami, para meu antigo lar, e levar Nikolai comigo. Eu não sabia se estava pronta para aquilo, não depois de sete anos, mas era o único jeito.
— Hum... — engoli seco. — Claro, mãe. Claro... Eu vou falar com ele, vamos arranjar uma data e eu te falo. Assim eu posso até entregar seu convite pessoalmente.
— Bom. Muito bom. Obrigada, filha. — um silêncio novamente. — Você quer saber como seu pai está?
— Eu... — meu pai. Uau. Eu não falava com ele, ou o via há... tanto tempo. — Não, mãe. Desculpe.
— Não precisa se desculpar.
— Não, eu preciso. Eu só... — foi a minha vez de suspirar. Coloquei a mão na testa, massageando o local dolorido. — Eu realmente queria que as coisas vocês diferentes, mãe. Desculpe.
— Eu sei, Elaine. Eu também queria.
Quando voltei para festa, eu estava visivelmente abalada. Se eu já estava ansiosa antes, agora depois da conversa com a minha mãe... Eu iria para Miami. Iria ver meus pais.
Desejei que um dardo tranquilizante me atingisse naquele momento.
— Elaine Róson! — escutei Michael gritar, e apenas abaixei a cabeça, exausta. — Onde estava?
— Michael...
— Sua função é a mais importante aqui, e você simplesmente some?!
— Eu tive uma emergência de família, desculpe. — disse eu. — Eu estou aqui agora.
— Você pensa que esse povinho aqui entulhado de dinheiro até o rabo liga para seus dramas de família?! — ele cuspiu as palavras na minha cara. — Os clientes estão impacientes! E você aí bancando a protagonista de novela!
— Ei!
Respirei aliviada ao ver meu noivo se aproximar. Ele se colocou entre eu e meu chefe de forma protetora, e eu sabia como Nikolai conseguia ser intimidador. Suas vestes finas e postura impecável, além de intensos olhos negros, garantiam aquilo.
— Ela disse que teve uma emergência. — rosnou Nikolai, num tom severo. — Se eu ouvir você gritar com a minha noiva de novo, pode ter certeza que eu vou caçar você e o seu negócio mixuruca, está me ouvindo?
— Ah, claro, corra para o seu noivinho. — Michael zombou de mim, mas eu sabia que ele não teria coragem de enfrentar Nikolai. Meu chefe era um valentão, um covarde. Bastava chegar alguém maior, que ele se acanhava. — Canalha. — aquele xingamento foi para o meu noivo. Depois, ele saiu.
— Não devia se submeter àquele porco, Elaine. — disse Nikolai, virando-se para mim e beijando-me rapidamente nos lábios. — Você está linda.
— Obrigada, Nick. Por tudo.
— Sempre que precisar, minha futura senhora Tarasova. — ele sorriu, e eu forcei um sorriso em retorno. Falaria com ele sobre a minha mãe depois. Apesar de saber que Nikolai iria visitar meu antigo lar sem hesitar, naquele momento, eu só queria concluir meu trabalho e ir para casa.
Nikolai ficou comigo durante toda a exposição. Até a última pessoa sair, quando eu e ele ficamos para trás pois Michael havia me incubido como responsável por fechar a galeria.
— Eu estava pensando em pedir para Tony preparar uma macarronada com molho branco e camarão para nosso almoço amanhã, o que acha, Elaine? — questionou Nikolai, enquanto me ajudava a fechar tudo. Eu estava num cômodo trancando as obras de arte em caixas de vidro, no tempo que ele empilhava as cadeiras em outro. — Podemos testar aquele vinho que eu comprei de presente para você quando fui à Itália a trabalho.
— Eu amo a macarronada do chef Tony. — sorri para mim mesma, já sonhando com o dia maravilhoso que teríamos juntos no dia seguinte. — Podíamos comer na varanda e colocar algumas velas.
— Tudo para você, meu amor! — escutei ele cantarolar como se fosse um cantor de ópera, me fazendo rir. Aparentemente, ele estava com a missão de me fazer gargalhar pois, enquanto saíamos e eu tentava fechar as portas da galeria, ele continuava fazendo cócegas em mim.
Despertei na manhã seguinte com o som do meu celular tocando, e automaticamente pulei da cama ao perceber que era meu chefe, Michael Connor.
— Elaine! — ele gritou, no minuto em que atendi à ligação. Mas não era a sua habitual gritaria. Não. Michael estava irritado, verdadeiramente irritado. Havia ódio em sua voz de uma forma que eu nuca vira antes. E olha que eu já tinha visto Michael perder a cabeça muitas vezes.
— Michael, o que foi? — indaguei, franzindo as sobrancelhas de preocupação.
— Venha para a galeria. — ordenou ele. — Agora.
Meu coração deu um salto.
— Mas é domingo...
— Não me interessa. — ele me interrompeu, ríspido. — Venha aqui, agora.
Não deixei que ele pedisse uma terceira vez. Me arrumei o mais rápido possível e, em menos de dez minutos, sem nem tomar café, eu estava no carro com Nikolai, ele nos dirigindo em direção à galeria. Quando cheguei, fiquei ainda mais nervosa ao ver vários policiais ao redor do local. Corri na direção de Michael, que estava vermelho de fúria.
— Você! — ele berrou para mim, apontando um dedo na minha direção.
— Michael, o que aconteceu...?
— Cale a boca, Elaine! Cale a merda da sua boca! — a agressividade do seu tom me fez encolher os ombros, intimidada. — Você aconteceu! Isso — ele indicou a galeria — é sua culpa.
Cheguei mais perto, para ver o que estava acontecendo e o motivo de ter policiais. Foi quando eu vi. Minha boca fez um perfeito "o" e meu coração disparou ao perceber que a galeria de artes que eu trabalhava há um ano estava vazia. Totalmente vazia. Não havia uma obra de arte sequer em lugar nenhum, as caixas de vidro onde elas ficavam estavam quebradas em inúmeros pedacinhos, e a caixa registradora estava escancarada no chão, sem nenhum dinheiro. Minha mente funcionava a mil enquanto eu tentava desvendar o que havia acontecido.
— A galeria foi roubada ontem a noite. — explicou Michael, cuspindo as palavras. — E é sua culpa.
— Como é minha culpa?! — exclamei, confusa e nervosa.
Michael bufou.
— Eu odeio como tenho que desenhar as coisas para você às vezes. Olhe ao redor! A estrutura está intacta, Elaine! Não houve arrombamento. Esses filhos da puta, seja lá quem forem, entraram porque a porta estava aberta!
— Não... — balancei a cabeça, negando. Não era possível, aquilo não podia ser minha culpa... — Eu fechei a porta ontem. Tranquei. Eu tenho certeza, Michael...
— Sua memória está péssima, então, porque você deixou sim a porta aberta! Meu Deus, Elaine, você tinha uma função, apenas uma! Garota estúpida!
As memórias da noite passada passavam pela minha cabeça. Eu tinha trancado, tinha trancado... Ou será que não tinha? Eu estava tão distraída, conversando com Nikolai... Talvez... Talvez eu tivesse realmente deixado aberta. E aquele roubo era minha culpa.
— Michael, me desculpe... — choraminguei.
— Desculpas não vai trazer tudo de volta, vai?! — eu entendia sua irritação. Dessa vez, eu tinha pisado na bola de verdade, pisado feio. Aquela galeria era a fonte de sustento de Michael, além de vários outros funcionários, e era a forma que ele supunha que traria sua esposa de volta. Aquela galeria era importante, e agora estava praticamente destruída por minha culpa. Pelo que eu fiz. Pela minha burrice, meu descuido...
— Eu... Eu posso... Posso consertar isso... Eu vou dar um jeito.
— Não, Elaine! — Michael olhou bem nos meus olhos, e eu soube que nunca esqueceria o quão assustada eu me senti naquele momento. E o quanto me odiei. — Você está demitida.
•
ai elaine, custava fechar a porta aff
só eu que quero dar um soco no michael??
falando em soco, vcs já se meteram em briga? 🤺
beijosss e até o próximo capítulo
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top