Capítulo 40
Como o prometido, Kalel resolveu tudo o que era necessário com Rosemary, para que ela ficasse longe de mim e do bebê. Ele não me disse os argumentos que usara para convencê-la, mas eu me sentia confortável em não saber. Nossos laços se estreitaram novamente, mesmo que nosso relacionamento não fosse amoroso, eu tinha em meu coração a certeza de que nosso filho seria amado e teria a felicidade de conviver em uma família harmônica.
Alguns meses haviam se passado desde que nós voltamos a nos falar, e, naquele dia em específico, eu pedi que ele não fosse me ver, como fazia todas as tardes quando não tinha alguma viagem para fazer.
Eu estava sentada na cadeira de rodinhas, perto da janela, olhando para o lado de fora. Minhas mãos escoravam minhas bochechas enquanto eu observava o branco das nuvens se dissipar na imensidão azul. Seria o dia perfeito em outras circunstância. Mas aquele não era.
— Yolanda.
Ouvi duas batidas pausadas na porta.
— Entra, mãe — falei, sem olhar para trás.
Senti seu corpo se aproximar vagarosamente, então, ela tocou meus ombros e suspirou, parece que sentia o que eu sentia, vivia em meus pensamentos.
— O Kalel não vem hoje? — perguntou.
Neguei, balançando a cabeça.
— Amanhã, nós vamos almoçar fora — disse ela.
— Eu não quero, mãe. Quero ficar aqui. — Coloquei a mão sobre minha barriga e a encarei por dois segundos, depois voltei a olhar para fora.
— Mas é seu aniversário.
— É. Mas eu quero ficar em casa com vocês.
— Pensei que você havia dito que não iria mais ficar se martirizando por isso. Lembra que me contou sobre o sonho que teve?
Eu engoli em seco.
— Sim, mãe. É que... mesmo que eu esteja mais tranquila, depois do que eu vivi, ainda vai ser o meu pior aniversário — lamentei. — Eu só queria que os dois estivessem aqui, pra eu dar um abraço neles e ouvir os parabéns... São coisas tão idiotas — Soltei um riso curto entre as lágrimas que brotavam —, eu sinto tanta falta de brigar pela pipoca, de implicar com o meu pai. Eu só queria acordar desse pesadelo.
— Você vai. O tempo às vezes demora a passar, mas ele sempre passa. Não vai parar de doer, mas vai amenizar. — Ela deu um beijo no topo da minha cabeça. — Quer tomar um chá?
— Quero — respondi. — Depois a senhora me ajuda a dobrar umas roupinhas do Dom? — pedi.
— Claro, meu bem. Vou pegar o nosso chá e a gente já começa. — Ela sorriu.
Foi importante aquele dia sozinha, sem Kalel, para que eu entendesse que eu precisava ser forte e enfrentar as minhas dores, que estavam em processo lento de cura. Não é de uma hora para outra, e nunca desaparece completamente, como minha mãe dissera. E é aos poucos que conseguimos compreender esse fato.
— O tio John saiu? — perguntei, enquanto nós duas dobrávamos uma série de macacões.
— Sim. — Minha mãe pigarreou. — Ele foi ajudar um amigo com algo de um carro... sei lá. Também, ele não me deve satisfações.
— Mãe... — Semicerrei os olhos.
— O que foi? — Ela deu de ombros e terminou de juntar o primeiro monte de roupas sobre a cama.
— Eu te conheço. Vai me falar o que está acontecendo ou eu vou ser obrigada a deduzir?
— Não está acontecendo nada. A senhorita tenha mais respeito, que você está grávida, mas ainda é minha filha. Olhe o jeito que fala comigo!
— Calma, mãe. Eu, hein! — Estranhei o seu mau humor repentino. — E mais, se ficou nervosa é porque tem alguma coisa.
Ela apenas sacudia a cabeça para os lados, em negação, com os olhos fixos nas peças como se fugisse.
— Mãe. A senhora e o meu tio não...
— Que ideia é essa, Yolanda?!
— Oh, meu Deus! — Afastei os meus lábios, em uma expressão de surpresa. — Vocês estão, sim!
— Não, Yolanda. O seu tio é um homem muito... legal.
Eu ri.
— Uhm. Sei bem. Aquela moça lá, a que trabalha na padaria, como é mesmo o nome? — Estalei os dedos. — Jena. — Recordei. — Ela também acha.
— Jena? — Ela me encarou com o cenho franzido. — Co-como? — ela gaguejou. — Quando ela disse isso? E como você sabe?
— Eu sabia! Está vendo só o ciúme. Agora pare de me enrolar e me diga. Vocês já...?
— YOLANDA! — me repreendeu.
— Ora bolas, mãe. Eu só quero saber, somos amigas, não é? — falei, tentando convencê-la a me contar.
— Olha, você não abra essa boca na frente do seu tio — ela sussurrou e olhou para fora, para ter a certeza de que ele não chegaria no momento exato da confissão. — Ele disse que queria conversar com você primeiro, estava com medo da sua reação.
— Mãe — Eu segurei em suas mãos —, vocês dois são adultos. Eu pensava diferente, antes. Mas agora, não me importo. Se vocês dois estiverem felizes, eu também ficarei.
— Sério, minha filha? — Ela expirou aliviada. — Eu juro que não foi nada planejado. Ficamos muito tempo juntos nesses últimos meses. Ele me deu tanto apoio, comecei a gostar da companhia dele e acabou acontecendo.
— Eu faço muito gosto. — Soltei suas mãos e voltei a dobrar as roupas do bebê.
— E você, minha filha?
— O que tem eu?
— Você e o Kalel — ela disse.
— Ah, mãe. Ele e a Rosemary estão juntos, eu não quero atrapalhar a vida de ninguém, destruir relacionamentos alheios. Já não basta o que eu fiz com o meu.
— Por falar nisso, Derek voltou pra cidade. Fiquei sabendo essa semana, pela. Ruth.
— Problema é dele. Que aquele desgraçado vá e não volte nunca mais — redargui. — Até hoje eu não me conformo de não ter percebido que os poemas eram do Dominic.
— Você não se sente estranha? — ela indagou, se levantando para levar um dos montes de roupa até a gaveta. — Sabe? Em saber que o Dom era apaixonado por você todo esse tempo.
— Ah, mãe... Por que eu me sentiria? Ele nunca me faltou com respeito em nenhum momento. Na verdade, acho que o amor dele era tão verdadeiro, que ele colocava o meu bem-estar acima do relacionamento que ele queria ter comigo. Só me sinto mal de não ter tido consciência disso antes de ele ir embora, pra eu dizer que me importava com o que ele sentia.
Minhas explicações foram interrompidas pelo meu telefone, que chamou minha atenção em um toque estridente. Estiquei meu braço e o peguei com rapidez:
— Alô...
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