Capítulo 37

— Como você está se sentindo?

Continuei imóvel, olhar para os olhos de Kalel, tão próximos outra vez, me fazia ficar terrivelmente perdida. Por um segundo minha cabeça pareceu tomar um choque, foi quando recuperei meus sentidos.

— Estou bem. A dor já passou — respondi, com a voz fraca. — Como soube?

— A Rose me disse que tinha ido falar contigo... Eu não gostei do que ela me disse, imaginei que você também não, então eu fui até a sua casa, mas vocês não estavam lá. Um vizinho me disse que viu seu tio colocando você no carro, presumi que tinha passado mal. — Kalel deu mais um passo, deixando seu corpo ainda mais próximo de mim. — Fiquei preocupado.

— Quer dizer que você não sabia?

— Sobre a ideia da Rosemary? Não.

Mordi o lábio inferior e olhei para a bolsa de soro, haviam trocado nas eu estava em sono tão profundo que não percebi.

— Não acredita, não é?

— Pelo contrário — falei e continuei olhando o líquido pingar. — Eu só não consigo crer que uma pessoa como ela conseguiu conquistar você — completei.

— Derek não é um príncipe.

— Ele não me conquistou — retruquei e voltei o olhar a ele, Kalel separou nossas mãos. — O que aconteceu foi um erro, um momento de fraqueza, eu tenho culpa por isso. Mas eu não quero conversar sobre esse assunto, a doutora disse que não posso me alterar.

— Também não quero falar sobre outras pessoas agora — disse ele. — O motivo pelo qual eu pedi à sua mãe que me deixasse ficar aqui no lugar dela foi outro.

Engoli seco. Eu não acreditava que aquilo era um pedido dele, cheguei a sentir certo receio, afinal, o que ele poderia querer?

— Então, o que quer?

Kalel sentou-se na beirada da maca, que era larga, e suspirou olhando para o teto. Os seus cabelos que sempre foram um tanto cheios e compridos estavam mais brilhantes aquele dia. Ou era só impressão causada pela saudade.

— Eu agi como um babaca hoje mais cedo.

— Eu não culpo você, Kalel, eu...

— Deixa eu terminar — disse, com altivez. Eu arregalei os olhos. — Desculpa. Eu não quis... Você sabe. Yolanda, eu sei que o que a gente tinha não rola mais. Mas eu não quero que essa criança tenha pais brigados, separados, em desunião eu quero dizer. Eu quero muito que a gente se dê bem. Pelo bebê... — Pôs a mão em minha barriga.

Meus olhos marejados entregavam como eu reagia àquela conversa.

— Eu quero te incluir em todas as fases, Kalel. Você que se negou a ir à ultrassom comigo. E eu já disse que não o culpo. Eu sei que eu não mereço.

"Eu não quero que se culpe" ouvi a voz de minha mãe em meus pensamentos.

— Vou tentar ser mais presente. Ainda não estou pronto pra dizer que te perdoo e que não estou chateado. Você sabe.

— Talvez um dia você me deixe te contar tudo que aconteceu, eu sei que ainda vai ser muito errado o que eu fiz, mas pelo menos vai entender o que estava na minha cabeça quando eu fiz aquela burrada.

Ele ficou calado. Quem sabe não fora uma boa ideia tocar naquele assunto, mas eu precisava falar. Eu queria tanto tê-lo de volta! Nesse momento foi a voz de meu pai que soou forte em meus pensamentos. "Obsessão por quem já partiu, isso não é nada bom", isso não valia apenas para a morte, nossa separação também era um tipo de partida, e minha obsessão em trazê-lo para mim, mesmo sabendo que não merecia, era algo que me fazia mal. Senti como se asas de anjo me afagassem, era como ser beijada por plumas. Uma paz imensa tomou meu coração, deixei uma lágrima escorrer, e foi só ela. Nenhuma mais escapou de meus olhos. Aquela sensação foi infinita em sua tranquilidade, e eu queria senti-la cada vez mais.

— Está bem, Kalel — falei, com um sorriso no rosto. — Vamos  esquecer, por um momento, que nós já fomos... — Inclinei um pouco a cabeça e ergui as sobrancelhas. — Seremos amigos, pelo bem do pequeno Dom. — Pus minha mão sobre a dele novamente.

— Dom? É um menino? — perguntou, com os olhos bem abertos.

Assenti e dei uma pequena risada.

— Pensei que a Rose tinha falado.

— Não, eu — Ele fez uma pausa e desviou o olhar — não quis saber nada depois que ela disse que tinha proposto que nós ficássemos com o bebê.

— Me perdoe por ter escolhido o nome sozinha — pedi. — É que eu não pensei em nada além de Dominic Joseph, depois que descobri essa gravidez.

— Joseph... Seu pai ficaria feliz.

— É. — Sorri. — Eu sei.

— Vou avisar sua mãe que você já acordou.

— Yolanda — disse a médica, aparecendo na porta e interrompendo nossa conversa. — Vou aferir sua pressão e, se estiver regular, vou te liberar.

— Vou esperar lá fora. Preciso dar notícias à sua mãe — disse Kalel. — Te vejo daqui a pouco.

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