Perus do passado!


Outono sempre fora uma temporada mágica para Stiles, tingida com as cores vibrantes das folhas que caíam e o aroma de abóboras e especiarias no ar. Era a época do Halloween, sua data comemorativa favorita, despertando um entusiasmo quase palpável em seu coração. A paixão de Stiles pelo universo pop e geek se materializava na meticulosa preparação para o dia 31 de outubro. Ele dedicava horas a fio desenhando esquemas detalhados, pesquisando em lojas de roupas, tudo para forjar a fantasia perfeita. Sua mãe era a sua aliada nesse empreendimento, compartilhando do mesmo fascínio. Juntos, eles transformavam tecidos e acessórios em obras de arte vestíveis. Algumas vezes, ela mesma costurava ou adicionava detalhes intricados com cola, suas mãos habilidosas dando vida às ideias de Stiles. Em outras ocasiões, ela se vestia a caráter, suas fantasias complementando as de Stiles enquanto percorriam as ruas em busca de doces.

No entanto, esse ano era diferente. A ausência da mãe de Stiles, que havia falecido devido a um câncer, deixava um vazio imenso. A festividade de outubro, outrora uma fonte de alegria e criatividade, agora parecia desprovida de significado. Em vez das habituais travessuras, Stiles se encontrava enclausurado em casa, envolto na penumbra de seu quarto, assistindo a filmes de terror e maratonando Star Wars, buscando consolo nas histórias que tanto amava. Seu pai, apesar dos esforços para animá-lo, não conseguia penetrar a barreira de sua tristeza. Até mesmo Scott, seu vizinho e melhor amigo, só conseguiu persuadi-lo a sair de casa uma vez para exibir sua fantasia de Pikachu.

Com a chegada de novembro, outro feriado se aproximava: o Dia de Ação de Graças. Era um período que Stiles também amava, quando a casa se enchia de risadas, conversas e, claro, os deliciosos pratos preparados por sua mãe. Agora, com a ausência dela, a perspectiva do feriado parecia sombria. Stiles já imaginava um Dia de Ação de Graças sustentado por pratos de micro-ondas, preparados de forma desajeitada por seu pai, que, embora amoroso, não compartilhava do talento culinário de sua esposa.

Mesmo a excursão para a fazenda de abóboras, organizada pela escola, não conseguia dissipar a melancolia de Stiles. Ele vagava pelos campos de abóboras, sua mente repleta de memórias agridoces de outonos passados, quando sua mãe ainda estava ao seu lado, compartilhando do encanto da estação. Era como se cada abóbora esculpida, cada risada das crianças ao redor, ecoasse a ausência dela, tornando a dor mais aguda.

— Ei, disseram que nessa fazenda tem perus também! —A voz animada de Scott cortou o silêncio, trazendo Stiles de volta à realidade. Scott, com seu sorriso desajeitado e queixo levemente torto.

— E daí? — A resposta de Stiles soou mais ríspida do que ele pretendia. Apesar de tentar, não conseguia sentir a mesma empolgação que Scott irradiava.

— E daí? Os perus são especiais! Eles são símbolos do Dia de Ação de Graças e do Natal! Você nunca pensou sobre isso? — Scott falava com gestos amplos, como se estivesse revelando um grande segredo.

Stiles franziu o cenho, intrigado.

— Perus especiais? Eles têm poderes? Magia? —A curiosidade começou a borbulhar dentro dele, uma faísca de interesse acendendo.

— Eu tenho uma teoria... — Scott começou, notando o ceticismo nos olhos de Stiles. — É uma boa teoria, eu juro! Eles devem ter algum poder, já que são escolhidos para esses feriados importantes. Deve haver um motivo, como quando os adultos nos dizem para comer brócolis e outros vegetais, porque eles têm poderes especiais que nos fazem crescer e ficar mais fortes...

Stiles, agora mais interessado, lançou uma teoria própria.

— Aposto que os adultos nos fazem comer essas coisas para ficar com as gostosuras para eles. Somos mais rápidos e menores, teríamos vantagem em uma competição por doces. Logo, não acredite em tudo que os adultos dizem.— Ele falava com as mãos enfiadas no bolso de seu moletom vermelho, um brilho travesso nos olhos.

— E sobre os perus? — perguntou Scott, tentando manter a conversa.

—O que os perus poderiam nos oferecer, se os encontrássemos? — Stiles perguntou, sua impaciência dando lugar a uma genuína curiosidade.

— Bem... — Scott hesitou, parecendo um pouco tímido. —Talvez, se encontrarmos um grande peru, possamos ter festas de Ação de Graças como as que vemos na TV, com a família toda reunida...

Stiles olhou para Scott, sentindo um aperto no coração. Ele sabia que Scott também enfrentava dificuldades em casa. Seu pai, embora vivo, raramente aparecia, e quando o fazia, era uma fonte de tensão e medo. Scott tentava esconder as marcas roxas, mas Stiles sabia o que significavam. Naquele momento, ele sentiu uma pontada de culpa por ter sido tão duro com seu amigo, que, como ele, ansiava por um senso de normalidade e felicidade familiar.

— Então... Onde está esse peru? — Sua voz estava impregnada de uma mistura de expectativa, quebrando o silêncio que envolvia Scott.

Scott, sacudindo a cabeça, como se despertasse de um sonho, deixou escapar um sorriso contagiante, dissipando a nuvem de melancolia que o envolvia.

—Perus! São mais de um! Ouvi a dona da fazenda alertando nosso professor. Ela disse, com uma voz meio preocupada, meio misteriosa, que nós, crianças, devíamos nos ater à plantação de abóboras e evitar a área dos perus.

Enquanto caminhavam lado a lado, passando por fileiras de abóboras que pareciam pequenas sentinelas laranjas sob a luz crepuscular, Stiles ponderou, a voz tingida de um entusiasmo crescente:

— Hummm... Ela não quer que vejamos essas aves? Por quê? Você deve estar certo, Scott... Elas devem ser mesmo especiais. Até mesmo mágicas! — A ideia de uma aventura fervilhava dentro de si.

Scott, absorvendo a empolgação de Stiles, exclamou:

— Viu? Minha teoria deve estar correta!

Mas Stiles, com um brilho travesso nos olhos, adotou um tom teatralmente sombrio:

— Ou os perus devem ser monstros comedores de seres humanos! Criaturas selvagens e indomáveis, mantidas longe do público para nossa segurança... — Sua voz, agora um sussurro fantasmagórico, fez com que Scott congelasse no lugar, uma onda de temor percorrendo seu rosto.

Scott, hesitante e engolindo em seco, sugeriu com voz trêmula:

—Sabe de uma coisa, talvez devêssemos escolher uma abóbora, como o professor disse...

Stiles, no entanto, rolou os olhos diante da repentina mudança de planos de Scott. Sem esperar por mais desculpas, ele agarrou o braço do amigo e, juntos, saltaram a cerca da plantação de abóboras. Com passos decididos e corações palpitantes, aventuraram-se em direção à parte desconhecida da fazenda, em busca da lendária ave mágica que poderia, quem sabe, resolver todos os seus problemas.

Spoiler: as aves, de fato, não resolveram seus problemas. Na verdade, eles só aumentaram.

Stiles ainda se lembrava vividamente do ataque dos perus, logo que entraram no recinto onde estavam confinados na fazenda. Aquela experiência traumática de sua época juvenil gravou-se profundamente em sua memória. Mesmo com pesquisas na internet sobre perus que fez atualmente, seu medo era controlável, já que vídeos ou imagens não poderiam atacá-lo. Contudo, essa sensação de segurança desapareceu agora que uma ave real, em carne, pena e bico, estava diante dele. E pior, não era apenas uma, mas várias.

Scott lançou um olhar desesperado para Stiles, claramente relembrando a experiência aterradora de sua infância. Mesmo possuindo poderes sobrenaturais de lobisomem, naquele momento, Scott McCall mais parecia um assustado Lulu da Pomerânia do que um feroz predador.

Aby comentou com os amigos:

— Sério, isso não é o fim do mundo. Mas é, sem dúvida, estranho... Não acredito que tais aves estejam andando pelas cidades dos Estados Unidos, assim, livremente.

— Isso parece 'A Fuga das Galinhas', mas com perus, — comentou Stiles, ainda se escondendo atrás de Abraham. — Só que, nesse caso, nós somos os vilões opressores que desejam transformar os perus em pratos festivos, uma representação da sociedade capitalista consumista... Isso logo antes da Black Friday! Veja só, é todo um ciclo de consumismo! É como um levante dos perus contra o sistema! Tudo está interligado..."

Aby soltou uma risada com a teoria excêntrica de Stiles.

Ethan sugeriu:

— Bro, isso deve ter uma origem sobrenatural... Há uma energia estranha vindo dessas aves. Parece muito suspeito para ser um fenômeno natural.

— Sobrenatural? — Isaac olhou com mais interesse para as aves ao seu redor, concordando que aquilo parecia surreal demais para ser um evento natural.

Stiles lançou outra hipótese:

— Pode ser o aquecimento global! Talvez isso tenha afetado a forma como essas aves migram...

—Perus migram? — Scott perguntou, temeroso com essa nova possibilidade.

— Eu acho que deveríamos ligar para alguém, — sugeriu Isaac, o mais sensato do grupo. Ele já estava buscando seu celular para fazer uma ligação ao seu namorado, que, sendo um Dragão Oriental, certamente teria alguma explicação para a bizarra situação em que se encontravam.

— Boa ideia! — concordou Stiles rapidamente, pegando seu próprio celular. Ele ponderava se devia fazer um vídeo chamada para Derek, pensando que mostrar aqueles intimidadores monstros com penas poderia ajudar a esclarecer a situação.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top