Peru no forno, apenas um?
Ela soltou um grande suspiro enquanto colocava o peru no forno. Parada por alguns instantes, observava a ave ainda crua se transformar sob o calor do equipamento, o vidro fosco apenas insinuando as mudanças que ocorriam dentro.
— O que foi, Melissa? — perguntou John Stilinski, um homem de meia idade que adentrou na cozinha vindo da sala. Seus cabelos castanhos curtos apresentavam nuances de cinza, marcas típicas da maturidade. Seus olhos claros contrastavam com a pele alva, e seu rosto era marcado por linhas de expressão que evidenciavam sua experiência e as preocupações diárias de seu trabalho como xerife da cidade sobrentatural Beacon Hills. Ele se aproximou com uma tigela laranja cheia de stuffing, a tradicional farofa de pão com temperos, cebola, salsão e cenoura, que poderia tanto rechear o peru quanto servir como acompanhamento. — Está faltando algum ingrediente? Posso pedir aos meninos para trazerem mais coisas do supermercado.
Melissa McCall negou com a cabeça, sorrindo para o homem. Seus longos cabelos castanhos complementavam seus olhos expressivos, e seu sorriso largo era acolhedor, transmitindo gentileza e compreensão.
— Não, não está faltando nada... ainda. Sabe, John, esta é a primeira vez que temos um jantar de Ação de Graças com tanta gente. Não estou reclamando, é só que... no passado, éramos apenas nós: eu, você, Stiles e Scott. E agora, olha quantos teremos que alimentar. Estou preocupada de ter errado na quantidade de suprimentos — confessou, voltando o olhar preocupado para o peru.
— Talvez precisemos de mais perus... — murmurou, mordendo o lábio inferior, incerta.
— Mel, vai dar tudo certo — assegurou ele, colocando a tigela na bancada e abraçando-a por trás. — De fato, teremos um grande jantar. Nossa família está crescendo, e, embora possa ser um pouco sobrecarregado, em tão pouco tempo, formamos tantas novas relações... Mas estou feliz.
Melissa se aconchegou contra o peito de John, soltando outro suspiro. Um sorriso brincava em seus lábios.
— Eu também estou. Sabe, eu tinha uma família grande, cheia de primos, irmãos e irmãs. Quando me casei com... bem, aquele traste do meu ex-marido, de certa forma, fui afastada de todos eles. Sempre quis algo assim novamente, cheio de gente e um pouco caótico, mas com amor.
John assentiu, refletindo sobre como antes de se mudarem para Beacon Hills, a vida de ambos era solitária. Ele, um viúvo com um filho para criar, e Melissa, saindo de um relacionamento abusivo também com um filho, tinham se apoiado mutuamente em seu próprio mundinho. Mas agora, tudo havia se expandido; eles não estavam mais sozinhos. Haviam construído uma nova família — não de sangue, mas de laços bem mais fortes.
A porta da cozinha se abriu repentinamente, revelando um rapaz de cabelos escuros e brilhantes, cujos olhos verdes cintilavam com vivacidade. Ele possuía uma estatura esguia e um porte andrógino, destacado pela camisa de lã de mangas compridas e calças de tecido suave que vestia. Em suas mãos, carregava uma tigela cheia de batatas descascadas até a perfeição, as quais ele exibia com um sorriso orgulhoso.
Ao seu lado, um homem mais alto e de pele achocolatada se destacava com a mesma cor intensa de olhos esmeralda, contrastando com seus cabelos escuros cortados de forma prática. Ele também segurava uma tigela, mas as batatas em seu interior eram disformes, com vestígios de cascas mal removidas adornando os tubérculos irregulares.
— Parece que ganhei a competição! — exclamou o rapaz mais baixo, colocando sua tigela sobre a bancada com um gesto dramático, ao lado da de John.
— Isso só porque não usei magia — resmungou o homem mais alto, seu nome sendo Salem, olhando com frustração para suas próprias batatas.
— Um acordo é um acordo, Salem. A ideia era descascar as batatas sem truques, apenas com habilidade manual — defendeu-se o rapaz, agora conhecido como Petrus. — Você concordou! Não vale dizer que foi injusto!
— Eu sei... — Salem admitiu, claramente desapontado com o resultado da competição.
— Oh! Estamos atrapalhando algo? — Petrus perguntou, observando John e Melissa, que ainda estavam abraçados. — Se quiserem, podemos voltar mais tarde. Assim, vocês terão tempo para... fazer o que planejavam na cozinha. Embora eu ache que isso seria um pouco anti-higiênico.
— Ninguém vai fazer nada desse tipo na cozinha, Petrus — John protestou, corando levemente e se afastando de Melissa, que soltou uma risada calorosa.
— Vamos ver as batatas que vocês prepararam... — disse a mulher, aproximando-se de Salem, que segurava a tigela com visível hesitação. Melissa sorriu para ele, tocando-lhe o braço. — Você fez um ótimo trabalho, Salem.
— Sério? Mas... essas batatas estão horríveis. Não são adequadas para o evento. Se eu usar magia, posso fazer as batatas se multiplicarem, crescerem, tornarem-se gigantes... Assim, nunca mais teremos que nos preocupar com batatas! — ele disse, sentindo suas bochechas corarem.
— Ademais, é de conhecimento comum que Salem jamais sucumbe ao erro. Ele se destaca como um dos mais eminentes feiticeiros de toda a América do Norte, quiçá de todo o continente americano. Suas habilidades, refinadas e poderosas, estão predestinadas a serem empregadas em empreendimentos de grande magnitude e importância... E decerto não no trivial ato de descascar insignificantes tubérculos com as próprias mãos! — falou um livro que se materializou magicamente ao lado de Salem. Era seu grimório, que aparecia somente para enaltecer seu mestre e se vangloriar do poder do bruxo Salem para todos.
— Shhh! — resmungou Salem para o livro — Eu não vejo nada de errado em descascar, mas...Eu nunca fiz isso antes...
— Shhh! — Salem repreendeu o livro. — Não vejo problema em descascar, mas... nunca fiz isso antes.
— Ah, coitado do bebê Salem! Parece que a magia te deixou mal-acostumado. — provocou Petrus, cutucando o amigo. — Talvez você devesse fazer mais coisas comuns, como varrer a casa, arrumar a cama, jogar o lixo fora... Em vez de ficar sempre deitado e se espreguiçando como um gato.
— Eu já fui um gato. — enfatizou o bruxo. — Mas pelo menos não uso minhas habilidades para causar explosões por aí. Minha magia facilita as coisas, ao contrário da sua, que vive ativando o alarme de incêndio e trazendo os bombeiros para nossa casa. Até decorei o nome dos membros da brigada de incêndio de Beacon Hills: Bill, Renato, Sofia... — ele começou a contar nos dedos.
— Eu não faço coisas explodirem o tempo todo! Só às vezes... E nas últimas vezes nem precisaram dos bombeiros. Instalei um sistema anti-incêndio e comprei extintores, então... — explicava Petrus, o alquimista, gesticulando.
— Meninos, meninos... — interrompeu Melissa, pegando a tigela de Salem e colocando-a ao lado da de Petrus. — Sem brigas hoje, por favor. Agradeço a ajuda de ambos, mas agora precisamos que vocês cozinhem as batatas para fazermos o purê. Hum... Será que temos batatas suficientes?
Ela olhou novamente para o peru no forno, sua expressão marcada pela preocupação sobre a suficiência da comida para o jantar de Ação de Graças. Salem percebeu seu olhar e contemplou o peru com interesse.
— Não se preocupe, Mel — disse John, colocando as mãos sobre os ombros da mulher com carinho. — Tudo vai dar certo. E se faltar comida, sempre podemos pedir uma pizza.
— Pizza em nossa Ação de Graças? — Melissa o encarou, chocada, como se a sugestão fosse um sacrilégio.
— Pizza de peru — insistiu John, com um sorriso travesso.
— Nunca, jamais! — exclamou ela, dando-lhe um tapa leve no ombro. — Está repreendido! Nenhuma pizza em nosso jantar, ouviu bem, John Stilinski? Nenhuma!
— Alto e claro — disse ele, erguendo as mãos em sinal de rendição.
— Então, vamos cozinhar! — anunciou Petrus, colocando as batatas descascadas em uma panela. Ao acender o forno, uma espetacular labareda de fogo surgiu, dançando no ar em um espetáculo de cores vivas e multicoloridas. O fenômeno fez Melissa gritar de susto, enquanto John soltava uma sequência de palavrões.
— Era para cozinhar, Petrus Brand, não para incendiar nossa casa! — repreendeu o xerife, fazendo o alquimista gargalhar. Petrus, com um gesto com as mãos, acalmou o fogo que assumiu seu formato normal e seguro.
— Só queria esquentar as coisas um pouco — brincou Petrus, ainda sorrindo com o trocadilho. John revirou os olhos, e Melissa soltou uma risadinha. Salem, por sua vez, não parecia impressionado pelas proezas alquímicas de Petrus. Seu olhar permanecia fixo no peru. Ele sabia que poderia ser útil, talvez não em tarefas manuais, mas com magia. Sim, ele poderia ajudar Melissa e os outros nesse evento tão especial. Bastava um estalar de dedos e o problema estaria resolvido.
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