Uma nova fase da vida.


– Era para você ficar de olho nele.

– Ele é maior de idade, Mimi.

– Essa informação era para me tranquilizar? Desde quando idade está associada a maturidade. Ou melhor, desde quando ter mais que 18 anos nos torna menos susceptíveis em nos meter em problemas? Isso vale tanto para Petrus Brand quanto para você, Peter Hale. Ambos parecem sentir prazer em apagar o fogo com gasolina!

O lobisomem levou a mão ao coração como fosse atingindo diretamente por aquelas palavras, na verdade era puro fingimento e Michel sabia muito, por isso decidiu ignorar

– Deve ser uma característica típica daqueles cuja as primeiras letras começam com "P"...Peter, Petrus e Pietro! Sempre fazendo algo para aumentar o meu nível de estresse para além do limiar tolerável. Mon dieu!

– Você está exagerando, Mimi. Vai acabar tornando os seus lindos cabelos mais brancos do que eles já são. – Aconselhou Peter tentando não rir do jeito nervoso do seu companheiro.

– Você não está levando isso a sério? Essa é sua mansão e sua Alcateia.

– E?

– Você ainda não apresentou Petrus como o seu...

– O nosso. – Enfatizou Peter de uma forma galante.

Mimi tentou conter o rubor em seu rosto e conseguiu isso com certa facilidade, já que vampiros são especialistas em controlar o fluxo de seu sistema circulatório. Contudo, o fato dele corar já indicava uma falha nesse controle, normalmente provocado por situações inesperadas...E tanto Peter quanto Petrus era exímios em provar tais referidas situações.

– Enfim, notre (nosso)... – Concordou depois de pigarrear.

– Também não apresentei você como meu parceiro. – Disse Peter colocando as mãos no bolso de suas calças cinzentas de linho – É isso que te preocupa, não é? Que minha irmã e os outros não aceitem nossa relação?

Agora Michel tinha parado e afrouxado a gravata Giorgio Armani. Novamente tinha perdido o controle do seu fluxo sanguíneo.

– Bem...Não somos um tipo de casal muito usual. – Admitiu o vampiro sem fitar o lobisomem nos olhos – Também não falei de vocês para o meu clã....Eu...

– Entendo a sua insegurança. Afinal, sentimos isso também anos atrás, recordas?

Aquela recordação atuou como um soco bem no meio do estomago do Beaumont. Sabia que lembranças Peter estava querendo trazer à superfície. O momento ápice de suas adolescências, ápice no sentindo negativo. Trata-se da ocasião que ambos decidiram ocultar seus sentimentos em prol do dever vinculado as suas famílias. Peter aceitou o casamento arranjando com uma lobisomem de outra alcateia para a formação de uma aliança política, aceitando as ordens de seu pai e alfa. Michel aceitou a sua matrícula no Collège Saint Janvier para jovens vampiros, na França, seguindo a tradição de todo Beaumont na formação acadêmica na sociedade vampiresca. Ambos fugiram da admissão do amor que compartilhavam.

A habilidade do controle sobre o sistema circulatório de nada adiantava para curar um coração despedaço por um amor negado.

– Não mais... Não irei repetir o mesmo erro que cometi no passado.

A viagem ao passado foi interrompida com a fala de Peter. Michel estava tão concentrado em sua introspecção que nem tinha notado que o lobisomem tinha se aproximado. Tão pouco notara que Peter tinha disposto seus braços lado a lado do Beaumont, o prendendo de encontro a parede. Peter o mirava com aqueles olhos celestes brilhantes, típica da ativação de sua forma beta lupina.

– Eu não irei permitir que você escape de novo. Meus sentimentos podem permanecer o mesmo do que era no passado...Ou até mais fortes agora...Mas a conjuntura é diferente. Não somos adolescentes com medo da anuência de sua família, temendo renegar a tradição e o dever. Acovardados diante do preconceito a homossexualidade. Não. Somos adultos com a maturidade suficiente para mandar tal dever para a puta que pariu.

– Peter, modos. – Falou Michel, quase de forma automática. Um sorriso se fez nos seus lábios.

– Podemos servir nossas famílias, sem destruir nossos sonhos e desejos. – Frisou em meio a um rosnado. Peter raramente perdia a calma, mas quando perdia...Era se tornava ainda mais belo, pelo menos essa era a opinião de Michel.

– Eu irei sim apresentar vocês como meus amantes, meus amores, meus companheiros, meus namorados. E espero que você faça o mesmo, Michel! Vamos lutar por essa relação que temos... Nós três!

Michel se abaixou para dar um beijo nada contido nos lábios do seu lobisomem. Beijo esse que foi correspondido com entusiasmo por Peter. E ali, no meio de um dos corredores da mansão Hale, os dois começaram a trocar caricias, beijos, rosnados de prazer até que...

– Queridos, vocês nem me chamaram para festa? – Alguém falou. Alguém que eles conheciam muito bem. Peter e Michel sorriram, sem interromper o beijo que trocavam, já iria convidar o "intruso" para a dita festa, mas ele não estava sozinho.

– Que festa? Do que você está falando? Eu não consigo ver! – Choramingou Alice, a pequena lobisomem tinha os olhos cobertos pelas as mão de Petrus Brand – Sinto cheiro do papai e do senhor Beaumont! Eles também estão na festa?

Aquilo foi o suficiente para Michel e Peter abrirem os olhos (estavam tão envolvidos no beijo, que até os tinha fechado, algo que ambos nem tinha notado) e se separar com certa relutância.

– Alice. – Disse Peter, tentando retomar a compostura, principalmente abafar o seu cheiro que devia estar sinalizando a sua excitação. Devia agradecer que sua filha ainda não entendia as nuanças dos diferentes aromas, para identificar tal adocicado e sexual odor que emanava não só dele, mas de Michel e Petrus também.

– Papai! – Sorriu a criança ao se ver liberta das mãos de Petrus, logo em seguida acrescentou com clara desapontamento – Cadê a festa?

– Er...

Michel pigarreou novamente, sem saber o que responder.

– Esqueceu que teremos nossa festa, lindinha? Estou me sentindo excluído agora! Já está me trocando por outra festa? – Petrus falou em um tom dramático que fez a filhote rir.

– Oh! Não esqueci, tio Petrus! Ainda teremos a nossa festa!

– Vocês estão planejando fazer uma festa? – Inqueriu Peter, desconfiado. Não tinha ainda apresentando a sua filha ao Petrus, mas pelo visto o alquimista se adiantando (como sempre) e conquistado a pequena Alice com o seu incrível charme, afinal, a pequena já chamava Petrus de tio.

– Sim! Tio Petrus irá pintar as minhas unhas! – Disse a menina, dando pulinhos de felicidade – Ele disse que podia criar as cores que eu quisesse! Isso não é legal? Ele é tipo um magico!

– Alquimista, docinho. –Piscou Branda para a criança – Alquimista. Não é um truque e sim pura ciência. Mas...Bem...Devo dizer que tem um pouco de magia no meio.

– Como vocês dois se conheceram? – Michel indicou a cabeça para a dupla, claramente confuso.

– Eu estava perdido, admito. – Petrus explicou fazendo gesto excessivos com suas mãos – Essa mansão é um labirinto! Eu só fui ao banheiro e depois nem sabia aonde estava! Se não fosse essa valorosa princesa guerreira, eu teria me perdido para sempre nesses corredores assombrados...

– Eu sou uma princesa guerreira? – Perguntou Alice com olhos brilhando.

– Obvio, querida. Você me salvou! É a minha heroína!

– Pai...Eu sou uma heroína...E uma princesa guerreira! – Sussurrou Alice, claramente orgulhosa com o título que havia recebido.

Peter sorriu, sua filha estava totalmente encantada por Petrus. E não era só ela, o lobisomem e o vampiro também totalmente enfeitiçados por aquele charme.

– E por ela me salvar que prometi uma festa. Um evento de manicure e pedicure próprio para princesas guerreiras. – Completou a explicação, Petrus.

– Sim! Vem! Meu quarto é logo ali! – Nisso a lobisomem arrastou o humano para uma porta no final do corredor.

– Mas...E o jantar? – Quis saber Michel seguindo a dupla, afinal, o que mais iria fazer?

– Tio Tony ainda está preparando e conhecendo ele, vai demorar um pouco Ainda mais quando temos visitas! Ele irá encarnar o próprio espirito do master chef, explicando os ingredientes, o modo de preparo, o aspecto cultural do prato e assim vai...– Tranquilizou, Peter também acompanhando o grupo – Acho que teremos tempo para...Bem...

– Você vai querer participar da festa, papai? – Perguntou Alice já abrindo a porta do seu quarto, a porta cheia de adesivos de personagens de seus desenhos animados preferidos – Vai deixar eu pintar as suas unhas?

Peter massageou o pescoço sem saber o que responder, não era algo muito convencional de se fazer, sendo ele homem e...

– Eu gostaria de ter minhas unhas pintadas. – Falou Michel, sem relutância. Alias, o vampiro já tinha até retirado seu casaco e estava arregaçando as mangas de sua camisa branca de seda – Você faria isso por mim, ma princesse (minha princesa)?

Alice ficou boquiaberta (essa foi sua primeira reação) e depois corou que nem um tomate fresco (essa foi sua segunda reação). A menina não entendia muito bem o francês, mas conseguiu discernir a palavra princesa. E por que essas reações? Para Alice, Michel era o que mais parecia representar alguém da realeza, logo, ser chamada de princesa por ele era um estupendo elogio.

–V-vou tentar...Senhor Beaumont. – Gaguejou a menina, toda tímida. Peter até entendia a sua cria, Michel tinha esse efeito nas pessoas, um verdadeiro rei. E como um monarca soberano, governa o coração de Peter e Petrus.

– Pode me chamar de Michel.

– Ou, Mimi. – Acrescentou Petrus risonho. Michel nem tentou corrigi-lo, já estava se resignando a aceitação do apelido.

O grupo adentrou no quarto da lobisomem, havia uma coleção de lobinhos de pelúcia misturado por pilhas e mais pilhas de livros infantis, tudo isso espalho pelo chão. Nas paredes havia estantes meio que entupidas de bonecos, tanto barbies quanto bonecos de ação, além de uma pequena coleção de pelúcias do Pokemon.

– Ela puxou a você em desorganização. – Comentou Michel enquanto caminhava tentando não derrubar as ditas pilhas de livros, o que só adicionaria mais caos ao caos.

Peter apenas riu, não negando a fala do vampiro. Alice os guiou até a sua cama, se sentando ali com entusiasmo. Seus convidados a imitaram.

– Eu tenho alguns esmaltes aqui... – Revelou Petrus, retirando alguns dos pequenos recipientes com tinta de sua bolsa (uma pequena bolsa lateral, bolsa essa que era brilhante por estar recoberta de lantejoulas douradas) – Não se preocupe com as cores, posso alterá-las... E se você tiver um pouco de água, posso transformar em acetona.

– Ohhh! – Alice estava ansiosa para ter suas unhas pintadas, apesar de ter tia e primas, nenhuma delas ligava muito para essas coisas. Até mesmo os penteados de seu cabelo eram feitos pelo Derek, o único com paciência e delicadeza para pentear seus cabelos, mas o seu querido primo só sabia fazer dois tipos de penteando, rabo de cavalo ou trança.

– E não tenha receio quanto as minhas habilidades como esteticistas. Sou muito experiente nessa área (mesmo que seja mais um hobbie do que profissão!). Minhas amigas drag queens da boate são minhas principais clientes. E as unhas delas são fabulosas! – Tagarelou Brand para a criança que apenas assentia em concordância.

– Você trouxe esmaltes para uma reunião da Alcateia? – Quis saber Peter.

– O que posso dizer? Estou preparado para tudo, meu amor. – Lançou um beijinho no ar para o lobisomem que não pode ocultar um sorriso se formar em seus lábios.

– Então, qual cor iremos pintar as unhas do Mimi? – Questionou Brand para a sua nova amiga – Vermelho sangue?

O vampiro rolou os olhos para tal sugestão.

– Prefiro algo menos estereotipado e que combine com a minha roupa, achas que consegue achar o equilíbrio entre estilo e moda, Petrus?

– Isso é um desafio, Mimi? Parece que está me desafiando! – O alquimista fez um biquinho bastante fofo na opinião do lobisomem e vampiro – Eu nunca fujo de um desafio, querido!

– Papai, qual cor você quer? – Inqueriu Alice também animada para pintar a unha de alguém.

– Eu... Bem... – Peter estava prestes a esconder a sua mão, mas essa foi capturada por Petrus, que sorriu de forma travessa.

– Está com medo de uma tinta em suas garras? Ora, ora, meu lobinho, imaginei que fosse mais corajoso. Pintar as unhas não irá destruir sua masculinidade, sabe?

Peter rosnou, mas não desvencilhou a sua mão. Na verdade, observou com bastante interesse quando Petrus levou a mão de Hale para próximo de seus lábios. Em seguida, Brand deu leve beijo na ponta dos dígitos do lobisomem.

– Petrus... – Alertou Michel.

– Ora, eu só estava analisando com maior detalhes a cutícula do senhor Hale. Apenas isso. – Riu Brand, dando uma piscadela para o vampiro.

– Vocês três... – Alice começou a falar, fazendo os adultos ficarem tensos – São tipo amigos?

Por alguns segundos ninguém respondeu. Os três trocaram olhares apreensivos.

– Mais ou menos isso... – Começou a falar Petrus.

– Somos namorados. – Revelou Peter, assim, sem mais nem menos. Surpreendendo os outros dois – Eu queria apresentá-los a você, Alice... Digo, sei que pode parecer meio diferente e...Meio inesperado...Mas...Eu gosto muito deles...E gostaria que eles fossem seus amigos...Er...

Peter sempre foi bom com as palavras, era um dom, contudo, naquele momento as palavras escapavam. Como explicar para a sua filha o que sentia? Não queria viver mais nas sombras, mas será que iria suportar o desprezo de seus familiares mais queridos?

"Eu devia ter inventando uma desculpa..." Praguejou em pensamento.

– Pera! Pera! Se eles são seus namorados...Significa que... – Alice franziu o cenho, claramente se esforçando para absorver e conciliar todas as informações que tinha recebido naquele momento, os adultos esperaram ainda mais apreensivos pela a resposta da criança.

– Significa que Tio Petrus e Tio Mimi irão me visitar mais vezes?

O grau de animação naquela inocente pergunta fez com que o nó no peito de Peter se desfizesse. Não havia sinal de raiva ou aversão naquela fala, pelo contrário.

– Só se você quiser... – Sorriu Peter.

Alice deu um gritinho feliz, se jogando na cama e rolando para os lados, esbanjando seu entusiasmo com possibilidade de ter aqueles seres sobrenaturais como seus novos amigos.

– Então... – Pigarreou Michel – Ainda estou esperando pela minha manicure.

– Alice, venha aqui... – Chamou Petrus para a energética lobisomem, já pegando a mão do seu vampiro para iniciar o processo de pintura – Vou te mostrar como pintar uma unha e depois você irá demonstrar seu aprendizado nas unhas "virgens" do seu pai.

– Como é? – Peter arqueou as sobrancelhas.

– Eba! – Comemorou Alice levando as mãos para o alto – Quero pintar as unhas dele de rosa!

– Cor perfeita! – Concordou Michel.

– Combina com os olhos dele. – Assentiu o alquimista em um tom provocador.

Peter soltou um suspiro resignado. Pelo visto, aquela seria sua nova realidade.

– Aceito o rosa se vocês pintarem as unhas do Mimi da cor verde abacate!

Comment est-ce? (como é que é?) – Exclamou o vampiro, quase caindo da cama.

– Ora, é uma boa ideia! Verde abacate realmente combina com os olhos do Mimi! – Disse Petrus já mudando a cor do esmalte para a cor verde bem berrante, quase neon.

– Meus olhos possuem íris encarnadas, como o verde combina com isso?

– Acho que você ficaria bonito, Mimi. – Opinou Alice.

Mon Dieu... – Disse o Beaumont conformado, como poderia dizer não a uma criança, ainda mais quando ela parecia por demais com Peter Hale. Aquilo era muito injusto.

Peter gargalhou. Não podia negar que estava extremamente feliz com aquela nova fase que se iniciava em sua vida.


~~~*Palavras da autora*~~~

Um especial do dias das mães! (sim, sei que Peter é pai, mas o capítulo é sobre família, então... Acho que valeu o presente!).
Espero que tenham gostando desse capítulo especial!

Não esqueçam de me seguir no Twitter (NathyMaira1) e no instagram (nmcmsama).
Novamente feliz Domingo das mães! 

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