Um novo professor?


A cozinha da mansão contrastava com o estilo do resto da mansão. Ou seja, aquele espaço parecia mais moderno, arejado e alegre em comparação com o clima depressivo e assombrado que parecia emanar do restante da residência. E agora Stiles sabia que o termo assombrado era mais do que apropriado para se referir a mansão.

Sentando em sobre um alto assento disposto ao redor da bancada de mármore, Stiles remexia a caneca de chá que Alam havia o oferecido. Não sabia muito bem que chá era, pois nunca vira uma cor tão dourada e um cheiro tão adocicado associado àquele tipo de bebida. Apesar de ainda não ter provado, imaginava que o gosto deveria ser minimamente interessante, até mesmo gostoso. Mesmo curioso com a degustação de um chá "mágico", ainda não se sentia compelido a beber, as imagens da sua viagem ao passado ainda o assombravam...Além disso, havia outra distração.

— Você teve muita sorte mesmo que eu estava por perto. Lógico que não imaginei que uma visita poderia se transformar em ter que me submeter a um trabalho braçal, se assim posso definir. Não que eu seja contra as atividades laborais, não. Super apoio o trabalho pesado, mas quando outros o fazem e não eu... — tagarelava o homem de tez negra e olhos de magnífico íris esverdeada. Sim, era o homem bonito, com músculos firmes e na proporção adequadas a alguém que tem uma rotina de exercícios recorrentes, mas não o nível de um bombado fisiculturista. Cabelos escuros encaracolados caiam de forma displicente sobre a sua fronte, mas não havia vestígio de pelos no resto do corpo. Stiles sabia disso, pois não havia como não perceber quando o homem estava sentado a sua frente, nuzinho-da-silva! Sem dúvida, aquilo era uma grande distração.

— Você pode argumentar que magia não deveria ser considerado como um "trabalho", já que se trata de uma força externa a qual invoco para exercer o trabalho em si e que eu mesmo não levando "fisicamente" nenhum dedo sequer. Isso é uma grande mentira. Manipular a energia etérea também cansa... — ele continuava a falar o pelado. Para piorar a situação, o nudista ainda lambia os dedos sujos de sardinha. Lambia e soltava pequenos gemidos de prazer.

Stiles engoliu em seco, se antes tinha dúvidas sobre a sua orientação sexual, agora não tinha como negar a atração que sentia por homens. Ele chegou a pensar que fosse Derekssexual... Contudo, a presença daquela figura era a prova irrefutável que podia se excitar com...

Derek rosnou e colocou outra latinha de sardinha na frente do convidado despido. Colocou foi eufemismo, ele lançou a latinha sobre a bancada ao ponto de amassar o referido contêiner de comida em conserva.

— Roupas. — o Hale exibia uma clara dificuldade de pronunciar aquela única palavra. Devia ser mesmo difícil falar quando estava prestes a assumir sua forma lupina feroz.

— Hum? — o ativista em favor da liberdade de andar despido pegou a latinha sem dar a devida atenção pelo olhar fulminante que era lançado sobre si.

— Você. Devia. Usar. Roupas.

— Ora, você não é o primeiro a me recomendar isso. Não se preocupe, irei devidamente anotar o seu pedido e arquivar na minha pasta de sugestões que nunca irei seguir.

Os olhos de Derek faiscaram no tom dourado, um claro indicativo de perigo. Alam interveio:

— Salem, entendo que deve ser inconveniente andar vestido já que logo irá assumir a forma de gato e as peças de roupas serão descartadas...

— Precisamente. É uma grande dor de cabeça. A nudez parece causar mais impacto do que outras atrocidades que ocorrem todos os dias. Pura hipocrisia...

— Hipocrisia? Não se trata apenas do pudor, mas do respeito a outras pessoas que podem não se sentir à vontade em te ver dessa forma! — argumentou Derek.

Salem arqueou as sobrancelhas.

— Minha nudez te incomoda tanto assim? Achas que meu corpo de alguma forma provoca asco...

— Não! — respondeu, subitamente Stiles que ao receber a mirada irritada de Derek resolveu que era o momento ideal para provar o seu chá.

— Enfim... — Salem deu os ombros — Eu não estou na forma humana por escolha própria. A minha forma felina é mantida por magia, mas...Devo admitir que estou meio esgotado no momento.

— Esgotado? — Alam exibiu preocupação — Salvar Stiles foi assim tão difícil?

Derek havia explicado anteriormente o quão forte Salem era dentro de sua classe de bruxos. Alguém com tamanho poder agora nem sequer conseguia manter sua forma de gato?

— Eu tinha dito antes: magia temporal é por demais complexa de se controlar. Pelo menos para um bruxo. Tivemos sorte por ser o magnifico Salem a desempenhar essa função, mas se fosse outro cara metido a Harry Potter, provavelmente não teria sorte em trazer o garoto de volta ao presente. — explicou comendo uma sardinha sem muito entusiasmo.

— Desculpe... — sussurrou Stiles voltando a encarar sua caneca de chá.

— Não se culpe por isso. — disse Alam de forma compassiva — O que Salem disse só exemplifica a realidade das categorias dos humanos dotados de magia. Um bruxo, por mais poderoso que seja, não pode atuar como fosse um caminhante do tempo. Tão pouco um alquimista poderia ocupar a mesma posição de um druida. Essa distinção de poderes não é fruto de uma tentativa arbitraria de segregação, é a realidade natural...

— Mas... Eu pensei que o senhor Salem...

— Senhor não, por favor. — reclamou o ex-gato fazendo careta.

— Eu pensei que Salem — se corrigiu —, poderia me ajudar controlar o meu poder.

Alam soltou um suspiro.

— Eu lhe informei que você teria uma mestra, uma caminhante do tempo que poderá te ajudar e...

— Mas você é mestre do Petrus! Ele é um alquimista e você um druida...

— Isso é verdade. — assentiu Deaton — Mas eu não interfiro na alquimia de Petrus Brand, eu o instruiu no quesito sociedade sobrenatural, já que ele viveu muitos anos sem estar integrado na comunidade dos seres sobrenaturais. Quanto aos seus poderes, um dos motivos de sugerir que Petrus se engajasse na universidade era para ter contato com o grupo de estudos alquímicos e assim conviver com outros membros de sua classe. O seu caso, Stiles, é diferente... Você faz parte de um raro grupo de humanos dotados de magia. Digamos que você é bem especial...

— Eu não me sinto tão especial assim... — admitiu o garoto, cabisbaixo. De fato, se sentia extremamente solitário e desamparado.

Derek colocou a mão sobre o ombro do adolescente, tentando reconfortá-lo.

— O que impede que essa mestra chegue logo nos Estados Unidos? — exigiu saber o lobisomem.

— Ela tem seus próprios assuntos a tratar, Derek. Não podemos exigir que todos se submetam as nossas vontades. O mundo não gira entorno de Beacon Hills, outros locais do mundo também sofrem seus problemas. — advertiu Alam.

— Eu posso ajudar o garoto. — declarou Salem, ele lambia a latinha já sem sardinhas.

— Pode? Como? — Derek voltou a rosnar.

— Tanto eu, como Alam podemos ser classificados em classes diferentes, mas no fim somos humanos dotados de magia. Existe algumas coisas que são compartilhadas entre todas as classes.

— Isso é ensinado nas Classes Especiais, não? — lembrou Stiles.

— O que ensinamos lá são os conceitos básicos e superficiais. A parte mais profunda sobre a magia, por exemplo, é dada para os seres que são declarados pertencentes a classes especificas de humanos dotados de magia, como bruxos, druidas, feiticeiros, alquimistas, necromantes... Você, Stiles, não foi registrado oficialmente...Para o governo, ainda é um estudante humano "normal". Isso nos impede de oferecer certos ensinamos segundo a legislação do Departamento da Educação dos Estados Unidos. Mas...

— Por debaixo do pano, tais ensinamentos podem ser ministrados. — completou Salem com um sorriso — Imagino que não pretendem registrar o garoto, não agora que agentes federais rondam a cidade.

— Muito menos quando um grupo assassino de anti-sobrenaturais está a solta. — acrescentou Derek, puxando Stiles para mais perto de si como que para protege-lo da dura realidade da situação.

— Alam é um professor registrado e limitado pelo governo. Entretanto, o formidável Salem está livre para receber pupilos. — falou isso abrindo os braços, como se literalmente quisesse abraçar seus pupilos imaginários. Stiles quase se sentiu compelido em abraçá-lo, mas foi contido por um muito raivoso lobisomem.

— Que experiência você tem na licenciatura? Só porque tem poder não lhe dá mérito como um professor capacitado para instruir alguém! — disse Derek, novamente rosnando.

— Você tem outra pessoa capaz de mexer com magia temporal? O dragão seria uma boa opção, mas pelo o que soube, ele não poderia ajudar no momento... — Salem falava enquanto analisava suas unhas — Apesar de me desgastar com esse tipo de magia, ainda sou o único ser sobrenatural qualificado para ajudar o garoto. Pelo menos até a sua mestra chegar...

Derek se calou, parecia que desejava ter algo para contradizer o gato-bruxo, mas simplesmente não dispunha de nenhum argumento. Por isso, Derek fez a única coisa que podia fazer no momento: soltar um rosnado frustrado.

— E o que você ganha com isso? — perguntou depois de extravasar sua irritação. Salem não parecia ser alguém que se submeteria a situação dessa. Afinal, o bruxo preferiu escapar das responsabilidades de liderança para assumir a forma de um gato preguiçoso.

— Humanos que tem a faísca. — os olhos esmeralda de Salem pareciam brilhar como uma centelha ao falar — Esse assunto sempre me fascinou. As habilidades de bruxos são hereditárias, como de muitos outros seres... A existência de humanos sem nenhum ancestral sobrenatural do nada manifestarem a magia são um mistério por demais intrigante para ser ignorando.

— Stiles não é só um enigma para saciar a sua curiosidade. — defendeu o Hale.

— Espera, Der. — interrompeu Stiles — Eu meio que entendo ele...Digo, também sou fascinado por mistério. Não é atoa que me meto em tantas confusões, não é mesmo? A questão é que...Não posso continuar saltando no tempo, sem controle. E o pior...Sem saber como voltar. Eu preciso de controle...E se Salem pode me ajudar nisso, eu aceitarei me tornar seu pupilo, mesmo que temporário.

Salem pareceu ronronar com aquela resposta. Derek, por outro lado, não estava satisfeito.

— Acho que essa será uma ótima ideia — analisou Alam acariciando o seu cavanhaque — Mas se você será um professor, Salem...Roupas devem ser usadas. Sugiro que providencie vestimentas adequadas imediatamente.

Salem fez careta e Stiles soltou um suspiro de decepção que foi acompanhado por um rosnado ciumento de Derek.

~**~

— Não precisa ficar amuado...

— Eu não estou amuado.

— Sério? Pois parecia que você está chateado por eu ter me tornado discípulo de Salem...Deve ter sido uma impressão louca que tive. Afinal, você rosna tanto que as vezes é difícil decifrar todos os seus significados. Contudo, com a minha grande experiência como tradutor não-oficial dos rosnados de Derek Hale, eu tenho quase certeza de que a maior parte dos rosnados indicavam uma coisa...

— O que? — inqueriu Derek, ainda sem encará-lo. Os dois tinham retornado ao jardim e arrancavam as ervas daninhas, mas o lobisomem insistia em ignorar o humano que estava literalmente ao seu lado.

— Ciúmes.

Derek não respondeu de imediato, mas quando o fez sua voz estava grave e repleta de irritação.

— Eu senti o cheiro...

— O que? Eu juro que não fui eu! Deve ter sido o Salem, afinal...Comendo tantas sardinhas em tão pouco tempo, um peido deveria ser a consequência natural de...

— Não esse tipo de cheiro. — interrompeu Derek, impaciente — Eu senti o cheiro de sua excitação.

Stiles fez um perfeito "o" com os lábios. Seu rosto esquentou, indicando a vermelhidão que devia estar se alastrando por sua face.

— Bem, não podemos negar que o Salem é bonito. Na sua forma humana, devo enfatizar.

Derek soltou um resmungo, arrancando com demasiada força uma das ervas daninhas.

— Mas, Der... Você não precisa se preocupar, ok? Achar outras pessoas bonitas e atraentes é algo normal. Se você soubesse quantos crushs eu tenho... A maior parte dos Avengers, incluindo o Hulk, os irmãos winchesters, cantores Kpop, personagens de animes e vídeo games, o seu tio Peter, a sua irmã Laura...Enfim, a lista é quilométrica! Mas, nenhum deles se compara a você...

— O que eu tenho de tão especial para capturar a sua atenção, Stiles? – Derek sussurrou, fitando a grama como se ela e não Stiles pudesse lhe dar uma resposta.

Stiles se aproximou do lobisomem e colocou sua mão sobre a dele.

— Você é especial, Derek. Quando rosna, quando tenta me proteger... Quando é todo nerd e certinho. Quando é super teimoso. Quando se importa com os outros apesar de não demonstrar com palavras. Você é meigo e tem um bom coração. Como poderia não me sentir atraído por você? E em relação a músculos, você ganha de Salem com toda a certeza!

Derek riu. Stiles encostou o sua cabeça no ombro do lobisomem. Por enquanto, eles saboreavam o momento. Dois rapazes, acocorados em meio a um mato denso com ridículos chapeis de palha. Daria uma bela capa de livro romântico.

— Espera... Você tem um crush no meu tio? E na minha irmã? — inqueriu Derek se voltando para Stiles que deu uma risada nervosa.

— Ei! Não vamos procrastinar...Temos muito trabalho a fazer! Chega de papo e mais trabalho! — falou Stiles voltando a arrancar as plantas com ânimo renovado.

Derek rolou os olhos com aquela atitude.

— E... — disse Stiles depois de um tempo.

— Pensei que era sem papo e mais trabalho. — comentou Derek enxugando o suor de sua testa. Notou que agora era Stiles que no encarava, cutucando com um dos dedos uma joaninha, o adolescente continuou a falar:

— Você nunca me perguntou o que vi quando "caminhei" no tempo.

— Bem, você não parecia disposto a relatar com detalhes a sua viagem, então, achei que não deveria insistir nesse assunto. Talvez fosse algo traumático ou mesmo algo muito bobo. Enfim, não acho que eu devo te forçar a nada, ainda mais algo relacionado ao se poder. Quando estiver pronto para falar...Eu estarei aqui para ouvir.

Stiles soltou uma fraca risada.

— Com esse tipo de atitude, você ainda acha que eu não iria me apaixonar? Você é muito bobo, Derek Hale...

Derek sentiu seu coração dar um salto em seu peito. Contudo, aquela alegria momentânea também foi acompanhada por um sentimento de medo. Será que Stiles iria ainda gostar dele ao saber de seu pecado passado?

— Stiles, eu tenho algo para...

— Derek, eu tenho algo para contar...

Os dois tinham falando ao mesmo tempo e se fitaram com um misto de confusão e divertimento.

— Se temos algo para contar, um para outro...Acho que devemos ter um pouco de privacidade. — anunciou Derek se levantando, limpando o resto de folhas e terra de sua roupa.

— Privacidade? Você tem um lugar em mente?

Derek deu um sorriso e ofereceu a mão para Stiles que a aceitou sem hesitação.


~~Palavras da Autora~~

Pessoal eu estou estudando e por isso estou com pouco tempo para me dedicar a escrita. Peço perdão! Terão que ter paciência mesmo com relação as atualizações...

Quando essa capítulo...Será que o próximo teremos o lemon? (joga a bomba e sai correndo).

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