O jardim - Parte 1
A mansão Hale se erguia imponente por entre as árvores da reserva de Beacon Hills. Era impressionante como um local parecia emanar tantas emoções diferentes no coração de Stiles. Ansiedade. Curiosidade. Nervosismo. Medo... Bem, não podia negar que a última visita a sede da alcateia Hale foi, de certa forma, traumática. Muitas coisas ocorreram de uma vez, desde a reunião, encontro com fantasmas e reencontro com um arquinimigo do passado. Por isso, era justificável ficar apreensivo conforme se aproximava da porta de entrada.
Seus pais (John e Melissa) o tinha trazido até ali. Segundo eles, Stiles foi convocado por Talia Hale (a alfa e sua futura sogra) para cumprir a punição que haviam discutido na reunião. Stiles agora se arrependia de ter sugerido tal coisa... Na hora parecia o certo a se fazer, receber a culpa por todos os eventos que ocorreram, livrando a barra de seus companheiros. Ele receberia a pior punição. Mas o que seria pior?
– Só espero que ela não me faça assistir as aulas da senhora Stones até morrer por overdose de matemática! Sério, esses tipos de aulas deveriam ser acompanhados com um sinal de alerta: cuidado, ensino perigo, capaz de gerar danos irreversíveis aos neurônios e ao psicológico do aluno. – tagarelou diante da porta de frente da mansão – Talvez eu esteja exagerando um pouco, a culpa não é da matemática e sim da senhora Stones...Ela seria capaz de transformar qualquer matéria em um instrumento de tortura!
Estava enrolando, sabia disso, mas simplesmente não conseguia conter o tremor de sua mão. Deveria bater na porta, anunciar a sua presença e dar início a sua horrenda punição. Sabia disso, mas não fazia nada para pôr em prática o que tinha analisado em pensamento. E ali estava ele com a mão levantada, esperando que seus músculos tomassem a iniciativa para terminar o movimento. Seus músculos não pareciam estar muito a fim de se movimentar por conta própria, infelizmente.
– Eles poderiam me mandar para as masmorras... Tenho certeza de que existem algum tipo de masmorra nessa mansão... – continuou a matutar, ainda sem bater na porta.
– Ou ela pode me usar para caçadas. Digo, lobos caçam, não é? Derek me falou das corridas que eles fazem na lua cheia...Quiçá seja um eufemismo para caçadas sanguinárias lupinas...Ou talvez fossem tal como as corridas de cachorros, a qual os caninos correm atrás de um coelho de mentira. A alfa pode achar que um Stiles seriam um bom substituto para um coelho. Uma forma de estímulo para a corrida...Um prêmio... Ah! Mas eu daria um péssimo coelho...Digo, eu tropeço mais do que corro! Seria pego logo no início e...
– Você vai entrar ou não?
– AHH! – gritou Stiles e até de um pequeno salto para trás, não tinha notado que a porta fora aberta e que alguém o observava com um olhar misto de crítica e divertimento.
– Então... Um coelho? – Cora perguntou para o embaraçado Stilinski. A garota não estava usando o seu típico uniforme de casaco de couro e tão pouco estava portando a expressão patenteada da família Hale: a expressão de chupador de limão. Usando uma camisa vermelha folgada e calças jeans, podia até parecer uma adolescente amistosa e receptiva.
– Eu costumo pensar em voz alta. – explicou, rapidamente, Stiles – E não é nada educado ouvir os pensamentos de outra pessoa, sabe?
– Mesmo que essa pessoa fale em voz bem alta?
– Mesmo assim! – insistiu com as bochechas vermelhas, Stiles tinha certeza de que agora deveria estar parecido e muito com o Pikachu.
– Enfim, você está sendo esperado na parte de trás da Mansão. Minha mãe está em uma reunião e não poderá supervisionar sua punição diretamente.
Stiles não ocultou o seu alívio, soltando um longo suspiro e deixando o seu corpo relaxar. Mas em seguida ficou tenso.
– Peter, então? – o segundo no comando da alcateia podia ser igualmente aterrorizante. Stiles praticamente sentia a perigosa criatividade que emanava de Peter Hale. Criatividade essa também compartilhada por Stiles. Por causa disso, Stilinski temia o que Peter poderia ter preparado para ele, ainda mais depois de ouvir os relatos dos seus amigos sobre a suposta reunião organizado pelo Hale... Fazer Aby usar aquelas roupas...Stiles tinha até emoldurado a fotografia do seu amigo. Enfim, Peter Hale era perigoso!
– Não, tio Peter está resolveu algumas coisas... Ele está com o senhor Michel e o Petrus Brand...Acho que estão tendo um encontro ou algo do tipo.
Novo relaxamento. Se os dois chefões da alcateia não estavam presentes, logo a punição não deveria ser tão ruim. Quem seria o responsável por o supervisionar? Tio Tony? Derek?
"Seria interessante se fosse o Derek?" pensou deixando um sorriso nada inocente se formar nos seus lábios.
– Quero ver se continuará sorrindo quando souber o que o Alan planejou... – comentou Cora também sorrindo, mas de uma forma nada amigável.
– Alan? O professor Deaton?
– Quando minha mãe e tio não estão presentes é ele o líder da alcateia, sendo ele o nosso emissário.
Stiles não sabia como deveria reagir. Alan parecia ser um cara legal, mas talvez essa fosse apenas uma estratégia pedagógica, sendo ele um professor. Ali, ele não estaria limitado a conduta de ensino do Instituto...Ali ele era um emissário, representante da alcateia Hale.
– Bem, vamos lá! – disse para si mesmo, tentando incentivar as suas pernas a darem o primeiro passo, mas elas não pareciam muito animadas para fazerem tal ação.
– Nossa! Pare de enrolar! – Cora o "ajudou", puxando pelo braço e o arrastado de forma "bem delicada" (para não dizer o contrário) pelos corredores tortuosos da mansão.
~***~
– Oh! Stiles, fico feliz que tenha vindo! – falou Alan colocando um chapéu de palha sobre a cabeça do confuso Stiles. O emissário estava em pé diante de uma parte da residência dos Hale que o adolescente desconhecia. Quando participara do churrasco, eles só utilizaram o espaço próximo a mansão, mas ali era distante, mais próximo da floresta da reserva. O mato tinha se alastrado tornando impossível ter certeza para quê aquele local era utilizado.
– E eu tinha opção de não vir? – inqueriu Stiles, desconfiado.
– Não. – respondeu o druida sorrindo.
Stiles ajeitou o chapéu, ainda sem entender o que aquilo significava.
– Aqui está a sua tarefa, não gosto do termo punição. Eu e Talia concordamos que o principal objetivo disso é o aprendizado e não o sofrimento. Afinal, se queremos que o individuo não erre novamente devemos instruí-lo e não o machucar. – explicou Alan.
– Oh! Isso é bom...Eu mesmo não gosto de sofrimento. E machucados? Não. Não sou nenhum fã de dor, machucados, feridas e afins. Se pudermos evitar essas coisas, ficarei muito contente.
– Pois bem. – Alan entregou uma enxada para Stiles – Ao trabalho.
– Er...O que eu devo fazer, precisamente?
– Arrumar o antigo jardim da família Hale.
– E...Onde estaria esse jardim?
– Você está nele, Stiles. – riu Alan ao perceber o assombro do adolescente. Aquilo parecia mais um terreno baldio mal-assombrado do que um jardim.
– E-eu irei fazer isso, tipo...Sozinho? – E eu nem gosto de jardinagem! Acrescentou mentalmente. De fato, Stiles não tinha muitas boas experiências com o cultiva de plantas e seus derivados. Durante o fundamental, ele recordou da desastrosa experiência de criar um pé de feijão, algo simples a qual ele só tinha que colocar uma semente do referido vegetal em um algodão molhado e deixar que a natureza fizesse o resto. Contudo, ele tivera a brilhante ideia de "alimentar" o seu "filho-planta" com outras coisas mais "nutritivas e gostosas" do que a sem graça água, e foi assim que empapou o algodão de refrigerante e doces, fazendo o bebê feijão ser devorado por formigas e baratas. Um grande trauma e uma lição valiosa: Stiles não estava preparado para cuidar de outro ser vivo sem supervisão.
– Oh! Não... – negou com a cabeça Deaton – Isso seria demais e nada eficiente. E eu e Talia concordamos que outra pessoa também deveria ser "punida". Na verdade, essa pessoa em particular fez questão de partilhar com você da sua punição.
– Quem...
Antes que Stiles pudesse terminar de formular a sua pergunta, alguém emergiu por trás de uma das moitas. Stiles mordeu o lábio inferior para conter mais um grito de susto. Entretanto, o grito ainda conseguiu escapar por entre seus lábios. O som mais parecia um peido do que necessariamente um grito.
– Essa tesoura de poda não está funcionando direito... – anunciou Derek que, como Stiles, estava usado um chapéu de palha.
O adolescente tinha certeza de que devia estar ridículo usando o chapéu, mas Derek conseguia parecer sexy mesmo fantasiado de jardineiro. Ainda mais, Derek estava usando camisa regata e shorts, algo que Stiles apreciou muito. Na verdade, aquilo parecia um enredo ideal para algum filme erótico.
"Será que não está funcionando? Podemos testar a tesoura em minhas roupas...Tente cortá-las." Pensou Stiles.
– Ninguém irá cortar a roupa de ninguém. E não acho que isso seja uma forma adequada para testar o funcionamento da tesoura de poda. – comentou Alan tentando camuflar o sorriso que se formou em seus lábios.
– C-como...Eu...Você... – gaguejou alarmado, cada palavra falada era uma nova gradação de vermelho a se alastrar por seu rosto.
– Stiles, – Derek, que estava bem corado naquele momento, falou – você estava falando em voz alta...
– Droga...Eu tenho mesmo que aprender a manter meus pensamentos na minha cabeça e não em meus lábios! – retrucou querendo pegar a enxada para cavar a sua própria cova. Estava muito próximo de morrer por vergonha.
– Bem... Vocês têm muito trabalho a fazer. – instruiu o druida já se distanciando – O material de jardinagem está no velho galpão, acredito que tenha outra tesoura de poda para ser usada...
– Espera, você não irá ficar para nos supervisionar? – quis saber Stilinski, afinal, havia uma grande possibilidade de ele preferir namorar a realmente colocar a mão na massa, ou melhor, mão na terra.
– Eu sou um druida, Stiles. As árvores ao seu redor são minhas espiãs, se posso dizer assim.
– V-você fala com as árvores? Como a Flora?
– Não algo tão semelhante. Flora é uma dríada, sua força vital é ligada a uma árvore em particular, além dela ter o poder de manipular a natureza verde a sua volta. Eu, por outro lado, posso retirar da flora e da fauna energia necessária a ser utilizada em encantamentos. Ademais, posso me conectar a natureza e me comunicar com ela e através dela... Alias, druida significaria aquele ou aquela que tem o conhecimento do carvalho, sendo o carvalho um símbolo para representar todas as árvores. Ou seja, quem tem o conhecimento do carvalho possui o saber de todas as árvores.
– Oh... – Stiles olhou receoso para os lados, sem dúvida havia muitas árvores por perto. Algumas delas eram até carvalhos...Muitos espiões, sem dúvida.
– Não precisa nos espionar, Deaton. – falou Derek – Iremos cumprir com a tarefa designada.
– Sim, claro. – Alan disse dando um leve aceno para o lobisomem e humano, antes de se afastar rumo ao conforto da mansão.
– Eu não consigo entender... – retrucou Stiles ainda mirando com desconfiança para as árvores – Por que o professor Deaton não arrumou esse jardim? Digo, se ele tem poderes e tal...Era bem mais fácil do que mandar jovens inexperientes fazerem isso.
– Não é Alan que deve aprender uma lição e sim nós. – argumentou Derek se direcionado ao galpão que estava ainda mais próximo da reserva. Stiles logo o seguiu, não querendo ser deixado sozinho ali.
– E que lição iremos aprender?
– Não sei ao certo, mas... Esse jardim é especial para a minha família.
– Sério? – Stiles, novamente olhou a sua volta, tentando ver algum deslumbre do que deveria ser um jardim digno de uma mansão do porte da mansão Hale. Não havia canteiros de grama, vasos de rosas, cercas vivas e nem mesmo um chafariz com um anjo cuspindo água, nada.
– Vocês têm uma definição meio estranha para jardim...
– Ele não era assim. – rosnou Derek, meio na defensiva – Antes do incêndio, o jardim...
E se calou. Derek parecia estar travando conflitos internos que Stiles nem fazia ideia do que seriam. Seu namorado portava uma expressão de pura tristeza e Stilinski odiava vê-lo assim...
– Bem... – Stiles tocou em uma das mãos do lobisomem – Nós iremos reviver o jardim. Iremos fazer que ele retorne a sua glória passada! Não! Ainda melhor! Iremos transformá-lo em algo ainda mais interessante...
Derek sorriu. Segurou a mão do adolescente e a acariciou com afeição.
– Algo ainda mais interessante? Tipo o que?
– Poderíamos transformar em um jardim temático! Eu estava pensando em aparar as plantas no formato de lobos, ter um canteiro de rosas amarelas em formato de lua cheia, árvores com luminárias de ossinhos. Um chafariz com um lobisomem pelado marcando território, sabe? Tipo, os lobos marcam território fazendo xixi, não é? O lobisomem do chafariz faria o mesmo, só que invés de xixi seria água, entende?
– Sua mente é formidável. – declarou Derek depois de alguns segundos de silêncio.
– Isso foi um elogio? – inqueriu Stiles, franzindo o cenho.
Como resposta Derek deu um tremendo beijo no adolescente. Aquele tipo de beijo deixa suas pernas bambas, seu coração acelerado e provoca uma súbita necessidade de tirar toda a roupa...
– Ainda podemos testar a tesoura de poda... – sussurrou em meio ao beijo, provocando uma risada do lobisomem.
As árvores começaram a se remexer, apesar de ausência de vento. Galhos, nozes e esquilos assustados, começaram a cair sobre o casal.
– Ai minha santa Hera Venenosa! Ele realmente está nos espionando! – exclamou Stiles, mortificado.
– Melhor voltarmos ao trabalho. – Derek falou alto o suficiente para ser ouvido pelos espiões arbóreos.
– Sim, o trabalho! Yeah! Adoro! Estou pronto para trabalhar! Adoro tudo isso! O cheiro de mato, estrume e mais mato! Que revigorante! Aliás, acho que deveria fazer isso por todo sempre! Sim, irei virar um eremita e viver da jardinagem! Irei competir com os gnomos, mas não me importo...Não deveria existir nenhum monopólio na área da jardinagem! Abaixo os gnomos! Viva aos orgânicos! – disse Stiles empunhando a enxada com animação.
– Não exagera... – sussurrou Derek que se controlava para não rir.
Stiles apenas corou e assentiu.
– Eu irei ao galpão pegar algumas ferramentas para iniciar o nosso trabalho, você fique aqui e...Tente não se meter em confusão.
– Que confusão eu poderia me meter ficando parado aqui?
Derek resolveu não responder e se apressou para o galpão. Stiles soltou um longo suspiro e se encostou no carvalho próximo. Ficar tantas horas junto ao Derek sem poder namorar de forma mais quente eram sem dúvida a essência da tortura. Então, era essa a punição planejada por Talia e Alan? Eles eram mesmo uns gênios da maldade!
– Eu devo buscar o lado positivo das coisas... – fechou os olhos, tentando relaxar. Não era tão ruim assim toda aquele lance de jardinagem, talvez aprendesse mesmo alguma lição de tudo aquilo.
Ao abrir os olhos, tudo parecia mudado. O sol brilhava mais forte, as folhas antes amareladas pelo outono assumiram uma coloração verde vibrante. O som de passarinhos ao fundo se mesclava a risadas de crianças.
Espera... Ter um pensamento positivo não deveria literalmente mudar a realidade a sua volta.
Só então notou que tudo parecia ser fruto de uma filmagem antiga, em uma escala sépia de cores, desbotadas e irreais.
– Merda...Eu viajei no tempo de novo? – perguntou para ninguém em especial. Será que Derek iria ficar decepcionado em saber que sim ele tinha se metido em confusão só ficando parado aonde estava.
~~**Palavras da autora**~~
E mais uma viagem no tempo...
O que Stiles irá encontrar em mais uma "segura" viagem ao passado?
Lembrar que esse livro tem um livro com fichas dos personagens (para quem não sabe). Recomendo a leitura, ainda não está terminando, mas a maioria dos personagens principais estão lá!
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