O canto do tritão
Será que uma comida podia ter um olhar crítico?
A tendência era a resposta negativa, mas Stiles tinha certeza de que o burrito que estava segurando estava apresentando uma expressão de desapontamento. O queijo derretido, a carne picante e até mesmo o feijão pareciam não estarem felizes com a presença do adolescente. Ou talvez Stiles estivesse projetando suas próprias inseguranças na comida. Isso não era a primeira vez. Recordava no passado que uma lasanha tentou sufocá-lo com o seu queijo superderretido! Fora uma tentativa de assassinato claramente premeditada por parte da massa italiana, por motivos ainda desconhecidos para Stiles.
– Você vai comer ou não? – Quis saber Danny, meio preocupado.
– Pois é...Você está encarando o burrito por mais de 10 minutos! O que está esperando? Um convite formal por parte do burrito para que você o coma? – Comentou Aby, mastigando sua enchilada.
O grupo de adolescentes estava sentados em uma das pontas da grande mesa de jantar da mansão Hale se deliciando com o jantar mexicano que lhes fora oferecido. Eles foram os primeiros a se servir e também os primeiros a se deliciar com o banquete apimentado fruto do dom culinário de Tio Tony.
Stiles soltou um suspiro e delicadamente abaixou o burrito, recolocando no seu prato.
– Eu estive pensando... – Revelou em um tom solene – Sobre como me portei diante do agente federal...
– Quando você o chamou de bosta? – Inqueriu Danny – Você não tem nada do que se envergonhar, sabe? Acho que todos concordamos com o caráter fecal do agente Rafael.
– Não é isso. Mas o que aconteceu depois. Eu não falei muito durante toda a discussão...Nem quando Aby foi acusado de assassinato. Sinto que deveria ter sido mais incisivo, que devia...
– O que? Está se sentindo inferiorizado por não monopolizar os argumentos? Que os holofotes não estavam em você? – Cortou Lydia que limpava a boca, com excessiva educação, apesar de quase não ter comida nada (alegado excesso de calorias) – Stiles, você não é o único capaz de atuar como advogado de defesa. E não deve esquecer que apesar de ter uma certa habilidade de lábia...Existem outros mais experientes que também podem nos defender. Peter Hale é o beta da alcateia, o segundo no comando, professor da academia e acostumado a defender a causa sobrenatural. Além disso temos o Alan, emissário da alcateia, que em outras palavras significa que é o representante da mesma e principal defensor. Michel Beaumont é de fato um advogando, formado e líder do clã de vampiros que atua como policiais e fiscais sobrenaturais...E temos o Petrus que tem um estilo muito interessante de jantar e pisar nos seus inimigos. Viu? Temos um verdadeiro arsenal de defensores!
Stiles estava boquiaberto, sem saber o que dizer. Olhou novamente para o burrito, ele sim parecia ter algo dizer sobre tudo aquilo. Sim, quase podia ver a panqueca, sua "boca" repleta de recheio, falando: "Você não é a única rainha da história! Existem outros que podem atuar tão bem como você na produção de tiradas espertas, sarcasmos e no alívio cômico!".
– Eu não sou rainha, já disse que sou rei. – Resmungou para o burrito, arrancando olhares desconfiados de alguns de seus amigos – E eu não quero ser o centro das atenções...Só achei que não me esforcei o suficiente para proteger meus amigos.
– E nem nós fizemos muito. – Disse Alison colocando guacamole em sua tortilha – Ficamos calados enquanto os adultos atuavam, mas você não deve se sentir mal por causa disso!
– Eu sei que você está ao meu lado, independente se você tagarelou em minha defesa ou não na frente do agente bosta. – Sussurrou Abraham, sem levantar o olhar para fitar o seu amigo.
– Awn... – Stiles levou a mão ao coração – Danny, você tirou foto, não foi?
– Obvio. – Falou o moreno todo sorridente – Temos que alimentar o álbum de momentos fofos do Aby. Tenho até uma página no Instagram! Temos milhares de seguidores!
– Que merda! – Rosnou Van Helsing, mas ao invés de atacar seus amigos, resolveu torturar a sua enchilada, enfiando a faca de forma nada gentil no alimento mexicano.
– Eu também devo desculpas. – Disse Scott fitando as próprias mãos – Me chamam de alfa e não atuei como um...Tipo, não consegui agir com a Talia.
– Querido, existe ainda um loooogo caminho para você trilhar para se tornar um Alfa como a dona Talia. – Disse Lydia.
– Você não deve se cobrar muito. – Adicionou, rapidamente, Alison tentando diminuir o efeito crítico que Lydia tinha provocado – Somos ainda jovens! Ainda temos muito o que aprender e amadurecer!
– Mesmo assim...E para completar foi o meu pai que causou todos esses problemas. Colocar Aby como principal suspeito de um triplo assassinato, colocar uma coleira em Erorhion, afastar o senhor Stilinski da investigação...
– Ei! – Stiles tocou o ombro de McCall, impendido que garoto continuasse listando todos as merdas que Rafael tinha feito, a lista iria ser longa – Esqueceu do que você falou antes? Rafael não é o seu pai de verdade! Já está na hora de parar de chamar o "senhor Stilinski" dessa forma, chame ele de pai! Admita que somos irmãos e uma família! Pare de hesitar quanto a isso, aceita que dói menos!
Scott corou levemente e deu um sorriso de leve.
– Isso vale para você também, Isaac.
O garoto que estava em meio caminho de morder sua guesadilla, paralisou ao se ver integrado, subitamente, na conversa.
– Ah...S-sim...Er... – O garoto não só corou, virou um tomate maduro gigante.
– Também tenho um arrependimento a ser declaro. – Flora disse, a única do grupo que não estava comendo, afinal, nenhuma daquelas comidas eram próprias para o consumo de uma dríade – Me arrependo de não ter atacado o agente federal, deixando que as videiras crescessem ao redor do humano, sufocando-o aos poucos e depois comprimindo o seu corpo até que só uma pasta disforme fosse formada.
Um silêncio se instaurou na mesa, sendo quebrado apenas por Marcos, o tubarão não parecia surpreso com o conteúdo gore da fala da dríade.
– E eu podia ter o mordido. Vocês sabiam que a mordida de um tubarão branco da espécie Carcharodon carcharias pode chegar a 1,8 tonelada - cerca de metade da força da mordida de um Tiranossauro rex. Imagem só o estrago que iria fazer no Rafael... – Falou Sharks ainda mastigando seu morrido, carne e molho vermelho picante escorria de seu queixo, dando um aspecto ainda mais sinistro a sua fala.
– Oh! Não! Isso é muita energia negativa! – Falou alarmado, Ethan – Parem já de falar dessas coisas! Irá manchar a aura de vocês!
E para a surpresa de todos Ethan começou a cantar. Na verdade, parecia ser mais um ritual pagão entoado pela a voz sobrenatural do seriando.
Vou banindo pela Terra e Ar
Vou banindo pelo Fogo e Mar
Vou banindo, vou banindo pra purificar
Vou banindo, vou banindo pra exterminar
Espiral, Espiral, Espiral
Sugue o que há de ruim
Leve todo mal
Naquele momento, ao fim da música, os membros do fantástico grupo de Stiles constataram um fato ainda por eles desconhecido: a voz de Ethan era bela. Talvez o adjetivo não fosse o suficiente para caracterizar a qualidade do som propagado pelo seriano. Por alguns segundos, todos ficaram meio hipnotizados e literalmente encantados.
– E eu que pensei que você só conseguia produzir um som agoniante de alguém arranhando um quadro negro! – Exclamou Stiles, ainda meio zonzo, sua cabeça parecia leve e sentia estranhamente contente, até mesmo dava umas risadinhas alegres. E ele não era o único, todos estavam com um sorriso bobo nos lábios e dando risinhos sem um claro motivo.
Até Aby estava dando risadas! De forma curta e contida, mas não conseguia evitar o sentimento que o inundava como a maré alta sob o efeito da lua cheia. Era inebriante e contagiante.
– Ethan! – Alertou Marcos, o único não afetado pelo o efeito do canto.
– Talvez...Eu tenha me excedido um pouco... – Riu nervoso o adolescente.
– Oh! Essa é a primeira vez que escuto o verdadeiro canto de uma sereia! Ou no seu caso, de um tritão. – Falou Erorhion, se aproximando do grupo de adolescente, com um prato cheio de nachos recoberto com queijo cheddar derretido.
– O que aconteceu com eles? – Questionou Derek, aflito – Eles parecem meio bêbados!
Pietro tentou não rir, não pelo o efeito do canto e sim pela a cena de um bando de adolescentes risonhos e bobos alegres.
– O canto, dependendo da forma como é entoada, pode causar diversos efeitos naqueles que escuta. Vocês devem saber das histórias de marinheiros enfeitiçados pelo canto de sereias, os levando para as suas mortes... Nesse caso, as sereis estavam cantando para proteger suas famílias, era uma balada da morte, mas no caso do Ethan...– Explicou Marcos.
– Eu só queria banir a vibe negativa do ambiente! – Interpôs Ethan em sua defesa – Não estava os hipnotizando para colidirem em recifes de corais ou algo do tipo!
– E você baniu mesmo! – Analisou o dragão se sentando ao lado de Isaac e recebendo dele um abraço bem animado.
– E quando o efeito termina? – Derek parecer o único realmente preocupado com a situação. Tinha que agradecer que os outros membros da alcateia ainda estavam se servindo dos alimentos na cozinha, mas logo se dirigiriam para a sala de jantar e ali encontrariam uma cena meio difícil de explicar.
– Espero que não tão cedo! – Pietro disse isso, recebendo um abraço e beijo de seu pequeno namorado. Aby estava extremamente carinhoso, o que era um efeito muito novo para o vampiro. Lógico que ele iria aproveitar o momento ao máximo.
– Der... – Stiles puxou a camisa do seu lobisomem favorito – Também quero atenção! Não quero me sentir excluído! Todos estão se divertido!
– Stiles, não acho que... – Derek viu, com desespero, as mãos do adolescente escaparem para debaixo da camisa do Hale, acariciando sua barriga.
– O que você... – Algo ainda mais extraordinário ocorre, Derek começou a gargalhar. Stiles o estava fazendo cócegas e o Hale não estava conseguindo restringir as respostas do seu próprio corpo.
Sem dúvida era uma cena magica de ser observada. Todos rindo, se beijando e se abraçando. Ethan estava quase desmaiando devido ao embaraço, tudo aquilo era consequência do seu canto. Sim, ele era um total praticante da filosofia paz e amor, mas o que tinha provocado era bem mais AMOR do que PAZ.
– Qual foi a intenção? Normalmente o seu canto transmiti os seus desejos, refletindo nas ações de sua "plateia". – Ponderou Marcos com um sorriso nada inocente em seus lábios.
– Eu não tinha a intenção de gerar uma orgia, bro! Eu não penso nesse tipo de coisa! Queria que eles ficassem alegres! Que os sentimentos de impotência e vingança fossem banidos! – Choramingou.
– Não pensa é? – Sharks ergueu as sobrancelhas, fingindo surpresa – Duvido muito, ainda me lembro de suas perguntas nada castas quando o número de pênis que tenho...
– Isso tudo é sua culpa! Contaminou o meu charka com vibrações...Sexuais! Até o meu canto foi afetado! Eles não ficaram só alegres, mas também altamente desinibidos!
Ao falar isso, gesticulou para o seu grupo de amigos. Aby e Pietro estavam no maior amasso. Isaac deixava uma trilha de beijos do rosto de Erorhion, seguindo para o seu pescoço e já indo um pouco mais além. Até mesmo Alison e Scott estava animados em um abraço nada amigável. Os outros, sem parceiros, riam de forma boba, como se tudo aquilo fosse uma espécie de piada.
– Não precisa agradecer. – Marcos deu um beijo sonora nas bochechas rubras de Ethan.
~**~
– Eles parecem estar se divertindo. Parece muito uma cena de uma festa que tive na faculdade. Bons tempos! – Notou Petrus, que observava a cena na entrada da sala, com um prato cheio de chimichangas. Estava ali em uma posição estratégica, junto com seus namorados, Michel e Peter, impedido que o resto da família adentrasse na sala, criando uma barreira corporal para a cena que o alquimista assistia com interesse.
– Logo agora que eu iria discutir o plano do Stiles em relação ao Kanima. – Peter soltou um longo suspiro.
– Ainda pretende fazê-lo? Mesmo sobre os olhares de agentes federais? – Michel inqueriu, incrédulo.
– Obvio! Não podia ser o melhor momento! – Piscou divertido, o lobisomem.
– Então, bonitões...Como iremos resolver essa questão? – Interveio, Petrus – Daqui a pouco o tio John e Melissa irão chegar, além da adorável Talia...Isso pode causar um grande impacto. Eu mesmo estou meio impactado com a destreza do meu sobrinho! Talvez nem tanto impactado, afinal ele deve ter herdado isso de mim!
– Estou pensando em um plano... – Garantiu Peter.
Um grito cortante rompeu a atmosférica, levando a todos a tapar os ouvidos, mesmo assim o som penetrou nos tímpanos e ressoou dentro da caixa craniana. O que eram risadas antes agora foi substituída por gemidos de dor.
– Pronto! – Declarou Ethan mais aliviado – Problema resolvido.
– Devia ter me avisado que faria algo assim, antes de berrar do lado do meu ouvido... – Marcos rosnou, agora sim sofrendo os efeitos da outra habilidade do seu namorado.
– Sabe que esse canto pode até ser útil. – Sussurrou Peter, Michel o conhecia muito bem para identificar o olhar que o Hale mais velho portava. Era o olhar de alguém que estava formulando um plano, nesse caso, devia estar dando um update no plano original proposto por Stiles. E que tipo de "aditivos" Peter estava fazendo? Logo eles iriam saber.
~~**Palavras da autora**~~
A música que Ethan cantou foi "Vou banindo (espiral)" - Artista: Claudiney Prieto & Tradição Diânica Nemorensis
Link para a música:
E vocês já receberam um olhar crítica de sua comida?
E como o canto de Ethan será utilizado no plano?
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