O apocalipse ainda não terminou!


- Nossa...Agora sim me sinto literalmente menos pesado. - Declarou Stiles tocando a sua barriga, logo depois de sair do banheiro da mansão Hale. O efeito do estresse e toda aquela tensão acabou gerando suas consequências...Mais especificamente, consequências intestinais. Seu estômago sempre fora muito sensível a eventos apocalípticos.

- Nunca a expressão se cagando de medo esteve mais correta. - Comentou enquanto caminhava. Mansões, principalmente a versão clichê de mansão mal-assombrada, não eram nada práticas. Na verdade, ser podre de rico parece estar associado a noção de criar labirintos sem sentido e adicionar coisas supérfluas e repetitivas. Quartos sem ninguém ocupando. Banheiros e mais banheiros...E o pior que eles nem era completos, uns só tinham a pia de lavar as mãos, outros só a privada, ainda tinha aqueles com só o chuveiro. Peças decorativas esquisitas, busto de pessoas mal-encaradas (algum antepassado do Derek, deveria ser) e quadros com paisagens deprimentes. Mas o pior é que...Cada corredor parecia idêntico ao outro e não demorou para Stiles se perder.

- Eles deveriam começar a colocar placas...Sinceramente, os Hales precisam urgentemente re-decorar essa casa! - Resmungava, estava começando a se arrepender por ter negado a ajuda de Derek. Sim, seu namorado tinha se oferecido para mostrar o caminho para o banheiro, mas Stiles educadamente recusou...Afinal, sabia que iria passar um certo tempo na privada e não queria que Derek ficasse lá esperando. Seria muito embaraçoso e eles ainda não estavam nesse nível de intimidade! Pois bem, esse foi o preço a se pagar por preservar sua dignidade.

Estava subindo uma escada. Talvez encontrasse alguém... Ou mesmo encontrasse o quarto do Derek. Sim, não podia negar que aquele era uma ótima oportunidade de explorar e talvez desvendar alguns dos segredos do seu Hale preferido.

Mais um outro corredor, desta vez, parecia mais convidativo por terem alterado o papel de parede para algo menos roxo fantasmagórico e mais azul chique minimalista. De qualquer forma, era de mal gosto. Continuou a andar, tentando abrir as portas que apareciam ao longo do caminho. Até o momento, todas trancadas.

- Que saco...Nem eu deixo a porta do meu quarto trancada e olha que eu tenho muita coisa para esconder. Bem que o que realmente é confidencial está salvo com senha no meu computador.

Estava prestar a abrir (ou tentar abrir) mais uma porta quando um calafrio percorreu o seu corpo. Na verdade, o que estava sentindo estava mais associado aquela sensação de dormência e choque resultante quando se bate o cotovelo na quina de algum objeto. Não sentia dor, mas era como seu corpo estivesse todo formigando.

- Mas o que... - Levantou os olhos para presenciar algo que já estava ficando meio normal dentro do padrão Stiles de normal. As cores do ambiente tinham desbotado, o tom cinza se alastrou e TAM DAM TAM... Tinha viajado no tempo novamente.

- Estranho... - Balbuciou, tocando as paredes agora frias, reparou que o papel de parede tinha mudado, mas não tinha como discernir a tonalidade da cor daquela época - Normalmente quando ocorre essas "viagens" eu estou vivenciando algum evento perigoso...Aquela sensação de "quase morte". A reunião foi tensa, mas não a esse ponto! Ainda mais, estamos justamente no pós-climax...

Seus poderes não tinham nenhuma lógica. Nem sabia como controlá-los. Pelo visto, eles tinham vontade própria. Apesar de gostar de aprender sozinho sobre as coisas em geral (normalmente usando o papai Google para fazer longas e intermináveis pesquisas), aquele negócio de "caminhante do tempo" estava sendo difícil de desvendar. Era duro admitir, mas precisa mesmo de um professor.

- Bem, se já estamos aqui, melhor aproveitar.

Continuou a sua busca. A porta que ele estava visando antes da mudança de tempo. Ela abriu com facilidade, só então notou que não foi ele realmente abrira a porta e sim um homem. Ele tinha cabelos castanhos, curto, um penteado da moda militar. Pele moreno e músculos proeminentes. Era muito atraente e Stiles nem tinha essa queda por homens mais velhos. Contudo, havia algo nele que acendeu um alerta na mente do adolescente. Um alerta de reconhecimento.

- Derek? - Falou o homem misterioso - Será que posso entrar?

Stiles notou a presença de alguém no quarto. Um garoto, não devia ter mais de 11 anos. Mesmo na tenra idade Stiles reconheceu a face patenteada de "chupador de limão". Aquele era um Derek pré-adolescente. E ele era extremamente fofo. Sim, ele já demonstrava ter um corpo de um atleta, mas havia uma pitada de inocência em seu olhar que fez Stiles desejar roubá-lo para si e guardá-lo em um potinho.

- Estou parecendo a Laura... - Resmungou.

- Pai... - Derek criança falou e depois deus os ombros. Pelo visto, era um sinal positivo que fez com que o homem, correção: pai do Derek, entrasse.

- E aí, Der-Bear? Ainda sofrendo pelo o amor?

Derek fez uma careta. O menino estava sentado no canto da cama. Pernas dobradas sobre o seu peito. A vermelhidão dos olhos era um evidente indicativo que estivera chorando.

- Eu não estou sofrendo. - Disse simplesmente. Uma clara mentira.

- Derek... - O pai se sentou na beirada da cama - Isso não é um sinal de fraqueza, sabe? Sofrer é algo natural.

- Sofrer por causa de uma humana, isso é sinal de fraqueza. - A fala de Derek foi em um tom monótono, tal como estivesse declarando algo que tinha decorado.

- Não precisa repetir as palavras do seu avô. - Havia doçura em sua voz, também havia censura.

- Desculpe... Eu só... - Fungou, novas lágrimas se formavam em seus olhos cor esmeralda. Stiles percebeu que o pai tinha a mesma tonalidade em seus olhos.

- Seu avô não entende dessas coisas, sabe? As vezes eu fico pensando como a sua avó conseguiu casar-se com ele? Bem, talvez ele fosse mais domesticado no passado.

Derek soltou uma risada contida.

- Já imaginou o grande alfa da família Hale domesticado? Sente! Role! Dê a patinha!

- Papai! - O pequeno Hale agora gargalhava.

- Seu avô pode ser o Alfa, mas em relação ao romance e a humanos ele não sabe de nada. Confie em mim, sou humano e estou casado com a filha dele. Acho que isso só prova que minha opinião tem maior força do que a opinião de um velho lobo rancoroso...

Derek assentiu, com um sorriso nos lábios. Stiles raramente via Derek sorrindo assim tão abertamente. No passado, pelo visto, Derek sorria mais...Ria mais... E isso fez o seu coração apertar.

- Mas...A Paige não é como você, papai... Ela... - O sorriso se desfez e o pai estendeu sua mão e deu um amoroso cafuné no filho.

- Paige é uma criança, assim como você. O problema não é ela e sim a sociedade em que vivemos. Ela gostava ou mesmo ainda gosta de você, Derek. Contudo... Nosso mundo propagou muitas mentiras sobre os seres sobrenaturais. Deve entender que os pais dela deveriam estar com medo. E ela também deve ter ficado insegura e temorosa com o futuro. Isso explica os eventos que ocorreram...

- Eu ofereci a mordida. Ela não devia ficar com medo...Digo, seriamos iguais e...Poderíamos namorar...

- Derek, o fato de você ser sobrenatural e ela ser humana não deveria ser um impedimento de vocês serem amigos e muito menos namorar. Olhe para mim, sou humano e estou casado com uma maravilhosa lobisomem.

- Mas é um impedimento! - Rosnou Derek afastando a mão do pai e interrompendo a caricia - Ela disse isso! Que éramos diferentes... Ela disse que só podíamos ficar juntos se ela fosse igual a mim...

- E depois ela falou tudo para os pais sobre a mordida. Ela também disse que você era um monstro que a estava ameaçando...Que nem sequer te conhecia. - Falou o pai com tristeza.

Derek mordeu o lábio inferior com tamanha força que a pele foi rompida e o sangue começou a verter.

- Derek... Me desculpe...Eu não devia ter...

- Eu sou mesmo um monstro, não é mesmo? Ela está certa...Digo...A mordida tem mais chance de dar errado do que certo. Ela podia ter morrido...Por minha causa. Por minha fraqueza. - Sussurrou o garoto. Uma criança não devia falar coisas daquele jeito. Com tamanho pesar e nojo de si mesmo - Se eu fosse humano...Tudo estaria melhor... Mas eu tive que nascer um lobisomem...Tive que nascer um monstro...

- Derek, você é perfeito do jeito que você é. - Garantiu o pai, puxando o menor para si, embalando em seu colo como se ele fosse um bebê. Stiles aprovou aquele gesto, pois desejava fazer o mesmo - Você não é um monstro...É meu filho. Um garoto maravilhoso e sensível...Paige...Algumas pessoas só conseguem nos ver pelo que que aparentamos ser. Ela pode ter se aproximado de você por você ser um lobisomem. Ela deve ter tido esse tipo de fascinação que algumas pessoas têm pelo sobrenatural. Curiosidade. Ela pode ter começado a gostar de você, mas não o bastante para ver além da barreira das raças... Eu não a culpo. É preciso ser muito corajoso para enfrentar os preconceitos e ela, como você, é apenas uma criança.

- Você é corajoso. - Sussurrou Derek levantando os olhos para encarar o pai -Você enfrentou tudo e a todos...Até mesmo o vovô! Você é forte! Você é invencível!

Admiração era mais do que evidente naquela fala. O coração de Stiles apertou ainda mais...Aquele homem era o herói de Derek. E ele agora estava morto. O incêndio tinha ceifado a sua vida e provocado uma ferida profunda em seu filho que permanece aberta até os dias atuais.

- Eu não sou tão maravilhoso! - Riu embaraçado, o pai - E eu te garanto, Derek...Um dia você vai encontrar alguém que te ame de verdade, pelo o que você é...Como eu encontrei a sua mãe.

- Isso é impossível. - Sussurrou o menor, se aninhando no colo do pai - Eu vou ficar sozinho para sempre...

O pai soltou um suspiro e acariciou os cabelos negros do pequeno Hale.

- Sei que você vai encontrar alguém. - Repetiu o pai, mas seu olhar não estava focando em seu filhote - Alguém que irá te proteger como eu te protejo. E quando falo em proteção, não quero dizer nada físico...E sim o seu coração. Derek, você tem um coração puro...Independente da idade que tenha, sei o quanto você é gentil.

O pai estava mirando Stiles. O adolescente tinha ficado na porta do quarto e agora estava paralisado com a intensidade daquele olhar. As imagens do passado nunca interagiram com ele, era apenas isso imagens, tal como cenas de um filme...Era isso que tinha concluído, mas...

- Alguém irá estar ao seu lado. Alguém que irá aliviar o peso que ainda insiste em carregar sobre os ombros. Alguém que vai te amar...

O pai sorriu para Stiles e o garoto não soube o que fazer. Deus passos para trás, saindo do quarto. Suas pernas tremiam. Aquilo era algo novo e meio assustador. O pai de Derek estava morto... Será que aquilo era um fantasma?

- Humano... Sinto cheiro de humano... - Algo arfava no fim do corredor. Uma sombra se materializava. Stiles não estava gostando nada daquilo. A sombra tinha a forma de um grande lobo. Sua boca estava entreaberta. Dentes, saliva e uma grande língua. Nada convidativo. Nada bonito.

- Isso não pode ser uma imagem do passado... - Concluiu para si mesmo. Havia algo errado naquela viagem!

- Humanos...Asqueroso...Vieram queimar minha mansão? Meu lar? Matar o que restou da minha alcateia... - A sombra falou, dando passos em direção a Stiles que, novamente, se viu paralisado.

- Eu vou te destroçar...Arrancar seus membros...Quebrar o seu crânio...Beber o seu sangue...

O Lobo se aproximava. Uma bruma espeça vazava de sua boca. Olhos escarlates brilhavam e se destacavam no acinzentado mundo do passado. Stiles queria correr, mas suas pernas pareciam pesadas e presas ao chão.

- Seu tempo aqui terminou. - Alguém disse enquanto o segurava pela a gola da camisa. Stiles só tivera tempo de registrar a mão morena do pai de Derek, para depois sentir ser empurrado ao vazio.

Stiles caiu e caiu. Por fim, sentiu colidir com o chão. Abriu os olhos. Nem tinha reparado que os tinha fechado. As cores tinham retornado, para o seu alívio.

- Mas que merda foi essa! - Praguejou, ainda não tendo forças de se levantar. Suas pernas tinham se transformando em gelatina e seu coração batia tão rápido em seu peito que era difícil de distinguir quando uma batida começava e outra terminava.

Caminhar pelo tempo devia ser algo seguro. Era o que tinha concluído. Ninguém lhe dissera que podia enfrentar coisas durante essa viagem. E o que eram essas coisas?

- Fantasmas... - Sussurrou para o vazio. Então, a mansão Hale era de fato mal-assombrada. Agora sim a decoração combinava com a realidade.

- Stiles! Stiles! - Alguém se aproximava, Stiles ainda estava deitado, ainda não via necessidade de se levantar ainda mais quando sabia quem estava vindo.

- Stiles? O que você está fazendo aí? - O rosto de Ethan Mistfish apareceu sobre si - Isso não é hora de fazer exercícios de meditação! Ainda mais, logo no meio do corredor!

- Desculpe, Ethan. Na próxima vez irei procurar um lugar mais apropriado para meus exercícios de meditação.

O tritão não parecia capaz de detectar o tom sarcástico de Stiles, pois assentiu em concordância.

- Estamos com um grande problema! - Anunciou o sereiano.

- Mais um? A lista de problemas está ficando bem longa.

- Esse problema é tipo bem grande... - Continuou a falar Ethan - Do tipo que causa um imenso desequilíbrio em nosso chakras... Sinceramente, acho que devemos todos fazer um tipo de terapia espiritual depois de resolvermos esse negócio com o Kanima...

- Ethan, foco... Que tipo de problema é esse?

Agora o seriano parecia relutante em falar, mas por fim revelou o que o afligia.

- O FBI está aqui na mansão. Eles estão dizendo que irão assumir a investigação sobre o Kanima...

- Merda... - Praguejou Stiles, isso poderia complicar as coisas, mas pelo o olhar atribulado do tritão exibia, o adolescente presumiu que haveria mais coisas associadas a esse problema.

- O chefe da equipe dos federais é Rafael McCall... Ele é o pai do...

- O pai do Scott é John Stilinski. - Cortou Stiles sentindo suas forças retornando, a raiva tinha lá suas vantagens em momentos como aquele. Se levantou com rapidez. Agora entendia por que Scott não veio procurá-lo.

Ethan tinha acertado, aquele era sem dúvida um grande problema.

~**~

Os federais estavam na porta de entrada da mansão. Seus carros pretos ocupavam todo o estacionamento. Infelizmente, a chuva tinha diminuído a uma leve garoa. Mas uma coisa Stiles tinha certeza, nem toda a chuva do mundo seria o suficiente para limpar a sujeira que impregnava o agente federal Rafael McCall.

Stiles notou que muitas coisas ocorriam ao mesmo tempo. Seu pai tinha uma expressão desolada no rosto, sendo amparado por Melissa que lançava um olhar raivoso para Rafael.

Scott parecia perdido, não sabendo como deveria agir. Já fazia anos desde que vira o seu progenitor. Mas, pelo visto, Rafael nem sequer o notava. O glorioso agente federal sorria de forma triunfante para Talia Hale.

Outro fato que Stiles evidenciou foi que Erorhion, que participara da reunião apenas como um observador agora detinha uma espécie de coleira em volta do seu pescoço. Isaac o abraçava de forma protetora e rosnava para os policiais que se aproximavam do seu namorado.

- Ah! Olha, se não é o garoto problema do Stilinski. - Disse Rafael ao perceber a presença de Stiles - Pelo visto, seus hábitos não mudaram, continua causando problemas por onde passa, não é mesmo?

- Olá! - Saudou sem nenhuma animação - Se não é o cafajeste do Rafe McCall, conhecido por abandonar a mulher e filho pequeno a própria sorte e não tendo nem a coragem de assinar o documento de separação. Muito menos tendo a decência de pagar a pensão. Oh! Sim! Pelo visto, seus hábitos não mudaram, continuando sendo um encosto nojento e impertinente, não é mesmo?

Stiles pode ver o sorriso profissional do agente federal começar a minguar. O adolescente começou a sentir sua barriga incomodar. Bem, ela nunca fora forte o suficiente diante de situações apocalípticas... E agora estava prestes a enfrentar outra dessas situações.



~~**Notas da autora**~~

E a chapa vai esquentar!! Yeah!!

Novo vilão!

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