Missão ultrassecreta (só que não) no Hospital - Parte 4

Ali estavam eles diante de mais uma porta. De certa forma, aquilo era nostálgico, e Stiles evidenciou isso em voz alta.

— Lembra quando fomos à casa da Allison pela primeira vez? Quer dizer, obviamente que aqui não é a casa dela... Mas me recordo de como estávamos nervosos para bater na porta. Afinal, Scott ainda não tinha falado para o Chris que era namorado da filha dele. Lembro de como você, Scott, estava nervoso na primeira vez que falou com o sogrão. Muita coisa mudou desde então... Não é mesmo?

Stiles esperou uma resposta por parte do seu amigo, mas o que recebeu foi apenas uma expressão evidentemente nervosa. O outro adolescente franziu o cenho com aquela resposta ou falta dela.

— Scott, não me diga que você ainda não contou ao Chris que você está namorando a filha dele! Depois de todo esse tempo! A Allison inclusive participou do jantar apocalíptico do fim do mundo parte 2 com o nosso pai, John Stilinski.

— E-eu não tinha encontrado o momento certo para... dizer ao senhor Argent. — confessou McCall.

— E quando será esse momento certo? Quando você pretende pedi-la em casamento ou algo do tipo? — Indagou Stiles, abismado com a falta de coragem do seu amigo, supostamente alfa. Isso só demonstra como essa condição de "alfa" era muito superestimada.

— Devemos compreender a situação crítica em que o Scott se encontra, Stiles. — Derek teve que intervir em defesa do já envergonhado Scott — Afinal, os Argent são ou eram uma família de caçadores de lobisomens, logo, deve ser difícil para ele trazer esse tipo de revelação à tona.

— Ainda mais agora, depois de todo o ataque dos caçadores em Beacon Hills. — Isaac disse, não querendo enfatizar o fato de que Victoria, mãe de Allison e esposa de Chris, tentou matar Scott.

— E aí, Bro! Quando estamos prestes a soltar aquela revelação crucial, é como pegar aquela onda perfeita, saca? Pra tudo fluir de boa, precisamos estar numa mesma vibe, conectados com as energias certinhas. Mano, as energias negativas são como aqueles redemoinhos que bagunçam o rolezinho, não rola surfar nessa vibe pesada, entendeu? O lance é que, quando a sintonia é real, a revelação flui feito a dança das marés, em total harmonia com a natureza. Agora, se começar a pintar aquela ressaca pesada, aquela maré negativa, é melhor dar um mergulho profundo e esperar a água clarear. Porque, irmão, quando a vibe tá pesada, a revelação pode até bagunçar o reef do relacionamento. — Explicou Ethan com seriedade e utilizando a analogia marítima/surfista para se fazer ser entendido.

— Pois é... Tipo isso aí que o Ethan falou. — Disse Scott, aliviado com o apoio dos amigos.

Stiles rolou os olhos diante daquilo.

— Enfim, vocês vão bater na porta ou não? — Quis saber Yaci, impaciente e ao mesmo tempo curiosa com o drama que estava desenrolando.

— Não precisam bater nenhuma porta. — Chris falou por trás do grupo, vindo do corredor com uma xícara de café segurando em uma das mãos. O ex-caçador observou quando o grupo todo se virou para encará-lo com um misto de surpresa e pânico. O pânico era especialmente visível no rosto de Scott McCall.

— Olá, senhor Chris... Linda manhã, não é mesmo? Digo, mesmo que esteja um pouco fria e cinzenta, mas ainda é linda. — Falou Stiles dando uma cotovelada em Scott para incentivá-lo a falar e não ficar com a boca aberta.

— S-sim... Linda... A manhã é linda... Allison é linda — disse McCall, corando ao notar o que havia dito, sentindo-se ainda mais desesperado. Stiles levou a mão à testa, transtornado.

Chris arqueou as sobrancelhas e estreitou o olhar em Scott McCall.

— Quero dizer, o dia está lindo. Tal como Stiles disse... Não que Allison também não seja linda. Mas eu me referia ao dia, manhã... E não a sua filha, precisamente. — Scott tentou corrigir rapidamente, seus olhos demonstrando certo desconforto.

A situação estava ficando cada vez mais embaraçosa, e a presença de Chris só aumentava a tensão no ar.

— Fico feliz que achem minha filha linda. Eu concordo — o ex-caçador bebericou o seu café, saboreando o desespero dos garotos — mesmo que, como pai, acho estranho que outros rapazes falem dela desse jeito. Enfim... Acho que é normal vindo do namorado dela.

Os olhos de Scott arregalaram e a capacidade de fala do jovem lobisomem parece ter sumido. Ele abria e fechava a boca, mas nenhuma palavra era produzida.

— É claro que descobri isso, garoto. Na verdade, já desconfiava disso antes mesmo de conhecê-lo pessoalmente — Chris disse, dando uma piscadela.

Stiles soltou um suspiro de alívio. Menos um problema para se preocupar, além disso, tinha que dar um ponto positivo para Chris Argent; o cara tinha uma boa capacidade dedutiva e, além disso, era um bom ator! Afinal, todo esse tempo ele sabia!

— Nós viemos aqui para visitar a Allison. — disse Derek.

— Bom, em boa hora. Isso pode animá-la. — Chris falou, enquanto estendia o braço e abria a porta, permitindo que os garotos e Yaci entrassem no quarto.

O quarto era amplo e iluminado pela luz tênue que vinha da janela, criando uma atmosfera suave e acolhedora. A coloração bege das paredes harmonizava com os quadros que exibiam paisagens primaveris, trazendo um toque de serenidade ao ambiente. Allison estava sentada na cama, cercada por almofadas macias e um cobertor confortável que a envolvia carinhosamente.

Na mesa ao lado de sua cama, havia diversos cartões com mensagens desejando sua melhora, além de belas flores e ursinhos de pelúcia, que pareciam sorrir para ela. Era evidente o carinho e o afeto que seus amigos e familiares haviam demonstrado com aqueles gestos.

Contudo, o que mais chamava a atenção dos garotos era o quão a mão de Allison tremia ao tentar segurar a colher com a gelatina verde. A cada tentativa, a comida caía e uma expressão de frustração tomava conta do rosto de Allison. Seus olhos, mesmo com um brilho de doçura, revelavam a luta interna que ela enfrentava em meio à sua recuperação.

Só então, a jovem levantou os olhos para mirar os visitantes. Um sorriso fraco se formou em seus lábios ao reconhecê-los.

— Oi pessoal, e aí? — eles podiam notar que o ombro direito e parte do braço estavam ainda enfaixados. Era o local onde a espada a havia atingido. Scott emitiu um gemido que mais parecia um ganido de um cachorro em sofrimento. Era mais do que evidente que aquele ataque deve ter deixado sequelas.

— E aí! — Ethan falou, animado e ignorando a tensão do ambiente.

— Você parece muito bem. — falou Isaac se aproximando da cama.

— Não precisam ser educados, sei que pareço acabada. — riu fracamente Allison.

Stiles notou que Scott não tinha falado nada, nem ao menos tinha se movido em direção à cama. Antes que ele pudesse fazer algo, Derek tocou no ombro do rapaz em sinal de reconforto e o guiou gentilmente até onde Allison estava.

— Você não está acabada... Você está estupendamente linda. — disse Scott com tanta convicção que fez a menina enrubescer.

— Obrigada. — disse ela, agora sorrindo de forma mais sincera.

— E o que é isso que você está comendo? Parece meleca de nariz de algum troll. Sério, eu já vi isso no instituto... Tenho certeza de que é feito do mesmo material. — Analisou Stiles, observando a gelatina que Allison estava tentando comer.

A garota soltou um rouco riso.

— De fato, parece uma meleca. Mas é o que tenho para comer.

— O que você tinha para comer, você quer dizer. — Falou Stiles, pegando a sacola que Yaci havia lhe dado e tirando uma barra de chocolate de lá, como um mago que retira um coelho da cartola — Pois lhe apresento uma iguaria que irá acelerar ainda mais sua recuperação.

Allison estendeu o braço para pegar o doce, mas soltou um leve gemido de dor. Scott se adiantou, pegou o chocolate, o abriu e quebrou um pequeno pedaço. Com olhos carinhosos, ele ofereceu delicadamente o pedaço de chocolate a Allison, como se fosse o mais precioso dos tesouros. Ela se surpreendeu com o gesto, mas logo aceitou, abrindo a boca permitindo ser alimentada por seu namorado.

O momento entre eles foi como uma cena de um filme romântico, com um sentimento de ternura e cumplicidade que era palpável. O toque suave da mão de Scott em seu queixo enquanto ela saboreava o chocolate, o olhar apaixonado que ele lhe dedicava, tudo parecia envolto em uma aura mágica de conexão e afeto.

— Desculpe por ter demorado em... — começou a sussurrar Scott, mas a garota o interrompeu tocando a mão do rapaz com sua mão saudável.

— O que importa é que você veio. — disse ela com um sorriso doce, transmitindo toda a gratidão e amor que sentia por ele.

Scott sorriu de volta, sentindo-se aquecido pelo amor que transbordava naquele instante. A troca de olhares entre eles era como uma linguagem silenciosa que só eles entendiam, um diálogo de corações apaixonados.

— Ow... Muito fofo. Vibes totalmente positivas. — declarou Ethan, quebrando o momento romântico, fazendo com que Scott e Allison dessem risadas embaraçadas.

— Acho que devemos deixar os dois pombinhos sozinhos. Aposto que eles têm muito o que conversar. — falou Stiles, piscando para Scott e puxando consigo Ethan.

Isaac ajudou, acenando para Allison.

Derek seguiu os garotos, sentindo-se contente ao ver que a menina estava se recuperando. Sabia que a presença de Scott iria ajudá-la. O que o surpreendeu era ver que, apesar de Allison e Chris serem Argents, a família que lhe causou tanta dor, ele não sentia nenhum rancor ou ódio para essas pessoas.

Enquanto caminhava ao lado dos amigos, Derek percebia uma sensação diferente em seu peito, como se as feridas do passado finalmente começassem a cicatrizar.

O grupo saiu do quarto, encontrando Chris do lado de fora, ainda bebendo seu café.

— Está tudo bem? — questionou ao ver a saída do grupo, ele parecia preocupado.

— Tudo certo. Preferimos evitar segurar vela, então deixamos o casal em seu momento. Sabe? — informou Stiles, sorrindo — Mas não se preocupe, sogrão... Está tudo sob controle.

— Humm. Vou deixá-los uns 5 minutos sozinhos e depois vou entrar. A função do pai é justamente empatar, servir de obstáculo e deixar a situação bastante embaraçosa. E pretendo exercer tal função ao máximo. — brincou Chris.

— Desde que você não se inspire nas regras de John Stilinski, está tudo bem. — garantiu Stiles.

— Que regras? — Chris arqueou as sobrancelhas, curioso.

— Nada. Elas não são nada importante. Você não precisa saber. — Derek falou, subitamente, deixando o ex-caçador ainda mais curioso.

~**~

O seu café tinha leite, creme de chantilly e canela. Além disso, tinha adicionado um marshmallow na superfície que aos poucos derretia. Muitos poderiam dizer que aquele drink tinha mais açúcar no gosto do que cafeína, mas Stiles não ligava. Aquele dia foi cheio de emoções e seu plano tinha gerado ótimos resultados, merecia uma recompensa.

Ali estava ele, sentado em um banco na entrada do hospital, desfrutando de sua bebida. Derek logo se aproximou com seu próprio café em mãos. Um café puro, sem açúcar. Seu namorado parecia gostar de drinks sem graça...

Os dois sentaram e observaram o horizonte, as árvores da reserva de Beacon Hills estavam desfolhadas e nuvens obscureciam o céu. De fato, o outono estava dando lugar ao inverno. Contudo, apesar da aparente melancolia da paisagem, Derek e Stiles encontravam uma certa paz naquele lugar. O silêncio compartilhado entre eles era reconfortante, como se as palavras fossem desnecessárias para expressar o que sentiam. Apenas o som suave do vento e das folhas secas sob seus pés preenchia o espaço.

— Der... Eu estive conversando com Yaci. — disse Stiles, mirando com atenção o seu marshmallow derretido e evitando o olhar curioso do Hale.

— Bem, ela é sua "Mestra", espero mesmo que converse com ela.

— Pois é, ela me explicou algumas coisas sobre ser caminhante e tal... Mas o mais importante é que, ela meio que me falou sobre espíritos. Pessoas que morreram e ainda ficam presas em antigas memórias. Parece que isso é comum de ocorrer. Fantasmas tendem a ficar presos em ciclos temporais, associados a suas mortes...

— Oh... — Agora Derek entendeu aonde Stiles queria chegar com aquela conversa. Derek recordou do evento a qual Stiles viajou para o passado, na mansão Hale, e encontrou não só o antigo alfa da alcateia Hale (avô de Derek), como o próprio pai de Derek.

— Ela disse que poderia levar todos vocês para o passado. Para o dia do incêndio. Eu meio que pedi isso para ela. — o adolescente falou agora levantando o olhar para fitar seu namorado — Acho que seria uma oportunidade para vocês se despedirem e talvez... Ajudar seus parentes a seguirem para o pós-vida. Lógico que... Isso depende de você... Vocês... Sua família. Sei lá, achei que estava me metendo demais, mas... Pensar que seu pai ainda está lá.

Derek sentiu um misto de emoções ao ouvir as palavras de Stiles. Era uma ideia tentadora, mas ao mesmo tempo assustadora. A oportunidade de rever seu pai, mesmo que fosse um espírito preso em suas memórias, era algo que ele nunca imaginou que teria. Mas ao mesmo tempo, mexer com o passado poderia ter consequências imprevisíveis, reabrindo feridas que estavam começando a cicatrizar.

Ele olhou para Stiles, vendo a preocupação nos olhos do namorado.

— Stiles, acho que essa é uma ótima ideia. — Derek se viu falando, apesar do medo e insegurança que dominavam seu coração. Era o momento de enfrentar aquele trauma, e sua família também precisava participar desse processo. Todos tinham o direito de saber a verdade e se curarem.

Derek sentiu a mão quente de Stiles envolvendo a sua, e só então notou que a mesma tremia levemente. A outra mão, que segurava o café, tinha feito com que o líquido quente espirrasse e manchasse suas calças jeans.

Sim, de fato ele não poderia perder aquela oportunidade.

— Vou avisar Peter e os outros. — disse Derek, forçando um sorriso. Stiles se levantou um pouco do banco e deu um leve beijo açucarado nos lábios de Hale.

— Vai ficar tudo bem, Der-Bear. Eu estarei ao seu lado te protegendo, um super-Stiles! — brincou o adolescente, fazendo Derek soltar uma leve risada. Aquelas palavras tiveram um efeito imediato, dando-lhe conforto diante do que ainda enfrentariam juntos.

Enquanto o vento suave acariciava seus rostos, Derek e Stiles sentiram que estavam unidos como nunca antes. Era uma jornada incerta que estavam prestes a enfrentar, mas eles estavam dispostos a enfrentá-la juntos.


~Palavras da autora~

Agora sim, o próximo capítulo será o último desta temporada!

Será um momento repleto de emoções, onde finalizaremos essa parte da história e nos prepararemos para a próxima temporada com os três livros.

Não se preocupem, explicarei tudo bem detalhadamente para que vocês não fiquem confusos.

Espero que tenham apreciado esse capítulo tanto quanto eu gostei de escrevê-lo.

Abraços pessoal, e até breve!


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