Missão ultrassecreta (só que não) no Hospital - Parte 2
O purê de batatas estava de um branco pálido, como se as próprias batatas tivessem perdido seus tons amarelados e aderido a uma paleta de cores esbranquiçadas. Isso fez com que o paciente questionasse se eram realmente batatas que haviam sido usadas naquele prato.
Sem hesitar, ele enfiou o dedo indicador na massa disforme, esperando melhorar o sabor e talvez até realçar a cor. No entanto, antes que pudesse ativar seu poder, alguém segurou seu pulso e afastou seu dedo de seu objetivo.
— Ei! O que você pensa que está fazendo? — Petrus reclamou com Peter, o responsável por segurar sua mão.
— Ele está impedindo que você continue usando o seu poder. — Esclareceu Michel, o vampiro que estava sentado próximo.
— Eu nem estava usando o meu poder. E nem pretendia usá-lo. — mentiu Petrus, fazendo um biquinho com os lábios.
— Vamos ver. — Para surpresa do trio, Peter levou a mão que segurava aos lábios e lambeu o dedo sujo de purê de Petrus. O alquimista corou com esse gesto, enquanto os olhos rubros de Michel brilharam com excitação.
— Ainda com o mesmo gosto sem graça e insosso. — Declarou Peter Hale, com um sorriso provocador nos lábios.
— Viu? Eu não usei o meu poder! — se defendeu Petrus.
— Sei... Você sabe que não pode usá-lo. São recomendações médicas. Você deve evitar a alquimia por pelo menos um mês. — O vampiro falou, acariciando o pomo em forma de vampiro de sua bengala.
— Como vou sobreviver sem alquimia! — Choramingou Brand.
— Veja pelo lado positivo, mesmo com alquimia, sua habilidade não te ajudava muito em relação à comida. — Disse Peter, fazendo um leve cafuné no seu amado.
— Isso é verdade. — Assentiu Michel — Os chás que você nos serviu, por exemplo, tinham cores escandalosas, como amarelo neon e rosa choque... Além disso, emitiam fumaça e faíscas!
— E o gosto? — O Hale acrescentou — Teve aquele suco que tinha cor de laranja, mas era suco de beterraba e tinha gosto de suco de maçã.
— Seus ingratos! — Resmungou Petrus, cruzando os braços diante de si — Eu fiz esses experim... Digo, alimentos, com todo o meu amor!
Petrus teria que mudar de tática, já que estava enjoado de comer a comida hospitalar. Além disso, não iria receber alta tão cedo. De fato, tinha que reconhecer que usou seu poder além do limite, o que resultou em hemorragia nos capilares, provocando sangramentos. Chegou ao ponto de verter lágrimas de sangue. Os médicos o tranquilizaram, informando que desta vez não houve aneurismas. No entanto, eles precisavam analisar sua recuperação e verificar se não havia formação de trombos em seu sistema circulatório. Seu mestre, Alan Deaton, deu-lhe uma tremenda bronca, pois, mesmo diante de crises, um indivíduo deve saber parar antes de atingir seu limite.
Alan, contudo, também o parabenizou por sua coragem. Afinal, foi graças aos fogos de artifícios gerados por Petrus, além do kanima, que os caçadores se concentraram no centro de Beacon Hills. Além disso, a luz produzida por esse show pirotécnico alquímico iluminou a escuridão causada pelo apagão de energia, sendo essencial para a fuga dos civis.
Petrus não se sentia totalmente um herói, pois queria ter usado seu poder para destruir Arkadius Van Helsing. Sabia que seu sobrinho havia dado uma surra naquele verme, mesmo assim, Petrus achava que o sofrimento para Arkadius ainda era pouco.
O alquimista buscava uma solução para o seu problema alimentício. Seus olhos escanearam o ambiente. Ele estava em um quarto aconchegante no hospital, com uma grande janela que oferecia uma bela vista para o jardim repleto de flores e árvores. A luz do sol entrava suavemente, iluminando o espaço e trazendo um clima reconfortante. Sentando logo abaixo desta janela, em um longo sofá de coloração bege, estava o que poderia ser a sua salvação.
Era um rapaz de pele achocolatada, com uma aparência marcante. Seus cabelos escuros, antes longos, foram cortados em um estilo curto, uma decisão tomada principalmente porque ele teria que ficar mais tempo nessa forma e estava com preguiça de lidar com a manutenção dos longos fios. Seus olhos eram intensos e cativantes, com íris de um verde esmeralda hipnotizante.
Salem vestia uma roupa elegante e peculiar. Sua túnica era de um azul suave, fluindo suavemente ao redor de seu corpo. Ele combinava a túnica com calças de uma tonalidade clara. Curiosamente, ele preferia andar descalço, o que adicionava um ar de despreocupação à sua imagem.
No entanto, o que mais chamava atenção era o grande e grosso livro que ele carregava. O livro flutuava no ar, mantendo-se próximo a Salem, como se fosse uma extensão de sua própria vontade. Sua capa era de couro envelhecido, apresentando várias inscrições e desenhos intrincados. Algumas dessas inscrições e desenhos pareciam se mover, como se ganhassem vida própria dentro das páginas.
Aquele livro era o seu grimório, um objeto sagrado e poderoso para um bruxo. Ele continha todo o conhecimento e os segredos mágicos de Salem, registrados ao longo de seus estudos e experiências. O grimório era a fonte de sua magia, onde ele buscava os feitiços, encantamentos e rituais para moldar a realidade conforme sua vontade. Era um companheiro constante e um tesouro inestimável para o bruxo Salem... Pelo menos deveria ser.
— Oh, insigne insensato! Assim te classifico... Como ousas tentar usar-me? Após deixar-me a minguar em um recanto. Sabes, por certo, que tive de embater contra traças diariamente para resguardar os poderes que permeiam estas páginas? E onde te encontravas? Vivendo como um felino, exultante e alegre! — proferiu o grimório com voz pomposa, meio rouca e valendo-se de um vocabulário arcaico. A ira do livro era evidente e seu discurso estava carregado de desdém em relação a Salem, que, por sua vez, ignorava as palavras enfurecidas do livro.
— Er... Salem? — chamou Petrus, atraindo a atenção de seu amigo que o fitou com curiosidade, desviando o olhar do que estava lendo.
— Já que não posso utilizar a alquimia, poderia me ajudar? O que achas de empregar tua magia para transformar essa gororoba que eles chamam de comida em algo verdadeiramente apetitoso?
— Acaso irás solicitar auxílio ao grandioso Salem? Embora seja um insigne imbecil e ingrato, não podes, de fato, rogares ao mais eminente bruxo das Américas um pedido tão trivial e indigno de seu poder — replicou o grimório, manifestando seu estranho sentimento de raiva em relação a seu mestre, mas, simultaneamente, idolatrando-o.
Salem, mais uma vez, ignorou o livro e pronunciou-se:
— Está bem. Não estou fazendo nada mesmo. Aliás, estou morrendo de tédio!
— Espera um pouco... — Michel ponderou. — Acho que isso não seria correto. A comida do hospital foi concebida com o propósito de fortalecer-te...
— Como posso me fortalecer se não sinto a mínima vontade de ingerir essa gororoba? — resmungou Petrus, obstinado.
— Ele tem, em parte, razão — acrescentou Peter. — E acredito que o principal problema esteja relacionado ao fato de Brand utilizar, ou não, a alquimia.
Michel teve de concordar, pelo menos parcialmente, com aquele argumento. Além disso, Petrus realmente não estava se alimentando tão bem quanto deveria. Quiçá uma mudança no cardápio fosse o que o seu amado alquimista necessitava.
Salem aproximou-se da cama onde Petrus estava deitado, e o alquimista observou-o com entusiasmo. O preguiçoso gato que ele havia empregado como funcionário em sua loja agora assumia a forma humana, e parecia-lhe que poderia ser mais útil dessa maneira. Pelo menos, não teria que lidar com ameaças de denúncias a alguma sociedade protetora dos animais por forçá-lo a trabalhar!
O bruxo fixou seu olhar no prato que Petrus tinha sobre a bandeja. Era um purê de ervilhas e vagens cozidas, acompanhado de algo que aparentava ser frango. Salem estendeu uma das mãos em direção ao prato, e o ar ao seu redor começou a mudar, como se se tornasse mais rarefeito. Centelhas elétricas começaram a manifestar-se, seguidas pelo prato de comida que começou a vibrar e, em seguida, a emitir um brilho intenso. Os olhos cor esverdeada de Salem brilhavam da mesma forma.
Uma fumaça púrpura envolveu a bandeja, impedindo que se visse o prato de comida. Porém, logo a fumaça se dissipou por um vento sobrenatural. A gororoba, como Petrus a havia classificado antes, deu lugar a...
— Salem... Que droga é essa?
Petrus, Peter e Michel observavam estupefatos o novo prato de comida. Na bandeja havia uma substância de aspecto translúcido e gelatinoso, com uma tonalidade branca quase transparente. Petrus tocou, trêmulo com o garfo, aquela massa viscosa e constatou que se tratava de um tipo de peixe. Para tornar a aparência ainda mais peculiar, o prato era acompanhado de molho branco e batatas cozidas.
— Olha só, isso aqui é o famoso Luterfisk! Uma verdadeira especialidade escandinava vinda direto da Noruega. E olha que o processo de preparo é pra lá de interessante! Eles pegam o bacalhau seco e o colocam numa banheira de água de cal ou até mesmo soda cáustica, acredita? Isso aí é pra deixar o peixe todo macio e livre de impurezas. Depois de um belo enxágue, é só cozinhar bem devagarinho.
— Interessante... — disse Peter, esforçando-se para sorrir. Michel, disfarçadamente, levou um lenço ao rosto para ocultar sua expressão de náusea.
— Parece que alguém já o provou! — observou Petrus, ao perceber que, de fato, a batata estava parcialmente consumida, e uma mordida havia sido dada no estranho peixe.
— Ah, claro! Você achava que eu ia transformar um purê sem graça em algo extraordinário só com um movimento de mágica? Nananinanão! Eu apenas fiz uma troca. Alguém lá na Noruega agora está saboreando seu odiado purê enquanto nós desfrutamos dessa iguaria escandinava! Trocas mágicas, meu caro, trocas mágicas!
— Iguaria? Isso parece muito pior do que o purê! Na verdade, o purê já era meio esbranquiçado, mas pelo menos não era transparente e nem melequento! De onde vem a ideia de que isso é um prato apetitoso? — disse Petrus, apontando o garfo para Salem, que levantou os braços em sinal de rendição.
— Ah, você falou que queria um prato apetitoso, mas não especificou para quem seria apetitoso. Então, eu trouxe um prato que "eu" acho apetitoso. Embora, eu devo confessar, nunca o provei antes.
— Salem, você fez isso de propósito. — concluiu Petrus.
— Eu? Imagina só! — Sorriu o bruxo, ex-gato. Aquele sorriso deixava claro o quanto Salem estava se divertindo com toda aquela situação.
— Um encantamento de transmutação, algo sumamente arduoso de se realizar. O magnânimo Salem transportou um prato de alimento por mais de 8.200 quilômetros de distância! Vós não deveis estar a reclamar, mas sim agradecendo! — completou o grimório, defendendo o seu mestre.
— Ah, fecha essa matraca, livro! Tá com sorte de eu não poder usar a alquimia, senão já teria te transformado num rolo de papel higiênico pra te jogar num banheiro público! — Ameaçou Petrus, apontando o garfo para o grimório, que se escondeu rapidinho atrás de Salem.
— E você, gato-bruxo de meia tigela... Espera só eu me recuperar, aí vai conhecer a força dos meus poderes de verdade! — O alquimista continuou a ameaça, com aquele olhar cheio de determinação.
Salem, com um gesto indiferente, deu de ombros.
— Já que você não vai querer comer o peixe, será que posso comê-lo? — ousou perguntar o bruxo, com um sorriso malicioso no rosto.
Petrus pegou o prato e o arremessou diretamente no rosto do amigo. No exato momento em que a comida voava pelo ar, a porta do quarto se abriu, e Aby e Pietro entraram, testemunhando aquela cena bizarra. Peter estava lá, segurando o prato, mas toda a comida que deveria estar ali estava agora espalhada pelo rosto de Michel, que se levantou bruscamente da poltrona onde estava sentado. E, para completar o cenário, Salem, o bruxo, gargalhava do acontecido, escondido atrás do poderoso vampiro.
— Pelo visto, chegamos na hora certa. — disse Pietro, tentando não rir do rosto de Michel, que estava misturado de fúria e indignação. O vampiro mais velho tentava limpar a substância viscosa de seu rosto e, para piorar, seu terno Armani também havia sido atingido. Michel resmungava diversos palavrões em francês.
— O que você fez? — Aby disse, mirando Salem, que tentava controlar sua risada.
— Como audazmente te atreves a empregar um tom acusatório em relação ao magnânimo e poderoso Salem!
Aby pegou o grimório e o trouxe para próximo de seu rosto. O livro farfalhou para tentar fugir, inutilmente.
— Livro, entenda bem, Salem pode até ser poderoso e tudo mais, mas isso não muda o fato de que ele é um verdadeiro pé no saco. Guarde isso bem em suas páginas, para que você entenda que ele não receberá nenhum tratamento especial só porque sabe fazer uns truques com efeitos especiais. E saiba também que ele é parte de nossa família... E como todo membro travesso, ele terá que encarar as consequências de suas ações. Portanto, prepare-se para testemunhar um castigo digno de uma "criança" rebelde.
Nesse momento, Salem parou de rir e começou a gritar, sendo perseguido por um furioso Abraham Van Helsing.
Peter observava tudo aquilo com diversão. Salem, de fato, era muito poderoso e aparentemente havia optado por permanecer na forma humana, talvez para ajudar a família Brand. Afinal, ele agora sempre acompanhava Petrus ou Aby, talvez para protegê-los e dar apoio. Sim, havia um vínculo profundo de amizade ali. Peter também sabia que Salem não tinha um passado amoroso em relação à sua antiga família (exceto por sua prima Sabrina), que o tratava como um deus, ao mesmo tempo limitando-o e impedindo-o de viver a vida em plenitude, até mesmo de ter amigos ou hobbies. Pelo menos agora Salem estava livre para escolher não apenas a forma humana, mas também uma nova família.
— E agora vou morrer de fome... — Falou Petrus em um tom dramático, deixando-se cair na cama.
— Eu não diria isso. — Pietro trouxe um saco cheio de...
— Chocolates? — Farejou e concluiu Hale.
— Comida resultado do árduo trabalho de Stiles e seus amigos. — piscou Pietro Beaumont para Peter, que soltou uma leve risada.
— Aquele garoto está contrabandeando comida desse tipo em um hospital? — Michel questionou, indignado.
— Ele comprou algo para você, Frère. — o vampiro mais novo entregou amendoins apimentados para o outro vampiro. Um golpe baixo, sabendo da predileção de Michel Beaumont por comidas apimentadas.
— Talvez... Comer esse tipo de comida, mesmo dentro de um local de saúde, não seja tão ruim. — falou Michel, por fim, pegando seus amendoins.
— Finalmente! Comida! Bem, eu preferiria umas suculentas salsichas... Não que eu não tenha suculentas salsichas ao meu dispor — disse com malícia, fazendo Michel engasgar com sua comida e Peter pigarrear desconfortável — mas gostaria de outros tipos de salsichas, sabe? Mas o chocolate vai dar para o gasto.
— Se quiser. — Falou Salem, arfando, enquanto era imobilizado por Aby — Posso tentar transformar um dos chocolates em salsicha.
— Não! — uma sonora negação foi pronunciada por todos no quarto.
~~*Palavras da autora*~~
Mais um capítulo, agora focado na família Brand (vamos chamá-la assim).
Salem agora tem uma nova família!!
Eu achei fofo o fato de Salem, um dos maiores bruxos das Américas, permitir-se ser imobilizado por Abraham.
Talvez tenha chegado a hora de Aby abandonar o sobrenome Van Helsing e adotar o Brand (sobrenome de seu tio).
O que vocês acham dessa família?
O próximo capítulo será voltado para Scott e Allison (além de Stiles e os amigos, é claro).
Abraços,
NMCMsama
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