Laços de sangue


Ampliar o seu horizonte, fora o que seu tio tinha dito como justificativa para se mudarem para os Estados Unidos, abandonando o velho continente e possivelmente as lembranças a ele associado. Fora um ledo engano cogitar que por apenas mudar de país (e de continente) estaria livre do seu passado...

Abraham abraçou os próprios joelhos, sentando no alto da caixa d'água do Beacon Hills institute, tinha uma visão privilegiada do campus escolar e universitário. Tentava não chorar mais pois o que mais odiava era parecer fraco, lágrimas e lamentações? Que coisa mais fresca! Nunca fora alguém de ficar se lamuriando pelos cantos... Tentou enxugar o rosto com a costa das mãos, mas as lágrimas ainda persistiam em sua queda.

"Todos me viram assim..." pensou " Todos me viram...". A imagem dele imobilizando o vampiro e quase afundando o lápis em sua cavidade ocular o fez estremecer. O que seus amigos devem pensar dele agora? Suas divagações foram interrompidas pelo arfar de alguém.

— Por que tem que ter tantos degraus? Não devia ter um elevador? Isso em um dia desses vai matar alguma pessoa! — resmungava já sem folego alguém que Aby conhecia muito bem. Não demorou para uma mão morena alcançasse a plataforma.

— Graças a dentadura do conde drácula! — regozijou.

— E eu que pensei que vampiros tinham maior estamina. — comentou crítico o humano vendo o vampiro se erguendo, não queria reparar no suor e tão pouco na camisa que colava sob os músculos de Pietro, moldando suas curvas e deixando pouca margem para a imaginação do caçador, não que precisasse imaginar muito, pois já tenha vista o peitoral nu do rapaz mais velho (não esquecer do treinamento que tiveram no estacionamento).

— Eu gastei grande parte da minha energia aumentando minha velocidade para te salvar e te encontrar! — praticamente choramingou, uma atitude demasiado infantil para alguém claramente mais velho.

— Devo enfatizar que: não precisava ser salvo e nem encontrado. — disse curto e grosso — Aprecio a sua preocupação, mas estou bem e não necessito de...

A estamina do vampiro não tinha acabado por completo, pois esse avançou de forma rápida e segurou o rosto do menor, lágrimas ainda rolavam de sua face.

— Por mais que você me chute, morda ou me ameace com torturas infinitas, não irei te abandonar. Não agora que mais precisas de mim...

Aquilo atingiu em cheio o coração de Abraham. Não queria ceder... Não devia ceder. Não devia confiar. Havia uma grande lista de "não devia" passando em sua cabeça, mas aos poucos, sentia que tais limitações autoimpostas estavam ruindo graças a persistência de um certo vampiro.

— Por que? — sussurrou desvencilhando o rosto daquelas mãos, bem que tal ação foi feita com relutância.

— Essa é uma pergunta bastante ampla. — disse Pietro dando um dos seus formidáveis sorrisos — deve ser mais especifico.

— Você é um vampiro e eu venho de uma família de caçadores de vamp...

— Acho que já passamos por essa conversa, Aby! Não ligo para isso! Sei que você não quer ser um caçador... Sei que não me machucaria, pelo menos não muito. — riu nervoso recordando de alguns eventos passados.

— Como pode ter tanta certeza? Digo... Você nem me conhece direito! Como pode ter tanta certeza que gosta de mim? — falou mas suas palavras saíram quase como sussurros, não detinham a mesma confiança que lhe era característica.

— Não precisa te conhecer por completo para me apaixonar por você, Abraham Van Helsing III.

Bang!

Novamente o coração de Aby foi atingindo com um tiro mais do que certeiro. Como podia continuar resistindo desse jeito? Quando Pietro insistia em ataca-lo daquela forma usando sentimentos e sensações ainda novas para o adolescente. Amor? Paixão? Era algo intangível presente em letras de músicas, mas que nunca foram experimentadas. Como saberia se estava apaixonado? Mais uma vez estava parecendo um fraco, por sua inexperiência e isolamento, não sabia como responder ao vampiro... Sabia, entretanto, que não queria magoa-lo e nem perde-lo.

— E com o tempo, irei te conhecer mais como você também irá me conhecer... Vamos descobrindo mais um sobre o outro. — continuou a falar Pietro.

— Se eu te contar sobre uma coisa... Talvez você mude esse sentimento. — revelou Aby cabisbaixo, abraçando ainda mais os joelhos e quase afundando seu rosto neles. Aquela visão fez estremecer o vampiro... Imaginar Abraham daquela forma tão frágil parecia errado. Agora se via culpando a si mesmo por não ter sido mais rígido com o vampiro que desencadeou aquilo. Talvez devesse punir aquela "gangue" de vamp-góticos! Delata-los a seu irmão mais velho! Mas, sentia que estaria sendo injusto, que a verdadeira causa da tristeza de Aby não residia na briga entre vampiros adolescentes. Era algo bem mais profundo, uma ferida antiga e ainda não cicatrizada...

— Me contar? Sobre o que?

— Sobre o meu pecado.

~~**~~

A Holanda tinha cerca de 150 castelos espalhados por seu território, muitos deles são abertos à visitação, outros convertidos em hotéis, restaurantes e até mesmo locais para festa e casamentos. Tais castelos são belos, muitos deles pareciam ter saído de contos de fadas. Castelo de Haar em Utrecht e o de Muiderslot próximo a Amsterdam eram os considerados mais conservados e sua beleza transcendia o continente europeu atraindo incontáveis turista a cada ano. Contudo, o castelo Bloedband que literalmente significava "Laços de sangue", propriedade do clã Van Helsing por incontáveis gerações, não seria conhecido pelo público, oculto em meio a uma densa floresta e estrategicamente distante de qualquer vila ou cidade humana, a cede de uma das mais proeminentes famílias de caçadores era de um encanto para alguns e maldição para outros.

Abraham observava a paisagem de uma das torres, recostado na grande janela, a parede era de tão grossa espessura que a abertura onde se postava a janela lhe permitia se sentar confortavelmente como fosse um verdadeiro divã. Ouvia música do seu ipad, único luxo que seu pai lhe tinha permitido... Música, segundo ele, ajudava na concentração, principalmente nas tarefas a serem desempenhadas por um caçador. Aby estremecia com a lembrança das sinfonias de Mozart e Vivaldi que se propagavam pelo calabouço do castelo quando seu pai trazia alguma "caça" para casa. Os solos de violino, tão pouco a melodia do apressada e elegante do piano conseguiam abafar os gritos e suplicas, e foram a causa de incontáveis pesadelos para o jovem Abraham.

—Está na hora. — a voz cortante despertou Aby dos seus devaneios. Um homem o encarava com olhos azuis escuros, cor que deveria ser semelhante a um mar revolto em plena tempestade, seus cabelos loiros acobreados caia sobre a fronte e foram rapidamente colocados para trás, mas teimavam ainda a perpetuar na sua posição anterior, o rosto quadrado ressaltando o queixo, o nariz reto um pouco arrebitado lhe conferia um ar altivo e nobre, o corpo era forte resultando de anos de duro treinamento... Em conjunto, Arkadius Van Helsing emanava uma áurea de autoridade, poder e perigo.

Abraham não hesitou a acompanha-lo, sabia que não podia dizer "não" ao seu pai, não podia? Talvez o correto fosse não devia, pois isso resultava em duras punições. Além disso, as poucas vezes que se encontrava com o patriarca da família de caçadores era unicamente devido ao seu treinamento, logo era um sacrifício temporário, poderia aguentar...

— Você está muito magro. — disse Arkadius enquanto desciam as escadas da torre. Era engano pensar que ele dizia aquilo em sinal de preocupação, era uma crítica. Abraham diferenciava e muito em físico do seu pai, na verdade muitos dos subordinados e outros membros do clã Van Helsing o classificavam como "adorável" e isso só enfurecia ainda mais Arkadius — Não anda comendo? Não está fazendo os exercícios que recomendei? E os suplementos?

— Eu sigo as suas recomendações.

— E então por que ainda tem essa aparência de menininha?

Aby não disse nada, o que poderia dizer? Não era sua culpa não ter herdado os genes "másculos" do seu pai, pelo visto, puxara mais a linhagem de sua mãe.

— Bem, isso pode ser uma vantagem. — continuou a falar Arkadius ignorando se tinha ofendido ou não o seu único filho — Os inimigos baixarão sua guarda, pensarão que você é um anjo mas na verdade é um demônio.

Depois começou a rir, o som ecoou e ressoou pelo castelo Bloedband.

— Lógico que não literalmente, anjos e demônios também devem ser caçados. — ressaltou ainda em um tom brincalhão que Abraham não compartilhou.

Logo chegaram a base da torre e seguiram por um corredor, alguns poucos criados (permitidos por Arkadius e que passaram por uma rígida e profunda investigação para avaliar se eram de fato confiáveis) dava pequenas reverências conforme as Van Helsings passavam. Pararam diante de uma porta, era a sala destinado ao treinamento.

— Prepara-se. — mal tinham adentrado na sala, Abraham recebeu uma adaga do pai e o mesmo o atacou.

Era assim que era o seu cotidiano. Treinar e treinar, tinha pouco contato com outras pessoas que não fossem caçadoras ou serviçais. Não podia usar o computador tão pouco ver TV, tudo era controlado por seu pai que dizia que a sociedade estava se corroendo e esquecendo os antigos valores e que Aby não devia ser contaminado com a influência corrupta dos humanos que cada vez mais estavam se tornando "amantes dos sobrenaturais".

— Mais rápido. — bradou Arkadius que girou o braço em parábola, pronto para fincar a lâmina de sua adaga na lateral do seu primogênito. Abraham desviou saltando para trás, pelo menos o seu corpo leve conferia essa vantagem em relação ao físico corpulento do Van Helsing mais velho.

"Ele iria acertar minha caixa torácica, atravessar minhas costelas... O alvo era o meu pulmão." Pensou arfando mirando Arkadius com certo pânico, seus treinamentos eram cada vez mais lutas por sobrevivência.

— Bom. — sorriu o outro trocando a adaga de mão — Boa resposta, lembre-se do que te ensinei?

— Um bom caçador age por instinto. — respondeu, as palavras saiam automaticamente de sua boca, vem repetindo os ensinamentos ditados por Arkadius desde os 2 anos de idade.

— E que instinto seria esse?

— Sobreviver.

— E o que mais?

— Caçar.

— Bom. Muito bom. — Arkadius guardou a adaga, parecia satisfeito. Aby soltou um suspiro, talvez a sessão de treinamento hoje fosse mais filosófica do que realmente física. Às vezes, seu pai fazia isso, forçava seus princípios por meio dos punhos.

— Venha. — ofereceu a mão para Abraham se levantar, já que depois do salto o garoto ainda estava agachado no chão ainda empunhando a adaga, pronto para receber outro golpe. — Tenho algo para te mostrar.

Aby engoliu em seco enquanto aceitou a mão do pai. Fechou os olhos e não tardou para que Arkadius deferiu outro golpe, tentando chutar a lateral do corpo do filho. A mão estava firme impedindo que Abraham fugisse, mas o garoto não o fez, ao invés disso correu de encontro ao pai, escapando do chute e atacando com a adaga o pescoço do patriarca. Hesitou e esse foi o seu erro. Arkadius lhe deu uma cabeçada.

Um gosto ferroso e amargo preencheu a boca. Tinha mordido a língua com o choque. Pior, estava desorientado e seu pai aproveitou o momento. Dessa fez o chute foi certeiro.

— Qual é a outra lição que te ensinei?

Abraham arfou, caído no chão frio, o mundo parecia rodar a sua volta.

— Qual é a outra lição? — a voz de Arkadius era dura e desprovida de qualquer empatia para com a dor que Aby sentia no momento, o chefe dos Van Helsing não gostava de se repetir.

O garoto cuspiu o sangue acumulado na boca.

— N-nunca confiar... — disse com dificuldade.

Isso gerou um sorriso satisfeito.

— Muito bem. Agora levante-se, tenho mesmo algo para te mostrar.

Ao anunciar isso saiu com passos firmes deixando Aby ainda tentando se recuperar do "treinamento".

Um dia, te prometo, não vais precisar viver dessa forma...

Recordou das palavras da mensagem que seu tio (por parte de mãe, lógico) conseguiu mandar por meio de vias não controladas por seu pai: pombos correios. Sim, era algo antiquado, mas ainda eficaz. Petrus Brand, seu tio e descendente de um famoso alquimista e mercador alemão Henning Brand famoso por descobrir o elemento químico fósforo através da mistura da urina com areia buscando a famosa pedra filosofal (sim, xixi e areia... Como isso iria resultar na pedra filosofal? Só deus sabe!), o clã Brand era célebre por outros feitos no submundo, entretanto, tais como comercializar poções, remédios alternativos entre outras coisas mais, como se associar com druidas e bruxos, algo que Arkadius criticava duramente, pois para o Van Helsing humanos não deviam se meter com o sobrenatural a não ser para se aliarem a caçadores. Mesmo assim, Arkadius se casou com Leona Brand... Talvez para se aproveitar das suas habilidades "alquímicas", beneficiando o clã Van Helsing, mas o casamento não durou muito tempo. Aby nem se lembra de sua mãe, pois quando tinha apenas cinco anos de idade ela fora expulsa do castelo e desaparecera misteriosamente.

Cambaleante se ergueu e seguiu o seu pai. Um dia iria fugir, viveria com o seu tio sendo ele um "amante do sobrenatural", "um traidor da raça" ou qualquer outro nome que o seu pai inventava para se dirigir aos membros da família Brand, não importava, queria ter chance de conhecer outro tipo de vida.

Aby sentiu o seu corpo estremecer quando percebera para onde estava seguindo: o calabouço.

~~**~~

— Hoje é um dia muito especial, sabe por que? — disse Arkadius em um tom alegre o que causou mais medo em Abraham, quando seu pai estava feliz significava que algo horrendo tinha acontecido ou iria ocorrer. Ainda mais por estarem do subsolo do castelo isso só fazia que seus nervos se agitassem mais, além disso, aquela sala onde se encontravam era por demais esquisita, espantalhos estavam penduradas pelas paredes como fosse uma estranha festa de halloween.

— Acho que já está velho o suficiente para subir de nível.

— Como assim? — perguntou ainda meio perdido com o ambiente macabro.

Ele retirou algo do bolso das calças militares que usava, era um objeto cilíndrico envolto em um pano de seda roxo.

— O símbolo de nossa família... — o pano fora retirado deixando a estaca de prata a vista. Agora Aby congelou, sabia agora o significado de estar no calabouço, era tradição da família Van Helsing, desde os tempos antigos, que quando um membro jovem recebe sua primeira estaca deveria usa-la em sua primeira caçada.

— Pai, eu ainda não estou pront...

— Shhh! — Arkadius levou a arma a boca, simulando o sinal de silêncio — Eu sei que tens medo, é normal, por isso te trouxe aqui, onde pode treinar com esses bonecos.

Aby quase sentiu alivio se não conhecesse seu pai, Arkadius sempre se utilizava de joguinhos sádicos, ainda mais era parte de sua filosofia de não confiar em ninguém, pelo menos esse ensinamento valia a pena Abraham seguir.

— Você nunca treinou com uma estaca, não é? Sempre usamos adagas, espadas, armas de fogo e arco-e-flecha em nossos treinos, nunca estacas. Sabe por que? Pois isso exige um treinamento especial. Não foram os Van Helsing que primeiro usaram a estaca contra os vampiros, mas foram eles que aperfeiçoamos o seu uso.

Arkadius colocou o instrumento de prata nas mãos trêmulas de Abraham.

— Você tem o nome do primeiro caçador da família, será uma grande honra empunhar uma estaca. Estamos vivendo uma era de decadência da moral, filho. Sabe que o conselho dos caçadores sugeriu na última reunião? Paz! Nossos filhos serão mandando para escolas junto com aqueles monstros! Como se anos de destruição de nossa raça não valessem de nada! O pior? Existem humanos se relacionando com monstros! Já imaginou que frutos irão nascer dessa relação? O sangue de nossa raça irá ficar impuro... Nosso futuro é incerto... Por isso te dei o nome de Abraham Van Helsing, foi o seu antepassado que primeiro trouxe à tona a necessidade de estudar e de nos armar contra os monstros que povoam nosso mundo, talvez a sociedade atual necessite disso, de alguém que os faça rever os conceitos e retornar a origem!

"Eu não quero ser seu instrumento de vingança contra a humanidade, pai." Pensou Aby, mas não teve coragem de pronunciar em alto e bom tom seus pensamentos, invés disso fechou o punho na estaca, odiando tê-la ganhado.

— Agora acerte um dos espantalhos. — mandou.

— E-eu... — hesitou, o sorriso do seu pai logo foi substituído por um olhar de desaprovação e impaciência.

— Eu não fiz uma sugestão, foi uma ordem!

Aby vacilou novamente e isso só provocou maior fúria em seu progenitor que segurou seu pulso e o arrastou até um dos espantalhos ali expostos. Era um boneco que era estranhamente semelhante a uma pessoa, as proporções eram parecidas e...

"Está respirando!" constatou agora que estava mais próximo, um capuz com uma cara sorridente cobria a cabeça, também havia pano cobrindo as mãos e pés, dando a falsa ilusão de um grande boneco.

— Vou te mostrar o que deve fazer.

— Não! Pai! Por favor!

— Você deve posicionar a ponta da estaca sobre o coração. — falava isso enquanto forçava a mão de Abraham sobre o peito ofegante do "espantalho".

— Pai! — lágrimas rolaram do rosto do garoto, seu coração acelerou, por alguns instantes o pânico o dominou e seu corpo paralisou.

— E agora deve enfiar com toda a sua força.

A estaca penetrou, de início houve uma resistência, mas depois atravessou com certa facilidade. Uma mancha rubra começou a se formar em torno da estaca agora enterrada no corpo do desconhecido. O sangue era de um vermelho escuro típico de um vampiro... O corpo se debatia, mas logo parou por completo e o peito parou de subir e abaixar.

Morte. Retirar a vida não devia ser tão fácil! Era errado ser fácil!

Arkadius retirou sua mão da estaca deixando que agora Aby sozinho segurando o instrumento mortal. O garoto demorou um tempo para perceber o fato e logo soltou e se afastou enojado.

— Agora você é um caçador.

Aby viu sangue negro em suas mãos. Se sentiu tonto. Suas pernas vacilaram e tombou no chão.

— Não tem como negar seu instinto. És um Van Helsing afinal... Esse castelo foi nomeado Laços de sangue, sabe por que? É um lembrete a todos os membros de nosso clã: não se pode escapar da família, não se pode escapar de sua responsabilidade. Está no seu sangue.

Sangue. Sangue negro cobria as suas mãos. Não queria ser um caçador! Não queria matar! Mas mesmo assim não fora capaz de impedir o seu pai... Não... Fora Abraham que tirara a vida daquele ser sobrenatural incógnito. Fora fraco. Se deixou dominar. Essa era a sua culpa. Era o seu pecado.

Olhou novamente as suas mãos marcadas pelo crime. Aquilo só podia ser um pesadelo...

Abraham vomito e logo depois desmaiou. Seu pai a muito tempo tinha deixado a sala abandonando o filho imerso no desespero e na culpa.

~~**~~

— Eu sou um assassino. Aqueles vampiros estão certos de me odiar. — sussurrou Aby ao fim de seu relato, Pietro permanecera quieto durante toda a história, seus olhos encarnados focados firmemente no horizonte o que só fez com que o adolescente ficasse ainda mais nervoso.

— Entendo se você me odiar agora também...

Uma mão fria cobriu a mão já tremula de Aby, esperava ver raiva ou decepção nos olhos rubros, mas ao invés disso viu exatamente o oposto.

— Você não é um assassino. Quem enfiou aquela estaca não foi você e sim o seu pai.

— Mas eu devia ter lutado mais! Se eu tivesse feito algo... Qualquer coisa...

— Você não é um caçador, Aby. — disse Pietro com mais firmeza — O sangue que foi derramado não é sua culpa. O único vilão que vejo nessa história é o seu pai, forçando um garoto a matar sabendo que você não faria isso por livre espontânea vontade. Eu...

Os caninos do vampiro cresceram, um rosnado feroz foi ouvido.

— Se algum dia me deparar com Arkadius Van Helsing eu juro que...

— Se nem consegues subir a escada direito como pode planejar lutar contra meu pai? — Aby conseguiu emitir um sorriso, sentira que um grande peso fora retirado de suas costas. Aquela lembrança vinha corroendo seu espirito por muito tempo... Ainda sentia o fedor do sangue em suas mãos, mas Pietro não o via como assassino. Então, talvez... Quem sabe... Não fosse mesmo a sua culpa aquela morte ter ocorrido.

— Ei! Mas você está me treinando, não é mesmo? Logo ficarei super forte, tipo o superman dos vampiros! Imbatível e invencível!

— Posso ser bom, mas não faço milagres. Melhor não sonhar tão alto, super-vamp.

Pietro fez biquinho. Aby agora gargalhou.

Sentiu algo estranho na barriga, então o termo "borboletas no estomago" era de fato real, já lera a respeito dos sintomas do amor antes... Além disso, presenciara em primeira mão vários casos amorosos em sua volta, seria idiota não evidenciar semelhanças entre o seu caso e o dos outros. Sempre fora contra a tola tensão sensual, prometera não ficar enrolando até chegar no finalmente como Stiles e Derek e muito menos seria bobão como Scott em relação a Allison. Sua principal característica era ser alguém direto e seria até o fim. Sim, era inexperiente, mas sempre fora um aluno que aprendia rápido. Não iria deixar essa oportunidade passar...

— Olha, que tal a gente descer e encontr... — Aby não dera tempo para o vampiro sugerir nada apenas puxou pelo colarinho de sua camisa e tomou os seus lábios em um caloroso beijo. Pietro ficou meio perdido no início, parecia der despertado em um sonho.

— Vai corresponder ou não vai? — inqueriu o humano se afastando um pouco, chateado pela evidente paralisia do seu companheiro.

— Uou... — suspirou o vampiro com um sorriso convencido nos lábios — Espera! Posso estar sonhando... Digo... Não que eu fique fantasiando muito sobre a gente, sabe? Quem sabe um pouco... Mas, nada muito erótico! Juro! — pigarrou corando totalmente.

Abraham rolou os olhos com aquela declaração.

— Devemos continuar a beijando ou esquecer tudo isso?

— Não! Quero dizer: sim! Beijar! Parece ser algo muito bom de se fazer! Afirmativo! Com certeza! Mas... Tudo bem para você? Tipo... Pensei que queria levar... Nossa relação... De forma mais lenta.

— Cansei de ter medo. — admitiu por fim — Não quero persistir vivendo na sombra dele. Quero tentar...

Desta vez era a vez de Abraham ficar rubro.

— Quero tentar ser feliz. Ele já roubou muita coisa de minha vida... Quero esquecer seus ensinamentos e dar uma chance. Quero confiar.

Pietro levou a mão ao rosto que não apresentava as lágrimas de momentos atrás. Reconheceu o olhar que parecia conter uma chama que persistiria mesmo diante de uma tempestade. Abraham podia não ser um caçador, mas era um guerreiro nato e iria persistir lutando pelo o que achava que era certo e Pietro iria ficar ao seu lado nessa batalha.

— Agradeço por se permitir confiar em mim. — murmurou, seus rostos se aproximaram novamente, nariz se tocaram de forma desajeitada. Desta vez os lábios se encontraram mais lentamente. Não havia necessidade de serem bruscos e nem precisavam ser rápidos... Podiam aproveitar aquele momento, apagar as memórias ruins, cicatrizar a velha ferida.

— Ai! — Aby tocou a lábio inferior, havia se cortado.

— D-desculpe. Às vezes quando fico muito excitado... Quero dizer... Feliz! Isso, Feliz! Minhas presas... Não consigo controla-las. — disse nervoso apontando para os próprios dentes, em foco, seus caninos.

— Bem, se decidi namorar um vampiro era de se esperar um pouco de sangue, não é mesmo? — lambou o lábio machucado, Pietro acompanhou o movimento da língua como estivesse hipnotizado.

— Estamos namorado? Isso é sério? Tipo, mesmo mesmo?— murmurou ainda incrédulo o vampiro. Seu cérebro ainda estava processando todo o evento, deve-se levar em consideração que sua taxa de açúcar devia ter abaixado com toda aquela correria e esforço físico (a qual não estava acostumado, deve-se enfatizar), logo seus neurônios deveriam estar trabalhando em uma taxa abaixo do normal.

— Quer que eu soletre para você ou ainda não caiu a ficha? — Aby franziu o cenho, já perdendo toda a sua paciência (a verdade era que já não tinha muita).

Pietro sorriu e ousou acariciar a face angelical do seu namorado, desta vez não teve a mão afastada e nem mesmo levou um soco ou fora alvo de algum ataque de "kung-fu-karaté-ou-sei-lá-o-que". Aby estava relaxado e até tombou a cabeça, se deixando acariciar como um gato... Quase podia ouvi-lo ronronar.

Uou.

Concluiu ao final duas coisas: era mesmo sério e não estava sonhando.

— Pare de ficar encarando... Isso é estranho. — resmungou o não-caçador, um leve rubor já se alastrava por seu rosto.

— Desculpe.

E assim iniciou maisum beijo. Sob o céu alaranjando do fim da tarde conferindo uma certa magia atoda a cena. Abraham nunca gostara daqueles filmes melosos e românticos comfinais dramáticos que dava aquele ar de "e viveram felizes para sempre", masnaquele momento não ligava em estar dentro de mais um clichê, beijando o rapazque tinha conquistado o seu coração sob o pôr do sol outonal. Era o início de sua própria história de amor e osfantasmas do seu passado não iria obscurecer o seu futuro. 


~~** Palavras da autora **~~

início de 2017 e já tem um novo cap! não estou postando com frequência por que estou de férias na praia (lá não tem net nem nada...Sorry).

Voltei para a capital por uns dois/três dias e resolvi escrever esse capítulo e posta-lo!

Espero que tenham gostado e aprendido mais sobre o passado de Aby!

Os fatos que mencionei sobre a Holanda (os castelos) e Alemanha (alquimista alemão) são reais -lógico que menos a existência do castelo dos Van Helsing- Só para deixa-los avisados!


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