Fim de uma saga
Sob um céu nublado, Beacon Hills exibia uma paisagem invernal. As árvores da reserva florestal estavam completamente nuas, seus galhos estendidos como mãos suplicantes à natureza. O vento frio permeava o terreno, soprando com uma melodia tristonha, como se ecoasse os lamentos daqueles que haviam sido afetados pelos recentes acontecimentos. Apesar da tonalidade cinzenta do ambiente, a cidade pulsava com a vida, resiliente em meio às adversidades que enfrentara. Quase um mês havia transcorrido desde o ataque malsucedido dos caçadores, e Beacon Hills renascia com uma força renovada.
De fato, ao invés do ataque indicar uma fraqueza por parte da alcateia Hale em proteger e governar a região, a união com o clã Beaumont e outras criaturas, sobrenaturais e não sobrenaturais, tanto durante o ataque quanto após, foi um exemplo prático da necessidade de união de todos em prol da paz e harmonia. Aliás, o ataque também foi uma demonstração clara para o governo americano e internacional de que leis e fiscalizações mais rígidas a grupos paramilitares de não-sobrenaturais (ao invés de focarem nos seres sobrenaturais) deveriam ser efetuadas. Eram os humanos que pareciam causar mais danos do que os próprios seres dotados de magia e poderes.
Erguendo-se majestosa nas margens da reserva, a mansão Hale exibia uma intrigante mistura de arquitetura vitoriana e gótica. No entanto, as marcas do tempo e os vestígios do incêndio que assolou a estrutura há anos atrás deixavam sua sombria presença visível. Como Stiles frequentemente enfatizava, a mansão parecia um cenário perfeito de um filme de terror, como se uma aura de mistério e assombração pairasse sobre suas paredes. O início do inverno acrescentava um toque adicional de melancolia ao ambiente, envolvendo a mansão em uma atmosfera ainda mais sombria e misteriosa. Surpreendentemente, ao longo do tempo, nenhum membro da família Hale havia se esforçado para restaurar ou renovar a propriedade, quase como se o passado conturbado da família se refletisse nas cicatrizes ainda visíveis na estrutura da grandiosa casa.
— O que você está fazendo é algo bom. — falou John Stilinski para Stiles, assim que ele saiu do carro. O xerife decidiu dar carona ao filho e a Yaci, temendo que o nervosismo de Stiles (que era bastante evidente) fizesse com que o adolescente batesse o seu jipe em alguma árvore na estrada.
— Estou mesmo... Não é? — indagou o jovem, esfregando as mãos de forma quase frenética, talvez numa tentativa de aquecê-las, embora a fricção já devesse tê-las deixado fervendo.
— Lógico que está. — garantiu John — Eles merecem ter um desfecho em sua história. E começarem a se curar...
Stiles assentiu, parecendo um pouco menos inseguro.
— Mas lembre-se de que sou eu quem vai conduzir todo o show da viagem no passado. — frisou Yaci, mirando os Stilinski — Quero meu crédito nisso.
Stiles sorriu para sua professora.
— Não vou esquecer disso, sensei Yaci! Você será grandemente recompensada.
— Stiles, já falei para me chamar só de Yaci. — resmungou a nativa sul-americana, escondendo o rosto no grosso cachecol que usava.
O adolescente deu uma risadinha, adorava ver a expressão contrariada e meio embaraçada de Yaci. A mulher já lhe tinha confessado que Stiles era o seu primeiro aluno e talvez o único, já que não havia muitos caminhantes do tempo disponíveis para serem ensinados por aí. Logo, Yaci não estava acostumada com a relação aluno-professor e era contra a ideia de hierarquia.
— Bem, vamos? — John anunciou, indicando a pequena alameda de pedras margeada por árvores nuas e meio contorcidas que levava à entrada da mansão Hale.
O trio seguiu o caminho de forma silenciosa. Ao chegarem à entrada, perceberam a presença de uma figura encostada em uma das árvores, cercada por gatos. Algo que poderia causar grande terror a Derek Hale se estivesse ali.
— Salem? — Questionou Stiles, reconhecendo de imediato o seu antigo professor.
— E aí? Demoraram, viu? — disse o bruxo acenando. Stiles ainda estava se acostumando com a nova aparência de Salem. Sim, o bruxo agora andava em sua forma humana e cobrindo sua nudez (para a infelicidade de muitas pessoas) com uma túnica de linho verde escuro e calças negras, além de sandálias de couro. Era uma roupa que pouco o protegia do frio, mas ao se aproximarem, notaram que o ar ao redor do bruxo estava quente. Ao que parecia, Salem estava usando seu poder mágico para se aquecer, e os gatos estavam ao seu redor, aproveitando o ambiente confortante e quentinho.
— E você estava nos esperando? — Stiles franziu o cenho. Como o que iria ocorrer na mansão Hale era algo meio íntimo, muitos de seus amigos preferiram não assistir, respeitando o momento que deveria ser da família Hale.
— Sim. Afinal, vocês vão fazer algo que envolve a magia temporal. — Salem falou com os olhos cintilando levemente ao falar de magia. Stiles recordou que Salem o salvou de sua última 'caminhada' que ocorreu ali mesmo na mansão; também lembrou como o ex-gato ficou esgotado ao usar esse tipo de magia — Quero assistir isso sendo feito.
— Não é como assistir vai fazer você aprender a usar tal magia. — disse Yaci, dando um meio sorriso.
O ex-gato deu de ombros, mas algo surgiu de trás do bruxo. Um livro de aspecto antigo voou em direção de Yaci e falou com uma voz rouca e extremamente esnobe.
— Como audaciosa é a vossa insinuação, de que o grande e maravilhoso Salem seria inábil no aprendizado das artes mágicas? Acaso julgais que, por serdes uma caminhante do tempo, vos torna especial? Especial, de fato, é Salem, um dos mais poderosos bruxos da América do Norte!
— O ignore. — disse Salem, fazendo um sinal de xô-xô para o livro, como se ele fosse uma mosca irritante.
Stiles ainda não estava acostumado com o grimório de Salem, que o ex-gato desenterrou dos entulhos de lixo de sua antiga casa. Pelo visto, bruxos possuíam grimórios que eram como um reflexo do seu poder, além de serem reservatórios de conhecimento. Nem todos os grimórios tinham a capacidade de voar e muito menos falar; infelizmente, Salem era poderoso o suficiente para que seu grimório apresentasse essas duas características.
— Bem, você pode nos acompanhar se prometer ficar quieto e não causar confusão. — Falou o xerife, que desde que conhecera a versão humana de Salem, sentia seu sentido de perigo ativar. E esse sentindo de perigo já era bastante sensível a indícios de possíveis perigos, afinal, ele era o pai de Stiles.
— Pode deixar, senhor! — falou Salem, levando a mão à cabeça e fingindo fazer uma saudação militar a John Stilinski, o que fez Stiles conter a vontade de rir devido à expressão irritada que se formou no rosto de seu pai.
Yaci, como sempre, se adiantou e já estava batendo na porta de entrada. Esta foi aberta por Alan Deaton, que os observou com satisfação e até mesmo reverência. Contudo, ao ver que Salem os acompanhava, franziu o cenho, mas nada disse. Em vez disso, ele anunciou:
— A família está no jardim, eles estão esperando.
~**~
O jardim estava consideravelmente melhor. Não que a melhora tenha sido significante de fato. Stiles, como uma forma de punição, foi encarregado de tirar as ervas daninhas daquele imenso jardim da parte de trás da mansão Hale, e Derek o ajudou. Embora não tenham conseguido concluir a tarefa em sua totalidade, a retirada das plantas invasoras e o corte da grama amenizaram um pouco o cenário de devastação que antes era um jardim florido e bem cuidado.
A família Hale, todos os seus membros, estavam reunidos debaixo de uma grande árvore, um salgueiro que já tinha perdido grande parte de suas folhas para o inverno. Mesas e cadeiras foram arrumadas, como se estivessem preparando um churrasco, mas a animação óbvia não estava presente entre eles, afinal, não era uma festa comum. A atmosfera era carregada de emoção, quase como um velório, mas de fato, aquele sentimento correspondia ao momento, pois eles estavam prestes a embarcar em uma viagem ao passado para reencontrar parentes que haviam falecido anos atrás.
Stiles se aproximou a passos lentos. Pôde ver Derek um pouco mais afastado do grupo, com uma postura tensa, usando seu casaco de couro e com as mãos enfiadas nos bolsos. O lobisomem levantou o olhar, seus olhos azuis encontraram os castanhos escuros de Stiles. Derek tentou forçar um sorriso, mas pareceu mais como uma careta. Stiles apressou o passo para encontrá-lo.
— E aí? Tudo bem? — perguntou o jovem Stilinski ao seu namorado.
Como resposta, Derek deu um grunhido que, segundo o dicionário de grunhidos e rosnados desenvolvido por Stiles Stilinski, significava "Eu não tenho a mínima ideia se estou me sentindo bem ou em pânico, ou talvez as duas coisas ao mesmo tempo, sendo que uma coisa anula a outra, e acabo ficando com esse sentimento de vazio dentro de mim que me impede de ser eloquente nas palavras".
Claro, talvez aquele grunhido não significasse tudo isso, mas Stiles sabia como preencher os espaços no texto com uma explicação mais detalhada dos sentimentos de Derek.
— Não se preocupe, Der-Bear. Tudo vai dar certo. — reconfortou Stiles, estendendo a mão para Derek, que não hesitou em aceitá-la. Ali os dois ficaram, segurando as mãos um do outro, tentando criar um elo que fortalecesse o lobisomem. O pânico que dominava Derek Hale parecia se dissolver aos poucos, simplesmente pela presença de Stiles. Derek não sabia se isso era consequência de Stiles ser o seu "Mate", ou simplesmente efeito do amor que sentia por aquele humano... Só sabia que Stiles o fazia bem.
— Não entendo por que todos estão tão... Blé! — uma menina de cabelos castanhos e penetrantes olhos azuis (marca praticamente registrada da família Hale) se aproximou do casal, com cara emburrada.
— Blé? — questionou Stiles, erguendo as sobrancelhas para Alice, prima de Derek — É tipo "Bléeee" ou "Blê"?
— Só "blé" mesmo. — respondeu Alice com seriedade.
— Entendo, entendo. — assentiu o jovem Stilinski com igual seriedade.
Derek franziu o cenho para o namorado, claramente tentando entender aquela estranha linguagem de "blés".
— Mas eles estão assim porque estão nervosos, sabe? Adultos também ficam assim de vez em quando. Você já deve ter tido que fazer alguma apresentação na escola e ficou ansiosa para isso, não é mesmo?
Alice assentiu rapidamente.
— Então, — continuou Stiles pacientemente — o "Blé" que eles estão sentindo é parecido com isso.
— Ahh... Entendi. Papai estava realmente nervoso hoje. Ele até me deu uma roupa de praia para vestir ao invés da roupa "normal". Ele estava usando meias diferentes em cada pé! Até a camisa dele ele colocou ao contrário! Ainda bem que tio Petrus e tio Mimi vieram para ajudar!
Não demorou muito para que os referidos Tio Petrus e Tio Mimi se aproximassem, acompanhados por um estranhamente cabisbaixo Peter.
— Alice, querida, Tio Tony acabou de preparar Huevos Rancheros. — anunciou Petrus, andando rapidamente, mesmo apoiado com uma bengala (já que ainda estava se recuperando do ferimento da bala que atravessou sua perna) — E estão uma delícia! Aquele cara não devia ser um mecânico, e sim um cozinheiro!
— Huevos rancheros! — Alice levantou os braços para cima como uma saudação ao referido alimento. A menina correu para uma das mesas junto à árvore, onde o Tio Tony servia alguns membros de sua família.
— Ela sem dúvida é cheia de energia. Eu mesmo vou ver se consigo pegar um segundo prato desses huevos... — falou Petrus, lambendo os lábios e apoiando-se na bengala. O adolescente notou que o pomo da referida bengala tinha o formato de morcego, percebendo que tal bengala pertencia a Michel Beaumont. O vampiro deve tê-la emprestado ao alquimista.
Stiles até se sentiu inclinado a provar tal comida, mas seu nervosismo em relação à viagem ao passado o impediu de despertar o apetite.
— Ela não sabe por que estamos todos reunidos aqui. — confessou Peter, em um tom sóbrio ao observar sua filha correndo afoita por sua comida.
— Você não contou a ela? — Derek sussurrou, sem encarar o tio nos olhos.
— Não soube o que dizer. — o lobisomem mais velho disse dando de ombros — Digo, ela nem se lembra da mãe dela. Quando o incêndio ocorreu, Alice era apenas um bebê. Temos poucas fotos da mãe dela, a Catharine, na mansão e... Bem... Agora que penso que poderia encontrar com o fantasma dela, sinto-me envergonhado. Alice sabe muito pouco sobre Catharine, me sinto culpado por isso.
Stiles sentiu que estava entrando em um ambiente íntimo do drama familiar da família Hale. Ele olhou desesperado para Derek, em busca de explicação. Quando viajou o passado encontrou com o fantasma camarada de Enrique, pai de Derek, e o fantasma digno de um filme de terror que seria Eric, o avô de seu namorado. Entretanto, não recordava de ter visto nenhum espírito feminino.
— Catharine Stuart. — para a surpresa de todos, foi Michel quem se pronunciou — Ela era a filha do alfa de uma poderosa alcateia. O antigo alfa da família Hale forçou esse casamento e aliança. Você não deve se sentir tão culpado por não ter uma ligação profundamente emocional com Catharine... Lógico que você sente a perda, mas não como uma amante, mas como a mãe de sua filha e talvez amiga.
— Exatamente. — concordou Derek, lançando um olhar grato a Michel por esclarecer a situação delicada, mas ainda evitando o seu tio.
Stiles percebeu como Derek estava agindo estranho e, aos poucos, começou a unir os pontos. Kate fora morta, e certamente as investigações revelaram o envolvimento dela não apenas na invasão a Beacon Hills, mas em outros feitos malignos também. Um desses atos horríveis foi o incêndio da mansão da família Hale, que tinha a sedução de um adolescente Derek como parte de seu plano para obter informações sobre sua família. Os pontos se uniram, e um grande sinal de exclamação surgiu na mente de Stiles.
Se o passado de Kate foi descoberto, isso significa que a família Hale agora sabe sobre o que aconteceu e o papel de Derek em tudo isso, e isso pode trazer consequências terríveis para jovem lobisomem...
— Você não pode culpar o Derek por tudo isso! — exclamou Stiles, com determinação — Aquele monstro de nome Kate se aproveitou dele! Ele não pode ser culpado pela morte de seus entes queridos! Eu não vou permitir que façam isso com ele... Derek já viveu tantos anos se sentindo culpado em silêncio, o que culminou em horríveis consequências. Comunicando-se através de rosnados e grunhidos, fazendo caras como se alguém tivesse chupado um limão, fazendo o olhar irritado patenteado dos Hale. Isso, Derek, exatamente esse olhar e essa cara de limão... Isso mesmo!
— Se acalme, Stiles. — disse Peter — Ninguém está culpando Derek por nada.
— Não estão? — perguntaram Derek e Stiles em uníssono.
— Claro que não. — Peter ergueu as sobrancelhas, mirando o sobrinho com surpresa — Como poderíamos fazer isso? É por isso que você está agindo estranho? Nós evitando? Derek, você não desejou o incêndio e tampouco as mortes resultantes dele. Se fosse para alguém ser culpado, esse alguém deveria ser eu.
— Como assim? — inquiriu Derek, confuso.
— Fui eu quem te treinou, eu que devia te proteger e guiar, Derek, e naquela época... Com toda a pressão que Eric, meu pai, estava fazendo. Ele tinha ideias meio distorcidas em relação ao mundo e ao futuro da família Hale. Ele negou que Talia fosse sua sucessora, simplesmente porque ela havia se casado com um humano. Ele... Ele colocou sobre meus ombros o fardo da sucessão, me forçando a casar e... Eu aceitei tudo isso, pensando que de alguma forma manteria a família unida. Me recordo como te tratava, Derek... Ele via todos os filhos de Talia como inferiores, por serem mestiços. O que é uma grande besteira, já que as características dos lobisomens sempre são dominantes, não é como você e suas irmãs fossem mais fracos ou algo do tipo. Eric sempre foi bastante rígido e eu não fiz nada para impedi-lo. Ele tolerava Enrique e Tony, mas não iria tolerar outra mistura no sangue Hale...
Stiles pôde ver como Derek, apesar de alto e musculoso, parecia se encolher com aquelas palavras. Pelo visto, não era o incêndio a única fonte dos problemas da família Hale.
— Derek... — Peter estendeu a mão e segurou o ombro do sobrinho com afeto — Eu entendo. Se você começasse a namorar uma humana ou humano... Meu pai, seu avô, não iria aceitar. Isso era uma fragilidade que Kate soube explorar muito bem. Sobrinho... Eu não te culpo por nada. Tampouco sua mãe, tio Tony... Ninguém culpa você.
Uma lágrima solitária rolou pela face de Derek, e o lobisomem mais velho o puxou para um abraço reconfortante.
Stiles soltou um suspiro de alívio, sem saber que estava segurando o ar até aquele momento.
— Michel, você está chorando? — perguntou Petrus ao perceber o fungar advindo do vampiro ao seu lado.
— Não, só estou meio gripado. — respondeu o referido vampiro, assoando o nariz com um lenço de seda.
— Nem sabia que vampiros ficavam gripados. Nossa, todo os dias uma nova descoberta. — comentou o alquimista, acariciando o braço de Beaumont, oferecendo apoio.
— Pessoal, Yaci já está chamando para a... Ah! — Laura, que se aproximava, paralisou ao ver a cena de Derek e Peter. Mas isso só durou alguns segundos, pois a mulher logo avançou e abraçou os dois lobisomens com força.
— Ah! Vamos fazer uma pilha de lobos! Pilha! — Exclamou Laura Hale, eufórica, com os olhos brilhando de alegria e animação.
E isso pareceu chamar a atenção dos outros membros da família Hale. Não demorou para Alice abandonar seus huevos rancheros e correr para se juntar ao abraço. Em seguida, veio Cora Hale, acompanhada por Elizabeth. A vampira cumprimentou Stiles com um sorriso e observou admirada enquanto sua namorada se jogava sobre Derek, Laura, Peter e Alice, formando uma pilha de afeto e carinho. Tony também se aproximou, mesmo não sendo um lobisomem, e não hesitou em entrar no "montinho", contribuindo para a energia contagiante do momento. A nova adição à pilha foi Erica, que se lançou no monte de pessoas soltando um grito de guerra animado. Vernon se aproximou, parecendo hesitante em participar, mas Cora e Erica o puxaram para a pilha com sorrisos encorajadores.
Por último, veio Talia, a alfa, com um sorriso nos lábios e os olhos marejados de lágrimas emocionadas. Ela tomou impulso e se juntou aos seus familiares, abraçando cada um com amor e gratidão.
Stiles observou tudo aquilo com interesse e, ao mesmo tempo, com alegria. Era, sem dúvida, um momento que a alcateia Hale precisava, e a energia contagiante do montinho de lobos mostrava a força do vínculo entre eles. E para completar tudo aquilo, eles uivaram em uníssono e sincronia, como uma manifestação de sua união e harmonia como uma família.
~**~
— Preste atenção, Stiles, esta é uma lição elementar sobre viagem no tempo. É um pouco difícil de explicar... Precisamos sintonizar com as frequências das vibrações temporais. Isso tem uma grande relação com a teoria das cordas. Nesta teoria, as partículas elementares (como elétrons e quarks) são consideradas objetos unidimensionais, como "cordas" vibrantes, em vez de pontos sem dimensão. Relacionando isso à viagem no tempo, a teoria das cordas sugere que a possibilidade de viajar no tempo pode estar relacionada às diferentes vibrações das cordas e às dimensões extras previstas nessa teoria. De acordo com a teoria das cordas, nosso universo possui várias dimensões espaciais além das três que conhecemos (comprimento, largura e altura). Em uma configuração específica dessas dimensões, é teoricamente possível que certas vibrações das cordas permitam a formação de "pontes" ou "atalhos" que conectam diferentes pontos do espaço-tempo, possibilitando a viagem no tempo. — Explicava Yaci entusiasmada, usando gestos para tornar sua explicação mais clara.
Stiles percebeu que sua professora era apaixonada por física, especialmente por física teórica, e buscava unir a magia temporal com os princípios científicos. Ele achava interessante, embora entendesse apenas uma pequena parte do que ela dizia.
— Ok, certo. Vibrações. Cordas. Viagem no tempo. Sintonizar. — Stiles repetia mentalmente os conceitos básicos que Yaci havia mencionado, contando nos dedos — E como faço isso? Sintonizar? Tipo como um rádio ou algo do tipo? Mas estamos falando de cordas e vibrações...Espero que isso não envolva tocar nenhum instrumento e...cantar! Sou péssimo cantor! Sério, fui até banido dos karaokês de Beacon Hills. Se for para cantar algo, temo que eu possa criar uma explosão temporal e bagunçar o multiverso! Posso até ser perseguido pela Autoridade de Variância Temporal, como o Loki!
Yaci sorriu divertida e respondeu:
— Cada caminhante no tempo tem sua própria forma de conectar-se ou sintonizar-se com a frequência temporal. Malik, um caminhante natural da República Democrática do Congo, toca um tambor africano e assim consegue sintonizar e viajar. A senhora Aileen, uma caminhante idosa da Escócia, consegue se conectar depois de tomar uma dose de uísque. Yi Xing, um monge budista do templo Guoqing na China, diz que consegue caminhar no tempo quando medita. Enfim, cada um encontra seu próprio jeito...O meu, você deve ter visto, consiste em cantar canções dos meus ancestrais.
Stiles assentiu lentamente. Bem, pelo menos ele ficava menos apreensivo ao saber que não precisava realmente cantar, para o bem dele e de qualquer plateia presente. Contudo, o adolescente refletia sobre como poderia, de fato, sintonizar-se com aquela tal "frequência do tempo". Antes, ele só havia viajado no tempo devido ao pânico. Será que precisaria se colocar em perigo para conseguir caminhar? Esperava que essa não fosse a resposta, afinal, embora tenha uma tendência natural de atrair o perigo para si, não significava que gostaria de usá-la como justificativa para usar seus poderes!
— Bem, vamos começar. — anunciou Yaci para a família Hale, que se organizava em um espaço no jardim, em frente à mansão. Nem todos iriam participar; Erica e Boyd decidiram não se envolver, e Alice também ficaria no presente. Peter achou que a menina poderia se traumatizar com o que veria no passado, especialmente depois que Stiles esclareceu que os espíritos poderiam estar presos no evento catastrófico do incêndio. Petrus, Michel e Elizabeth também optaram por ficar, dando espaço para que o evento fosse apenas para os Hale, e eles estariam lá para apoiar seus entes queridos quando eles voltassem. O pai de Stiles também preferiu ficar no presente. A exceção à regra era Salem, que iria acompanhar a caminhada.
Yaci estendeu os braços à frente, fechou os olhos e começou a entoar um canto indígena. Stiles, ao seu lado, começou a sentir uma vibração. Sim, realmente existia uma vibração emanando de Yaci. Como não havia percebido isso antes? Bem, ele teria tempo para ponderar sobre isso depois; a caminhada estava prestes a começar.
O mundo ao redor deles começou a mudar, mesmo que permanecessem parados no mesmo lugar. Era surpreendente ver o céu se desfocar, as árvores ganharem folhas novamente, e o jardim florescer. Tudo isso aconteceu em apenas alguns segundos desde que Yaci começou a cantar.
As cores do ambiente pareciam se misturar, as formas se contorciam e a sensação era de estar sendo transportado para um passado distante. O som do canto de Yaci se misturava com os ecos daquele período, criando uma atmosfera mística e envolvente.
Por fim, ela parou de cantar, e eles deram um passo ao passado. Sem dúvida, a viagem no tempo com Yaci era muito diferente do que Stiles tinha visto antes. As cores eram mais vivas, e ele até podia sentir o cheiro do ambiente. Infelizmente, o cheiro que sentia era de fumaça. A mansão estava em chamas.
Talia levou a mão à boca, sufocando um gemido de terror. Ela foi amparada por Tio Tony, que estava ao seu lado. Peter estava boquiaberto com a visão. Laura e Cora estavam sem palavras. Stiles notou Derek avançando em direção à mansão, mas o lobisomem foi interceptado por Alan, o druida e emissário da alcateia, que também tinha vindo ao passado.
— Não, Derek.
— Eu poderia... Poderia tentar fazer algo. Podia salvá-los! — O jovem Hale falou, olhando suplicante para o druida. Desta vez ele podia fazer o certo, compensaria o seu erro passado.
— Isso é uma imagem do passado. — Yaci explicou com paciência — Pode parecer bastante real, mas...
Ela estendeu suas mãos para um canteiro de rosas próximo; sua mão atravessou as flores como se elas fossem feitas de água.
— Vocês não podem alterar os eventos que aqui ocorrem.
Stiles se aproximou de seu namorado, segurando a mão dele, tentando transmitir conforto.
A mansão ardia em chamas, mas a porta que dava para o jardim se abriu lentamente. Alguém saiu do interior da mansão. Era um homem de feições muito similares a Derek, pele morena e olhos carinhosos. Aquele era Enrique.
Talia desta vez não conteve sua exclamação ao ver o seu falecido esposo. Laura começou a chorar, sendo acalentada por Cora. Derek, por sua vez, mordeu o lábio inferior com tanta força que ele começou a sangrar.
Ali estava o seu pai. Era quase impossível de acreditar.
— Olá pessoal. — Enrique disse, se aproximando do grupo a passos lentos. Quem primeiro foi interceptá-lo foi Tio Tony.
— Hermano, ¿de verdad eres tú?
Tony tentou tocá-lo, mas infelizmente sua mão atravessou a mão fantasmagórica de Enrique.
— Soy yo, hermano. — sussurrou Enrique para o já choroso Tony.
— Enrique... — Talia se aproximou, era evidente que a alfa queria abraçá-lo, mas não podia — Querido...
— Ah! Talia, como você está linda.
— Como pode dizer isso? Eu envelheci... — riu chorosa a lobisomem.
Enrique sorriu.
— Você será sempre linda para mim, não importa a idade que tenha.
O espírito aproximou a sua mão do rosto de Talia, sabendo que não conseguiria tocá-la, mas contornou suas feições com delicadeza.
— Pai? — Laura e Cora se aproximaram. Enrique as mirou sorridente.
— Minhas filhas, como vocês cresceram. E estão tão bonitas. Viu, Talia? Elas devem ter puxado a você!
— Eu tinha esquecido como você era galante, Rick. — Talia disse, enxugando as lágrimas com costas das mãos.
Derek hesitou em se aproximar, mas Stiles o puxou consigo para perto do fantasma.
— Derek. — Enrique mirou o filho com afeição — Fico feliz em te ver bem.
— P-pai...Eu...Eu sinto muito por tud...
Enrique fez um sinal negativo com a cabeça.
— Derek, não tem nada a ser perdoado. Eu não te culpo por nada.
— Mas... Você deveria sentir...
— Eu te amo, filho. O que sinto é gratidão... — Enrique deixou seu olhar vagar para Stiles — Gratidão de poder ver minha família querida antes de seguir a minha jornada.
Stiles sabia que Enrique tinha escolhido ficar preso nas lembranças, mesmo já podendo partir para o além-vida. A sua escolha estava associada a preocupação em relação ao futuro e segurança da sua família. O adolescente sentiu um alívio de ter conseguido trazer aquele conforto ao espírito de Enrique.
Um som de um uivo aterrorizante ecoou pelo grupo, fazendo todos se virarem para encarar a mansão em chamas. De lá, emergiu uma figura disforme, escura e ameaçadora, com uma semelhança inegável a um grande lobo.
— O que é aquilo? — perguntou Cora, temorosa.
O ser pousou em um canteiro de rosas, e as flores que antes eram vibrantes agora murchavam e apodreciam a cada passo da criatura. A cada passagem, o solo parecia se contaminar com uma energia sombria e perturbadora.
Enrique observou o ser impassível.
— Esse é Eric Hale.
Talia olhou abismada para aquele que deveria ser o seu pai. Só então ela notou que Peter, que anteriormente não havia se aproximado para saudar o fantasma de seu cunhado, agora se aproximava do espírito do antigo alfa.
— Peter! — exclamou preocupada.
— Espera, acho que não tem problema... — tentou tranquilizar Laura — Digo, Yaci disse que não podemos alterar nada.
— Eu disse em relação ao passado! Linhas temporais e essas coisas. — cortou Yaci nervosa, avançando em direção a Peter para tentar impedi-lo — Eu não falei nada sobre espíritos! Eu sou uma caminhante no tempo, não uma médium! Não posso conter um fantasma e muito menos exorcizá-lo!
Stiles engoliu em seco diante dessa realidade. Eles não estavam de fato seguros de tudo naquela caminhada. Derek e Stiles avançaram com cautela em direção ao outro Hale, acompanhando Yaci. O lobo-fantasma os observou com olhos ameaçadores, emitindo rosnados baixos que ecoavam pela atmosfera sombria ao seu redor.
As chamas que consumiam a mansão pareciam não afetar Eric Hale, o espírito lobo. Sua forma era etérea, quase translúcida, mas sua presença era intensa e arrepiante. Talia e Laura trocaram olhares apreensivos, recordando os dias em que Eric liderava a alcateia com mão de ferro.
— Pai. — Peter falou com voz firme, seus olhos lupinos de cor azul celeste brilhavam intensamente. O fantasma do antigo alfa vacilou, o lobo farejou o ar, tentando decifrar quem era aquele que estava a sua frente.
— Peter? — o ser falou em uma linguagem muito semelhante a um rosnado, mas não eram palavras facilmente compreensíveis.
— Peter, rápido... Ataque os humanos. — o fantasma disse, apontando com a cabeça para Stiles, que se aproximava da fera, acompanhado por Yaci e Derek — Foram eles que causaram esse desastre. Eu sabia que não podíamos confiar neles... Eles.... Eles destruíram tudo que construímos!
— Sim, pai. Um humano foi a causa desse desastre, mas não esses humanos. — Peter falou, sua voz resoluta e calma, como se tentasse alcançar o âmago da criatura amaldiçoada.
— Peter, estúpido. Como pode querer ser um alfa sendo tão cego? Humanos não são confiáveis! Olha para a nossa mansão... Olha para mim... Olha o que eles fizeram! Devemos matar. Matar. Matar todos.
A cada palavra "matar" proferida pela criatura, um líquido negro e viscoso escorria de sua boca repleta de dentes afiados, ecoando sua selvageria.
— Eu não pretendo ser o alfa. — respondeu Peter Hale, seus olhos mantendo contato com o fantasma lobo, sem demonstrar medo.
— Como assim? Com a minha morte... Você deve ser o alfa. — o fantasma parecia confuso, não compreendendo a mudança de rota do destino.
— Eu sou o alfa da alcateia Hale, pai. — falou Talia, que se aproximava do fantasma por outra ângulo, seus olhos rubros brilhando intensamente, deixando claro que ela falava a verdade.
O espírito lobo olhou entre Peter e Talia, seus olhos brilhantes e selvagens refletindo sua ira e confusão. As memórias e emoções do passado pareciam pesar sobre ele, alimentando sua fúria e dor.
— Mas... Não era isso... Não era... — Eric falava, sua voz se tornando mais inteligível a cada palavra.
— Eu assumi o comando da alcateia. — voltou a afirmar Talia — Você sabia que Peter nunca desejou ser o seu sucessor. Eu assumi a liderança e ampliei o poder de nossa alcateia. Beacon Hills mudou muito desde o seu falecimento, pai... Queria que você pudesse ver.
— Ver? Ver você nos enfraquecer? — o fantasma atacou Talia com fúria. Peter avançou para protegê-la, mas se sentiu empurrado por uma força sobrenatural que o conteve.
No entanto, o antigo líder foi contido por outro lobo. Uma loba, precisamente. Sua aparência não era aterrorizante, mas sim translúcida, leve e cintilante. A loba saltou sobre o outro, imobilizando-o no solo. O contraste entre aqueles dois seres era mais do que evidente.
Mas quem seria aquela loba?
— Catharine... — balbuciou Peter, surpreso com a forma espiritual de sua esposa.
A loba, com seus brilhantes olhos rosados, mirou Peter e assentiu levemente, revelando sua identidade. No entanto, ela nada disse, pois estava ocupada contendo Eric.
— Pai... — Talia, a passos firmes, aproximou-se dos lobos — Pai, eu sei por que você está furioso.
— Como pode saber? — rosnou o lobo Eric.
— Pai, eu sou agora a alfa. Sei da responsabilidade que carrego em meus ombros. O dever não é apenas liderar, mas também proteger. Dói saber que não pude ser forte o suficiente para evitar certas catástrofes e impedir que as pessoas que amo sofram ou... morram. Pai, eu entendo.
As palavras de Talia carregavam sinceridade e compreensão. Ela olhava diretamente nos olhos do espírito de Eric, buscando se conectar com ele em um nível mais profundo, tentando acalmar sua fúria e sua dor.
— Pai... — Talia agora havia se aproximado o suficiente para estender a sua mão, quase tocando Eric, ainda imobilizado por Catharine — Sei como a culpa deve estar consumindo você. Sei que se sente culpado pelo ocorrido. Se culpar por não ter salvado a todos... Apesar de tudo, sei o quanto nos amava.
A forma de Eric começou a vacilar, como fumaça sendo soprada pela brisa.
— Você não falhou. Esse desastre não foi culpa sua.
— Não... — a forma de lobo de Eric se dissolvia, dando lugar a um homem de mais de 50 anos, com cabelos grisalhos e olhos azuis repletos de lágrimas — Foi minha culpa... Eu devia ter previsto. Devia ter treinado vocês da melhor forma. Eu poderia ter salvado Catharine e Enrique... Eu...
— Pai... — Talia viu a forma trêmula e frágil de seu pai. Seu coração apertava por não conseguir tocá-lo, abraçá-lo, acalentá-lo.
— Toque. — Salem se pronunciou, com o seu grimório aberto diante de si, com uma das mãos abertas, da qual uma luz esverdeada começava a surgir.
— Salem... Você... Isso é magia espiritual. — Yaci disse, receosa em relação ao bruxo — Você acha que pode fazer isso?
— Não temais, pois Salem é dos mais ilustres bruxos deste milênio! Indubitavelmente, ele logrará em utilizar sua magia para materializar espíritos! — o livro falou, confiante.
— Sou mesmo foda. — concordou Salem e lançou seu feitiço. Uma luz verde recaiu sobre Eric. Stiles não viu nenhuma grande mudança, mas quando Talia se ajoelhou e abraçou o pai, notou que, de fato, o fantasma tinha se tornado tangível.
Talia chorou e pôde sentir que seu pai também chorava.
— Eu falhei! Não deveria ser mais forte. Falhei com todos vocês... — falava Eric em meio a soluços.
— Não, pai. Falhar todos nós falhamos, mas... Esse desastre como um todo não foi culpa sua. — dizia Talia.
Peter soltou um suspiro profundo, sentindo seu corpo vacilar, talvez enfraquecido por toda aquela emoção. Seu pai, finalmente, estava se reconciliando com sua irmã. Infelizmente, isso só ocorreu depois de sua morte. Foi amparado por Enrique. Sim, o fantasma de seu cunhado o estava tocando e apoiando. Peter o mirou, sem saber o que dizer.
— Peter, pelo visto você está seguindo o caminho do seu coração. Não se deixando ser pressionado por outros... Se sacrificando? — Enrique questionou o lobisomem, que então notou que o marido de sua irmã também estava preocupado com ele. Afinal, Enrique sempre se preocupou com ele em vida, tentando apoiá-lo e protegê-lo de Eric. Essa preocupação, pelo o que parece, perpetuou no pós-vida.
— Sim, estou seguindo o meu coração. — confirmou para o outro. Enrique sorriu, parecendo satisfeito com aquela resposta.
A loba aproximou-se de Peter. Sua esposa logo abandonou a forma de lobo para assumir a aparência de uma mulher de longos cabelos castanhos claros e olhos esverdeados.
— Catharine... — ele saudou hesitante, sem saber como agir diante daquela que fora sua companheira. Já fazia tantos anos... O que deveria dizer?
— Faço das palavras de Enrique as minhas. Fico feliz que você esteja seguindo o seu coração, Peter Hale. — ela falou sorridente.
Peter correspondeu aquele sorriso, sentindo um alívio profundo.
Laura e Cora correram, seus pés quase flutuando no solo, ansiosas para fazer parte daquela conciliação. Agora que podiam tocar os fantasmas, as meninas saltaram sobre Enrique, abraçando-o com evidente emoção. Tony também se juntou ao grupo, aproveitando o momento para abraçar o seu irmão mais novo, expressando todo o amor e saudade que sentia.
Logo, Talia trouxe seu pai para participar da reconciliação. Eric ainda chorava e pedia perdão, sua voz embargada pelas lágrimas e pela emoção.
Stiles deu um leve tapinha no ombro de Derek, fazendo o lobisomem se sobressaltar levemente.
— O que está esperando, Der-bear? — perguntou Stiles, sorrindo encorajadoramente.
Derek de fato só precisava desse pequeno empurrão. Com o coração acelerado, o lobisomem correu para abraçar o seu pai e, mesmo com as reservas e o ressentimento do passado, abraçou também o seu avô. Os abraços apertados eram cheios de emoção e palavras não ditas, mas ali, naquele momento mágico, o perdão começava a se tornar possível. As almas que antes estavam divididas pela dor e pelas mágoas, agora se conectavam novamente, trazendo uma sensação de paz e reconciliação ao ambiente.
~**~
O retorno ao presente realmente parecia ser o fim de uma grande jornada, embora fisicamente não tivessem se afastado muito do espaço no jardim da mansão. Uma mistura de satisfação, saudade e cansaço tomava conta dos viajantes. Stiles ainda reverberava em sua mente os momentos finais de sua viagem ao passado, quando os três fantasmas finalmente fizeram sua passagem, despedindo-se da família Hale e seguindo para um destino desconhecido. Foi um momento emocionante, triste e, ao mesmo tempo, carregado de significado.
Stiles sentia que havia testemunhado o desfecho de uma saga. Sem dúvida, a decisão de sugerir aquela jornada ao passado tinha sido a certa.
O garoto observou Yaci, com a ajuda de Alan, carregando o desfalecido Salem. O bruxo havia desmaiado após manter os três fantasmas materializados tempo suficiente para que os Hales pudessem se despedir. Isso apenas reforçava a bondade que existia em Salem, mesmo que ele não quisesse admitir em voz alta. A magia espiritual, assim como a temporal, não era do tipo que um bruxo deveria ser capaz de controlar ou conjurar, mas Salem conseguiu manter os espíritos materializados pelo tempo que pôde, demonstrando claramente o quão poderoso ele era.
Tudo parecia ter chegado ao fim, mas Stiles sentia que faltava ainda alguma coisa...
O adolescente sentiu uma mão quente envolvendo a sua. Derek estava ao seu lado. Seu namorado tinha os olhos avermelhados e meio inchados devido ao choro, mas havia algo mais neles. Derek estava sorrindo, e Stiles percebeu que era o sorriso mais genuíno que já tinha visto no rosto do lobisomem. Era um sorriso maravilhoso de se ver. Derek já era lindo antes, com cara de quem chupou limão e não gostou, mas agora...Era um outro nível de beleza que Stiles não sabia descrever em palavras. E isso era raro de ocorrer.
— Stiles... Eu... — Derek nunca foi muito habilidoso com as palavras. Ele tentava expressar seus sentimentos, mas a dificuldade o deixava tenso e corado. — Você é incrível... Eu não sei como te agradecer por tudo que fez por mim, por minha família, por todos. Na verdade, não sei como tive tanta sorte de ter te conhecido. Eu sei que não te tratei bem quando nos encontramos pela primeira vez. Deveria ter sido mais compreensivo e menos superprotetor... Eu realmente não sei como você me aturou por tanto tempo. E... Só queria dizer que... — Derek interrompeu seu discurso com um rosnado frustrado, levando a mão livre para massagear o pescoço, claramente tenso.
— Você é importante para mim, Stiles. Muito importante. Eu queria dizer que... Eu... — Outro rosnado. Derek realmente precisava de um curso de oratória ou algo do tipo!
— Eu te amo. — surpreendeu-se Stiles, as palavras escapando de seus lábios sem aviso prévio. Como sempre, sua boca agiu antes mesmo de sua mente processar o que estava acontecendo. Mas era verdade. Ele amava Derek Hale. Por que não tinha dito isso claramente antes?
— Eu te amo. — Repetiu Stiles, desta vez com mais confiança, encarando o ainda surpreso Derek.
— Eu... Eu também... Eu também te amo. — Admitiu Derek, trazendo um sorriso maior ao rosto de Stiles. Derek riu, talvez fosse a primeira vez que o fez sem carregar o peso da culpa.
Stiles também começou a rir, mas logo interrompeu suas risadas. Ele ficou de ponta de pé e puxou Derek para um longo e demorado beijo. Era o tipo de beijo que falava mais do que palavras poderiam expressar. Era a confirmação de um sentimento que vinha crescendo em seus corações há muito tempo.
Agora, sim, parecia um final feliz.
Será?
Uma saga pode ter terminado, mas outra estava prestes a se abrir.
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