Extra : Misterioso de olhos verdes


— Tipo assim, cara, mô demais! — Explicava excitado Ethan Mistfish, o tritão, surfista e psicodélico. Issac sorria ao ver os gestos empregados pelo companheiro para descrever uma simples coisa: a piscina oferecida pelo instituto. Sinceramente, o lobisomem tinha pensado em diversas desculpas para evitar a sua ida a esse local, mas ao ver o entusiasmo do outro rapaz em compartilhar de seus gostos e ensinar sobre a sua espécie que ao fim não pode dizer não.

— A água é salgada, sabe? Parece o mar... Só falta as ondas, areia e os outros seres marinhos como os polvos, arraias, tubarões...

— E você nada com tubarões? — Perguntou Issac, meio curioso e assustado.

— Eu tenho um tubarão de estimação, seu nome é Toby! Se algum dia formos a Austrália, vou te apresentar a ele!

— Er... Muito obrigado pela oferta, mas...

Antes que pudesse recusar a estranha oferta, Ethan correu apressado para a entrada do grande edifício. Um ginásio coberto cuja placa de entrada indicava que ali era a piscina. Issac ficou surpreso com o tamanho, sabia que o instituto oferecia recursos dos mais diversos para deixar os alunos internos (como ele próprio) confortáveis, principalmente, em relação as suas necessidades sobrenaturais. Ethan parecia mais uma criança ansiosa prestes a começar um jogo preferido.

— Vamos! Vamos! — O garoto-sereia estava esperando por Issac que a passos lentos se aproximou da porta, pelo visto, Ethan queria que o lobisomem tivesse as "honras" de ser o primeiro a entrar.

"Perfeito..." Resmungou Issac em pensamento.

Adentraram, finalmente, no interior do prédio. Havia, como esperado, uma piscina imensa bem no meio. O teto, algo que não vira por fora, era revestido de placas de vidro, de modo que se podia ver o céu azul meio nublado do início da tarde. A iluminação natural do ambiente dava um ar convidativo ao local. Ethan não esperou muito, já começou a tirar a sua roupa e correu para o corpo d'água, jogando tudo na cara do companheiro.

— V-você está nu?! —A cor escarlate já devia estar se alastrando por todo o rosto do adolescente, mas o tritão nem iria ver, afinal, este saltou na piscina, sumindo naquela imensidão azul para emergir risonho.

— Perfeito! — Disse, Issac notou de imediato o rabo de peixe azulado que o seu colega agora exibia — A água está ótima! Vamos! Issac! Entre!

O lobisomem, meio embaraçado, se encaminhou para a beirada da piscina, deixando as roupas de Ethan devidamente dobradas em cima de uma das cadeiras próximas. Issac colocou relutante os pés na água, sentiu seu coração acelerar.

— O que foi? — Ethan havia se aproximado, era surpreendente como o seu nadar era silencioso, o lobisomem tivera um susto ao ver o rapaz emergir bem em sua frente — Você tem que tirar a roupa se queres entrar!

— E-eu sei... É que... — Issac massageou o pescoço sem saber como se expressar.

— Você não sabe nadar? Pois isso não é problema! — O tritão bateu fortemente em seu peito — Sou o ser sobrenatural certo para resolver essa situação!

— Eu sei nadar... Meu pai era professor de natação... — Informou, relutante.

— Então?

Issac mordeu o lábio inferior, Ethan era um bom amigo, nos últimos dias, principalmente por que os dois eram residentes dos dormitórios, tinham se aproximado mais, ainda mais pelo habito expansivo e extrovertido do tritão, sempre arrastando Issac para as festas, para conhecer a cidade e agora para nadar... Não que desgostasse desse hábito, mas ao contrário do companheiro, Issac não conseguia demonstrar muito o que sentia por meio das ações e palavras. Ainda mais referente aos seus medos e passado.

— É obvio que ele não quer entrar na água. — Uma nova voz interrompeu a dupla, era um homem que no momento estava deitado em um dos divãs perto da piscina, o jovem lobisomem praguejou internamente, não tinha farejado nem pressentindo o outro visitante. Ainda não tinha treinado os novos sentidos sobrenaturais e isso o incomodava. As vezes podia ouvir tudo a sua volta lhe dando uma tremenda dor de cabeça, outras vezes fareja coisas indescritíveis... Sentimentos deveriam ter cheiro? Não sabia, mas as vezes podia sentir essas coisas... Era tão estranho, confuso e frustrante.

Você sempre foi um inútil mesmo...

A voz de seu pai o fez tremer. Mesmo separados, o seu progenitor exercia a sua influência, como um fantasma vingativo, insistindo em assombra-lo e amaldiçoa-lo pelo resto de sua vida.

— Às vezes, devemos enfrentar nossas inseguranças se desejamos mudar o nosso modo de ser. Uma sugestão somente. — Issac se virou para encarar diretamente o estranho, aquele rapaz de cabelos longos negros, pele morena e olhos... Seus olhos eram difícil de descrever, pareciam conter uma energia própria, fluorescente, um verde que chamejava como brasas e que podia ser percebido mesmo com a claridade do ambiente. Para completar, fumava um distinto cachimbo cuja a ponta tinha um cigarro e emanava um odor mesclado de ervas aromáticas, mas que não ocultavam o cheiro forte carvão queimado. Era mais do que evidente que se tratava de um ser sobrenatural, mas o que seria? Ainda mais, Issac suspeitava que aquele cara tinha lido a sua mente!

— Issac... — Ethan o fez trazer de volta a realidade, viu que estava fitando o desconhecido e corou ao perceber que seus olhos tinham descido para o peitoral definido e musculo do outro ser. Voltou seu rosto rapidamente para o seu amigo tritão que o observava com preocupação — Eu... Me desculpe... Não queria te forçar a fazer coisas... Sei que as vezes eu sou, tipo assim, muito tapado! Não escuto as opiniões dos outros e acabo por arrasta-los comigo... Meu pai uma vez me disse que sou como um tsunami, levanto tudo e a todos, independentemente da sua vontade, aonde quero e quando quero. Odeio isso, cara... Por isso, seja sincero comigo! Se não quer fazer algo, diga simplesmente não, juro que não ficarei chateado!

Issac sorriu, sabia que o amigo não estava mentindo, ouvia o seu coração batendo firmemente. Um aliviou se propagou por seu corpo, como se um peso fosse retirado de suas costas.

— Está tudo bem, Ethan... Eu, bem, acho que essa visita a piscina não for de toda ruim. Foi uma oportunidade de... Tentar enfrentar meus medos.

— Medos? — O tritão o mirou ainda mais preocupado, mas o lobisomem não deu tempo para que o outro emitisse uma opinião, pois Issac saltou na piscina.

A água morna logo o envolveu. Já fazia muito tempo desde a última vez que tivera em uma piscina, sempre a associara a seu pai e deste modo a coisas ruins e amargas. Mas, tinha que apagar tais feridas. A mordida lhe ofereceu uma oportunidade de recomeço, por isso, tinha que parar de viver no passado! Não era o mesmo Issac que tinha que esconder as marcas roxas do corpo, que temia cometer qualquer deslize e até mesmo de agir por conta própria para evitar mais castigos.

Emergiu arfando por ar, mas com um sorriso no rosto. Iria enfrentar os seus medos. Iria mudar. O som de bater de palmas o fez mirar a borda da piscina aonde o estranho ainda o observava, soltando baforadas de fumaça escura de suas narinas.

Parabéns, filhote.

O estranho não havia falado, pelo contrário, seus lábios permaneciam cerrados. Aquelas palavras não vieram de sua boca, mas surgiram em sua mente.

— Dragões são estranhos, não é? — Cochichou Ethan que agora nadava ao seu lado — Ainda mais aqueles orientais.

— Orientais?

— Você sabe! Aqueles que parecem umas serpentes, voam sem necessitar de asas, controlam as tempestades e coisas do tipo. Aparecem até no anime Dragonball, não que assista muito... Tipo...Enfim, são diferentes dos seus primos, os dragões ocidentais, aqueles lagartos com asas cuspidores de fogo que aparecem lutando contra os cavaleiros medievais. Os orientais são meio que místicos, alguns humanos até os consideravam deuses... Devemos sempre tomar cuidado com eles.

— Oh... — Issac queria deixar de fitar o dito dragão, sentiu uma mescla de curiosidade e receio, mas a fonte de seu interesse agora tinha se levantando e se dirigia ao vestiário, ao ficar de costas notou a estonteante tatuagem em forma de dragão que tinha nas costas. Era tão perfeita no desenho que parecia viva.

Erorhion.

A palavra emergiu de seus pensamentos.

Sabia que aquilo devia significar o nome do desconhecido.

Iremos nos encontrar novamente, filhote.

E com essas palavras o dragão oriental desapareceu, deixando uma marca profunda no jovem lobisomem, um desejo de encontra-lo novamente.

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