Extra Especial: Poliamor? (Parte 2 -Final)


– Chefe! – Uma garota um pouco acima do peso, usando um maiô roxo, e um shortinho de igual coloração – Precisamos de mais sabão e...Oh!

A garota paralisou ao ver que o seu chefe, em outras palavras, Petrus Brand, estava acompanhado de dois homens, ou melhor, dois belos homens. Bem que não era a primeira vez que homens seguem Petrus. Era uma recorrência para lá de repetitivo. Contudo, aqueles caras não pareciam Stalkers pervertidos...Se o fossem, ela iria jogar uma maldição! Ou alguma Praga! Iria proteger o seu querido chefe! Apesar desse mesmo chefe dizer que sabia lidar muito bem aqueles tipos que insistiam o perseguir.

– Me dê aqui o balde, Sabrina – Mandou Petrus, a garota entregou o balde cheio d'água.

Petrus se abaixou. Ele não se agachou, é bom enfatizar o fato. Não. Petrus se abaixou de modo que deixou a sua bunda arrebitada. Os dois caras quase soltaram os olhos de seus rostos já bem corados. Sabina praticamente podia ver que eles estavam babando com aquela visão. Literalmente! Não era uma figura de linguagem. Um dos homens, seus olhos começaram a emitir um brilho dourado...

Lobisomem!

E o outro, os olhos escarlates vibravam e os caninos se alongaram.

Vampiro.

"Chefinho! Você atraiu atenção de seres sobrenaturais poderosos!" Pensou, meio preocupada a bruxinha.

Petrus submergiu a mão na água do balde. Segundos depois bolhas de sabão começaram a se formar. Tantas que transbordou espuma do recipiente.

– Você é um...Alquimista? – O cara de olhos azuis, cabelos castanhos curtos, uma barba rala que indicava um atraente cavanhaque. O homem segurava uma jaqueta em um dos braços, Sabrina também percebeu que o mesmo tinha dobrado as mangas de sua camisa até os cotovelos.

– Algo assim. – Piscou Petrus se levantando e limpando a mão no seu curto short jeans – Sabrina consegui recrutar ajudantes!

– Recrutar? E o Salem? – Sabrina mirou, ainda desconfiada, aquela dupla estranha.

– Salem? – Petrus fez uma careta – Aquele bruxo escapou...Sabrina, quando você disse que tinha um primo que precisava de um emprego, imaginei alguém que pudesse de fato me ajudar!

– Salem pode ser um pouco estranho...O fato dele gostar de permanecer transfigurado em gato, mas ele é sim trabalhador.

Petrus soltou um suspiro.

– Terei que pensar em atividades que um gato pode fazer, então. – Concluiu o alquimista, fazendo um sorriso surgir nos lábios de Sabrina. Ela sabia o quanto o seu primo era excêntrico, sabia mais ainda o quanto seria difícil um bruxo-gato encontrar emprego! Petrus podia reclamar, mas tinha um bom coração, não iria abandonar o gato negro sabichão.

– Bem... – Petrus se virou para encontrar os seus recrutas, dispôs as suas mãos em seus quadris e os encarou com severidade. Como um general. Um general molhado e usando o mínimo de roupa...Sabrina não sabia se tal aparência demonstrava algum grau de autoridade – Temos 10 carros para lavar! Estão prontos para o trabalho, bonitões?

Oui. Isso não será problema. – Falou o homem de cabelos loiros, curtos, olhos de íris escarlates. Este vestia um terno chique de três peças (calças, casaca e colete), no momento o casaco estava perfeitamente dobrado e sendo segurado por seu braço. Sabrina não podia imaginar alguém tão sofisticado limpando carros!

– Sabrina, querida, será que pode pegar o casaco desses senhores? – Pediu Petrus dando uma piscadela.

A bruxinha se aproximou dos mesmos e esses ofereceram as suas vestimentas. O vampiro retirou também o colete que usava e lhe entregou uma estranha bengala com a empunhadura em formato de morcego.

– Aposto que consigo lavar mais carros que você. – Disse o lobisomem com um sorriso arrogante estampado no rosto.

– Ora, não seja pretensioso! Esqueceu da velocidade vampiresca?

– Não esqueci. – Deu os ombros ainda sorrindo – Só acho que você será cuidado para não sujar seus sapatos Oxfords*.

– Ao contrário do que você pensa, não sou tão fútil assim! Aliás, competição entre dois homens crescidos é totalmente idi...Ah! Onde você está indo?

– Tomando a dianteira! – Gritou Peter carregando o balde de sabão consigo.

– Merda! – Praguejou o vampiro prologando em demasia o "r", de modo que sou como merrrrrrrrrda. Os "r"s nem tinham terminados de serem pronunciados quando a figura do sofisticado homem sumiu. Sabrina logo percebeu que o ser sobrenatural tinha se utilizado da sua velocidade e com ela tinha dando um tremendo chute no lobisomem o fazendo cair, mas o balde foi capturado pelo o vampiro, antes que esse se chocasse no chão.

– Tem outro balde perto dos carros! – Gritou Petrus para a dupla, Sabrina podia ver que seu chefinho estava se divertindo com aquela situação.

Quando já podia ver que a dupla de "recrutas" estava trabalhando, cada um disposto em uma das extremidades das filas de carros.

– Então... – Começou a falar Sabrina, ainda segurando as roupas dos recrutas – Onde você os encontrou? Digo, não que esteja reclamando! Precisávamos mesmo de uma ajuda extra...Mas...

– Eles até que são fofinhos, não é? – Brand disse, evidentemente, optando por não responder à pergunta da bruxinha – Quero ver como eles irão ficar depois do trabalho...Molhados e sensuais.

Sabrina fez uma careta, apesar de suas bochechas corarem.

– E você não irá se juntar a eles? Tipo, trabalhar? Afinal, essa ideia louca de lavagem de carros foi sua! – Quem fez essa pergunta foi Salem, o gato tinha se aproximado a paços silenciosos e lentos.

– E por que eu deveria fazer isso? – Petrus se voltou para seus empregados e piscou – Vou deixa-los competindo entre si. Algo muito interessante de assistir. Alias, o que acham de todos nos dermos uma pausa? Salem, traga alguns drinks.

– Eu sou um gato! Não um garçom!

– Será um gato sem pelo se não trouxer os drinks. – Disse Brand em um tom sério e gélido.

– Isso é uma exploração! Sabia disso? Eu vou te denunciar para alguma ONG de proteção aos animais! Você vai ver! – Resmungou o gato adentrando na loja.

– E como ele irá trazer os drinks? – Sabina sussurrou para o chefinho que ignorava as lamúrias proferidas pelo felino.

– Ele também é um bruxo, não é mesmo? Que ele se vire! Que use o Wingardium Leviosa ou algo do tipo! – Petrus se sentou em uma cadeira de praia dobrável que tinha trazido justamente para aquela ocasião. O alquimista se sentou e observou. Apreciou a obra de arte que tinha diante de si. Dois homens fortes, molhados e trabalhando para ele? Bem, isso parecia ser algo muito divertido. Sem contar que...

– Eu vou ajuda-los! – Disse subitamente, assustando Sabrina.

– Mas você não tinha dito...

– Mudei de ideia. – Nisso ele retirou a camisa molhada, ficando só de shortinho. Movimento esse que não foi passado despercebido pelos recrutas que pareciam ter paralisado suas atividades, ainda mais agora que podiam vislumbrar em sua gloria o peitoral esguio do alquimista. – Melhor do que ficar assistindo é participar, não acha?

– Você pretende ficar os provocando até os enlouquecer, não é mesmo? – Concluiu Sabrina, com sabedoria.

– Como você é uma garota esperta! – Disse o rapaz com um sorriso angelical. Petrus Brand se virou para encarar a sua dupla de sobrenaturais babões. Sim, eles estavam literalmente babando pelo humano.

– Vamos, bonitões! Temos muito trabalho a fazer! – Comandou todo sorridente, indo até os recrutas, fazendo questão de rebolar bem os quadris.

– Coitados... – Suspirou a bruxinha sentando na cadeira deixada por Petrus. Bem, iria ser algo interessante de assistir.

~**~

"O que estou fazendo?" Já tinha perdido a conta das vezes que fazia aquela pergunta. Afinal, havia outros meios de conseguir conversar com o alquimista. Eles poderiam ter simplesmente marcado outro dia, ou mesmo retornar quando a longa fila de carros se dissipasse. Não havia justificativa para ele e tão pouco para Michel, terem se oferecido para ajudarem na lavagem de carros! Aquilo era por demais irracional, mas mesmo assim...Mesmo questionando suas próprias ações, bastava dá uma olhada de relance para o humano seminu que limpava o para-brisa com tamanho esforço e seriedade que todos os seus questionamentos sumiam. Evaporavam.

Bem, não podia negar que estava se divertindo muito com aquele trabalho, pois tinha as suas vantagens.

Mon dieu. – Resmungou Michel, tentando tirar os seus cabelos loiros que persistiam em cair sobre os seus olhos. Toda aquela água tinha dissolvido os cremes, géis, ou seja lá o que o vampiro usava para deixar a sua franja arrumada para trás. Bem, agora a sua franja se rebelava contra o seu mestre. E aquela visão era por demais semelhante com a versão adolescente de Beaumont o que fazia ressurgir emoções que a muito tempo Peter pensou estarem adormecidas. Lógico que o jovem Michel era mais magro e baixo do que a versão atual. Alias, Peter apreciava e muito o quanto o vampiro amadureceu. Criando músculos nas regiões certas...Imaginava como ele seria agora sem roupas. Nada comparado ao vampirinho adolescente com suas inseguranças e suas espinhas. Mesmo que o pequeno Michel fizesse seu coração palpitar. Contudo, Michel mais velho também parecia se causar o mesmo efeito...Palpitar o seu coração

Plof.

Uma esponja molhada foi lançada bem no rosto de Peter e esse, por suas divagações, seus sentidos lupinos estavam meio que adormecidos no momento, pois se tivesse totalmente alerta teria facilmente desviado do golpe.

– Apague já esse sorriso predador de seu rosto. – Mandou Michel, mas Peter notou o leve rubor nas bochechas do seu companheiro.

– Que irônico. Você também é um predador! – Rosnou, limpando o sabão dos olhos.

– Nisso você tem razão, mas nós vampiros somos predadores elegantes ao contrário dos selvagens lobisomens. – Disso isso exibindo um arrogante sorriso. Sorriso esse com os caninos amostra.

Peter aproveitou o momento para pegar a mangueira que estava utilizando para lavar o carro e mirou no rosto do vampiro, este desviou por pouco do jato.

– M-mas, como ousa? – Rosnou pegando outra esponja, como se empunhasse uma espada.

– O que vai fazer? Me morder? – Provocou.

Petrus os observou com muito interesse. Afinal, não era todo o dia que assistia de camarote um vampiro e lobisomem "lutarem" entre si, afinal, era de conhecimento de todos a rivalidade daquelas raças sobrenaturais, consideradas as de maior influência na sociedade não-humana. Bem que a "luta" consistia de jogar esponjas um no outro, ou mesmo água...Mas isso era que deixava Petrus ainda mais interessado. A água permitia vislumbrar muita coisa. Não era um eufemismo quando os chamou de bonitões.

– Belo trabalho. – Uma mão firme envolveu o pulso de alquimista que se sobressaltou. Uma mulher grande (em todas as proporções) sorria para ele – O meu carro não podia estar mais limpo...

– Obrigado, senhora. – Petrus sorriu, tentando ser cordial, apesar de notar que a mesma não soltara o seu pulso – Espero que meus produtos também sejam de seu apreço.

– Oh! Sim! Imagino que você só faça coisas... – A mulher lambeu os lábios, e eram grandes lábios – Belas.

– Novamente...Agradeço. – Brand tentou se afastar, mas os dedos longos e enrugados da mulher eram como grilhões. Sim, tinha errado em seu julgamento, aquela não era apenas uma mulher e sim uma mulher sobrenatural. Ou algo do tipo.

– Quer visitar minha casa? Eu tenho uma coleção de coisas belas...Aposto que você pode gostar. – Continuou falando.

– Fico lisonjeado com a oferta. – Petrus colocou a mão sobre a pulseira de ouro (sim, ouro puro) que ela usava – Mas, acho que a senhora está enganada, não sou tão belo assim.

– Sim, você é. – Ela praticamente rosnou, suas feições mudaram de cordial para selvagem em segundos – Seu cheiro não é de um humano nojento. É de algo mais. Algo novo. Algo único. Algo especial...

– Seu carro já está lavado. – Uma outra mão foi adicionada a "festa". Sendo que essa mão se pôs sobre a da velhota sinistra.

– Eu ainda não terminei de falar...

Michel usou de outra abordagem, com a velocidade vampiresca se fez aparecer ao lado da mulher, sua a mão, com suas unhas crescidas em forma de garras afiadas, se posicionado no pescoço gordo da anciã.

– Você terminou sim, Baba Yaga.* – O vampiro não parecia em nada o nobre elegante de momentos atrás e mais um guerreiro prestes a adentrar em uma batalha.

– Não precisa de toda essa violência. Ele não faz parte do meu cardápio. – Riu a mulher que parecia mudar para uma forma ainda mais feia e deformada conforme falava – Vejo que estava certo sobre esse rapaz, ele é sim, especial... E têm um bom coração. Tem sim. E...AH!

Ela soltou a mão pois sua pulseira tinha se transformado. Ao invés das pedras polidas, agora havia se deformado formando espinhos afiados. Espinhos esses que perfuraram a sua pele, deixando um sangue enegrecido escorrer.

– E poderoso. – Acrescentou sorridente, os dentes agora estavam enegrecidos e podres – Muito interessante.

– Baba Yaga. – Peter rosnou, olhos brilhando

A mulher gargalhou e se dirigiu ao seu carro. Como uma mulher tão grande cabia no veículo? Petrus não sabia.

– Volte sempre! Temos promoções em toda sexta feita 13! – Disse o alquimista para o estranho ser. O gargalhar esganiçado ainda era ouvido pelo trio quando a última "cliente" da lavagem se distanciava em alta velocidade.

– Você...Sinceramente convidou para que ela viesse de novo? – Peter questionou incrédulo.

– Baba Yaga não é o tipo de ser sobrenatural que você queira por perto. São muito imprevisíveis. Algumas vezes ajudam, outras vezes atacam e te desossam! Uma classe muito mais sinistra de ser sobrenatural. Pelos eslavos chegou ser considerado como deusas da morte. – Falou Michel com um olhar de reprovação.

– Ela comprou quase todo o meu estoque de condicionadores, além de usar uma pulseira de ouro. Isso significa que ela tem condições de consumir ainda mais! Não posso me dar o luxo de perder clientes desse nível! – Analisou Petrus com seriedade – E não é a primeira vez que desperto interesse em seres sobrenaturais...É quase como um dom meu. Não é mesmo rapazes?

Michel e Peter trocaram olhares sem saber como responder aquilo.

– Bem, esse foi o último cliente. – Petrus se espreguiçou – Acho que isso significa que teremos a nossa "conversa", não é mesmo?

– Sim...Mas... – Peter olhou para a própria roupa encharcada, Michel não estava nada diferente.

Brand colocou novamente o dedo indicador nos lábios, com um ar pensativo. Novamente a dupla se viu hipnotizado com aquele gesto sedutor.

– Já sei! – Petrus abriu os braços – Venham.

– Perdão? – Michel franziu o cenho.

–Me abracem! – Comandou o humano, sem muita paciência.

Peter não era alguém de aceitar comandos com facilidade. Só seguia as ordens de sua Alfa! Contudo, se viu compelido institivamente a se aproximar de Petrus, ainda mais quando havia aquela oportunidade de toca-lo. Quase podia ver seu lobo balançando o rabo para os lados, feliz com aquela possibilidade.

Michel, por sua vez, também pareciam não mostrar relutância em se aproximar.

Petrus avançou sobre a dupla, sem esperar que os mesmos se aproximassem mais. Os abraçou. Era estranho tentar envolver aqueles homens altos e musculosos em seus braços, contudo, o seu objetivo era outro... Suas mãos navegaram por aqueles corpos úmidos.

– Er...Petrus? – Chamou Peter, apesar de sentir estranhamente confortável com aquele gesto, sabia que estavam em público...E seu corpo estava começando reagir de uma forma que era melhor não estar diante de uma plateia de curiosos.

O quão súbito foi aquele abraço, também foi igualmente súbito quando terminou. Petrus, se afastou com um sorriso satisfeito.

Michel soltou um rosnado, provavelmente, irritado pelo término do abraço. Peter tinha que concordar com o vampiro nesse quesito. Foi muito curto!

– Agora estão secos. – Anunciou o alquimista.

Só então Peter notou que de fato suas roupas tinham secado.

– Como?

– Só aumentei a velocidade de agitação das moléculas de água, logo, acelerei o processo de evaporação. – Explicou dando os ombros – A alquimia é a magia aplicada a química. Pelo menos é assim que penso.

– Impressionante. – Sussurrou Michel tocando a sua camisa.

Não foi ilusão, eles puderem ver que Petrus corou levemente.

– Não foi nada! – Disse bruscamente baixando os olhos, um raro sinal de timidez – Vamos! Depois de usar tanto minha habilidade estou com uma tremenda fome, espero que Salem tenha trazido os drinks...

Falando isso ele se virou em direção a loja, sendo seguido por dois seres sobrenaturais que detinham sorrisos satisfeitos em seus lábios.

~**~

Peter e Michel foram conduzidos para uma sala nos fundos da loja. Era para ser uma espécie de sala de descanso para os funcionários, mesmo que tal sala estivesse rodeada de produtos do estoque do alquimista, empilhadas em caixas e enfiadas em estantes já abarrotadas de estranhos ingredientes.

– Então? – Petrus adentrou na sala trazendo uma bandeja com xícaras de chá e depositando na mesa aonde a dupla estava sentada – O que desejam falar comigo?

"Por onde começar?" Matutou Peter enquanto pegava a sua xícara.

– Oh! – Exclamou Petrus mirando Michel com sobrancelhas erguidas – Eu esqueci de secar a sua gravata!

De fato, Michel usava uma gravata de seda vermelha que combinavam bem com seus olhos de igual coloração (claramente a escolha foi intencional).

– Ela está molhada? – Inqueriu o vampiro, franzido o cenho. O humano se adiantou e tocou a gravata, puxando Michel para perto de si.

Peter, que estava bebericando o seu chá, quase cuspiu o líquido ao ver aquela cena. Petrus com aquele sorriso falsamente angelical, que fazia o coração do lobisomem acelerar. Ainda mais, ver Michel tão próximo do humano, com aquele olhar predador, sua boca entreaberta. Só precisava avançar alguns centímetros para que ele tomasse os lábios de Petrus para si. Estranhamente, Peter não sentiu ciúmes, pelo contrário, queria vê-los se tocando. Se beijando. Queria assistir aquilo, para depois participar. Mas...O que estava pensando? Sabia que parte do sentia era provocado por seu instinto...Desde que se encontrara com aquele humano, sua mente, corpo e lobo não agiam de forma normal! Será que algum efeito adverso da alquimia? Os humanos que possuem a faísca também despertam a libido de seres sobrenaturais?

Contudo, o beijo não ocorreu. Na verdade, Petrus soltou a gravata do vampiro só para que esse tombasse no chão, com a gravata presa pesadamente no chão.

– Michel! – Exclamou Peter surpreso, mas ao levantar da cadeira foi acometido por uma vertigem. Seu corpo parecia pesado.

– Eu não consigo...A gravata parece que pesa uma tonelada! – Rosnou o vampiro tentando levantar a cabeça, mas não conseguindo movê-la além do limite que o tecido lhe oferecia.

– Então...A corte!

– Sabe o quanto ela me custou?

– Diabos! Deseja ficar caído aí no chão?

Petrus tinha se ajoelhado ao lado do vampiro que rosnou para ele. O humano o ignorou, tocando com as duas mãos o piso. Para a surpresa e assombro de Michel, ele viu suas mãos, joelhos e pés se submergirem em uma espécie de areia movediça pegajosa.

– O que você está fazendo? – Rugiu o vampiro sentindo-se totalmente imobilizado...E isso foi feito em poucos segundos por um humano.

– Mas você está bravo? – Provocou Petrus que o observou com um meio sorriso.

– Peter! Controle o humano!

– Eu... – Peter queria poder ajuda-lo, mas nem conseguira se erguer da cadeira – O que você me deu de beber? Eu nem senti o cheiro do veneno...

Wolfbane. – Falou Brand de levantando do chão e sentando sobre a mesa, diante da dupla. Uma sentada e outra de quatro no chão. Petrus cruzou as pernas, ainda usava o seu shortinho, mas agora vestia uma camisa branca com uma estampa de um gatinho sorridente.

– Isso é veneno! – Peter tentou rosnar, mas nem isso conseguiu fazer. Como pode ser enganado dessa forma? Ele baixou a guarda!

– Veneno? Depende das proporções...Muitos venenos são usados como remédios pela medicina, sabia? – Comentou Petrus – Alias, o que usei no seu chá era uma mescla de ervas, sendo que a wolfbane seria uma delas. Não se preocupe, você não irá morrer. Só deixei seus movimentos mais lentos e seus sentidos entorpecidos.

– Por que?

– Acham que sou idiota? Um Hale e um Beaumont vindo me visitar para "conversar"? – Ele fez o sinal de aspas com os dedos – Um lobisomem representante da Alcateia Hale cujo território envolve toda a Beacon Hills...Um vampiro do principal clã de "fiscalização" dos outros clãs vampiros. Dois seres ilustres vindo me ver depois que um assassinato ocorreu na reserva de Beacon Hill? Não acredito em coincidências, meus caros.

Peter engoliu em seco, mesmo sentindo raiva por ter sido incapacitado pelo humano, não podia negar que ficou admirado com a inteligência de Petrus.

"Pelo visto, ele não é só uma carinha bonita...".

– Sim, viemos aqui devido ao assassinato. Um vampiro foi morto. – Começou a falar, Peter.

– Meu sobrinho Aby não tem nada haver com isso! – Petrus bateu com a mão na mesa, fazendo as xícaras tremerem – Se vieram aqui acusa-lo e...Sei lá, prendê-lo! Espero que saibam que terão que passar por mim para conseguir alcança-lo! Lutei muito para salva-lo daquele maldito Van Helsing, não temo lutar contra outros seres para continuar mantê-lo a salvo!

– Não viemos aqui acusa-lo nem nada! – Rosnou Michel – Pelo contrário! Viemos inquerir sobre arma do crime! Alan garantiu que esse jovem Van Helsing não estaria envolvido, mas temos uma estaca usada para matar um membro da minha raça que tem que ser analisada por alguém que conhece os Van Helsing!

Petrus ergueu as sobrancelhas.

– Sério? Mas...Não desejo que Aby seja exposto a algo assim. Ele...Já sofreu muito. Se o que dizem é de fato verdade, lógico.

– Não estamos mentindo. Acha mesmo que se desejássemos pegar o seu sobrinho teríamos vindo a sua loja e nos sujeitado a lavar os carros? – Inqueriu Peter.

– Verdade...Isso seria um ato muito tolo da parte de vocês. Não que eu não tenha me divertido lavando carro com vocês. – Sorriu. O lobisomem quis chutar a si mesmo por sentir seu coração acelerar com aquele gesto do humano. O mesmo humano que o fez ingerir wolfbane! Estava ficando louco, só podia!

– Não queremos o seu sobrinho, nos queremos você. – Falou Michel.

– Hum...Não estou acostumado a ter um relacionamento sério, sabem? – Falou Petrus ainda sorrindo – Um relacionando a três? Fico imaginando se eu ficaria em desvantagem... Afinal, estou acostumado a receber, mais do que dar. Se é que me entendem. Não creio que a minha bunda irá aguentar dois...

– D-d-d-d-do que você está falando? – Interpôs o vampiro gaguejando e corando que nem um pimentão. Peter quase podia vê-lo mordendo a língua, algo que ocorria quando Michel ficava nervoso.

– Nós... – Pigarreou Peter – Nós estamos nos referindo ao fato de querermos que você olhe a estaca e avalie a sua procedência, se seria de fato do clã Van Helsing. Queremos o seu conhecimento.

– Ahh! Pena! – Riu Petrus saltando da mesa e pegando a outra xícara de chá que não foi bebida.

– Se de fato é isso que vocês querem, não vejo mal nenhum que continuemos a nossa conversa.

– Que bom... – Disse Michel, cheio de sacarmos – E será que essa conversa poderia ocorrer me libertando?

– Primeiro o lobinho. – Disse isso se aproximando de Peter e oferecendo a xícara para ele – O antídoto.

O Hale fez uma careta.

– Não acho que vou aceitar outra coisa oferecida por você...

Brand rolou os olhos. Em um movimento rápido bebeu o conteúdo da xícara. Com uma das mãos, forçou Peter encara-lo e...O beijou.

Michel que observou tudo em sua posição prostrada no chão. Lambeu os próprios lábios, de forma inconsciente. Logo depois praguejou em sua mente. Por que estava excitado vendo aquilo?

Peter sentiu o líquido sendo forçado em sua boca. Devia resistir mais, contudo, aquele beijo surpresa o tinha pegado totalmente desprevenido. O pior é que não teve nem tempo de degusta-lo, já que quando estava começando a corresponder ao gesto, Petrus se afastou.

– Agora o morceguinho. – Anunciou lambendo os próprios lábios.

Peter sentiu, de imediato, retomar o controle do seu corpo, além da tontura persistente ter se esvaído. As habilidades de Petrus eram, de fato, especiais. Nunca antes tinha conhecido um alquimista tão poderoso!

– Não me morda, ok? – Disse Brand tocando levemente a gravata do vampiro, deixando a sua mão descer pelo tecido, de cima para baixo. Uma vez. E mais outra.

– Eu não prometo nada... – Resmungou Michel, tentando não prestar muita atenção ao movimento do humano. Não queria imaginar. Não queria associar aquele movimento com outra coisa...Não quando devia estar irritado com o humano que o humilhou e o prendeu, como um cachorrinho, no chão!

Petrus riu, por fim, se afastou. Michel sentiu o peso da gravata diminuir. A falsa areia movediça se desfez, agora ele estava novamente de quatro sobre o chão liso de madeira. Como se nada tivesse ocorrido.

– Você sabe que somos figuras muito importantes para a comunidade sobrenatural de Beacon Hills. Nos atacar dessa forma...Não é uma atitude sensata! – Criticou Michel, tentando se levantar de forma elegante, queria restaurar parte de sua dignidade que ainda lhe restava.

Petrus sentou novamente sobre a mesa, balançando as pernas, tal como uma criança.

– Para "figuras muito importantes" vocês foram facilmente subjugados, não é mesmo? – Inqueriu piscando para o vampiro.

Michel rosnou ameaçador, mas pelo visto, o humano o ignorou com um sorriso.

– Que tal conversarmos primeiro? Depois vocês dois pensam em como irão me punir. O que acham? – E o humano ainda teve a ousadia de lamber os lábios e sorrir inocentemente.

Peter engoliu em seco, viu que Michel fazia o mesmo. Aquela proposta era por demais atraente.

Peter Hale sempre se achou muito inteligente, não era atoa que fora colocado como o segundo no comando da Alcateia Hale, mesmo antes do incêndio. Era estrategistas, usava de táticas diversas para alcançar o seu objetivo e encurralar seus inimigos....Mas ali, naquela apertada sala, em uma pequena loja, sentia que era ele a ser encurralado. Que aquele pequeno humano lhe tinha em seus pés...

Havia um sentimento ali. Algo forte que o ligava ao humano. Sabia que Michel devia também sentir algo. Na verdade, algo ligava os três em uma estranha e ao mesmo tempo, perfeita, sintonia.

Peter ainda não sabia, ou talvez, fosse cedo demais para nomear esse sentimento...

Todavia, uma coisa ele tinha certeza...Aquele era apenas o primeiro de muitos avassaladores encontros.

~~**Palavras da autora**~~


*O oxford é um sapato social muito elegante e alinhado, que possui cadarços, bico mais alongado e pode ter o acabamento fosco ou envernizado. Além disso, esse modelo pode ou não ter furinhos — sendo aí chamado de brogue. É o sapato ideal para ocasiões que demandam um traje mais fino e sofisticado.

* Baba Yaga, era considerada uma deusa perigosa da mitologia eslava, pois muitas vezes aparecia como uma pessoa cruel, mas outras como uma pessoa boa que veio para auxiliar. Assumindo sua forma má, ela tinha o costume de caçar homens de personalidade ruim. Esses eram levados mortos para sua casa e lá eram revividos por ela para serem devorados em seu caldeirão ou utilizados para algum terrível feitiço. Os ossos então eram utilizados como vedação externa para sua casa e os dentes eram usados na fechadura da porta. No panteão eslavo era tratada como a "Deusa da Morte".

E assim temos o primeiro encontro de Michel e Peter com o nosso Petrus Brand! Como será que essa relação irá se desenvolver? Petrus realmente parece saber adestrar seu lobinho e morceguinho! 

Será que eles são Mates? (como Stiles e Derek)?

Como será que Aby irá reagir?

E Pietro? 

Bem...isso seria muito engraçado de descobrir...

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