Estranhas visitas


Uma semana tinha se passado e as coisas tinha voltado a velha rotina.

Ao menos que a velha rotinha consista em ser constantemente vigiado por agentes federais à paisana. Ademais de ser alvo de muitas das fofocas da escola sobre o ataque do kanima e a devastadora tempestade.

Talvez dizer que as coisas tinham voltado a velha rotina fosse um grande erro. Não era nem um pouco velha e nem uma rotina. Então deveria reformular a frase inicial:

Uma semana tinha se passado e as coisas ainda não voltaram a ser as mesmas!

Assim, estava bem melhor. Isaac assentiu para si mesmo enquanto limpava as mãos sujas de molho de tomate no avental. Estava fazendo uma lasanha vegetariana para o almoço e logo depois iria dar uma arrumada no estúdio. Sem ao menos hesitar retirou os produtos de limpeza de um dos armários do corredor... Por alguns segundos paralisou. Estava mesmo ficando familiarizado com aquele lugar. Não que fosse algo ruim, mas talvez estivesse se intrometendo demais na vida do seu dragão.

"Mas eu não poderia deixá-lo sozinho, ainda mais agora que ..." A imagem da coleira ainda presa ao pescoço de Erorhion o fez morder o lábio inferior, em agonia. A coleira anulava parte dos poderes mágicos do seu namorado e muitas coisas que ele antes fazia com um estalar dos dedos, agora teria que usar os referidos dedos para colocar a mão na massa e fazer a ação fisicamente falando. E é aí que Isaac entrou...

– Será que estou me intrometendo muito? – questionou para Isaac 2. O gatinho deu um longo miado como resposta e esfregou seu corpo no calcanhar do adolescente. Isaac sorriu e afagou o bichano, mas logo outros gatos apareceram exigindo sua porcentagem de carinho.

– Você nem devia estar fazendo essas tarefas. – reclamou Erorhion vindo de uma sala lateral aonde normalmente trabalhava tatuando os seus clientes –, digo não quero que você aja como um empregado...Eu posso muito bem fazer essas coisas.

Isaac viu o dragão tentando pegar uma vassoura do armário, só para deixar todas as outras coisas que estavam ali guardadas caírem, esfregão, baldes e mais utensílios de limpeza.

– Eu nem sabia que tinha tantas coisas aqui! Eu nunca abrir esse armário! Antes eu... – e se calou notando que o que iria dizer, antes ele usava a magia para cuidar de coisas triviais como a limpeza do seu lar. Cabisbaixo, Erorhion tentou guardar tudo, mas foi interrompido por um carinhoso toque em uma de suas mãos.

– Eu tomei a iniciativa de comprar. – revelou Isaac –, e eu não vejo nenhum mal em fazer essas tarefas domesticas, eu gosto.

– Isaac...Sinto como eu estivesse me aproveitando de sua boa vontade. Eu sou um adulto, deveria saber fazer essas coisas!

O garoto sorriu levando a mão do dragão aos seus lábios e dando um leve beijo.

– Erorhion, eu quero te ajudar. – assegurou mirando com seriedade o seu namorado –, e uma coisa eu sei, não existe essa coisa de adulto ideal. Todos estamos em constante aprendizado, uns estão mais avançados do que outros em um determinado quesito, mas isso não significa necessariamente que são mais maduros. As vezes acho que o ser adulto é algo superestimado...

– Falando assim eu me sinto ainda menos adulto, Isaac! – choramingou Erorhion e depois puxou o menor para um abraço.

Isaac corou em meio a aquele abraço, se deixando aconchegar nos braços fortes e morenos do dragão.

– O que quero dizer é que...Não precisa se sentir culpado por nada...Somos um casal e isso significa que somos parceiros, não é? Um ajuda o outro, principalmente me momentos de crise... Pelo menos, eu achei que... – sussurrou embaraçado, estava matraqueando e cada nova palavra falada sua voz minguava a níveis quase que inaudíveis.

Subitamente o dragão se afastou, encarando o confuso lobisomem.

– Isaac, se continuar a ser fofo assim vou acabar te pedindo em casamento!

– Hã? – o garoto abriu e fechou a boca sem saber o que responder.

– Mas sei que se fizesse isso o senhor Stilinski iria me caçar até os confins do mundo...Com ou sem magia, o senhor Stilinski me assusta. – confessou o dragão apoiando a sua cabeça no ombro de Isaac.

O lobisomem acariciou os longos cabelos pretos do dragão que em reposta começou a emitir um ronronar.

– Você deveria estar com seus amigos, fazendo coisas de adolescentes e não cuidado de mim. – insistiu Erorhion.

– Gosto de cuidar de você, não é um sacrifício. Eu gosto de estar aqui, no seu estúdio e sua casa...Com você e seus gatos. Estou feliz, Erorhion.

– Ahhh...Pare de ser fofo, Isaac! – Erorhion mordiscando o pescoço do adolescente.

– Eror... – arfou, suas mãos seguravam os ombros do dragão, mais não fez nenhum sinal para afastá-lo.

– As vezes acho que você faz de propósito...

– O que?

– Agir de forma que me faça ficar ainda mais apaixonado por você. –, uma nova mordida, seguida de um lenta lambida. Isaac estremeceu.

– Eu n-não...F-faço de propósito... – tentou se defender.

Erorhion não respondeu, suas mãos navegavam pelo corpo do garoto, sentindo seus músculos e curvas. Rosnou faminto.

– Er... – alguém pigarreou ao fundo –, pensei que aqui fosse um estúdio de tatuagem e não um...Sei lá...Apresentação pornô grátis?

Desta vez Isaac usou sua força para afastar o dragão de si. No hall de entrada estava um cliente. Ou melhor estava alguém que Isaac não esperava ver tão cedo.

Erorhion emitiu um baixo rosnado.

– Jackson? – Isaac se adiantou, dando uma leve cotovelada em seu dragão – O que veio fazer aqui?

– O que você acha? Conseguir uma tatuagem.

– Oh!... – Isaac deu uma olhada receosa para o dragão que ainda encarava o adolescente com evidente antipatia.

– Você é o tatuador? – Whittemore apontou para Isaac.

– Não! Eu...

– Sou eu. – Erorhion por fim falou cruzando os braços diante do peito – Você seria?

Isaac tinha falado tudo sobre Jackson para o dragão, inclusive sobre a suspeita que todos tinham dele ser o kanima. E por causa disso Lahey temia que Erorhion perdesse a calma, afinal, o kanima foi o causador de todos os problemas que hoje eles estavam sofrendo. E ainda tinha a questão de que era bem provável que o kanima deveria tê-lo matado naquela tarde no beco...

– Jackson Whittemore. – respondeu com sua típica arrogância. O garoto entrou no estúdio, observando tudo com indiferença. Isaac sabia que o estúdio de Erorhion não algo tipicamente comercial, seu lar e trabalho eram tão hibridamente unidos que o estúdio era uma mistura desses dois aspectos.

– Eu quero uma tatuagem. – falou ele indo para uma bancada aonde estavam expostos alguns dos desenhos de Erorhion.

– Eu ouvi da primeira vez.

– Nossa, você é educado assim com todos os clientes ou eu sou um caso especial?

Erohion já iria responder mais foi interrompido por Isaac:

– E por que você deseja uma tatuagem? Digo, normalmente as pessoas fazem isso por uma ocasião especial...Scott fez uma para simbolizar essa nova fase de sua vida.

Jackson encarou Isaac e este engoliu em seco. Talvez aquela tática de aproximação não fosse a mais adequada. Nunca foi bom na lábia como Stiles...

– Algo do tipo... – confessou Jackson corando levemente –, na verdade eu queria testar se...Enfim, seu eu sou mesmo um...Lobisomem.

O adolescente falou a última parte em um murmuro apressado, mas Isaac e Erorhion ouviram muito bem com seus sentidos aguçados.

– É uma ideia idiota, eu sei. Não sei nem porque vim aqui... Droga. – resmungou passando as mãos nos seus cabelos.

– Você não acha que seja um lobisomem? Você cheira como um. – assegurou Isaac.

– Mas eu não consigo...Me transformar. – acrescentou novamente a ultima parte em um sussurro embaraçado.

– Eu nem sei por que estou falando tudo isso para você! Pode rir...Ria como os outros fazem! – explodiu em seguida, fazendo com que alguns gatos soltassem miados assustados.

– Ninguém está rindo de você. – falou Erorhion indo em direção ao garoto –, por que iriamos rir?

– Sou defeituoso... Eu era defeituoso como humano e agora sou defeituoso como... – ele não conseguiu falar, havia muito pesar em sua voz. Isaac não sabia o que deveria fazer para aliviar tal dor. Se ele era mesmo o kanima, ele teria assassinado pessoas...Será deveria sentir empatia? Estava errado em tentar reconfortá-lo?

– Não acredito que alguém é defeituoso. Temos sim defeitos, pois não somos criaturas perfeitas, mas dizer que estamos quebrados implicando que não temos conserto. – falou Erorhion tocando no queixo de Jackson, esse tinha abaixado o rosto ocultado a vergonha ou mesmo o embaraçado.

O dragão o forçou a mirá-lo. Jackson Whittemore estava chorando.

– Todos tem conserto. Todos merecem uma segunda chance. – continuou a falar o dragão.

Jackson o encarou, sua expressão era difícil de descrever. Surpreso? Irritado? Paralisado? Isaac não sabia dizer.

– Você não sabe o que diz... – disse o rapaz dando um passo para trás e interrompendo o toque do dragão.

– Jackson... – chamou Isaac ao ver que o adolescente estava se direcionando para a porta de entrada do estúdio – Se precisar de um amigo para conversar, eu estou disponível, ok?

Jackson parou com a mão na maçaneta, sem se virar ele falou.

– Eu sinto muito por seu pai, Isaac.

E falando isso, saiu.

Isaac sentiu novamente aquele agoniante aperto no coração. Por impulso tentou correr atrás de Jackson, mas foi interrompido por Erorhion.

– O deixe ir. Ele ainda não está receptivo a uma conversa amiga. – analisou o tatuador soltando um longo suspiro.

– Você acha que ele é o kanima? Agora que você o viu pessoalmente...

– Se eu tivesse meus poderes talvez eu tivesse total certeza, mas eu não consegui ler a mente dele.

– Hã? Foi por isso que o tocou? – quis saber Isaac.

– Em parte... Antes eu não precisaria ter contato físico para ler a mente de alguém. Tentei ler a mente dele, mas recebi imagens desconexas...Dor e sombras. O coração de Jackson sem dúvida está em meio uma tormenta de emoções.

Isaac assentiu com lentidão, voltando o seu olhar para a entrada do estúdio.

– E eu também o toquei porque queria ver os seus olhos. Alguns acreditam que os olhos são a janela da alma e por isso queria ter um deslumbre da alma do nosso suposto kanima.

– E o que você viu?

– Em meio a tormenta, existe luz e um belo amanhecer. – falou o dragão de forma enigmática.

Isaac iria questioná-lo, mas o cheiro de queimado foi detectado pelo sensível olfato.

– A lasanha! – exclamou aflito correndo para a cozinha. Erorhion o acompanhou ainda pensativo.

~**~

Não estava nem um pouco feliz. Na verdade, ao longo de toda essa semana, esse era um sentimento que permaneceu constante. A infelicidade e a imensa necessidade de socar alguém.

– Bela camisa. – falou alguém. Ele tentou se controlar, queria mesmo se controlar, mas acabou deixando se levar pelo impulso.

Seu punho cortou o ar, mas foi interrompido antes que acertasse o seu alvo.

– Deveríamos ser discretos. – lembrou o sempre correto Derek Hale.

– Foi ele que começou. – disse Abraham em meio a um ranger de dentes.

– Só foi um elogio. – Boyd se defendeu, levantando as mãos em sinal de paz.

– Foi uma provocação.

– Ora, Boyd não está mentido, você está muito fofinho com essa camisa. É o que? Um desenho animado? – Agora era a vez de Erica falar.

– De acordo com Stiles é o desenho "She-Ra e as Princesas do Poder". – respondeu de contragosto. Era uma camisa rosa com Adora (a personagem principal da série) empunhando a sua espada e se transformando em She-ra. Nada contra a série (tinha sido forçado a assistir por um insistente Stiles, até tinha gostado um pouco), só não gostava do excesso de rosa e glitter que toda aquela camisa emanava. Não fazia o seu estilo.

Na verdade, nada em sua roupa fazia o seu estilo. Fora a camisa, estava usando shorts jeans e um surrado tênis all-star (oferecido por Scott). Sua toca, coturno e calças escuras rasgadas foram abandonadas. E ainda mais, estava usando óculos de lente rosa (desta vez fora cortesia de Lydia). Tudo isso para desviar a atenção dos agentes à paisana que insistiam em seguir todos os seus passos.

Sem dúvida, tal aparência tão distinta da sua usual aparência, lhe conferiu a vantagem de chegar até ali sem ser seguido.

– E você sempre foi assim tão baixinho? – Erica fez questão de perguntar. Desta vez Derek teve que segurar Aby para que o menino não se lançasse sobre a lobisomem.

– Ei, não tirem onda dele, ok? Todos nós estamos disfarçados. Vamos ficar numa boa e sem energias negativas! – Ethan falou nervoso, olhando para os lados com clara apreensão. O tritão estava usando calças compridas e uma camisa de mangas longas, para completar usava um boné que ocultava o seu rosto moreno. De nada parecia com o típico visual surfista zen que lhe é tão característico. As roupas pareciam meio grandes para o seu tamanho, o que podia ser uma indicação que foram emprestadas, talvez de Marcus.

– I-isso é verdade... – Elizabeth concordou, a vampira usava uma jaqueta de couro e um visual muito rebelde tipo motoqueira mirim, claramente copiou o estilo da namorada.

– Não vamos colocar tudo a perder. Foi muito difícil despistar os agentes do Rafael... – Derek falou libertando o irritado Aby, o garoto mais parecia um gato furioso pronto a arranhá-lo e mordê-lo e o Hale não gostava muito de gatos...

– E para quê? Para vir nessa casa assombrada! O que o seu tio Peter queria? Um previa de Halloween? – perguntou Abraham.

Derek não respondeu. Aquela situação era desconfortável, ainda mais por estar sem sua típica jaqueta de couro. E para somar ao seu desconforto existia a sua camisa. Ou melhor, a camisa emprestada por Pietro. Na referida camisa havia um lobo vestido como uma ovelha e abaixo dele estava escrito "Don't judge me" (não me julgue). Enfim, Derek se sentia muito desconfortável.

E ainda mais desconfortável por não saber o motivo de Peter ter os convocado, precisamente aquele grupo, para um encontro naquela estranha casa. Ela parecia abandonada e como Abraham enfatizou tinha uma aparência de uma típica casa a ser usada no Halloween. A tinta tinha descascado, a cerca estava quebrada, a vegetação começava dominar a construção...Ninguém devia viver ali e...

A porta de entrada se abriu e um homem saiu. Ele era alto, cabelos longos e escuros, cobrindo parte de sua face, pele achocolatada e...

– Pela a tanga do Poseidon... Ele está pelado? – Derek ouviu Ethan perguntar para uma corada Elizabeth.

– Ah! Os pivetes chegaram! Perfeito! – disse o estranho tirando uma das mechas de seu longo cabelo de sua face, revelando um belo rosto com vibrantes olhos verdes.

– Salem! Você não pode sair assim, sem roupa! Esqueceu que não é mais um gato! – uma garota gritou, saindo do interior da casa e segurando o que parecia ser cuecas.

– Sabrina? – Aby inqueriu confuso, reconheceu de imediato a bruxa funcionária da loja de seu tio.

– As inconveniências de ser humano...Tantas regras. Regras inúteis, devo enfatizar! – falou o estranho, ignorando as cuecas que lhe foram oferecidas.

– Salem? – Abraham arregalou os olhos para a figura a sua frente. Aquele era o gato resmungão também funcionário de Petrus Brand? Salem sempre se apresentava na sua forma felina que Aby tinha esquecido que aquela não era sua verdadeira forma. Salem era um bruxo e tinha optado por viver como um gato (pelo menos era o que ele dizia).

– Vamos, entrem... – chamou Salem para os jovens na calçada –, eu comprei várias latinhas de sardinha, não pretendo compartilhar, mas disseram que eu deveria ser hospitaleiro de algum modo! Vamos logo, antes que vocês chamem a atenção da vizinhança toda!

– Você que está chamando atenção... – retrucou Sabrina oferecendo mais uma cueca para o seu primo bruxo e sendo ignorada – Será preso por atentado ao pudor e...

– Humanos nasceram nus e não vejo nenhum bebê ser preso por atentando ao pudor.

– Salem...Sério mesmo que esse é seu argumento? Você é um homem adulto!

– Um homem adulto que presa por sua liberdade de expressão!

– Sua liberdade? Isso significa você ficar com o seu pinto de fora?

– Não seja tão vulgar, Sabrina.

– EU QUE ESTOU SENDO VULGAR?

Enquanto os bruxos discutiam entre si uma única pergunta se formava na cabeça de grupo de jovens que assistiam tão estranha cena:

O que eles estavam fazendo ali?

Derek ainda tinha mais uma pergunta a acrescentar:

O que seu tio Peter estava pensando?!


***Palavras da autora***

Qual é o plano de Peter? Vocês fazem alguma ideia?E gostaram de Salem versão humana? Tantas perguntas...Veremos no próximo capítulo a resposta.Obs: me sigam no instagram (nmcmsama), Twitter (NathyMaira1) e no grupo do facebook (https://www.facebook.com/groups/758613497539269/)

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