Encontro - Parte II
— Então, qual é o plano? — Perguntou Pietro enquanto escolhia vários doces do mostruário deixando o atendente levemente confuso com a veracidade do fato que aquela grande quantidade de produtos só seriam para uma única pessoa.
— Como assim? — Questionou de volta Abraham.
— Ora, esse encontro... Não que eu esteja reclamando, mas eu não esperava que você me chamasse para sair logo após de quase me despir publicamente.
O atendente soltou uma baixa exclamação e corou, Abraham lançou um olhar mortal para o pobre rapaz que, com rapidez, deu uma desculpa esfarrapada para ir buscar mais doces no estoque.
— Eu... — Agora que estavam sozinhos, o humano não sabia o que responder.
— A verdade, é que pensei que eu que iria tomar a iniciativa. — Confessou o vampiro — Pretendia esperar uns meses, quem sabe anos, só para tomar coragem em te chamar para sair... E, mesmo assim, não sabia se você iria aceitar...
— E por que eu não aceitaria? — Havia um tom de desafio em sua voz.
— Um encontro, sem envolver treinamentos ou lutas? — O rapaz arreou suas elegantes sobrancelhas — Eu gosto do seu jeito bruto de ser, Aby... Mas sei que romantismo não é seu estilo.
— Eu posso ser romântico se eu quiser! — Resmungou, teimosamente, cruzando os braços diante do peito. Ok, talvez o argumento do vampiro tivesse um pouco de embasamento... Mas mesmo assim, não podia ser culpado por não saber destas coisas. Romance, paqueras, encontros...Beijos... Isso tudo não fazia parte de sua realidade, pelo menos a realidade de alguns meses atrás enquanto estava sob domínio de seu severo e insano pai.
— Lógico que pode... — O garoto mais velho retirou, com delicadeza, um cacho dourado que pendia sobre a testa do caçador. Abraham teve que controlar o seu instinto de pegar o pulso do vampiro e o retirar de seu rosto, fazendo um movimento rápido e que provavelmente iria resultar na quebra de um ou mais ossos. Tinha que se conter. Pietro não iria machuca-lo. Não era um inimigo. Ficou repetindo isso em sua mente, tal como um mantra — Mas, como eu preciso de treinamento na parte física, você também precisa de treinamento na parte social.
O mais novo já estava com uma resposta na ponta língua, contudo foi impedido de proferi-la, pois o vampiro que fez uma espécie de truque, retirou uma jujuba de trás da orelha de Aby, este ficou olhando o doce, confuso e levou as mãos a orelha, temendo que de alguma forma houvesse mesmo jujubas se reproduzindo ali. Se sentiu meio idiota, depois, era obvio que fora um truque bobo de ilusionismo, mas mesmo assim, caiu que nem uma criança.
Pietro sorriu, adorando ver o misto de embaraço e fascinação que tinha produzido no menor.
— Eu tenho paciência, Abraham. — Falou isso oferecendo o doce ao outro, que aceitou com um certo receio — Não irei acelerar as coisas... Quero te conhecer, te entender, assim como quero que me conheça de verdade e me entenda. Entende?
— A-acho que sim... — Murmurou comendo a jujuba — M-mas... S-se você... Tipo... Quiser sair outra vez... Que não seja treinamento, claro... Eu poderia aceitar...
O vampiro deu uma contida risada e limpou o canto dos lábios de Aby, que, por sua vez, estava tão entorpecido pela ação que não conteve seus instintos e logo se viu pegando a mão do pobre vampiro e a levando para as costas deste, imobilizando-o.
— Ops! Desculpe! — Falou rapidamente, o libertando. Abaixou a cabeça, seu rosto estava totalmente vermelho agora, uma mescla de vergonha e raiva de seus próprios hábitos.
— E-está tudo bem! — Meio que riu, meio que gemeu de dor, o humano tinha deslocado o seu ombro! Ainda bem que sua capacidade curativa sobrenatural estava "dando conta do recado".
—E...E... Esse encontro, você está certo... É um plano. Desculpe. — Abraham quase não estava se reconhecendo, sentia uma imensa culpa, primeiro por chamar Pietro para aquele "falso" encontro, sabendo que o outro iria aceitar prontamente, ainda mais, acabara por machuca-lo sem justificativa nenhuma. Como aquele vampiro ainda insistia ficar ao seu lado? Como podia sentir algo por um humano tão mortífero e tolo como Abraham? Sem dúvida, estava começando a duvidar da sanidade de Pietro Beaumont.
— Isso eu já sabia. —Sorriu o outro — Agora a questão é : que plano?
— Basicamente seria para manter Stiles e Derek na linha, evitar que façam uma besteira, principalmente besteiras que envolvam sexo em público, por exemplo.
O atendente tinha acabado de voltar do almoxarifado, ficou meio abobado, afinal só pegou a parte final da conversa.
Pietro cocou o queixo, nem notando que o estava sujando de açúcar.
— Isso será uma tarefa difícil, posso ouvir a pulsação daqueles dois, parece que estão com uma verdadeira escola de samba dentro de seus peitos! Eu não sou muito de me opor ao poder glorioso do amor, além disso, sei que Derek pode me morder depois, só por me intrometer e eu não estou falando no sentido figurado... Derek, com certeza, irá me morder!
— Acho que não devemos esquecer de algumas coisas... — Aby levantou o seu dedo indicador — Primeiro, Stiles é menor de idade. — Outro dedo foi levantado — Segundo, ele é filho do xerife desta cidade. — Mais um dedo, continuando a sua contagem — E por último, se você realmente se importa com seu amigo, principalmente levando-se em consideração que é bem provável que o pai do Stiles vai cortar as bolas do Derek e não estou falando no sentindo figurado, então, acho melhor ajudar e jogar água fria no fogo deles!
Pietro soltou um grande suspiro, sabendo que não poderia se opor ao plano, ainda mais...
— Você fica muito sexy quando tem essa atitude toda profissional... — Resmungou, corando imediatamente, logo em seguida, ao perceber que tinha revelado seus pensamentos em voz alta.
— Não me faça jogar água fria em você também. — Ameaçou Abraham, mas o rubor de suas bochechas podiam indicar embaraço e não fúria.
O vampiro deu um meio sorriso em sinal de desculpas.
— S-seu pedido, senhor. — O pobre atendente interrompeu o casal para indicar a pequena montanha de doces escolhidos por Pietro. Aby mirou a pilha com assombro.
— Obrigado! Acho que isso vai dar, pelo menos para parte do filme...
— Acho que o seu treinamento deve se estender para uma dieta. — Analisou o caçador, pensativo.
— D-dieta? — O tom suplicante na voz de Pietro parecia ter motivado Abraham o suficiente, pois este sorriu decidido. Naquele momento o vampiro, ser sobrenatural que por séculos gerou medo na humanidade, sentiu verdadeiro temor com a possibilidade de perder seus amados doces.
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— Hum... O que acha que devemos assistir? Pelo visto, tivemos a sorte! — Disse Stiles analisando os cartazes dos filmes, consciente que segurava a enorme mão de Derek. Se estava feliz? Sim, parecia algo tolo e sentimental, mas esses pequenos gestos eram o que indicavam que ambos estavam começando a se acostumar com a presença um do outro — Hoje irá ter sessões de filmes antigos! Já sei o que vamos ver! — Apontou animado para um cartaz.
Derek soltou um baixo rosnar. Era o cartaz do filme " The Wolfman" (o lobisomem), feito em 1941. A imagem de um homem estupidamente peludo era o perfeito estereótipo inicial dos lobisomens compartilhado pela a humanidade e ali estava no cartaz, parecia estar provocando o Hale
— Não! — Falou em um tom decidido.
— Ora, não seja um sour-wolf! Deve ser algo bastante instrutivo!
— Isso é tudo uma grande mentira, Stiles! Foi por causa de filmes como este que os lobisomens sofreram tantos preconceitos no passado e até hoje em dia. Somos representados como animais irracionais quando transformados em lobos, capazes de atacar a tudo e a todos sem distinção...
— Bem, nunca olhei muito para esse ponto de vista.
— Agora entende por que não podemos ver o filme, não é?
— Entendo a sua opinião, mas ainda acho que devia ver o filme.
— Hã? Por que?!
Stiles sorriu de um modo que fez o coração do lobisomem acelerar por alguns segundos.
— Talvez, ao invés de ver o filme como uma medonha arma racista, podia vê-lo como uma comédia. Além disso, pode-se tirar diversas interpretações desses tipos de filmes, por exemplo, creio que os filmes de lobisomem não falavam de lobisomens em si e sim do medo que a humanidade tem de seu lado animal e irracional a qual é incapaz de controlar. Como os vampiros seriam a representação de nossa atração pelo mistério e a luxúria... Criamos reflexos de nossa natureza em vocês. Se temos algum preconceito, diria que seria mais voltado para nós mesmo do que aos seres sobrenaturais.
Derek ficou abismado com aquela explicação. Primeiro, não sabia que Stiles podia desenvolver um pensamento tão profundo e segundo, não queria admitir em voz alta, mas também nunca tinha analisado o gênero Terror/ficção desta forma.
— E deve ser bastante engraçado ver um filme de lobisomem com um lobisomem, tipo... Seria meio que um paradoxo!
— Vocês humanos veem filmes com humanos o tempo o todo, não vejo como isso seja um paradoxo...
O garoto fez biquinho.
— Você entendeu o que eu quis dizer! Aposto que nunca assistiu nenhum filme com lobisomens!
Como resposta Derek soltou um grunhido que podia ser interpretado como uma confirmação.
— Perfeito! Já sei que vamos fazer em nossos próximos encontros! — O adolescente, em seguida, abaixou a cabeça, as pontas de suas orelhas ficaram avermelhadas — Isto é, caso você queira outros encontros... Digo... Você deve ser um cara bem ocupado, no sentido que com todos esses músculos e cara de perfeito personagem de romances eróticos (não que eu leia essas coisas, lógico!), deve ter milhares de garotas na sua cola para sair e...
Derek deixou um sorriso se formar em seus lábios. Se aproximou no nervoso e tagarela companheiro e sussurrou em seu ouvido.
— Minha agenda está totalmente livre para você, Stiles...
Stiles soltou algo parecido com um soluço. O lobisomem puxou o garoto para perto de si. Como já estava perto o suficiente, deixou que sua cabeça caísse sob o ombro do menor, buscou o pescoço. Aquele local sempre o atraia. Seu nariz roçou na pele branca –não, agora já estava com uma tonalidade escarlate –, saboreou o cheiro do seu humano. Seu lobo ansiava para marca-lo.
— Derek... — A voz de Stiles não era mais do que um misero sussurro. Sentiu uma das mãos do adolescente segurando fortemente a sua jaqueta de couro.
O Hale se entregou ao momento. Lambeu a pele exposta e Stiles ainda teve a audácia de deixar cair a sua cabeça para o lado, expondo ainda mais o pescoço. Um sinal de submissão. Seu lobo interno rejubilava de excitação e alegria.
O momento perfeito foi destruído quando algo acertou-lhe o rosto. Uma vez. E mais outra.
Derek rosnou, levantou a cabeça unicamente para receber um ataque do projetil açucarado bem no olho.
Uma jujuba.
— Sinceramente, não posso deixar vocês sozinhos por alguns minutos! — Ralhou Abraham, o saco de jujubas em suas mãos. As armas do crime.
— E-ei... Aby, querido... Não gaste todas as jujubas, sim? — Pediu Pietro meio desesperado.
Derek rosnou mais uma vez.
— O que você pensa que...
— Quieto, Rex. Se não quer que sua salsicha seja doada para lanchonete para servir como hot-dog, melhor conter a sua libido!
— Como é que é?
—AH! — Interrompeu Stiles se afastando, um pouco relutante, do abraço apertado de seu "amigo" Hale — Já decidimos o filme que iremos assistir! Será "The Wolfman"!
Abraham arqueou as sobrancelhas.
— Sério?
— Aw.... Mas eu queria assistir "Drácula". — Fez biquinho, Pietro.
O caçador mirou incrédulo a seu companheiro.
— Sério isso?
— O que? — Deu os ombros — Adoro aquele filme, decorei todas as falas. Espera... — Pigarrou — "Eu nunca bebo... Vinho." — Disse em um perfeito sotaque arrastado Austro-húngaro, tal como Béla Lugosi, o ícone ator do dito filme, além de imitar seus gestos, só faltava a capa e o cabelo penteado com bastante laque.
Derek levou a mão ao rosto, meio embaraçado pela a postura de seu melhor amigo.
— Bem, na próxima vemos esse! — Prometeu Stiles para o desespero do Hale e talvez do próprio caçador.
— Pois se querem continuar com essa loucura, devemos comprar os bilhetes, não é? — Disse o loiro.
Derek notou algumas coisas, primeiro Stiles sussurrar um agradecimento ao seu amigo humano e segundo...
Por que tem uns policiais na porta do cinema fingindo admirar alguns cartazes?
Isso era estranho...
— Vamos, Sour-wolf! Quero pegar um lugar bem na frente! — Falou Stiles animado o arrastando para bilheteria. Tentou dissipar as suas preocupações, na verdade, apesar da escolha nada conveniente de filme e da presença de Pietro e Abraham para interromper os seus "Momentos", estava se divertido. Talvez pela a primeira vez em muito tempo...
Notas de autora:
Owtttttttttttttttt
São fofinhos juntos, não?
Gostam de filmes antigos? Pois eu gosto e muito!!
trailer dos dois filmes que citei!
Simplesmente amo o drácula (decorei algumas falas também!)
Bem, espero que estejam gostando!
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