Enquanto estacionavam aonde parecia ser mais uma casa nos subúrbios de Beacon Hills. Como se refere a "mais uma casa", significa uma casa típica americana, de dois andares, grama bem aparada, cercas brancas marcando o perímetro e uma mini bandeira dos Estados Unidos hasteada na entrada, logo ao lado da porta. Ou seja, tudo isso conferia um clima de segurança e tranquilidade. Ao ponto de ignorar a inconveniente verdade que aquela casa albergava representantes da proeminente família de caçadores de lobisomens: Os Argent.

– Parece tão normal... – Comentou Stiles, não ocultando a decepção em sua voz.

– O que esperava? – Resmungou Abraham ao seu lado – Uma fortaleza com crânios de lobisomens assassinados na entrada?

– É...Algo do tipo... – Sussurrou Scott que também observava, junto com Stilinski, a casa de Allison, pela a janela do jipe azul.

Aby rolou os olhos.

– Esqueceram que os clãs de caçadores foram desfeitos depois do tratado de paz? Agora todos os caçadores estão sendo reintegrados na sociedade. Em outras palavras, não existem caçadores ativos, atualmente! Os Argents que estão aqui são apenas uma família comum tentando viver de forma normal, isso significada: nada de crânios na entrada de suas casas!

– Ainda bem. –Suspirou aliviado Isaac que também observava a casa verificando algum traço que indicasse que ali era a sede de um lar de caçadores.

– Bem, então...Vamos iniciar o plano, não é mesmo? – Anunciou Stiles todo animado – Vamos nos encontrar com a equipe tática!

– Só você mesmo para ficar entusiasmado em uma situação delicada como essa. – Resmungou Aby.

Se Stiles o ouviu, não expressou, já que o garoto já tinha saído do jipe rumo ao carro branco de marca Porsche 911 estacionando logo atrás. Ao se aproximar, o quarteto foi recebido pelo o olhar azedo de uma ruiva ao volante.

– Perfeito! Era isso que queria fazer em meu fim de semana: agir de forma suspeita em um bairro de família. Eu podia estar fazendo as unhas, mas não! Eu podia estar fazendo compras, mas não! Espero que ninguém chame a polícia! – Ralhou Lydia.

– Se a polícia fosse chamada, seria algo engraçado de se ver...Não é mesmo, Marcus? – Piscou Stiles para o rapaz-tubarão, sentando ao lado da ruiva. Este tinha um olhar ainda mais azedo que a humana.

– Oh! Sim, seria muito engraçado...Hilário até! – Os dentes de Marcus Sharkes já tinham se transformado em seu formato triangular e pontiagudo, pronto para abocanhar a sua presa, que no caso, muito provavelmente, seria Stiles.

– Pois é...Ainda mais, sendo você um recruta da academia de polícia de Beacon Hills. Imagino como seria a cara dos seus "senpais" ao te verem aqui! – Provocou risonho.

– Stiles, não cutuque a onça...Ou melhor, o tubarão, com vara curta. – Sugeriu Scott.

– E você sendo o filho do xerife e namorado de um Hale, acho que você está duplamente mais encrencado que eu, Stilinski. – Rosnou Marcus.

– Isso só ocorrerá se nós fomos pegos. – Frisou Stiles – E depois dizem que eu que sou a rainha do drama? Pessoal, vamos acalmar os ânimos, sim? A polícia não irá ser chamada, iremos executar o plano e nenhuma encrenca irá ocorrer, capiche?

– E falando em encrenca... – Sussurrou Danny do banco traseiro, ocultando parte do seu rosto moreno pelo seu notebook aberto em seus colo – Pensei que meus serviços não mais seriam...Como posso dizer...Requisitados.

– Danny, você não está aqui obrigado. – Falou Aby cruzando os braços diante do peito – Pode sair a hora que quiser. Em outras palavras: A porta da rua é a serventia da casa.

– E-eu não quis dizer que iria abandonar vocês! Eu só...Bem...Quando fui pego antes por minhas atividades, sei o quanto a minha família se decepcionou com minha atitude, não quero decepciona-los novamente.

– Olha, sei que o estamos fazendo pode parecer ilegal... – Começou a falar Stilinski.

– Não parece, é. – Corrigiu Marcus, mas Stiles continuou falando ignorando aquela interrupção.

– Mas estamos fazendo isso para um bom objetivo. Justiça. Não só para Aby e Allison, mas para a paz instituída pelo tratado. Há 10 anos atrás, essa oportunidade de humanos e seres sobrenaturais viverem juntos e serem amigos...E agora frequentarem a mesma escola? Isso não existia! Não podemos esquecer que atualmente temos o aditivo de os filhos dos caçadores poderem interagir conosco! Dando uma outra oportunidade além de perpetuarem o ciclo vicioso de caçar e ser caçado! Queremos que essas conquistas sejam retiradas? Eu não quero! Sua família não deveria sentir vergonha do grande hacker que você é, ainda mais, quando suas habilidades estão sendo utilizadas para o bem!

– Apoiado! Stiles para presidente! – Gritou Ethan que estava ao lado de Danny, até o momento o jovem seriano estava silencioso enquanto lia Percy Jackson (recentemente ele descobriu a existência da saga do filho de Poseidon e agora estava viciado).

– Por favor, Ethan, não deseje algo que pode se arrepender depois. – Resmungou Marcus.

– Obrigado pelo voto de confiança! – Disse Stiles – Você reclama demais, Shark-boy! E qual é o seu motivo de estar aqui? Você nem foi chamado...Ou seja, você se ofereceu!

– Pois é...– O tritão deu os ombros – Eu já estou envolvido nessa confusão até o pescoço, mesmo assim, eu me comprometi em ser o "irmão mais velho", não é mesmo? Em tentar "guia-los". Ou melhor, tentar servir de babá! Eu não ficaria bem com a minha consciência se deixasse um grupo de adolescentes se metendo com uma família de caçadores que porventura possam ser os culpados de um assassinato! Além disso, Ethan resolveu acompanha-los...Não podia deixa-lo sozinho!

– Owt...– Falou Lydia – Em resumo, ele fez isso para proteger o seu querido namorado! Que fofinho!

– Pois é...– Agora Marcus pareceu ter ficado constrangido, até olhou pelo retrovisor o seu amado seriano, mas esse...

– Ai Percy, você é tão engraçado...– Ria Ethan voltando a submergir no livro infanto-juvenil. Marcus rosnou, será que seria imaturo da sua parte sentir ciúmes de um personagem imaginário?

– Certo! Vamos parar de enrolação. – Cortou Aby, impaciente – Vamos recapitular o plano. Alguns de nós iremos falar com os Argents e os outros irão documentar a nossa entrevista. Por isso, Danny está aqui, a câmera escondida pertence a ele... Devemos analisar com cuidado as informações e provas que iremos obter deste encontro.

Stiles assentiu, era um bom plano, menos complicado do que a invasão ao departamento de polícia. A diferença era que iriam interrogar ex-caçadores, sem tentar levantar muitas suspeitas... Pelo menos, não antes de descobrir se eles estariam envolvidos, de algum modo, com o Kanima e seu mestre.

– E quem irá encontrar com os Argents? – Indagou Isaac, pois esse ponto não fora discutido entre eles.

– Eu, obviamente. – Declarou Abraham – Eu conheço a família, principalmente os pais de Alison.

– Concordo. – Disse Lydia – E o próximo candidato seria?

– Eu! – Anunciou Scott levantando a mão, como tivesse chamando atenção de algum professor imaginário.

– Você sabe que, só por ser o namorado da Alison, não é obrigado a participar diretamente...– Falou Stiles, meio preocupado – Tipo, não se trata de um evento de "apresentação para o sogrão!". Ou seja, não iremos discutir a sua relação com a Alison com o papai Argent... O que seria muito estranho de fazer. Seria tipo, uma versão sobrenatural do programa Casos de Família!

– Exato. Isso só complicaria as coisas. – Reclamou Aby – E não esqueçamos que eles foram caçadores de lobisomens! Trazer um lobisomem para o seu lar... Pode ser uma grande afronta.

– Mas por eu ser um lobisomem é que me ofereci! – Insistiu Scott – Pois, posso ouvir se eles estarão mentindo ou não!

Agora o Van Helsing soltou algo muito parecido com uma risada, mas não era dotada de alegria e sim de escárnio.

– Irei repetir: eles foram caçadores de lobisomens. Acho que eles sabem muito bem lidar com essa habilidade inconveniente do licantropos.

Scott abria a fechava a boca, tal como um peixe fora d'água, já tinha observado o seu amigo agir desta forma outras vezes. McCall estava querendo argumentar sobre a questão, mas como não tinha nada a dizer que fosse suficientemente bom para convencer o ex-caçador, o garoto ficava assim...Abrindo a boca, tentando expelir alguma palavras, e depois a fechando com frustração. Era meio engraçado de se ver nos primeiros segundos, mas depois que tal ato se repetia várias vezes, passava a ser meio irritante.

– Olha, pensando bem...Talvez não fosse uma má ideia o Scott vir conosco. – Sugeriu Stiles, ganhando um sorriso de alivio por parte do seu amigo lobisomem, quase se podia materializar a visão de um cachorrinho (ou lobinho) abanando o rabo de felicidade.

– Oh! É mesmo? – Aby estava sendo sarcástico e o seu nível era bem diferente de Stilinski, afinal, o sarcasmo de Abraham era afiado tal como uma espada de um samurai (Katana)! Se não tomar cuidado, você pode acabar se machucando...Ou tendo a cabeça decepada a la Kill Bill.

– Sim. É mesmo! – Insistiu Stiles, não vacilando diante do olhar crítico do amigo – Qual opções que temos? Isaac também é um lobisomem. Lydia...

– Oh! Não querido! Eu sou só o suporte tático, ajudei a formular o plano, mas trabalho braçal? De jeito nenhum! – Cortou a garota jogando o seu cabelo para trás, em um movimento dramático.

– Marcus?

– Eu prefiro evitar a fadiga. – Respondeu o Tritão com um meio sorriso de deboche – Ainda mais, tal como Lydia, desejo só dar suporte técnico, não quero ser reconhecido pelos caçadores que podem muito bem dar parte na polícia depois desta tal "entrevista".

– Ethan?

– Eu? – O loirinho levantou o seu olhar do livro – Não! Não! Bros...Muita energia negativa! Tipo, estou aqui para dar suporte espiritual, emanando boas vibrações para que o plano ocorra dentro dos conformes! E eu posso achar super tranquilo ser amigo do Aby e Allison, agora...Falar com ex-caçadores...Assim, cara a cara? Mô bad vibe, mano! Acho que eu iria me mijar todo!

– Ok! Já entendi! – Interpôs Abraham – Estamos sem opções. Certo. Scott parece a opção menos pior.

– Nossa! Obrigado! – Scott respondeu com tamanha alegria que demorou para entender o significado daquelas palavras – Espera...Acho que eu deveria me sentir ofendido, não?

– E o terceiro membro será... – Van Helsing olhou para Stiles que, por sua vez, ergueu as sobrancelhas.

– Eu?

– Não, a minha avó, logico que você...Como pode ter visto, estamos sem voluntários e...Bem... – Aby fingiu tossir e logo em seguida falou rapidamente – Vocêéamelhoropção.

– Uou! Espera um pouco? Eu sou? – Stiles estava sorrido todo convencido.

– Apesar de tudo, e quando digo tudo me refiro a sua personalidade e seus estranhos hábitos alimentares! Você parece ter um dom para improvisação e criatividade. – Admitiu Abraham enfiando as mãos no casaco, um certo rubor se alastrou por suas bochechas – Esse dom é por demais imprevisível, eu sei... Ainda mais, levando-se em conta que você é uma espécie de imã sobrenatural para encrencas, mas, não podemos negar que...Até o momento...Você foi bastante útil...Então...

– Espera... – Fungou o garoto, fingindo limpar as lágrimas inexistentes dos olhos – Essa foi a declaração mais fofa que recebi. Repita tudo de novo, enquanto eu filmo tudo. Principalmente a parte que você diz..."Stiles, eu te amo!".

– Nem a pau! – Aby praticamente rosnou – E que diabo de parte é essa? Eu não disse nada disso!

– Sabe? E estou começando a shippar vocês! – Opinou Lydia sorridente.

Em resposta de tudo aquilo, Aby levantou os dois dedos do meio, apontando para todos os seus supostos amigos, e logo se virou, a passos pesados e firmes, se direcionando para a casa dos Argent.

– E aí? – Inqueriu Stiles para Danny, segurando uma bolsa de ginástica em seu ombro, a qual a extremidade, ocultado pelo logotipo da Nike estava as lentes da câmera escondida – Me diz que você filmou isso?

Danny deu um tremendo sorriso.

– Com certeza.

– Vocês não prestam... – Comentou Marcus, mas o tubarão estava tentando não rir, algo que estava falhando indubitavelmente.

~**~

A entrada da casa parecia, como mencionada anteriormente, normal. A não ser pelo símbolo da cabeça de um lobo na maçaneta da porta.

– Deixem que eu fale, ok? Allison estará lá dentro, nos ajudando, mas só eu e ela sabemos como lidar com a dinâmica de uma família de caçadores. – Disse Aby se preparando para bater – Nada de piadinhas!

– Por que você está falando isso olhando para mim? – Resmungou Stiles – Scott também pode soltar um comentário engraçado, sabia?

Scott estava no momento testando o seu hálito, ou seja, soltando o seu bafo na mão e depois cheirando, totalmente ignorando a conversa trocada entre os dois humanos.

– Viu? Hilário! – Riu Stilinski, infelizmente Aby não compartilhou do evento cômico.

– Que os deuses nos ajudem... – Sussurrou Van Helsing III batendo na porta.

Não demorou muito para que a porta fosse atendida por um homem, alto, cabelos castanhos claros, meio grisalhos, barba por fazer, olhos verdes límpidos e...Portando uma faca afiada.

– Meu santo Michael Myers! – Exclamou Stiles, saltando para trás de Abraham. Scott tinha paralisado, mirando, com a boca aberta (talvez ainda estivesse testando o seu bafo), a longa faca.

– Aby? Que surpresa você por aqui...E...Acompanhado, pelo visto. – Notou o homem, sem abaixar a faca que segurava. Seus olhos pareciam fazer uma varredura minuciosa nos desconhecidos, algo que deixou Stiles meio desconfortável.

– Oi tio Chris. – Saldou Abraham – Será que podemos entrar? Allison havia nos chamado para visita-la, sabe?

– Sério? O engraçado é que ela não me falou nada a respeito. – Chris se apoiou na porta, servindo de evidente obstáculo para os garotos entrarem.

Aby rolou os olhos.

– O que você quer?

– Que tal uma competição de lançamento de adagas? Faz tempo que não competimos, Aby.

– Isso porque você não sabe perder. – Sorriu Abraham.

– Mais, respeito, Van Helsing! Quiçá eu possa errar o alvo e acertar um certo garoto falastrão? – Alertou Chris apontando a faca para o adolescente que apenas riu.

– Até parece, velhote. Você sempre foi melhor com armas do que com lâminas!

– Isso é verdade. –Riu o Argent.

Stiles e Scott estavam boquiabertos. Esse era o tipo de interação entre caçadores?

– Pai! – Allison aparece empurrando Chris para o lado, desobstruindo a porta de entrada – O que falei sobre tentar intimidar os convidados?

– Eu, intimidando o Abraham? Até parece! – Riu o ex-caçador.

– Não ele... – Frisou a menina mirando os outros convidados de fato. Scott tinha evoluído (ou regredido) para a sua forma Chihuahua e Stiles ainda se escondia atrás de Abraham, o que era estranha, já que era evidente a diferença de tamanho entre eles.

– Bem... Não era a minha intensão. Essa faca pode ser bem afiada, mas não é usada para machucar ninguém, muito menos lobisomens. – Falou isso piscando para Scott que tremeu e soltou um baixo ganido (definitivamente era um chihuahua).

– Entrem. – Mandou Allison praticamente arrastando os amigos para dentro da casa. Stiles, novamente, se decepcionou, pois esperava alguma mudança quando finalmente adentrassem no covil, ou melhor, casa, dos Argent. Contudo, parecia uma casa comum de uma família de classe média. Havia muitos vasos com flores azuladas e púrpuras. Scott estendo a mão para tocar em uma delas, mas foi contido por Allison.

– Não faria isso se fosse você. – Disse ela, em um tom nervoso.

– Por que?

– Aconitum...Ou melhor, Wolf bane. – Respondeu Abraham – Em outras palavras...

– Flores venenosas? Que forma interessante de decoração. A pessoa se sente realmente bem-vinda! – Comentou Stiles.

– Venosas sim. – Chris – E mortais para os lobisomens. São as flores símbolo da nossa família.

Scott engoliu em seco, talvez tenha sido uma péssima ideia ter se oferecido para participar daquela missão.

– Então, vocês seriam? Desculpe, mas gosto de saber com quem a minha querida filha anda se divertindo, sabe? Sou um pai meio coruja.

– Sou Stiles Stilinski e esse é Scott McCall. – Se apresentou, já que Scott parecia ter perdido a língua.

– Os filhos do xerife? – Indagou o Argent erguendo uma sobrancelha.

– Eu não sou...Digo...Biologicamente falando... – Scott começou a falar, mas foi interrompido por Stiles.

– Sim, somos filhos do xerife.

Scott deu um pequeno sorriso, era meio estranho explicar a sua relação com o xerife, já que, legalmente ele não era adotado por John Stilinski, mas este o tratava como um filho o apresentando como tal para todos. Isso alegrava o jovem lobisomem, pois poderia dizer que tinha um pai de verdade, fazendo esquecer o vazio que sentia ao recordar do abandono por seu pai biológico.

– Que honra. Sentem e fiquem a vontade... Irei retornar aos meus afazeres e...

– Na verdade, pai... – Allison o interrompeu, parecendo meio relutante no que iria falar em seguida – Nós gostaríamos de falar com você sobre um assunto meio delicado.

– Delicado? – Chris estreitou os olhos.

– Bem... – Antes que ela pudesse explicar uma nova residente adentrou na sala e ao fazer isso soltou um grito.

– Um lobisomem! – Exclamou apontando para Scott – Chris, Allison...Para trás! Como você entrou aqui, criatura vil?

A mulher já tinha segurando um vaso das flores malditas e estava prestes a lançar em Scott.

– Mãe! Não! – Allison se posicionou na frente do namorado.

– Victoria. – Chris soltou um suspiro cansado – Ele é um convidado, amigo de nossa filha.

– Amigo? Ela tem um amigo...Lobi...Lobi... – Aquilo parecia ter causado um curto circuito no cérebro da senhora Argent.

– Obvio, se ela está estudando em uma escola para seres sobrenaturais e em uma cidade onde grande parte da população é sobrenatural... Era lógico que ela fizesse esse tipo de amizade. – Disse Chris de forma ríspida – Foi por esse motivo que nos mudamos para cá, lembra? Eliminar antigos preconceitos e passar conviver em harmonia.

Victoria, muito lentamente, abaixou o vaso. Seus olhos castanhos estavam cravados em Scott e esse sentiu um grande impulso de rosnar, era como tivesse diante de um perigoso predador. Chris não emanava aquela aura ameaçadora, mas Victoria parecia a personificação daqueles sinais de alerta de perigo.

– Pois bem. – Pigarreou Chris – Por que não vamos a cozinha? Podemos conversar enquanto trabalho...

– Certamente. – Concordou Aby, enquanto ele e Allison conduziam os amigos para outro compartimento da casa, sendo seguidos com o olhar por Victoria Argent.

~**~

– Peço perdão por ela. – Falou Chris enquanto vestia um avental preto – Toda essa mudança de Paris para os Estados Unidos e agora Beacon Hills? Isso não fez bem aos seus nervos... Ainda tem o problema sobre a perda de seu poder.

– Poder? – Perguntou Stiles com curiosidade.

– Os Argent são uma família formado por matriarcas. Ou seja, as mulheres assumem a posição de liderança, cabendo os homens o cargo de guerreiros subalternos. São as mulheres da família que dirigem as atividades do clã... – Explicou Allison – Com o tratado, toda essa linha de hierarquia foi desfeita...E minha mãe, foi destituída de seu título.

– Ela tinha muita influência dentro do nosso clã, na Europa. – Recordou Chris – Deve ser um grande impacto para ela, mas creio que é uma mudança para melhor. O poder a estava fazendo se transformar em algo muito semelhante ao que os Argent tinham prometido combater: monstros...Bem...Não foi para isso que vieram aqui, presumo.

– Não. – Aby sentou perto da bancada de trabalho de Chris – Mas acho que você já deve ter uma ideia o motivo de nossa visita.

– Sei? Vocês são apenas crianças. O que crianças teriam que conversar com um caçador aposentado? – Riu Chris enquanto retirava uma espécie de papel verde de um contêiner, só então, Stiles notou que era algas. Havia outro contêiner contendo arroz recém feito, além de postas de salmão.

– Você é um sushiman!? – Meio perguntou, meio afirmou, Stilinski.

– Oh! Sim...Na verdade, estou estudando gastronomia. – Respondeu sem interromper o seu trabalho de cortar, com extrema destreza e delicadeza, as postas de peixe – Trata-se de algo que sempre quis fazer, sabem? Mas nascer em uma família de caçadores meio que te impedem de seguir determinadas profissões que não sejam caçar e matar. Meu pai achava que gastronomia era para frescos...E com o tratado de paz, me vi livre para seguir um profissão não-violenta e menos mortífera.

– Bem, menos violenta e mortífera? Isso depende do referencial, acredito. – Disse Stiles – Acho que se você perguntar para os peixes, galinhas e porquinhos e vaquinhas, eles terão uma opinião diferente quanto a isso.

Chris paralisou enquanto cortava um dos rolinhos de sushi. Virou o rosto para encarar o adolescente, este engoliu em seco, pode ver Abraham levando a mão a testa, em um sinal clássico de "Stiles, seu idiota!".

Para a surpresas de todos o senhor Argent gargalhou.

– Ally, seus amigos são estranhos... – Concluiu Chris voltando ao que estava fazendo, para o alivio de todos.

– Bem...Qual seria, então, o motivo da visita?

Aby e Allison trocaram olhares, por fim, o Van Helsing decidiu tomar a iniciativa.

– Tio Chris, você deve saber do vampiro que morreu na reserva.

– Sim. Um ato lamentável, devo dizer.

– Não foi uma simples morte, foi um assassinato. Uma estaca foi encontrada no local do crime. – Novamente, Chris interrompeu a sua ação, com força, fincou a ponta da faca na tábua de madeira aonde estava desempenhando suas atividades de sushiman.

– Uma estaca?

– Uma estaca forjada por minha família.

Chris se virou e encarou Abraham, de modo que o garoto teve dificuldade de sustentar o olhar intenso de Chris Argent.

– Abraham, como você sabe de todos esses detalhes, imagino que o departamento de polícia não esteja divulgado esse tipo de coisa por aí. – O ex-caçador deixou seu olhar vagar para Allison (que optou por mirar os seus próprios pés do enfrentar o olhar fulminante do seu progenitor), depois para Scott que soltou um ganido e por fim, parou em Stiles.

– Sim, não estão divulgando esse tipo de coisa por aí! – Confirmou Stilinski, tentando ignorar a pressão invisível que sentia ao se submeter ao olhar de Chris. Sim, ele já estava acostumado com olhares severos, afinal, John Stilinski tinha um grande reportório deles, mas o olhar de Chris era bem mais intenso, era como se tivesse vendo as mentiras dentro de sua alma, o forçando confessar. Será essa uma habilidade natural ou tinha adquirido após anos caçando lobisomens?

– Você deve entender, que Aby ficou em uma situação difícil por causa desses acontecimentos. Afinal, ele é um Van Helsing, supostamente, o único Van Helsing em Beacon Hills. – Continuou falando – E a polícia sequer o chamou para depor ou mesmo analisar a estaca...Por isso... Nós...

– Ouvi falar que o departamento de polícia foi invadido, dias atrás. – Comentou Chris, interrompendo o tagarelar de Stiles.

– Pois é...

– Vocês roubaram a evidência da polícia? Crianças... Isso é muito grave!

– Não roubamos! – Interpôs Scott – O Kanima é que roubou!

– Kanima... – O ex-caçador levou a mão ao queixo, coçando a sua barba – Impossível...Isso é muito raro de acontecer. Mesmo para a minha família, que a mais de 200 anos caça lobisomens, enfrentamos muitos poucos Kanimas.

– E isso não é tudo, pai. – Allison falou – Antes que a estaca fosse levada, ele conseguiu analisa-la, comprovou que de fato fora forjada pelos Van Helsing, mas não pertencia a eles, digo, era o tipo de estaca que é dada para membros importantes da comunidade dos caçadores...Como presente...E...E...Havia um brasão de nossa família nela!

Agora sim Chris parecia surpreso. Rapidamente foi até a porta da cozinha e a fechou. Depois retornou para o grupo de adolescentes, com um olhar alarmado.

– Aby, você tem certeza disso?

– Sim, eu tenho. Sei o brasão de todas as famílias de caçadores e principalmente dos Argents, afinal, vocês são os nossos aliados.

Chris passou a mão sobre o rosto, que começava a suar.

– Vocês falaram para a polícia sobre isso? – Inqueriu em seguida.

– Se tivéssemos, acha mesmo que estaríamos aqui? – Soltou Stiles.

– Pai...Me diz...Você tem algo a ver com tudo isso? Ou a mamãe?

– Ally?! – Chris parecia que fora atingindo com um soco no estomago – Eu nunca... Allison, nós viemos para os Estados Unidos justamente para escaparmos da influência de nossa família, para tentarmos ter outra oportunidade que não seja associado a caça! Queria te dar um futuro que você pudesse escolher, minha filha. Eu prometi nunca mais caçar!

– Então... Existem outros Argents no EUA? – Perguntou Stiles.

– Bem...Eu não fui o único a emigrar, mas... Para ter uma estaca forjada pelos Van Helsing, essa pessoa teria que...– Chris estava pensativo, mas logo sua expressão mudou de contemplação para tristeza e raiva – Não pode ser...

– O que? O que não pode ser? – Insistiu Allison, em desespero.

– Crianças, esse assunto é muito sério, entenderam? Estamos lidando com pessoas muito perigosas. Devem entender que muitos caçadores não concordaram com o tratado...

– Então, são caçadores os culpados! Eles controlam o Kanima? Estão querendo, de alguma forma, enfraquecer o tratado? – Agora foi a vez de Stiles encher Chris de perguntas.

– O Kanima só tem um mestre. Vocês devem parar com essa brincadeira de investigação agora. – Disse Chris batendo com força na bancada, fazendo alguns sushis caírem no chão – Fizeram certo em vir me procurar, poderei lidar com isso, mas sozinho.

– Não! Pai! Isso não é justo, você tem alguma suspeita de quem seria os verdadeiros culpados! Deve contar para nós!

– E não estamos brincando, senhor Argent. – Scott falou, agora de forma séria – Isso é muito importante para nós. Abraham e Allison merecem saber a verdade, direta ou indiretamente estão sendo afetados pela conduta de membros de sua família. Aby foi atacado por vampiros, na escola, sabia disso? E se Ally também foi atacada por lobisomens demandando vingança? E não são só eles...Meus amigos que são seres sobrenaturais como eu, também estão em risco de serem alvos desses caçadores renegados. O que quero dizer é que estamos levando isso muito a sério! Ou seja, iremos continuar com a nossa investigação, com ou sem a sua permissão.

Ao falar isso, os olhos de Scott mudaram para uma tonalidade avermelhada. Fazendo Chris soltar um palavrão em francês.

– Um alfa... – Sussurrou, mas Stiles pode ouvir com clareza.

– Quero dizer... – Scott falou logo depois, seus olhos voltando a tonalidade natural – Não que eu esteja...Er...Sendo desrespeitoso em relação a você, senhor Argent...Digo...

Agora o lobo tinha regredido a sua versão Pinscher. Scott era um verdadeiro paradoxo canino-lupino!

Chris negou com a cabeça.

– Não...Eu fui errado por menosprezar o objetivo de vocês, mas...Não podemos negar a verdade que vocês são apenas crianças! Não sabem nem como se defender, muito menos como lutar contra um kanima!

– Então... Por que não nos treina? – Sugeriu Stiles todo sorridente – Assim, podemos saber nos defender! O que acha?

– Eu?

– Está vendo outro caçador aposentado por aqui? Alguém com conhecimento e experiência o suficiente para ensinar a jovens ávidos por aprender? – O adolescente olhou para os lados como tivesse buscando um voluntário invisível.

– Isso não seria certo. – Pigarreou Chris, não gostando de como aqueles garotos estavam conduzindo a conversa, ele era o adulto ali, devia ter alguma autoridade – Eu não devia estimula-los a se envolver em situações perigosas.

– Isso não irá impedir que situações perigosas venham até nos, tio Chris. – Falou Abraham – E acho que ao menos é isso que você deveria nos oferecer, tendo em vista, que você não irá nos informar as suas suspeitas, não é mesmo?

– Verdade, temos um grupo grande de adolescentes sedentários que precisam de instrução. – Suplementou Allison – Se algo ruim nos acontecesse, acho que você se sentiria culpado, não é mesmo?

Chris se sentiu encurralado. Talvez a sua aposentadoria o tenha feito ficar mais fraco, no sentindo de ser facilmente manipulável... Mas, não podia negar a verdade naquelas palavras. Aqueles garotos já estavam por demais envolvidos, principalmente a sua filha e o pequeno Aby.

– Está bem. Irei treina-los! – Disse por fim – Mas vocês devem me prometer que irão interromper a investigação de vocês por enquanto e também que não irão informar o que descobriram a polícia. Eu tenho que confirmar as minhas suspeitas antes que eu mesmo possa revelar as autoridades devidas o que diabos está acontecendo. Entenderam?

– Perfeitamente, professor Argent! – Sorriu Stiles.

Chris fez uma anotação mental...Tinha que ficar de olho naquele garoto de nome Stiles Stilinski. Afinal, percebeu com facilidade quem era o líder intelectual de toda aquela zorra.

~**~

– Mais um plano perfeitamente executado! – Falou Stiles, enquanto comia o sushi oferecido por Chris para os garotos.

– Perfeitamente? Bem...Não conseguimos os nomes dos suspeitos. – Resmungou Aby.

– Mas sabemos que são caçadores. – Disse Scott com boca cheia de sashimi.

– E ganhamos aulas de graça? Viu, só saímos na vantagem! – Completou Stiles.

– Bem, espero que saibam como tio Chris é exigente em seus treinos... Se sobreviverem ao final das aulas dele, veremos o realmente acham dessa nova vantagem.

– Exato. – Concordou Allison – Quando ele me treinava, ficava com hematomas por cima de hematomas...

Stiles sentiu um certo calafrio com aquela informação, mas também estava entusiasmado, tinham ganhando um novo aliado (mais ou menos) e conseguindo uma nova fonte de informações do mundo sobrenatural. Chirs pode não relatar abertamente as suas suspeitas, mas isso não significava que ele não podia ser seguido e vigiado. Não é mesmo?

Conforme alcançavam a equipe tática ansiosos para comemorar pelo o plano bem executado, perceberam que seus companheiros detinham uma expressão sombria.

– Ei, o que houve? – Quis saber ao ver que até Ethan parecia cabisbaixo.

– Algo ruim aconteceu... –Informou Issac indo recebe-los.

– Como assim? – Quis saber Scott.

– Estávamos ouvindo a frequência policial... – Disse Danny – Digo, eu meio que hackei a frequência, para sabermos se alguma viatura passaria por aqui e tal...Bem...Ouvimos que...

– Pelo tridente de Poisedon! – Rosnou Marcus – Houve outro assassinato na reserva! Como você tinha previsto que iria ocorrer, Stiles...Eles atacaram de novo!

Stiles sentiu seu corpo congelar e não foi só a paralisia, mas também a diminuição da temperatura. Literalmente se sentia se congelar.

– Um novo assassinato? E o quem foi...Desta vez?

– Um lobisomem. – Informou Lydia – Ele...Ele...

– Ele foi cortado ao meio... Com uma lâmina... Foi pendurado em uma árvore e...Eles...Ele...– Sussurrou Ethan, abraçando a si mesmo, como que para se proteger da imagem que vinha a sua mente da morte do lobisomem.

– Pendurado. Cortado ao meio. Lâmina, talvez uma espada. – Balbuciou Allison, empalidecendo a cada palavra.

– É a forma de execução dos Argent. Arcaica mais é sim a marca deles – Concluiu Aby.

– Uma nova mensagem para a comunidade sobrenatural. Agora parece bem clara. – Analisou Stiles, ainda sentido calafrios percorrendo o seu corpo – O tratado não os impede de matar...E de continuar caçando.

Chris Argent estava certo...Estavam lidando com indivíduos perigosos, mas não iriam fugir. Quem quer que fossem os reais culpados, eles deveriam ser capturados...Deviam pagar pelos seus crimes!

~~**Palavras da autora**~~~

Pessoal, principalmente para quem é novato, vou avisando que sim eu demoro para atualizar, ok? Principalmente quando tenho um compromisso relacionado com estudo e com a minha família. Mas mesmo que demore, fiquem tranquilos que a história será, cedo ou tarde, atualizada, ok? 

Bem, o suspense está aumentando! O número de aliados também... Espero que tenham gostado do capítulo!! Vejo vocês na próxima!!