A jaqueta
– Estou atrasado para a minha aula, já irei desligar...
– Derek Hale, nem pense em fazer isso!
A voz de sua irmã se fez ressoar, como badalar de sinos, em seu ouvido sensível lupino. Laura também era lobisomem, ou seja, ela sabia das consequências e logo fizeram aquilo de propósito. Derek simplesmente odiava quando ela gritava via telefone. Mas sabia que as implicações seriam bem piores se desligasse agora... Sua irmã era bem criativa em suas vinganças, afinal ele tinha um histórico de traumas infantis resultados dessas ditas "vinganças" articuladas por sua irmã mais velha.
– Certo, não vou desligar... –Resmungou, resignando – Mas você tem 5 minutos para dizer o que quer.
– Nossa! Que autoritário! –Derek pode ouvir a risada de Laura, rolou os olhos, talvez desligar agora não fosse alfo tão ruim, já era adulto poderia sobreviver a mais uma artimanha de sua irmã – Eu não posso nem ligar para o meu baby bro? Estou com saudades e...
– Nós nos falamos hoje de manhã! –Rosnou –Não faz nem meia hora que conversamos!
– Mentira! Se você define resmungar e lançar olhares ameaçadores como conversa... Além do mais, você não respondeu nenhuma de minhas perguntas!
– Eu tenho a opção de respondê-las ou não, esse é um país livre.
– Você está, estranhamente, muita na defensiva. Mais do que o normal! Está escondendo algo? Talvez esse algo ou alguém esteja relacionando pelo o desaparecimento da sua jaqueta de couro preferida.
– Laura, você é a policial, pensei que investigar fosse a sua área. Pois muito bem, investigue e descubra.
– Cuidado com que está pedindo, Der-Bear, sou capaz mesmo de iniciar uma investigação e sabes muito bem como levo a sério essas coisas.
– Essas coisas seria se meter na minha vida pessoal e privada?! –Novamente Derek rosnou, por que sua irmã não podia simplesmente ignorar o que ocorreu ontem à noite? O resto de sua família fez isso, apenas lançou olhares desconfiados pela evidência ausência de sua jaqueta, mas ninguém ousou perguntar...Lógico que Laura Hale nunca seguia tais regras familiares.
– Eu me preocupo com você, baby bro! –Quase podia imaginá-la fazendo biquinho – Além disso, ontem eu farejei algo estranho, em você...
– Estranho? Como o que?
– Bem, excitação...
Derek sentiu suas bochechas corarem, olhou para os lados alarmado, temendo que alguém pudesse ouvir tal conversa.
"Droga! Eu fiquei rondando com o carro quase que uma hora para ver se...Aquilo sumia!" O aquilo que ele estava se referindo era a embaraçosa ereção que tinha desenvolvido após conversar com Stiles. Ainda estava tentando entender o que realmente aconteceu na noite anterior. O encontro com o filho do xerife de algum modo despertou algo profundo e instintivo em seu interior. Podia sentir seu lobo ansioso e louco para buscar o irritante Stilinski. Mas por quê? Aquele garoto era o total oposto de Derek! Contudo, sua linha de pensamentos logo revelou outra coisa vergonhosa...
– Se você sentiu esse cheiro, isso significa que...– Balbuciou.
– Que toda nossa família também sentiu? Oh! A resposta é sim, baby bro! Essa é a desvantagem em viver em uma família de lobisomens, já devia estar acostumado com isso.
Derek levou a mão ao rosto avermelhado, já previa provocações futuras e além de perguntas inconvenientes.
– Então... Quem é essa pessoa capaz de causar tamanho efeito em você?
– Ninguém. –Rosnou.
– Seria alguém que conheço? Sabes que tenho as minhas fontes...
– Você não o conhece! – Infelizmente proferir aquelas palavras fora um erro.
– Oh! Já sei que é alguém do sexo masculino, possivelmente alguém novo na cidade...
"Droga!" Derek odiava quando sua irmã incorporava o Sherlock Holmes. Odiava ainda mais a si mesmo por deixar escapar aquelas pistas. Agora era só questão de tempo para Laura descobrir a verdade...
"Não existe uma verdade! Meu corpo estava agindo estranho...Deve ser algum efeito colateral provocado pela a proximidade da lua cheia..." Concluiu, todavia aquele diagnostico não lhe tranquilizava, sabia que havia mais profundo por trás daqueles atos. Algo que desconhecia... E temia descobrir.
– Laura, eu realmente não tenho tempo de brincar de detetive, tenho uma aula para ir...
– Ok! Ok! Você é tão nerd! Mas essa conversa ainda não acabou!
– Conversa? Parece mais um interrogatório...
– Eu te amo, Baby-bro!
– T– também te amo...– Resmungou Derek, por fim desligando. Soltou um grande suspiro, tentando relaxar seus ombros tensos.
– Derek? É você?
– Lógico que sou eu...– Ralhou o lobisomem, não precisava se virar para identificar quem se aproximava. Seu nariz sempre se certificava desta função, o cheiro de cada ser era como uma espécie de digital aromática, e aquele cheiro em especial era uma mistura de folhas secas do outono e brisa marinha. Uma distinta mistura, mas não se deve questionar os cheiros... Eles não seguem uma lógica, só caracterizam o ser a quem pertencem. Stiles, por exemplo, tinha um aroma semelhante as noites quentes do verão, adicionado com cheiro adocicado, como algodão doce, de modo que fazia Derek lamber os lábios, ansiando provar a pele do adolescente.
"O que eu estou pensando!?" Sacudiu a cabeça, tentando se livrar de tais linhas de pensamento. Não devia ter decorado o cheiro daquele garoto irritante tão rapidamente!
– Hum...? Você está bem? –Perguntou um rapaz de cabelos negros, amarrados em um rabo de cavalo, elegante, seu rosto demonstrava uma mistura de acedência latina e europeia, que geraram uma beleza exótica de modo que Pietro Beaumont se tornava um dos caras mais populares da faculdade.
– Estou ótimo! –Rosnou. Pietro deu um meio sorriso.
– Acordou do lado errado da cama? Seu sono de beleza não foi o suficiente para diminuir um pouco do seu contínuo mal humor? Ou você está chateado por perder sua jaqueta preferida? – Os olhos de íris escarlate ressaltavam por sob óculos escuros de Pietro revelando sua natureza vampiresca.
– Eu não perdi a minha jaqueta, ok? –Derek praticamente rugiu.
– Calminha! Você está quase se transformando em sua forma beta!
O lobisomem apenas continuou a rosnar, mas logo notou os olhares curiosos de outros estudantes para si. Inspirou fundo, tentou controlar sua pulsação e respiração.
– Ok! Você não perdeu sua jaqueta...Dificilmente você iria esquecê-la, então... Você deu a alguém? –Pietro analisou a situação, parecendo se divertir com o olhar furioso de seu companheiro.
– É só uma jaqueta! Por que vocês ligam para isso?
– Pela a dentadura do drácula! Você realmente deu para alguém!? Quem?!
– Pietro... –Primeiro Laura e agora seu melhor amigo? Será que todos querem se meter em sua vida pessoal tanto assim?
– Sério, Derek! Desde que te conheci você usa uma jaqueta de couro, tipo é como seu estilo, uma marca de identidade, ok? Lógico que todos irão estranhar quando, de uma hora para outra, você está sem ela. Deve ter um motivo!
– Não tem nenhum motivo...Eu só...– Achei certo dar para ele, queria que ele ficasse com ela. Lógico que não falou em voz alta aquelas frases, pois nem ao menos entendia seu significado. Uma coisa tinha certeza: seu lobo estava bastante feliz ao ver Stiles usando a sua jaqueta. Por fim, soltou um grande suspiro.
– Será que podemos mudar de assunto? Eu só quero ir para a aula e ter um dia normal...
– Um dia normal? Somos seres sobrenaturais, não temos dias normais! –Brincou o vampiro acompanhando o amigo. Derek tentou desfazer suas preocupações, podia comprar outra jaqueta... Talvez assim, diminuísse os olhares confusos e curiosos lançados a si.
– Alunos novos! –Uma voz feminina começou a falar no autofalante advindo do outro lado da cerca viva, a parte do instituto destinado ao ensino médio– Por favor se dirigir ao auditório!
– Soube que uns alunos "novos" ingressaram no instituto. –Começou a falar, Pietro, em um tom casual – Humanos, acredita? Será que eles irão sobreviver a nossa escola? Eles são tão frágeis e fofos!
Derek rolou os olhos com aquela descrição.
– Muitos destes humanos podem ser irritantes, tagarelas, intrometidos, teimosos, metidos a espertinhos e...
– Oh... Você está falando de alguém, especificamente? –O vampiro arqueou as sobrancelhas, espantando.
– Esquece... Vamos para aula! –Resmungou Derek querendo enfiar as mãos dentro dos bolsos de sua jaqueta, lógico que esqueceu totalmente do fato de não estar vestindo-a. Isso não passou despercebido por Pietro, que começou a gargalhar.
– Maldito Stiles... –Rangeu os dentes.
– Stiles? O que é um Stiles? –Inqueriu, curiosos o vampiro, ainda dando risadas.
– Exatamente... –Aquela resposta foi extremamente vaga, mas Pietro não iria abusar de sua sorte. Seguiu o rabugento amigo para o interior da faculdade, pressentia que aquele dia seria bem interessante.
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O auditório era imenso e moderno, algo que Stiles não esperava, levando– se em conta a arquitetura antiga da faixada. Os ditos alunos novos não eram muitos, logo não ocupavam nem 1/6 das cadeiras acolchoadas do local.
– Bem-vindos! – Anunciou uma mulher de cabelos negros e de baixa estatura, seus olhos castanhos pareciam amáveis, quase que maternais, contudo, também exibia uma autoridade e liderança. Stiles engoliu em seco quando ela lançou seu olhar sobre eles, parecia analisá-los, contudo o que deixou o jovem humano verdadeiramente nervoso foi quando ela parou justamente nele. Um leve sorriso se fez nos lábios dela –Sou Talia Hale, diretora do Beacon Hills Institute.
– Hale? Ela disse Hale? – Stiles não pode conter as perguntas que praticamente saltaram de sua boca.
– Cara...Será que ela é parente do Derek? –Sussurrou Scott, contudo o jovem Stilinski não o respondeu de imediato, pois notou que a diretora ainda continuava a observá-los. Será que ela os estava ouvindo com a sua super-audição-lupina?
– Como vocês devem saber, O instituto tem a tradição de receber de braços abertos todo ou qualquer ser sobrenatural, tendo como filosofia principal educá-lo, para que seja um perfeito cidadão dentro da sociedade atual. De modo que, nossos três pilares principais são: Aceitação, Convivência e Harmonia. Esse ano estamos, entretanto, ampliando o perfil dos alunos que aceitamos em nossa instituição, isso por que com a negociação e constantes campanhas buscando a paz entre os seres humanos e os seres sobrenaturais, os institutos de ensino especializado, como este, estão começando a abrir suas portas para novos tipos de alunos, ou seja, humanos. Se ambicionamos realmente viver em igualdade e harmonia, devemos eliminar as barreiras que nos separam, esse será um passo inicial para uma grande e gradual mudança de nossa sociedade. Vocês, a primeira turma mista do instituto, terão uma grande responsabilidade em suas costas, servirão de exemplos para todo o nosso país e se não dizer o mundo. Provaremos que é possível uma convivência pacífica e um ensino unificado para ambos os seres. Logo, vamos trabalhar juntos para que humanos e seres sobrenaturais possam viver juntos e em paz!
Aquele discurso foi inspirador, o que gerou aplausos da turma dos novatos. Contudo, Talia Hale ainda não tinha terminado, levantou a mão para silenciá-los.
– A turma mista, como sabem, será formada por seres humanos e sobrenaturais. Irei ler o nome dos alunos, para verificar se todos aqui estão cadastrados no sistema, senão, resolveremos isso imediatamente...
– schijten! (merda) –Stiles ouviu Abraham resmungar, devia ser uma espécie de palavrão, pelo menos soava como um. O garoto estava visivelmente nervoso... Ele temia que seu nome fosse chamado? Mas por quê? Ao menos que ele tivesse um nome tal como o nome verdadeiro de Stiles, não teria nada a temer. Além disso, o humano duvidava que alguém tivesse um nome tão complicado e difícil de pronunciar como o dele...
– Vejamos... Abraham... –Talia pigarreou e depois continuou – Abraham Van Helsing III.
Uma ligeira comoção começou a ocorrer, principalmente entre os alunos sobrenaturais.
– Ah? Ele tem o nome de um personagem de um livro de terror! O que tem de errado nisso? Seria pior se o nome dele fosse Antônio Manso Pacífico De Oliveira Sossegado! Ou pior Chevrolet Da Silva Ford! Já ouviram falar do Simplício Simplório Da Simplicidade Simples?!– Stiles ainda iria falar mais nomes estranhos, mas foi interrompido pelo seu colega Tritão.
– Mano, os Van Helsings existem de verdade. –Disse Ethan, pela primeira vez se mostrando alerta e não com seu semblante relaxado "paz e amor" – Bram Stoker se baseou em uma pessoa real quando fez o seu livro... Abraham Van Helsing, um dos maiores caçadores de vampiros da história, os seus descendentes perpetuaram o seu legado...
– Abraham? Você está presente? –Perguntou Talia, o que forçou o dito Abraham a levantar a mão.
– Muito bem. –Ela sorriu, pelo visto, a diretora não parecia ligar muito, na verdade, era bem provável que ela já sabia que estava adicionando um aluno descendente de uma família de caçadores em seu instituto, mas por quê?
– Vejamos, o seguinte é... Allison Argent. –Mais comoção na plateia, Stiles logo viu uma garota de cabelos negros, pele alva, levantar a mão, meio receosa. Ela não estava com eles no ônibus, logo era bem provável que a adolescente tivesse vindo em seu próprio carro, isso explicava o fato deles não terem se encontrado.
– Linda...– Scott balbuciou, hipnotizado.
– Por Poseidon! Outro caçador! –Choramingou Ethan –Os Argents são uma família quase que especializada em caçar lobisomens!
– Nossa... Parece que você escolheu a pessoa errada, cara! –Disse isso, dando uma tapinha no ombro do amigo, contudo, Scott estava totalmente perdido no mundo da fantasia.
– Vocês devem estar se perguntando pela a presença de dois filhos de clãs de caçadores em nossa escola, a resposta é simples: trégua. Os caçadores e seres sobrenaturais se comprometeram em um tratado de paz, buscando a convivência pacífica. Além disso, os caçadores existiam porque muitos dos nossos atacam os humanos... Agora unimos força para evitar danos em ambas as partes. Não queremos que humanos inocentes sejam feridos, tão pouco que seres sobrenaturais sejam caçados por esporte. Logo, a prova desta trégua está no envio de seus filhos as instituições de ensino sobrenatural, pois essa nova geração irá aprender a viver sem o ódio e preconceitos dos seus antepassados.
"Isso explica muita coisa..." Pensou Stiles, lançando uma mirada a Abraham que não parecia nada confortável, Allison também compartilhava da mesma postura nervosa.
– Bem, vamos continuar, sim? Vejamos... O próximo é G...Grze... –Talia começou a virar o papel, como se o nome tivesse escrito ao contrário ou de cabeça para baixo.
– Grzegorz Stilinski! –Disse Stiles, rapidamente levantando a mão, seu rosto já estava totalmente corado, por que seus pais não colocaram um nome mais fácil de pronunciar? E daí que sua mãe queria homenagear seu querido avô polonês? Isso não era certo! –Estou presente! Mas para facilitar parado todos, podem me chamar de Stiles, ok?
– Oh! Você é, por acaso, filho do nosso xerife Stilinski? –Perguntou a diretora.
– S– sim. Sou eu. –Forçou um sorriso, novamente sentia que Talia o analisava.
– Interessante. –Disse apenas e continuou a falar os outros nomes. Stiles soltou um longo suspiro. Por que os Hales tinham essa mania de ficar encarando?
Seu olhar se voltou agora para a sua mochila, a jaqueta ainda estava lá dentro, sabia disso... Mas, tinha que abrir para ter certeza! Era loucura, sabia que não tinha como aquela jaqueta magicamente fugir, mas sentia essa necessidade de saber que aquela peça de couro estava segura. Abriu o zíper, verificando o que já sabia...
"Além de ADH estou desenvolvendo TOC (transtorno obsessivo compulsivo)?" Pensou, ao levantar a cabeça, para sua surpresa Talia o estava observando novamente, e o pior, parecia farejar o ar. Um estranho sorriso se fez em seus lábios e ela piscou para Stiles.
"O que isso significa?".
Talvez todos os Hales sejam loucos...
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