A Banda e A vela.


— Você tem que tocar o acorde dessa maneira. — Ele falou aquilo demonstrando em sua própria guitarra o som desejado.

— Assim...?

— Não. — E sem aviso ele se aproximou, por trás do frustrado "aluno". Colocou suas grandes mãos sobre as do adolescente, tentando indicar a posição das notas.

— Você tem que relaxar mais os dedos... Você está muito tenso.

— Lógico que estou tenso. Eu ainda estou aprendendo e agora terei que tocar diante de uma multidão de pessoas. É justificável que eu esteja tenso!

— Eu estou te ensinando os acordes mais fáceis, não precisa ficar tão nervoso...

— Você está me chamando de estúpido, por acaso? Que não consigo nem aprender isso?

— Eu não disse isso.

— Não disse, mas insinuou!

Ele rolou os olhos, aquele garoto estava sendo um dos piores alunos que já tivera. Não que fosse um professor de guitarra profissional, mas já tinha uma certa experiência como professor bolsista da universidade Beacon Hill. Sim, Derek não estava acostumado em lidar com um aluno irritadinho como Abraham Van Helsing III.

— Ahhh! — Alguém gritou e se o grau de irritação que já estava alto antes apenas aumentou ainda mais.

— Você está me traindo? Meu melhor amigo e meu namorado? Como podem!?

Derek sentiu as veias em sua têmpora pulsar. Sua atenção se voltou para o escandaloso vampiro que adentrou no salão de festas da mansão Beaumont, local aonde a banda (ainda sem um nome) estava treinando para o eventual festival. Supostamente aquele deveria ser um local tranquilo e seguro para que se reunissem, sobre o olhar vigilante do clã de vampiros que funcionava como a força fiscalizadora e "policial" do mundo sobrenatural.

Bem, a visão era sem dúvida comprometedora. Derek estava praticamente abraçando Aby por trás, e ainda tinha o fato seus dades estarem se tocando, seus rostos estarem próximos. Mas todas essas "provas circunstanciais" de nada valiam quando se sabia o profundo grau de antipatia cultivado entre Derek e Abraham. Em outras palavras: não havia traição nenhuma a ser especulada, nem aqui nem em nenhum lugar!

— Derek...Eu sinto como você tivesse lançando uma estaca em meu pobre coração! — Pietro falou isso levando a mão ao lado esquerdo do peito aonde de forma conveniente estava desenhando um coração na estapa de sua camisa, mas não era o coração fofinho que normalmente era representado em emoticons ou presentes para os dias dos namorados. Era o desenho de coração – órgão – bem detalhado e logo abaixo estava escrito em letras ensanguentadas "The real thing!" (a coisa real).

— Quer parar de drama. — Para a surpresa de Derek, sua fala foi sobreposta com a própria fala de Abraham. Eles tinham falado a mesma coisa...E ao mesmo tempo.

— Viu? Estão até mesmo repetindo as mesmas frases... Em perfeita sincronia. — choramingou Pietro — Estou sendo trocado...E por quê? Meus beijos não foram bons o suficiente? Minhas caricias não foram tenras o suficiente? Ou você está insatisfeito com a minha performance nos momentos mais íntimos? O que é estranho, pois tenho certeza de que você clamou por mais...

— Pietro! — Aby se afastou do Hale que, por sua vez, tomou a iniciativa de retirar a guitarra das mãos do adolescente, temendo que a mesma fosse usada como arma para exterminar certo vampiro.

— O que está acontecendo? — Quis saber Ethan, todo preocupado.

— Nada... — Derek respondeu isso mirando de relance o casal. Aby já tinha se lançado sobre Pietro, o imobilizando no chão com uma chave de braço. Muito romântico, sem dúvida.

— Isso não parece ser nada. Sinto um desequilíbrio nas vibrações de energia e isso nunca é uma boa coisa, bro. Isso atrapalha a sintonia vibracional do grupo... Abre espaço para que energias negativas ultrapassem nossa barreira de vibes positivas, afetando nossos centros de força e por fim desequilibrando nosso chakra.

— Er... — Derek não sabia o que responder ao tritão, pois nunca entendia de fato o que o garoto estava querendo dizer. E ele tinha experiência com personagens psicodélicos (a saber: Erorhion), mas Ethan era de outro nível mais avançando de filosofia zen...

— Acho que devo cantar, para resolver as coisas.

— Não! — Interpôs Derek de imediato — Não queremos que a briga deles se torne ...

— Sexo selvagem? — Erica sugeriu, se aproximando com o seu contrabaixo — E o que isso tem de errado? Cante, Ethan! Faça uma garota feliz!

— Não. — Agora era a vez de Boyd interromper. Praticamente todos os membros da banda estava ali assistindo Aby massacrar o seu vampiro.

— Vocês estão assumindo um conceito errado sobre o meu canto! Ele não está relacionado em fazer as pessoas se acasalarem em público.

— Acasalarem? Sério mesmo, Ethan? Que linguajar! Você precisa melhorar o seu vocabulário — Provocou Erica, o rosto do tritão adquiriu uma coloração muito similar a um encorpado molho de tomate.

— O que você queria que ele dissesse? Coito? — Inqueriu Boyd com um singelo meio sorriso nos lábios.

— Não, muito formal. Que tal, cozinhar a salsinha. — Sugeriu a menina correspondendo o sorriso de seu companheiro de alcateia.

— E afogar o ganso?

— Molhar o biscoito!

— Amassar o kibe.

— Pôr a jiripoca para piar.

Se Ethan já estava envergonhado antes, agora estava ao ponto de desfalecer. Derek rolou os olhos diante daquele show. Internamente agradecia que Stiles não estava ali para dar a sua criativa contribuição.

— Pessoal... Eu não queria dizer isso, desculpa...Mas...Não temos muito tempo a perder. Digo, próxima semana será o festival...E...Desculpa se ofendi... — Falou Elizabeth toda hesitante, sequer tendo a coragem de os mirar nos olhos.

— Você não tem que se desculpar, Elizabeth. — Tranquilizou o Hale, agradecendo aos deuses antigos por ter um membro sensato em sua banda. E como o membro mais velho (e claramente mais responsável), Derek tinha que entrar em ação.

Com impaciência foi até o casal e os separou. Pelo visto, o que antes era uma briga física evoluiu para algo mais erótico. Tapas, foram substituídos por beijos. Era impressionante como aquele casal, em particular, transformava um confronto físico em preliminares.

— Está com ciúmes? — Pietro teve a ousadia de perguntar ao seu já furioso amigo. Derek deu sua melhor resposta, rosnou.

— Certo. Vamos parar com a comédia. — Falou Aby, fingindo retirar poeira de sua roupa — Por que você veio aqui?

— E preciso de justificativa para visitar meu amado docinho de limão?

— Sem apelidos, ao menos que não queira morrer uma morte lenta e dolorosa. — Ameaçou Aby com extrema seriedade.

— Ora, achei que docinho de limão era mais apropriado do que miojo ou cup-noodle.

— Miojo e cup-noodle? Não entendi a lógica desses apelidos... — Ponderou Erica, toda sorridente.

— Não existe lógica nenhuma! — Exclamou Aby levemente corado. O ex-caçador fez um gesto funesto para o seu vampiro: com o polegar fez um movimento cortante em seu pescoço, indicou que alguém iria ser decapitado hoje. Pietro, em resposta lançou um beijinho no ar para o seu namorado.

— Na verdade, vim aqui trazer suprimentos para a minha banda preferida. — Anunciou isso apontando para as sacolas que tinha deixado na entrada do salão de festa.

— Trouxe bebidas, doces (obvio) e salgadinhos. Afinal, vocês estão treinando já faz horas... — Explicou enquanto trazia a sacola e distribuía as bebidas para os membros da banda.

Derek tinha de apreciar o gesto do amigo, só agora tinha notado a sua própria fome e com certeza não era o único a estar esgotado e esfomeado. Estavam mesmo se esforçando para realizar o plano de seu tio Peter.

"E será que todo esse esforço irá valer mesmo a pena?" questionou em pensamento. Não que confiasse na "genialidade" de Peter, mas deveria levar em consideração que havia muitas variáveis que podiam atrapalhar o andamento de toda a "missão de captura do Kanima".

"E ainda tinha o alfa dos alfas..." Não que ele realmente atrapalhasse, mas a sua presença era sem dúvida inquietante.

A porta do salão se abriu e Michel adentrou. O vampiro muito se assemelhava a uma realeza imperial entrando na sala do trono. Derek pode ver como Elizabeth fez uma pequena reverência quando o Beaumont mais velho se aproximou do grupo.

— Saudações jovens músicos. — Disse todo formal — Espero que os ensaios estejam se desenvolvendo de forma frutífera, tendo em vista as circunstâncias.

— Sim. — Derek olhou de relance para Aby — Estamos melhorando.

— Excelente. Peço perdão pela intromissão.

— Não se preocupe, frère, estamos na pausa para o lanche. — Informou Pietro oferecendo uma bebida para Michel. Trata-se de uma garrafa de Rouge Sucette, um vinho feito com uma dose de refrigerante de cola.

— Merci. — Aceitou todo sorridente o vampiro mais velho — Enfim, vim aqui para lhe entregar isso...

Michel entregou um formulário para Derek.

— Isso seria?

— A ficha de inscrição da Banda no festiva de Halloween de Beacon Hills Institute. O prazo para se inscrever termina amanhã, creio que vocês não podem protelar isso.

— Sim. — Concordou o Hale se sentindo meio culpado. Estava tão concentrado nos ensaios e no repertório musical que tinha se esquecido daquele ponto essencial: inscrever a sua banda no festival.

— Mas, não temos nem um nome... — Sussurrou Elizabeth, nervosa.

— Eu voto no "NO Stiles". — Declarou Abraham — Pois, isso é algo que deve ser evidenciado... Não há Stiles aqui. Somos só nós, sem ele.

— Sabe, em outras línguas, esse título pode ter um diferente sentido... — Opinou Pietro.

— Sem falar que grande parte do público não vai entender o que "Stiles" significa. — Analisou Boyd.

— Que tal, Blood Moon Sea? Digo...Temos Vampiros, lobisomens e serianos unidos em uma banda...Então, poderíamos pegar os elementos de cada um e... — Só então Elizabeth notou que estava sendo o centro das atenções do grupo.

— Desculpem! — Exclamou abaixando a cabeça, para ocultar o embaraço e o rubor em seu rosto.

— Não, Eliz. — Disse Aby — Sua ideia foi ótima. Além disso, mesmo sendo humano eu me identifico com a parte Blood do título.

— Então, esse será o nome da banda "Blood Moon Sea". — Declarou Derek, agora que tinha falado em voz alta, parecia mais real o que eles eram de fato uma banda.

— Vamos mostrar a todos o nosso Rock n' Roll! — Disse Abraham todo animado. E ele não era o único, todos estavam contagiados com as ondas energizantes da música. Tinham se unido devido ao plano, mas os laços que estavam se consolidando ali seriam mais profundos...Estavam se tornando uma verdadeira banda de Rock.

~**~

— A coisa é muito simples. — Uma vela foi coloca a frente de Stiles que observou sem entender muito bem.

— Muito simples, você diz.

— Exato. Simples. — Salem, agora vestido (infelizmente) com uma camisa folgada e calças jeans, se sentou no velho sofá na sala de sua casa. Sala essa que não havia muitos moveis a não ser o referido sofá, o que significava que Stiles estava sentando no chão, com uma vela colocada à sua frente.

Ele esperou pela explicação, mas essa não veio. Salem estava se espreguiçando no sofá e bocejando. Realmente ele não se portava como um mestre ensinando o seu pupilo, afinal ele praticamente não ensinava nada!

— Simples. — Repetiu o adolescente segurando a vela e mirando o seu suposto professor — Olha, pode parecer simples para você, mas para mim isso não passa de uma vela!

— E o que você faz com uma vela?

— Ora, acende.

Salem sorriu e Stiles corou.

— Você quer que eu acenda a vela.

Salem bateu palmas, ainda deitado.

— Sua inteligência me surpreende. Continue nesse caminho e logo ganhará um Nobel.

Stiles corou ainda mais.

— Olha, eu entendi a lógica da coisa. O que não entendi como irei fazer isso. Duvido que aja algum fosforo ou isqueiro nessa casa...E eu não sou escoteiro, não sei fazer fogo esfregando gravetos ou pedras! E a questão mais importante: como acender uma vela vai me ajudar a controlar o meu poder? Se você está querendo passar um tipo de filosofia mágica profunda...Algo ao estilo mestre Yoda ou Mestre dos Magos, devo dizer que não estou no clima de desvendar charadas!

— Não é uma charada. — Salem voltou a se sentar e apontou seu longo dedo para a vela que Stiles segurava. Com esse simples gesto a vela acendeu. Mas não foi uma pequena chama, mas sim uma explosão de fogo. Por sorte Stiles tinha soltado a vela antes que essa fosse consumida pelas chamas mágicas.

— Pelo Santo Lúcifer! Avise antes de tentar explodir a minha cara ou mão! Tipo, gosto muito dessas partes do meu corpo e não queria perdê-las dessa forma!

Salem sorriu, estalou os dedos e uma nova vela surgiu onde a outra estivera: a frente de Stiles, no chão sujo da sala. Da vela anterior só sobrou restos de parafina que respingou nas paredes, teto e chão da sala. Foi mesmo uma grande explosão pirotécnica.

— Você vai usar a sua magia para acender a vela, agora entendeu?

— Você vai explodir a vela novamente se eu perguntar como faria isso? — Inqueriu temoroso, estava começando a entender o quão imprevisível Salem era.

— Magia não é algo tão sobrenatural como você pensa. É uma energia como tantas outras, sendo que essa energia é impulsionada pelo pensamento e emoções do usuário. Bruxos, alquimistas, druidas e todas essas classes de "humanos mágicos" são apenas manifestações de formas diferente de como a magia pode ser manipulada. Tal como a água que pode ser usada para transporte de veículos, para saciar sua sede e para gerar energia elétrica em uma usina. O elemento é o mesmo, a forma como é utilizado para um determinado proposito é que muda.

Stiles assentiu lentamente, tentando entender o conceito que o estava sendo apresentado.

— Logo, a magia é a base de todos as classes, inclusive para os caminhantes do tempo. E a forma mais básica de manifestação da magia é a reação de combustão. Imagine a magia como a faísca necessária para gerar a reação química...

Salem novamente apontou para a vela. Stiles se afastou e protegeu o rosto, temendo outra explosão, mas nada ocorreu.

— Você deve focar a sua vontade na vela e com isso provocar uma combustão que, como consequência, irá acendê-la.

— C-certo. — Stiles fingiu entender o que devia fazer, apesar de ainda não saber como diabos iria fazer isso com sua vontade somente!

— E você já está fazendo isso, sabe? Usando a sua vontade para manipular a magia...Suas emoções é que estou fazendo você saltar ao passado. Se você não controlar essas emoções vai continuar viajando.

— Minhas emoções? Mas, as minhas viagens sempre estão relacionadas ao Derek. Acha que o fato de estar apaixonado por ele é a causa de meu poder está se manifestando feito louco?

— Uma simples paixão não iria provocar tamanha consequências. Tem que ser algo bem mais profundo. — Opinou Salem voltando a se deitar no sofá e encarar o teto desgastado pelo tempo de sua casa.

Stiles novamente sentiu seu rosto todo corar, seu coração acelerar. Algo mais profundo que uma paixão? Talvez...Amor? Ele amava Derek. Bem, aquela constatação não parecia ser falsa. Sim, ele amava Derek-chupador-de-limão-Hale. E se as viagens temporais eram uma prova de como suas emoções estavam associadas ao Derek...Imagine só quando eles finalmente fizessem amor? Ele iria saltar no tempo para a época dos dinossauros ou mesmo além! Tinha, definitivamente, controlar suas emoções!

— Bem, o meu conhecimento nessa área é bem limitado. — Confessou Salem — Então, não vou me aventurar em tecer tantas hipóteses. O mais importante é você tentar acender essa vela...

— Falar é fácil... — Resmungou Stiles lançando um olhar fulminante para aquele instrumento de pavio e parafina. Por mais fulminante que fosse o seu olhar não foi forte o suficiente para provocar o surgimento de uma chama.

Aquele treinamento iria ser bem mais difícil do que tinha imaginado.

~~** Palavras da autora**~~~

Aí está mais um capítulo! E devo informar que o nome da banda meio que foi escolhido por vocês, fiz uma votação no twitter com alguns dos nomes sugeridos por vocês em capítulos anteriores. E quem ganhou foi Blood Moon (só adicionei o sea pelo Ethan! Afinal, ele tinha que ter representação!).  => Por isso é importante que vocês me sigam no twitter para participarem nas decisões da história! 

Enfim, espero que tenham gostado do capítulo! A explicação sobre a magia no mundo dessa história e a Banda de rock!

Nova pergunta a vocês! Que músicas vocês gostariam que a Banda tocasse no festival? Me ajudem a escolher!

Beijos

Usuário no Twitter: NathyMaira1

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