XV - Onde Estiver.

Setembro, 28

Acordo resmungando com o som de meu celular tocando, esqueci de desativar o alarme noite passada, se bem que noite passada eu esqueci varias coisas.

Me encho de vergonha com as lembranças da noite passada, não que eu esteja arrependida, mas ainda não acredito no que aconteceu.

Olho para o lado, Jeff não está na cama. Provavelmente está na cozinha.

Me levanto, esticando minhas costas e esfregando os olhos. sinto um vento gelado percorrer todo meu corpo e um arrepio subir, acabo de lembrar que estou totalmente nua.

- Ah é, esqueci disso.

Pego a primeira blusa que encontro e a visto, era grande como uma camisola. Não acho minha calcinha em lugar algum e não me esforço pra pegar outra, nem da pra notar mesmo, além disso já vou tomar banho.

Saio do quarto e desço as escadas até a cozinha, de longe vi a sombra de Jeff no local.

- Bom dia Je...

Paraliso ao vê-lo sentado na bancada, a cabeça baixa e uma garrafa de vinho pela metade ao seu lado, ao lado dele tem uma grane mochila de acampamento, parecia cheia.

Ele não se mexia, parecia estar dormindo. Me aproximo para acorda-lo.

- Jeff? Ei, acorda ai.

- A-ah, mas quem... - Ele levanta a cabeça, ainda meio desorientado, esfregando os olhos. - ah, bom dia gatinha.

- O que deu em você? A quanto tempo tá aqui?

- Algumas horas, sei lá...

- Horas?

- Eu acordei no meio da madrugada, eu não sentia sono ai...

- E essa garrafa de vinho?

- Deu vontade.

- Sei.

- O que?

- Não engoli essa.

- Como assim?

- Você só bebe quando fica mal. O que rolou?

Ele olha para o lado, esfregando as mãos no rosto, agindo como se soubesse a resposta mas não quisesse falar.

- Ei, não age assim comigo.

Ele se levanta, olha para o lado e pega a tal mochila.

- É seu. Aqui tem todas as suas coisas. Seu dinheiro, sua identidade falsa, sua arma e suas coisas no geral.

Ele entrega a mochila para mim.

- A-ah? Tá me mandando embora?!

- Ontem a noite, depois que nós, bom, depois que ficamos juntos eu pensei que não posso mais prender você aqui. Não posso obrigar você a ficar comigo. A porta tá destrancada e você sabe como voltar pra cidade. Se quiser me denunciar pra polícia, denuncia. Eu não ligo mais.

- Que!? Jeff o que deu em você? Por que eu...

- Porque eu machuco todo mundo, eu machuco as pessoas que eu gosto, as vezes de um jeito que não tem volta. As vozes só falavam em te machucar e te fazer mal, eu não quero isso, não quero que aconteça nada com você, e eu não quero ser igual, igual a...

- Igual a?!

- Igual ao seu pai.

São raras e poucas as vezes que o vejo tão vulnerável assim.

Por muito tempo eu pensei nesse momento, o momento em que eu finalmente teria a oportunidade de ir embora, de deixar esse lugar e voltar a minha vida. Mas por alguma razão eu sinto que isso não é o certo a fazer, na verdade, sinto que não é isso que eu quero fazer. Eu não quero ir embora, não consigo mais negar que isso faz parte da minha vida agora, que ele faz parte dela agora.

Eu não posso simplesmente ir embora, não dessa vez.

Não consigo.

Me sento ao seu lado e levanto seu rosto, já escorriam as lágrimas por seu rosto sem nem perceber.

- Eu não estou aqui porque você quer, estou aqui porque EU quero. Você ainda não entendeu? Não é como se eu não soubesse as consequências de ficar com você, eu sei e quero ficar do mesmo jeito.

- E c-como você tem tanta certeza de que quer ficar?! Você só sabe que eu sou perigoso mas nunca viu de VERDADE o monstro que eu viro perto de outras pessoas! Você vai desistir de mim assim que ver e vai...

- EU ME APAIXONEI POR VOCÊ!

Meu grito cala Jeff no mesmo segundo.

- EU VOU FICAR! EU QUERO FICAR PORQUE ME APAIXONEI POR VOCÊ! EU NUNCA ENCONTREI E NUNCA QUIS PROCURAR ALGUÉM PRA FICAR DO MEU LADO, ALGUÉM QUE ME ENTENDESSE!

- Olha, se acalma, eu não...

- NÃO! VOCÊ PRECISA SE ACALMAR! VOCÊ FICA FALANDO QUE EU VOU TE DEIXAR COMO SE QUISESSE QUE ISSO ACONTECESSE! SE QUISER QUE EU VÁ EMBORA, ENTÃO FALE LOGO! PORQUE EU NÃO QUERO IR! EU NÃO VOU TE ABANDONAR! NÃO COMO EU FIZ COM O NOAH, NÃO COMO O PAPAI FEZ COMIGO, E-EU, eu não so-sou que nem eles...

As lágrimas invadem meu rosto e me entrego a vontade de chorar copiosamente.

- Eu, e-eu não quero que você vá embora, eu só tenho medo, medo de que você me odeie se descobrir como eu sou um monstro quando fico fora de controle, tenho medo de te machucar e você nunca mais me perdoar, ou muito pior.

- Eu não tenho mais medo de você, eu não sou mais a garota ingênua que você conheceu por puro azar, eu não tenho medo de ser machucada por você porque eu fui machucada e espancada minha adolescência INTEIRA, não é como se eu não soubesse me defender. E quer saber de uma coisa? Eu me apaixonei por você e pelo monstro que você é!

- Stella...

Ainda com o rosto molhado por lágrimas e os olhos fixos nos meus, ele coloca suas mãos gélidas em meu rosto. Me deixo levar pelas carícias das mesmas.

- Por favor, não me obriga a ir embora, eu não aguento mais abandonar as pessoas que eu amo...

- Stella, v-você me ama?

Eu não quero mais pensar, não quero mais falar, eu só quero tê-lo pra mim. Eu quero ficar aqui, continuar me sentindo completa com ele ao meu lado, quero continuar me sentindo como só ele me faz sentir, quero continuar beijando a boca que só ele tem e sendo acariciada como só ele sabe acariciar.

Eu não quero ir embora.

- Para de falar.

Sem mais palavras, simplesmente o calo com um beijo desesperado e afoito, ele retribui.

Eu não aguento mais sofrer, eu quero ser feliz de novo.

Continuei a beija-lo, enquanto o mesmo passava e apertava suas mãos em minha cintura, eu sentia aquele mesmo frio na barriga de antes, os arrepios por todo o corpo, o batimento acelerado e a respiração falhando. Ah, só ele me enlouquece tão bem, eu finalmente aceito isso. Na noite de ontem eu deixei meu orgulho de lado e me rendi a todos os meus desejos, meus desejos por ele.

E agora, eu vou fazer isso mais uma vez.

Com o beijo ficando cada vez mais quente e intenso, Jeff agarra minhas coxas com força e me levanta, jogando meu corpo na bancada da cozinha.

- Você tem certeza de que quer fazer isso agora?

- Obvio que quero. Você não?

- Não é que eu não queira, mas nós dois sabemos que não se resolve as coisas desse jeito.

- E desde quando você se importa se é certo ou errado?

- Eu não me importo com certo ou errado, me importo com você.

-...

- Por favor, eu sei que você não quer falar sobre isso, eu também não quero. Mas por favor, só me diz, só me deixa tranquilo e me diz que você realmente quer ficar porque gosta de mim, e não porque sente pena de mim.

- Que?! Jeff, óbvio que não. Eu te juro, eu quero ficar aqui!

- Aqui, ou comigo?

- Eu quero estar aonde você estiver, idiota.

- E se eu te machucar?

- Você não vai, sabe que eu não vou deixar.

- Você sempre foi tão teimosa e inconsequente.

- É, eu sei.

- Acho que é isso que me deixa tão maluco por você.

Ele disse, voltando a sorrir.

- É, eu sei disso também. Agora, podemos voltar de onde paramos.

- Como quiser.

E novamente ele volta a me beijar, deslizando suas mãos por todo meu corpo, apertando minhas coxas, peito, bunda e cintura.

Me enlouquecia com os beijos e mordidas que distribuía por meu pescoço, as palavras sujas que sussurrava, as mãos bobas passando por onde não deveriam e apertando aonde me causava frio na barriga, a maneira como meu corpo automaticamente se entregava a ele e a seus toques, eu estava rendida a ele.

Eu preciso dar um jeito na minha vida, preciso refazer meus planos, repensar o rumo que ela vai tomar, pois Jeff faz parte dela agora, e eu não quero vê-lo ir embora.

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