VII - Empatia.
Julho, 14.
Um bom período se passou desde meu polêmico passeio na floresta com Jeff, os dias que se seguiram a esse foram um tanto estranhos.
Jeff não parecia ele mesmo, estava sempre muito sério, quase não fazia suas piadas bobas, brincadeiras de mal gosto ou flertes sem graça, não se parecia com o Jeff que eu conhecia.
Quando não estava fora de casa, estava dentro do cômodo misterioso, fazendo sei lá o que, quando não era nem um nem outro passava o dia todo maratonando filmes de terror em VHS na TV velha da sala, ou assistindo documentários no notebook que havia roubado de sua vítima mais recente, um hacker que gostava de espionar criancinhas. Depois que Jeff o matou, fez uma limpa geral no aparelho e passou a usá-lo para entretenimento próprio, assistindo Netflix, Youtube e outros, eu sequer sabia que tinha internet ou sinal aqui.
Com o tempo eu passei a entender o que Jeff queria dizer quando falava que "não matava qualquer um", vez ou outra eu acompanho as notícias da cidade por um rádio velho da cozinha, os jornais que Jeff traz quando está de boa vontade, e realmente, todos os alvos de Jeff eram pessoas bem ruins; Estupradores, pedófilos, racistas ativos, nazistas assumidos, políticos corruptos e policiais abusadores de poder. Claro, pessoas como essas não adicionam em nada na sociedade, mas será que esse é o jeito "certo" de resolver? Ainda me pergunto se essas ideias de Jeff são corretas ou não, e acho que ele não vai parar tão cedo. A maioria dessas pessoas são a escória da sociedade, por tanto a polícia não dá a mínima e não faz a menor questão de procurar por um culpado, conclusão, não a ninguém que possa deter Jeff the Killer.
A cereja do bolo é a forma como Jeff tem bebido em quantidades excessivas, por incrível que parece ele é uma das pessoas menos perigosas que já conheci sob efeito de álcool, acredite quando digo que já convivi com alcoólatras muito piores, não é atoa que fugi de casa, certo?
Okay, Jeff não chega ao ponto de ser um alcoólatra, mas tem extrapolado um pouco nos últimos tempos, não sei se isso tudo tem a ver com nosso passeio na floresta, sobre minhas perguntas sobre um possível irmão, a única coisa que sei é que ele tem agido como uma criança grande desde então, chegava bêbado em casa, deixava rastros de bagunça aonde quer que fosse, e só me chamava quando precisava de alguma coisa, sinceramente, o que Jeff tem de beleza tem de desequilíbrio.
Mas o que mais me preocupava em tudo isso eram os dias em que Jeff chegava bêbado em casa, não por achar que ele seria alguma ameaça a mim, depois de ver o quão ridículo Jeff fica bêbado, sinceramente, perdi o medo. O meu real medo era que Jeff se metesse em alguma encrenca ou fizesse alguma besteira, e quando se trata dele, era só questão de tempo até algo acontecer.
[...]
Mais um dia havia se passado, e mais uma vez Jeff estava fora de casa por horas e horas, era noite de sexta feira então para minha felicidade os tempos de relaxar haviam finalmente chegado após uma longa semana de trabalho.
Após realizar todas as tarefas domésticas do dia, pude subir para tomar um banho e relaxar. Após uma boa ducha quente, coloco meu pijama e desço até a cozinha, dessa vez para fazer uma boa pipoca para uma noite de filmes.
Pipoca pronta e refrigerante em mãos, hora de escolher um filme! Apesar das regras que não me permitem ter acesso a certos eletrônicos ainda tive a"sorte", se é que dá para falar assim, de ser sequestrada por um colecionador de filmes de terror. Que frase estranha, deixa pra lá...
Mas enfim, Jeff tinha prateleiras e prateleiras de VHS 's com muitos e muitos filmes de terror, o que me dava uma vasta gama de opções, optei por um bom e clássico filme gore, "Sexta-Feira 13", não tem erro.
Coloquei a fita no videocassete, me joguei na poltrona favorita de Jeff, só por saber o quanto ele odiava isso, e comecei a curtir o filme.
Meia noite, uma da manhã, duas da manhã e nada de Jeff aparecer, não que eu estivesse preocupada, mas às vezes me pergunto se ele vai voltar ou não. Tento não me prender aos pensamentos ruins e me concentrar unicamente na diversão, ele vai voltar, ele sempre volta, não é?
Assim que o filme acaba, retiro a fita cuidadosamente do aparelho, retornando a mesma a prateleira, já indo atrás de outra. Depois de alguns minutos escolhi assistir "A Hora do Pesadelo".
Fiz mais pipoca, peguei alguns doces, abri mais latas de refrigerante e que comece mais um clássico do terror! Realmente, os clássicos nunca falham, fiquei tão entretida com o filme que perdi minha noção de tempo e espaço por um bom período...
Isso até ouvir um estrondo da porta se fechando, Jeff havia chegado.
Olhei para o relógio de ponteiro, eram quatro da manhã, apesar do horário estava aliviada por pelo menos ter retornado antes do dia amanhecer, e assim, voltei ao meu filme com tranquilidade.
- Gambá, v-vem aqui...
- Por que? Estou vendo filme!
Disse gritando da sala de estar.
- A-anda logo, por f-favor...
Bufo bravamente, é sério que ele se embebeda e eu que tenho que cuidar dele? Sinceramente.
Me levanto e vou em direção ao salão principal, onde se localiza a porta da frente.
- Olha, se você estiver de palhaçada de novo eu juro que... - Ao chegar ao salão me deparo com Jeff sentado ao lado da porta, ofegante e ensopado de sangue. - puta merda! Você matou alguém?! Eu disse pra não sair se embebedando por aí! Uma hora ia dar merda!
- A-ajuda...
Jeff levanta seu rosto, olhando no fundo de meus olhos; seu nariz estava sangrando; um de seus olhos estava roxo; seu pescoço tinha hematomas; marcas de luta e arranhões. Suas roupas tinham diversos rasgos e suas pernas possuíam diversos hematomas, e assim, finalmente aconteceu, eu finalmente entendi.
- Esse sangue é SEU?!
Uma onda de desespero invade todo meu corpo, eu corro até Jeff e tento apoiá-lo em meus braços.
- O que você fez?! O que foi que aconteceu?!
- Uma b-briga, e-eles eram cinco, m-muito fortes, maiores e...
Aos poucos Jeff ia parando de falar e fechando seus olhos, com um cansaço extremo.
- Não, não, NÃO! NÃO DURMA AGORA! ACORDA JEFF!
Começo a sacudir o corpo de Jeff, até que o mesmo abra os olhos novamente.
- Remédios, pr-preciso de remédios...
- Vamos te levar pro quarto antes! Você não pode ficar aqui!
Com o maior cuidado que posso, o ajudo a se levantar e apoio um de seus braços em meus ombros, andamos cuidadosamente até as escadas, o mesmo mancava muito e teria muita dificuldade de subi-las.
- Vamos, nós conseguimos subir juntos, eu te ajudo!
Jeff distribui mais de seu peso em mim, ele era muito mais alto, muito mais pesado e forte do que eu, mas não importa.
Depois de um bom esforço e muita determinação finalmente conseguimos chegar ao andar de cima, chegamos a porta de seu quarto, porém ao girar a maçaneta vejo que a mesma está trancada.
- A chave Jeff! CADÊ A CHAVE?!
Com as mãos trêmulas o mesmo aponta para de baixo do grande carpete no chão, ajudo Jeff a sentar-se no chão cuidadosamente, depois, com minhas próprias mãos arranco o carpete do piso, e lá estava ela, a chave.
Abro a porta o mais rápido que posso e volto minha atenção a Jeff novamente. Coloco o mesmo em meus braços novamente e caminhamos até sua cama. Arrumo uma pilha de travesseiros aonde o mesmo possa encostar sua cabeça.
Jeff se deita, ainda com dificuldades de respirar, e agonizando de dor entre suas tentativas de inspirar o ar.
- Ei, olha pra mim! Vai ficar tudo bem, tá? Nós vamos resolver esse problema, só, só me deixe pegar algumas coisas, eu já volto! E NÃO DURMA!
Saio correndo como um furacão, desço as escadas e vou direto para a cozinha, apanho uma tesoura, gelo, e um quite de primeiros socorros que sempre mantive por perto.
Subo as escadas novamente, dessa vez correndo ao meu quarto. Reviro todo meu guarda roupa e espelho do banheiro em busca de todos os remédios que pude carregar, e em questão de segundos estou de volta ao quarto de Jeff, que por sorte ainda se mantinha acordado.
- Okay, vamos resolver tudo isso, você vai ficar bem! Eu vou cortar a sua blusa e ver o estrago que foi feito!
Agarro a tesoura com as mãos trêmulas de pânico, preciso manter a calma, se quero salvá-lo não posso entrar em pânico, não posso falhar.
Respiro fundo e com as mãos menos trêmulas começo a cortar a blusa de Jeff, Conforme o tecido se abria pude ver os cortes, os hematomas e as feridas em seu abdômen.
- Caralho, o que eles fizeram com você? Mas não importa, vai dar tudo certo, v-vamos resolver!
Dou alguns analgésicos para que Jeff sentisse um pouco menos de dor, que aos poucos foram fazendo efeito, ele se esforçava para manter os olhos abertos, parecia exausto, imagine, percorrer toda essa trilha depois de ser espancado...
Felizmente sua respiração foi gradualmente se tornando mais controlada, apesar de fraca.
Enquanto isso eu limpava suas feridas, passava pomadas em seus hematomas e passava bandagens em feridas já tratadas. Fiz o mesmo processo com os cortes em sua cabeça e suas pernas, por sorte Jeff não havia quebrado nada e nem batido a cabeça com muita força.
Depois de cuidar de todos os danos físicos, precisei focar na parte interna de seu corpo.
Me sento ao seu lado, na cama e coloco minha mão sobre a sua.
- Jeff, já consegue falar?
- Um pouco...
Disse ainda rouco.
- Você consegue me dizer se está sentindo alguma dor interna ou algo do tipo?
- Minha cabeça dói.
- Eu vou te dar alguns remédios para diminuir essas dores no corpo e na sua cabeça, está bem?
- Sim...
- Ótimo, vai ficar tudo bem, eu te prometo.
Continua a pegar mais e mais remédios em meus quites. Dou dois comprimidos a Jeff, um para dores musculares e outro para suas dores de cabeça, junto a um copo d'agua.
- Pronto, com isso você vai se sentir melhor.
Ele engole os dois comprimidos de uma vez, o mesmo parecia exausto, depois de tomar tantos medicamentos e sentir tanta dor.
- Você bateu a cabeça ou algo do tipo?
- Não q-que eu lembre...
Respondeu, ainda fraco.
- Bom, nesse caso, acho que você pode descansar, mas precisa continuar tomando alguns remédios.
- Tá...
- Eu vou lá embaixo, e-eu já volto e...
- Gambá... - Jeff me interrompe, é impossível não perceber meu desespero. - eu estou bem, obrigado.
Ele responde, aparentemente na tentativa de tentar me tranquilizar, mesmo dopado de remédios e tomado pela exaustão e cansaço.
Jeff fechou seus olhos gradualmente e eu não o impedi, ele precisava de repouso.
Depois de limpar a bagunça recolho tudo que usei e saio silenciosamente do quarto, para não acordá-lo.
Volto ao andar de baixo e guardo os remédios.
Volto a porta de entrada com um pano molhado, limpando o sangue seco que havia ficado para trás, não é como se já não estivesse acostumada a limpar sangue, só não estava acostumada a limpar o dele.
Olho para mim mesma e percebo que preciso de outro banho. Volto a meu quarto, jogo minhas roupas sujas de sangue no canto do banheiro e entro embaixo do chuveiro. Enquanto a água quente caía sobre meu corpo e deixava o sangue se desfazer e escorrer de meus braços, mãos e rosto os pensamentos sobre os acontecimentos recentes rebobinavam em minha cabeça com preocupação.
O que mais me preocupa é o estado de nosso estoque de remédios. Usei praticamente tudo que tinha na caixa, os medicamentos que Jeff mais precisava haviam acabado, assim como as bandagens e algumas pomadas.
Além do mais, eu não vi a briga e não sei como aconteceu, não sei que ferimentos internos Jeff pode ter tido e não faço ideia de como examinar algo assim.
Não pretendo largá-lo definhando de dor até morrer, eu quero ajudá-lo, mas sem nenhuma dessas coisas será impossível cuidar dele, e acho que hospitais estão meio fora de cogitação.
Só tem uma pessoa que pode me fornecer todas essas coisas de uma vez só...
Felix, preciso de você mais do que nunca.
*
Oi gente, Jc aqui! Tudo bem com vocês? Espero do fundo do meu coração que estejam gostando dessa fanfic! Provavelmente os próximos capítulos levaram mais tempo para serem lançados devido a minha corrida vida acadêmica, ainda mais em véspera de férias. Mas garanto que tenho trabalhado bastante neste projeto e em todos os outros, e que assim que minha rotina se tornar mais tranquila eu voltarei a dar 100% de atenção para meus projetos! Até logo! 🤍
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