III - Nome

Maio, 27.

Dor. Minha cabeça doía muito, foi isso que me acordou.

Meus olhos se abriram devagar, mesmo zonza, tentei ver onde estava. Senti meu corpo deitado em algo macio. Uma cama? E-em um quarto?! Que porra era essa?!

Uma cama bem grande, um quarto muito chique, paredes carmesins com lamparinas, uma penteadeira de madeira vazia e polida e um grande guarda-roupa. Tudo parecia velho. Na parede atrás da minha cama, uma pintura emoldurada.

- Q-que merda é essa?

Ainda confusa e assustada. Do lado esquerdo do quarto, vi uma porta. Me levantei com pressa, e na mesma hora senti dores em todo o meu corpo. Me agarrei nos lençóis da cama, em agonia.

Olhei para a penteadeira, levantando os olhos para o espelho. Meus braços, pernas, e rosto estão cheios de curativos e esparadrapos.

Tentei me lembrar das coisas que aconteceram noite passada. De como cheguei até aqui.

Vamos Stella! Pense, pense!

Eu sei que fui perseguida por alguém, pulei a cerca da floresta e de repente ver tudo ficar preto.

Olhei para a porta de novo, e mesmo sentindo dores em todo o corpo, me arrastei até lá. Consegui alcançar a maçaneta e tentei gira-la.

Trancada.

- Puta merda, tem que ter outra coisa... - Olhei em volta e vi grandes cortinas do lado direito do quarto. - as janelas!

Andei com dificuldades até uma das janelas e puxei as cortinas.

- Que porra é essa?!

As janelas estavam protegidas com barras de ferro. Todas estavam assim. Tentei ver um pouco do lado de fora. Tudo parecia cercado por floresta, e quanto tentei encarar melhor, vi um grande lago em volta. Nunca teve um lago na floresta da cidade.

Caralho, onde me enfiaram?!

- Tá bem, s-se acalma Stella. Vai ficar tudo bem, você vai dar um jeito, é você vai sair daqui, vai sim!

Disse a mim mesma, tentando não entrar em pânico. Olhei em volta de novo, procurando alguma coisa, qualquer coisa que pudesse me ajudar a sair dali. Foi quando reparei outra porta do lado do guarda roupa. Tentei abrir, destrancada!

- Isso!

Entrei e me decepcionei quando percebi que era só um banheiro.

- Merda, merda, merda!

Olhei para o vaso e vi algumas roupas dobradas, foi quando percebi que estava usando um vestido. O vestido da festa! Cacete, agora eu me lembro!

Puta merda, por quanto tempo eu dormi?!

Tentando colocar meus pensamentos no lugar, ouvi um barulho, um barulho de tranca. Alguém ia entrar.

Minha primeira reação foi me esconder atrás da porta do banheiro. O ranger daquela porta se abrindo ecoou pelo quarto, seguido de passos lentos e alguém assoviando. Olhei em volta, nervosa. Vi um pequeno vazo de porcelana em cima da pia.

Tive uma ideia.

Sem pensar duas vezes, peguei o vaso, sai de trás da porta e atirei o vaso na direção da cama, sem pensar e sem olhar diretamente.

- Ah, precisava disso?

Olhei para frente, o homem mascarado estava do outro lado da cama, segurando uma corda com uma mão e deixando a outra no bolso. Ele parecia muito tranquilo, e se minha memória não estiver falhando, ele usava um casaco branco igual ao daquela noite, mas totalmente limpo.

Minha mira é uma grande merda.

Ele começou a se aproximar, no mesmo momento peguei um dos cacos quebrados, do chão, e apontei na sua direção.

- PRA TRÁS! O que, o que v-você fez comigo, seu maluco?!

Ele continuou chegando perto, devagar e com as mãos para cima.

- Uou, calma ai, eu só vim trazer curativos novos.

Disse apontando para uma caixa em cima da cama.

- Larga essa coisa e troca seus curativos, já que você acordou não precisa mais de mim pra fazer isso. Mais tarde a gente conversa, beleza?

- O que você quer dizer com "não precisar mais de você"?! O QUE VOCÊ FEZ COMIGO ENQUANTO EU ESTAVA DESMAIADA?! SEU DOENTE!

A raiva e o ódio tomaram conta de mim. Mesmo fraca, tentei correr na sua direção com o caco de porcelana na mão. Ele agarrou meu braço e, como se fosse nada, me jogou na cama com uma única mão.

- Nossa, sua recuperação é bem rápida, né?

- ME SOLTA SEU MANÍACO!

Fiquei me debatendo, tentando soltar seu braço.

Ele juntou minhas duas mãos e me prendeu no colchão, colocou sua perna em cima da minha e a mão livre em meu pescoço, me prendendo.

- Escuta aqui, você acha mesmo que se eu só quisesse te estuprar te estaria aqui? Acha mesmo que eu gastaria meu tempo com você? Seria muito mais fácil ter te agarrado naquele beco, te jogado no chão, rasgado esse seu vestidinho e ter feito as merdas mais nojentas que eu quisesse com você.

Fiquei quieta e parei de me debater. O que ele falou fazia um pouco de sentido, mesmo que tudo continuasse muito estranho e que eu estivesse odiando!

- Foi o que pensei... - Disse, saindo de cima de mim. - vamos, levanta.

Ele ergueu sua mão a mim.

- Não vou a lugar nenhum com você.

O enfrentei!

- Porra como você é chata, em. Você tá enchendo o saco por respostas, não tá? Se sim, deixa de ser uma puta louca, pega minha mão e levanta logo.

Sentia um ódio profundo em ter que obedecer as ordens, mas aparentemente, eu não tinha outra opção. Peguei em sua mão e me levantei.

- Não quer nem trocar seus curativos?

Seu tom mudou repentinamente. Que cara estranho!

- Não!

Disse, cruzando meus braços e me afastando.

- Tá, você que sabe. Agora preciso que você não surte de novo, tá? Eu vou amarrar uma corda nas suas mãos, só pra garantir que você não vai fugir ou sei lá, já percebi que você é meio maluca.

Ele cortou a garganta de um cara, e eu que sou maluca?!

Ele foi chegando perto, de novo, devagar. Levantei os punhos e ele passou a corda, apertando bem e dando um nó.

- Anda na frente, eu vou te guiar. E não pense em tentar nenhuma gracinha.

Saímos do quarto e seguimos em frente, passando por um longo corredor onde tinham três portas, a do quarto onde eu estava, outra porta, de frente para a minha, e mais a frente, a direita, um grande corredor que terminava em uma porta vermelha, que me chamou muita atenção. Tudo nessa casa tinha uma arquitetura antiga, era como se tivesse voltado um século atrás.

- Ei, olhando pra frente.

Seguindo em frente vi uma imensa escadaria que descia a um imenso salão. Me impressionei com o tamanho do lugar, aquilo não parecia ser uma casa, parecia uma mansão. Desci as escadas, me apoiando no corrimão e com as pernas ainda fracas.

Olhando para o teto vejo um grande lustre. Que casa é essa?! Quem merda esse cara é?!

Chegando no andar de baixo vi milhares de portas, quase todas abertas, três daquelas chamaram minha atenção. Uma parecia ser uma sala, a outra parecia ser uma cozinha, e a que mais chamou minha atenção estava no centro do salão, a única que estava fechada.

- Lado esquerdo.

Ele mandou, puxando a corda. Andamos até o lugar, que parecia uma grande e velha sala de estar, com uma grande lareira e uma televisão antiga com um aparelho VHS, estantes de livro tão altas que precisavam de escadas para ser alcançadas, sofás de couro, poltronas de pele animal e um daqueles tapetes de ursos esquisitos no chão.

- Beleza, é aqui, pode se sentar.

O homem apontou para um dos sofás. Eu me sentei enquanto o encarava com zero simpatia .

- Bom... - Ele se jogou em uma poltrona, cruzando as pernas, completamente relaxado. - você deve ter muitas perguntas, né? Pode falar, sou todo seu.

Nojento.

- Que lugar é esse?

- Minha casa. Legal né?

- O que aconteceu comigo?

- Você correu que nem uma maluca, tropeçou, bateu a cabeça e desmaiou. Não "que em", você é.

- Eu apaguei por quanto tempo?!

- Não muito, uns três dias.

- Três?! Porra! E onde estão minhas coisas?! Meu celular?!

- Guardei. Viu como eu sou gente boa?

- Estamos longe da cidade?

- Não sei, talvez.

- Você é o assassino dos jornais?

- Em carne e osso. Primeira vez conhecendo um famoso?

Ele respondeu tudo extremamente tranquilo, como se fosse uma brincadeira para ele.

- E você vai me matar?

- Não pretendo, não por enquanto.

- Então o que você quer de mim?!

- Finalmente. Fez a pergunta certa, Stella.

- Que? Como você sabe meu nome?!

- Você pode não me conhecer, mas eu já te conheço tem um tempinho, sacou? Não é por nada, mas eu sou tão bom quanto você em me esconder. E olha, até que você é interessante, não é sempre que eu penso isso sobre alguém. Inclusive você é uma baita ladra, sabia? Eu até planejava chegar em você um dia desses, mas fica meio difícil quando você tenta dar um "oi" e apontam uma arma pra você, sabe? Fica meio foda.

- Espera, era VOCÊ?!

- É, pois é. A gente podia ter se conhecido melhor naquele dia, mas acho que você não queria.

- Porra, mas por que tudo isso?! O que você quer comigo?!

- Você tá sempre gritando? Caralho, relaxa um pouco. Mas beleza, já que é assim eu te explico... - Ele '"brincava" de se balançar na poltrona. - tem certeza de que quer saber?

- Para de enrolar! Aonde você quer chegar?!

- Ei, ei, calminha ai. Olha, eu acho que é meio óbvio, né? Você me pegou no flagrante e mesmo que não tenha visto a minha cara, você ainda poderia ir na polícia falar as merdas que viu. Ai as coisas virariam uma bola de neve e cairia tudo na minha conta, sacou?

- Se eu tenho tanta capacidade de te foder, por que não me matou ainda?

Ele se levantou e veio na minha direção.

- Você vai trabalhar pra mim.

- Que?!

- Eu poderia te matar se eu quisesse, mas acho que você pode ser útil, sabe? Ter alguém pra fazer o que eu mando... - Ele chegou um pouco mais perto. - do jeito que eu quero... - Ele ficava cada vez mais perto, com a tal máscara muito perto do meu rosto. - quando eu quiser.

Eu cuspi na sua máscara, senti desgosto, nojo dele.

- Você acha mesmo que eu vou trabalhar pra você, seu merda?! Acha que eu sou o que?! Assim que eu fugir daqui, minha primeira parada vai ser a polícia e você vai estar fodido, seu psicopata!

- Até que você é bem corajosa, Stella... - Disse secando o cuspe de sua máscara, com a manga de seu casaco. - por sorte sua, até que estou de bom humor hoje. Mas... - Ele se aproximou de novo, sussurrando em meus ouvidos. - ninguém disse se você vai continuar viva se resistir. Sabe, eu não sei nada sobre seus objetivos e sinceramente, estou pouco me fodendo, mas se você tem pessoas que ama lá fora, que dependem de você, não sei se recusar seria uma escolha inteligente, e sinceramente, você não me parece uma menina burra.

Nesse momento me lembro de Noah, Félix e de todas as promessas que fiz a eles, parece que agora não tenho escolha.

Ele se afastou, ficando de pé, na minha frente.

- Então, temos um acordo... - Ele passou suas mãos imundas pelos meus cabelos. - "Gambá"? É, gostei. Isso vai ser divertido, Gambá...

Eu não tenho muita escolha, sem mim Noah ficará preso naquela casa e Felix ficaria desesperado. Eu não posso ser tão idiota.

- Se você tentar qualquer coisa comigo eu juro que te mato, e de brinde enfio essa máscara de merda no seu rabo.

- Eu vou considerar isso um sim. Foi ótimo fazer negócios com você, tá? Agora, vamos te levar de volta pro seu quarto, amanhã você vai ter um longo dia de trabalho aqui dentro. Essa casa tá podre.

Continuo me questionando sobre essa decisão de merda, sobre o que vai ser da minha vida, o que será das pessoas que eu amo.





[...]






Ele me levou de volta para o quarto, onde me sentei na cama.

Ele começou a desamarrar minhas mãos.

- Acho que você percebeu as roupas que deixei lá no banheiro. Deve ter alguma toalha de banho nas gavetas ou sei lá, procure você mesma. Tem uns curativos e umas bandagens na penteadeira, caso você queira trocar os curativos e tal.

- Tá, eu posso ficar sozinha agora.

- Calminha aí, Gambá. Já que vai morar aqui, vamos precisar de umas

regrinhas. Você quer continuar com seu pescocinho inteiro, né?

Desgraçado, psicopata, idiota!

- Estou ouvindo.

Disse apertando os lençóis, com os dentes rangendo.

- Você volta pra cá às nove, quando acabar o serviço. Eu vou trancar a porta e, obviamente, eu vou te destrancar de manhã, esteja de pé as sete. Não vou ficar te acordando... - Ele começou a enrolar a corda no próprio braço. - alguma pergunta, Gambá?

- O seu nome.

Sussurrei baixo, quase inaudível.

- Fala mais alto, você é barulhenta demais pra se fazer de tímida agora.

- Engraçado, a maioria nem tem tempo pra descobrir, mas não é bem o seu caso, né. Parece que isso vai ser divertido... - Ele caminhou até a porta do quarto, tirando a chave do bolso e colocando do lado de fora da fechadura. A máscara com sorriso vazio "olhou" para mim. - Jeff, Jeff the Killer.

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