I - Stella

Maio, 23.

Barulho dos pássaros , folhas das árvores balançando com o vento. Foram as primeiras coisas que escutei, como sempre. Mais um dia começou.

Abri o zíper da barraca, levanto-me e dou uma bela olhada para a floresta à minha volta.

Bom dia, vida de bosta.

Caminhei até o varal e conferi se minhas roupas haviam secado. Peguei algumas e deixei outras para secar por mais algum tempo.

Voltei à barraca e revirei minha mochila para pegar algumas roupas e me trocar. Camiseta, bermudas jeans e tênis, isso já bastava. Ficar usando roupas curtas aqui não costuma ser uma decisão muito inteligente, mas que se dane, está quente demais e eu tinha muito o que fazer.

Juntei madeira, guardei o lixo nas sacolas e coloquei as roupas molhadas para secar.

Depois de algum tempo arrumando toda a minha bagunça, senti minha barriga roncar. Peguei meu celular e olhei a hora, quase meio dia

- Tá na hora de dar uma volta na cidade.

Stella, meu nome Não me lembro direito, mas acho que significa estrela. Vindo de alguém com esse nome as pessoas criam altas expectativas, alguém que seja realmente uma "estrela".

E grande merda, eu não sou.

Até porque com vinte e três anos eu deveria estar na faculdade, saindo com meus amigos nas sextas ou namorando alguém. É, passo longe disso.

Eu fugi de casa quando era pirralha, dezessete anos. Morar na rua, nas lixeiras, quartos de motéis e ouvindo casais no quarto ao lado fazendo coisas nojentas, dessas coisas eu entendo, é com isso que tenho experiência. De longe, de todos esses lugares, a floresta ainda é o melhor. Montanhas e mais montanhas, muitas árvores e tantas plantas e pedras que faria qualquer um se perder.

Acho que ninguém conhece essas matas melhor que eu, já explorei todos os cantos possíveis. A não ser o outro lado da montanha.

Ninguém explora o outro lado da montanha.

Quando me senti segura comecei a montar o meu acampamento. Me virando eu aprendi a fazer um varal, uma fogueira, achei bolsas, roupas e com muita sorte minha barraca. O que fiz não foi nada mais do que aprender a sobreviver.

Comparado a como era no início, as coisas não são tão ruins agora.

Antes eram frutas dos arbustos e restos das lixeiras. Agora são enlatados de comida, salgadinhos, hambúrgueres e outras coisas. Não é lá o mais saudável, mas ainda é alguma coisa.

Roubar compensa, aprender a furtar compensa. Pegar carteiras de drogados chapados e alcoólatras dopados ficou fácil depois de muita prática.

Falando nisso, é hora de arranjar a grana do almoço.

Sai do acampamento e fiz o mesmo curso de sempre. Soube que estava chegando quando vi as mesmas árvores de tronco torto amarradas com fitas vermelhas, as que eu mesma coloquei em lugares específicos para nunca me perder, mesmo que agora saiba todos os caminhos.

No fim do caminho atravessei a cerca que divide a floresta e a cidade, como todos os dias eu garanti que ninguém me visse.

Fiquei caminhando por um tempo, procurando algum desavisado.

Virando em algumas ruas, encontrei uma senhora sentada no banco de um ponto de ônibus. Falando com alguém no celular, enquanto contava notas de sua carteira. Sua bolsa estava largada no chão, isso vai ser muito fácil. Cheguei perto, como se fosse pegar o ônibus também.

- Licença, senhora... - Disse afinando minha voz e tocando no seu ombro, gentilmente. - sua bolsa está no chão.

A senhora olhou para mim, e para a bolsa.

- Oh! Obrigada mocinha, eu não percebi que estava aberta! Me dê apenas um segundo, estou com as mãos ocupadas.

Ele disse com seu celular e carteira nas mãos.

- Não se preocupe... - Peguei sua carteira e celular, gentilmente. - eu seguro para a senhora!

- Ah! Obrigada, querida!

Ela se abaixou bem lentamente, e com uma das mãos na coluna, tentando alcançar a bolsa.

Sem que percebesse, peguei trezentos dólares e fechei sua carteira.

Depois do que pareceu uma eternidade, ela conseguiu fechar a bolsa.

- Muito obrigada, mocinha. Você é muito gentil!

- De nada, senhora... - Devolvi seu celular e carteira. - tenha um bom dia!

Me despedi rapidamente e apertei o passo. Não ia demorar para que ela sentisse falta desse dinheiro, e eu não queria estar perto para ver.

Já longe do ponto, guardei o dinheiro no bolso de minha calça e andei por mais algumas ruas, até chegar a única farmácia da cidade.

Atravessei a porta de vidro, o sino preso a ela faz "ding, ding".

- Bom dia senhor, me dê só um minutinho! Já vou te atender!

O garoto respondeu de atrás do balcão, e de costas. Mexendo e remexendo em remédios nas prateleiras.

- Nossa, Felix trabalhando? Que milagre.

Provoquei, chegando perto do balcão e debochando.

- Olha só, a cópia barata da "Cruella" já veio encher o meu saco? E perto da hora do almoço, ainda por cima.

Ele se virou fazendo cara feia, enquanto mascava seu chiclete.

Felix, um cara um pouco mais alto que eu, cabelos pintados de vermelho, unhas pintadas, piercing no septo e nas orelhas. Meu melhor amigo.

Nós nos demos bem desde o dia que nos conhecemos. Ele teve uma vida de merda, não muito diferente da minha, mas com um final melhor.

Felix é um cara trans e gay, coisa que nem todo mundo "aceita", não que alguém tenha que aceitar, afinal a vida sempre foi dele. Mas digamos que seus pais foram uma das pessoas que não "aceitaram" e não gostaram nem um pouco da notícia. Preferiram expulsar o próprio filho de casa do que aceitá-lo. Qual dos dois parece mais fácil? Idiotas.

Um tempo depois ele conheceu a senhora Martha. Ela era, e ainda é, a pessoa mais odiada por todas as mulheres casadas dessa cidade. Afinal, ela é dona da maior e única boate Strip-Tease da região, a "Hell House". Independente disso ela tem um bom coração, e adotou Felix como seu filho.

Ele ganhou seu próprio quarto, comida e uma família de streapers pra chamar de sua. É estranho? Sim, mas ainda é um final feliz.

Uns bons anos atrás ele veio trabalhar nessa farmácia para ajudar a mãe com as despesas e para ter seu próprio dinheiro. Foi em um desses dias de trabalho que nos conhecemos. Quando eu ainda era burra e achava que roubar farmácias seria bem mais fácil. Resolvi furtar o lugar atrás de alguns remédios, mas Felix me pegou no flagrante.

Ao invés de chamar a polícia, ele preferiu perguntar os meus motivos para estar ali. Ele sempre foi curioso.

Eu era jovem, idiota e sozinha, então contei tudo a ele. E sendo um doce de pessoa, como sempre, ele quis muito me ajudar. Desde então, toda quarta a noite, ele fica na farmácia para seu plantão, eu fico do lado da rua esperando seu chefe ir embora, e assim que ele vai, eu entro.

Ele me dá sacolas com remédios, petiscos, bebidas e até mesmo algumas roupas. E faz anos que não nos desgrudamos.

- Posso deixar meu celular carregando aqui?

O coloquei no balcão.

- "Seu", nada né... -Arrancou o celular da minha mão. Esquentadinho, como de costume. - você roubou essa merda na semana retrasada.

- Ah, por favor. Por que uma criança de uns nove anos precisaria de um celular? Esquece isso! Agora me diz, você almoçou?

- Não, estou mortinho de fome.

- Então escolhe um lugar pra gente ir, porque hoje eu que pago.

Tirei os trezentos do bolso e joguei no balcão.

- Ai merda! De quem você roubou?

- Prefiro "pegar emprestado".

- Então de quem você "pegou emprestado", engraçadinha?

- Uma senhorinha no ponto de ônibus.

- Beleza, isso foi muito filha da puta. Sabe disso, né?

- Quem perdeu foi relaxado. Agora, tira esse jaleco e vamos sair daqui.

Saímos da farmácia e fomos a nossa confeitaria favorita, pedimos tudo que sentimos vontade. Macarons, cafés, sucos, sanduíches e tortas.

Foi um pouco inconsequente, afinal eu não queria torrar tudo em comida.

- Não que eu concorde com seus roubos, mas você deveria pagar mais coisas assim pra mim.

Ele sempre faz um super drama e me dá várias broncas quando eu roubo algo de alguém, mas quando o roubo o beneficia ele se faz de sonso.

- Quem diria que uns dólares poderiam fazer sua felicidade.

- Se esses dólares me pagam um café com a minha melhor amiga! Ah, inclusive... - Ele falava enquanto tentava enfiar dois macarrons em sua boca ao mesmo tempo. - você vai visitar o Noah hoje, né?

- Claro, tenho ido umas duas vezes na semana. De preferência quando meu pai tá dormindo, no bar, ou só bêbado. Você entendeu.

Dei uma mordida no meu sanduíche.

- Amiga, você sabe que você e Noah podem morar comigo, a mamãe e as meninas quando vocês quiserem. né? O que não falta naquela boate é quarto.

- Você sabe o que eu acho sobre colocar o Noah pra morar na Hell House, não é lugar de criança. Quando eu puder vou tirar ele de lá e ir pra uma casa melhor.

- Você diz isso a seis anos. Quando isso aí finalmente vai acontecer?

- Felix eu juro, tá mais perto! Eu tenho juntado toda a grana que eu posso, eu roubo todas as noites a anos, e tem dado certo! Eu já tenho quase sete mil dólares.

- Amiga, uma casa de boa custa de oitenta e cinco mil pra cima. Além disso tem despesas com comida, saúde e um monte de outras coisas, você não pode fazer tudo sozinha. E você sabe que roubar não vai te ajudar pra sempre. Uma hora vão te pegar, e não vai ser bonito.

- Eu prometi pra ele que conseguiria. Fiquei muito boa nisso e ganho muito dinheiro todas as noites. Esses otários ficam se embebedando em portas de bares nem percebem que estão sendo roubados. Qual o problema?

- Minha preocupação não tem nada a ver com certo ou errado, tem a ver com você. Algum dia você pode mexer com a pessoa errada, alguém sem noção ou um maluco que te faria algum mal! Você não tá sabendo das notícias?!

- Notícias? Que notícias?

Perguntei, confusa. Felix, claramente puto com minha falta de informação, tirou seu celular do bolso e começou a procurar por algo.

- Aqui, achei! "Homem é encontrado brutalmente morto na Rua Jones. Já é o quarto em um mês e a polícia diz fazer o possível, mas parece que o caso não tem tido nenhum progresso."

- Que? Me mostra. Aonde você leu isso?

Perguntei enquanto Felix me passava o celular.

- É o site do jornal da cidade, amiga. Não basta os drogados, estupradores, traficantes e pedófilos que a polícia não toma conta, agora temos um serial killer! Sério, como uma cidade tão pequena pode ter tanta gente podre? Isso aqui tá parecendo Chicago, que merda!

Felix continuava reclamando da ineficiência da polícia, enquanto eu estava perplexa com a foto das cenas dos crimes. As cenas dos crimes eram nem nojentas, sangue para todo lado, tanto sangue que era difícil ver outras coisas. O artigo também dizia que as vítimas ficaram irreconhecíveis depois do crime, que todas tinham cortes de faca nos rostos, formando um sorriso horrível de orelha a orelha e que, aparentemente, essa era a única semelhança entre todos os corpos.

- Stella? Stella! Tá me ouvindo?

- Ah, f-foi mal! Só fiquei meio paralisada com as fotos, o estrago foi feio.

- Pois é! E você sabe onde a maioria dos crimes aconteceu? Lá na Zona Escura, onde EU moro e onde VOCÊ rouba! Por isso que eu fico preocupado com você!

"Zona Escura", lado podre da cidade, onde as coisas acontecem. Onde ficam as boates, festas, o clube de Strip, os bares , motéis, o tráfico e as drogas. Muitas pessoas com renda mais baixa moram por lá, enquanto outras vão apenas para aproveitar as festas. Os criminosos, incluindo eu, gostam muito desse lugar, já que a polícia não se dá o mínimo esforço pra se meter lá. Tudo que acontece na Zona Escura, fica na Zona Escura.

- Você acha que a polícia não faz nada só porque os crimes aconteceram na Zona Escura?

- Se eu "acho"... - Ele fez uma pausa dramática. - eu tenho certeza! E é justamente por isso que eu quero que você me prometa que não vai pôr os pés lá amanhã, entendeu?

- Ah?! Sério isso? Felix amanhã é sexta, o dia com o melhor movimento! Sexta passada eu saí de lá com quinhentos dólares!

- Stella, esse psicopata pode muito bem estar por lá amanhã. E se alguma coisa acontecer com você? Como acha que eu vou ficar? E se você não estiver aqui para cuidar do Noah, quem vai cuidar? O seu pai?

Querendo ou não ele tinha um ponto, e eu odeio quando isso acontece.

- Merda! Tá, eu não vou!

- Graças a deus...

Ele soltou um suspiro de alívio.






[...]





O dia passou bem rápido. Estava escuro e eu caminhava enquanto ouvia músicas no meu celular. Levava comigo uma sacola cheia de refrigerantes, remédios, salgadinhos e doces. Cortesia do Felix. Foi para compensar o fato de ele ter me "proibido" de sair amanhã. Sinceramente, que "síndrome de irmão mais velho" é essa?

Depois de um tempo caminhando, cheguei em um bairro cheio de casinhas, praticamente todas iguais. Andando mais um pouco cheguei a casa duzentos e dois.

A casa em que eu vivia.

Uma grande macieira, essa árvore está no nosso quintal desde sempre, que eu me lembre.

Cheguei perto da casa, e com ninguém por perto, escalei a árvore como sempre fiz.

Apoiei minhas mãos nos grandes galhos e com a força de meus pés fui escalando aos poucos. Chegando ao topo me sentei em um galho bem firme, em frente a uma janela do segundo andar.

- Noah, Noah. Tá acordado?

Disse sussurrando, com medo de fazer barulhos muito alto. Depois de alguns segundos ouvi a janela destrancando e rangendo, conforme se mexia.

- Maninha!

Noah me recebeu com seu sorrisinho fofo, que eu sempre gostei, bem animado.

Meu irmãozinho mais novo, meu pequeno pontinho de alegria e esperança. Noah é o tipo de criança que me faz pensar que, talvez, as pessoas não sejam tão ruins assim. Ele tem nove anos.

Quando fugi não pude levar ele comigo, e eu odeio a ideia de deixar ele aqui. O mínimo que posso fazer é visitar ele durante a noite, sem que nosso pai saiba.

- E ai maninho! Como foi o seu dia?

- Foi legal, eu brinquei muito!

- Você não foi à aula?

- Não, o papai não me levou, e a mãe do Timmy disse que não ia me levar.

- Por que, maninho?

- O Timmy disse que ela tem medo do papai...

Aquele desgraçado!

- E o papai tá te tratando bem?

Sempre faço essa mesma pergunta, todos os dias eu sinto medo de que algo possa acontecer com Noah, e que eu não possa fazer nada a respeito.

- O papai não fala muito, ele tá sempre muito estranho. Bebendo aquelas "bebidas de adulto", que você fala.

- Eu sei, é bem chato, mas não liga pra ele. O que importa é que você tá bem, mas se te encostar em você, precisa me contar. Beleza?

- Eu sei... - Ele começou a cutucar um adesivo de estrela que estava colado em seu braço, parecia meio ansioso. - maninha, eu não gosto daqui.

Ele me olhou, com aqueles olhinhos assustados. Partia meu coração, como todos os dias.

- Eu sei que não maninho, mas aguenta só mais um pouquinho. A maninha vai te tirar daí, eu prometo.

- A gente vai poder morar junto, né? Só nós dois?

- Sim, óbvio que sim.

- Então a gente pode ter uma casa grandona? Com muita grama e que dê pra brincar de pique esconde e pega-pega!?

Ele me olhava tão esperançoso, era como se ele imaginasse tudo aquilo enquanto olhava para mim.

- Claro que podemos. Vou encontrar uma casa super legal, com muita grama e que dê pra brincar do que você quiser. Eu prometo.

- Jura?! Stella, Stella, a gente pode ter um cachorrinho?!

- Hm... - Coloquei minha mão no queixo, como se estivesse "pensando" se sim ou não. Óbvio que poderíamos, o que ele quisesse. - se você continuar estudando direitinho, podemos.

- Você é a melhor irmã do mundo.

Quem me dera eu fosse.

Dar uma vida nova para Noah é a coisa que mais me motiva no mundo, a única coisa que me faz querer viver nesse mundo de merda. Um dia eu vou tira-lo dessa casa, nós vamos pra bem longe dessa cidade e desse alcoólatra de merda, vamos viver a vida que a mamãe queria para nós.

- Olha, tá ficando tarde e você precisa dormir, e temos que tomar cuidado pra não acordar o papai, então eu vou indo. Tá bem?

- Ah não, por favor maninha. Você acabou de aparecer!

- Não fica triste! Semana que vem eu vou voltar, prometo! E mais uma coisa... - Peguei a barra de chocolate, que tinha guardado no meu bolso, e dei a ele. - é para você!

- Chocolate?! Pra mim?!

- Como se diz?

- Obrigado!

- Muito bem. Semana que vem eu te trago mais um, mas agora preciso ir!

- Promete mesmo que vai voltar?

- Óbvio que sim... - Coloquei minha mão em sua bochecha, acariciando e sentindo seu rostinho quente. - fica bem, tá?

- Tá bem. Eu te amo, maninha.

- Eu amo mais. Boa noite, e dorme bem.

Eu não posso mais esperar. Eu preciso daquele dinheiro, preciso tirar ele daquela casa. Não posso abusar da sorte para sempre, não posso ficar contando com isso. Se não, pode ser que um dia eu o chame na janela e ele não responda mais.

Que se foda essa merda de assassino, eu vou pra Zona. Eu não queria mentir para Felix, realmente não queria, mas esse é o único jeito de ajudar meu irmão.





[...]





Estava extremamente escuro, e a iluminação das ruas sempre foi uma merda.

A cada passo eu ficava com mais pressa. Mesmo que eu não seja o tipo de pessoa que sente medo de qualquer coisa, não posso baixar a guarda. Além disso, aquelas fotos ficaram o dia todo na minha cabeça. O sangue, a descrição de como os corpos foram encontrados, o jeito como essas pessoas devem ter implorado por suas vidas quando deram seus últimos suspiros.

Pensar nessas coisas me deixa pensando, onde um cara desses deve estar a essa hora?

Suspirei aliviada quando vi a grande cerca que separa a cidade da floresta, finalmente.

A alcancei e pulei, fazendo meu mesmo caminho de sempre, pelas plantas, árvores e pedras, com a lanterna do meu celular ligada.

- Hm... - Olhei para o chão, uma das fitas que prendi nas árvores estava no chão, jogada. - será que arrebentou?

A fita estava muito bem presa, a única maneira de arrancar dali seria cortando fora, tenho certeza absoluta. Dei uns sete nós nessa coisa.

Preferi me convencer de que estava tudo normal e que a fita tinha só arrebentado.

Um barulho?

Me virei rapidamente, com a lanterna, nada. Meu coração acelerou, mas tentei me controlar e seguir, já que não tinha visto nada e...

- Stella...

QUE PORRA ERA ESSA?!

Uma voz desconhecida e distante, mas clara atrás de mim! Os barulhos que agora pareciam ser de passos ficaram cada vez mais altos e mais rápidos!

Minha primeira reação foi correr!

Eu corri, corri muito e sem pensar! De longe consegui ver minha barraca, continuei correndo o mais rápido que pude, sem olhar pra trás, sem hesitar!

Quando cheguei perto o suficiente do acampamento, praticamente me joguei no chão, quase pulando na minha barraca. Vasculhei minhas mochilas, desesperada!

- ONDE?! ONDE TÁ?!

Continuei procurando com as mãos trêmulas, até que uma mínima sensação de alívio veio quando senti minhas mãos tocarem o ferro gelado do meu calibre trinta e oito. O arranquei da mochila, por sorte, totalmente carregado. Sai da barraca pronta para matar, quem quer que seja, o desgraçado lá fora!

- ANDA SEU MERDA, APARECE!

Disse segurando a arma, tremendo.

Mas, não ouvi mais nada, nem de passos ou vozes!





[...]




Quatro da manhã, o medo não me deixa dormir. Com a fogueira ainda queimando eu passei mais um marshmallows, enquanto bebi minha sétima lata de energético para tentar me manter acordada.

Isso sem tirar a arma do meu colo.

Meus olhos se mantiveram fixos na escuridão da floresta. Qualquer movimento, qualquer barulho se quer, eu dispararia.

A noite parecia nunca terminar, a luz do sol nunca vinha.

Por mais quanto tempo meu corpo aguentaria?

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