⠀ ⠀ ⠀ 𝟎𝟓. TASKMASTER
CAPÍTULO 05
── TREINADOR
CARTER NÃO GOSTAVA DA SENSAÇÃO DE ESTAR SENDO PERSEGUIDO. Já havia lidado com situações do tipo antes no exército. Ficar a mercê dos inimigos, ter que fugir para sobreviver. Ou matar para sobreviver. A última vez que ficou e esperou pelo pior, Carter se viu sendo preso por um crime que não cometeu. Um preço alto a se pagar para manter a boa reputação de alguém que admirava.
Ao andar apressadamente pelas ruas de Budapeste, tentando fazer o possível para acompanhar os passos de Natasha e Yelena, ele viu aquela sensação se intensificar. Olhando para todos os lados, fazendo o possível para se manter atento. Era questão de tempo até às Viúvas Negras encontrarem eles novamente. Por mais que estivessem em um local mais aberto agora, Carter tinha noção das pessoas a sua volta e do risco que cada uma delas estaria correndo.
Ao ouvir o som de sirenes, eles apertaram o passo e começaram a correr em direção as motos estacionadas do outro lado da rua. O som estava perto, o que significava que seus perseguidores também.
── Qual é a sua? ── Natasha perguntou, assim que eles chegaram até o veículo.
── Preta. Banco marrom. ── Respondeu Yelena. Procurando suas chaves, ela grunhiu. ── Cadê minhas chaves?
Quando Natasha jogou as chaves de Yelena para ar e a pegou novamente, mostrando que estavam com ela o tempo todo, a loira a fuzilou com os olhos.
── Ah, сука¹ ── Disse Yelena, xingando a irmã em russo.
── Adoro como vocês demonstram carinho uma pela outra, meninas. Mas temos um probleminha aqui. ── Interveio Carter, enquanto as duas mulheres subiam na moto. ── Não tem espaço pra mim.
Bufando, Natasha abriu os lábios para responder, porém foi interrompida pelo som alto de destruição. Um carro foi arremessado longe pela rua lateral por um tipo de tanque, claramente pertencente a Sala Vermelha. Carter não pode conter o suspiro surpreso ao ver os estilhaços de uma vitrine e parte do prédio sendo destruído pelo impacto do veículo. O tanque parou exatamente virado na direção deles.
── Mas que merda. ── Praguejou Kane, sem saber o que fazer. A ruiva acelerou a moto.
── Vou tentar atrai-lo pra gente. ── Ela começou a explicar, olhando na direção do loiro. ── Procure um carro que possa comportar nós três.
── O que? Calma aí, que ideia suicida é essa? ── Carter questionou, enquanto Natasha dava partida e começava a passar por ele.
── Apenas faça o que estou te dizendo! ── Natasha gritou para ele.
Sem muita escolha, Carter correu para uma rua adjacente enquanto Natasha atraía o tanque e fazia com que ele seguisse direto. Passando por cima das motos estacionadas e das cadeiras deixadas por estabelecimentos. Destruindo vitrines e parte da calçada, sem dar a mínima para a consequência.
Fazendo o possível para se apressar, Kane correu rua abaixo, parando apenas quando avistou um homem estacionando um veículo azul perto da calçada. Antes que ele se afastasse muito e guardasse as chaves no bolso, Carter o derrubou no chão e puxou as chaves bruscamente das mãos dele. O desconhecido ainda tentou resistir, mas não foi capaz de fazer muito quando foi derrubado novamente. Entrando no carro, Carter deu partida e saiu cantando pneu, seguindo os rastros de destruição pela cidade, em busca de encontrar Natasha e Yelena antes que fosse tarde demais.
Quando ele finalmente as encontrou, não havia sinal do tanque por perto. Parecia que haviam conseguido despista-lo por hora, porém seria questão de tempo até estarem sobre a mira do mesmo novamente. Carter tentou se aproximar das duas, mas uma Viúva Negra de moto estava dificultando seu alcance, assim como os carros que ele teria que desviar na rua. Cada vez ficava mais difícil dirigir, conforme se aproximavam da parte mais agitada da cidade. O fluxo de carros era constante, sendo complicado desviar de todos.
Ouvindo o som de disparos, ele fez o possível para ajudar. Tentando jogar o veículo para cima da perseguidora, Carter deu uma chance para Natasha se adiantar. Se abaixou quando a mulher disparou tiros em sua direção, enquanto tentava se manter na rodovia sem acabar acertando ninguém no processo. Graças a essa distração, ele teve que pegar um caminho alternativo para chegar até elas.
Seus caminhos se cruzaram novamente fora das vielas da cidade. Carter observou o momento em que a moto de Yelena bateu contra uma divisão de concreto, fazendo com que as duas mulheres fossem lançadas por cima da divisão em direção ao meio da rodovia cheia de carros. Tiveram um pouco de sorte pelo trem que passou na hora, bloqueando o caminho da Viúva. Na contramão, Kane acelerou o carro apenas para parar ao lado delas.
── Vamos! Não temos muito tempo. ── Disse ele abrindo a porta do passageiro para Natasha.
── Olha só, que cavalheiro. ── Debochou Romanoff, enquanto se levantava e entrava no carro. Yelena fez o mesmo, ficando na parte de trás.
── Quem disse que não existe mais romance no século XXI? ── Ironizou Carter, dando partida no veiculo e cantando pneu pela rodovia. ── Só estamos mais adaptados ao contexto do século. Ao invés de um jantar romântico pela manhã, nós fugimos de assassinas russas e seu tanque de guerra que destrói toda uma cidade.
Quando rajadas de tiro acertaram os vidros das janelas do carro, os três se abaixaram, buscando proteção.
── Que tal você parar com suas filosofias idiotas e acelerar esse carro, Andrei? ── Yelena gritou para ele, irritada.
── Eto bol'she ne moye imya²! ── Ele a respondeu em russo, acelerando o carro o máximo que poderia naquele momento.
A perseguição continuou, a mulher ainda estava atrás deles. O pé de Carter não saía do acelerador, seus olhos focavam o máximo que poderia na pista e em conseguir desviar dos outros veículos a sua frente. Mesmo assim, a Viúva Negra ainda estava chegando perto. Mais disparos ocorreram, dessa vez quebrando o vidro de trás.
── Ok, algum de vocês dois tem um plano ou tenho que continuar abaixada? ── Yelena perguntou.
── Tenho. Meu plano é tirar a gente daqui. ── Natasha respondeu, gritando para a irmã.
── Que plano bosta. ── Murmurou Yelena.
── Pelo menos é melhor que o meu. ── Carter apertou o volante, fazendo uma curva consideravelmente brusca. ── Meu plano é basicamente não morrer.
── Não sei qual de vocês dois é pior. ── a loira resmungou, se inclinando sobre o assento até chegar ao volante e fazendo com que Carter virasse o veículo na direção da perseguidora. ── Mantenha o carro assim! ── ordenou ela.
Enquanto Carter dirigia, Yelena chutou a porta do lado direito fazendo com que a mesma se soltasse e atingisse a Viúva. A moto da mulher girando pela rua, enquanto ela caía pela calçada. Com ela no chão e fora do encalço deles, ele pode retornar o carro a direção original.
── De nada. ── Disse Yelena, ofegante.
Carter não desacelerou o carro depois disso. Se mantendo na mesma velocidade, fazendo uma curva complicada e atraindo alguns olhares assustados e curiosos, ele continuou a dirigir sem um rumo real. Tudo que esperava era conseguir ficar o mais longe o possível o mais rápido que pudesse. Porém nada saiu como ele esperava.
Passando por cima de vários e carros e saindo de uma rua oposta aquele que eles haviam acabado de passar, estava aquele tanque da Sala Vermelha. Agora ele seguia os veículo deles, passando por cima de qualquer obstáculo como se fosse nada.
── Ah, merda. ── Praguejou Yelena, olhando para trás ── Ele voltou, pessoal.
Natasha e Carter viram através do retrovisor o momento em que a mesma pessoa mascarada que havia atacado os dois, saía de dentro do tanque e deslocava um arco e flechas de suas costas.
── Põem o cinto. ── Ordenou Romanoff, também colocando o dela. Seu olhar subiu para Carter. ── Os dois.
── Tá falando sério? ── Kane perguntou, com os olhos arregalados.
── Parece uma mãe. ── Yelena resmungou, mas obedeceu.
── Coloca logo o cinto, Carter! ── Natasha gritou, ficando nitidamente irritada.
── Tá bom, tá bom! ── Respondeu ele, puxando o cinto e o colocando, ao mesmo tempo que tentava continuar dirigindo na velocidade que mantinha.
Quando a flecha foi disparada, acertou em cheio a parte de baixo do carro. A explosão fez o veículo saltar do chão e virar de cabeça pra baixo, caindo em cima do tanque e passando por cima de outro carro que ficou preso a frente. Ao retornar ao chão de concreto das ruas da cidade de Budapeste, ele desceu as escadas direto a uma estação de metrô. Totalmente destruído e ainda de cabeça baixo, algo que fez a mente de Carter girar.
Ele piscou os olhos, tentando a todo custo focar sua visão em algo, tentando fazer com que tudo parasse de girar porém parecia impossível. Flashs pretos pipocaram em seus olhos, sem saber exatamente o que estava vendo e o que poderia fazer para sair daquela situação. Tudo que ainda o mantinha preso a cadeira do motorista era o cinto de segurança.
Uma voz começou a chamar seu nome e quando se virou na direção dela, sua mente ficou mais confusa ainda. Teve uma visão de fogo crepitando, do som abafado de tosse e, quando achava que estava encarando o rosto de Natasha, na verdade encarava o rosto preocupado de sua mãe. As mãos da mulher tentando alcança-lo, a forma como ela dizia várias vezes que tudo ficaria bem. Carter gaguejou palavras incompreensíveis, sem saber o que dizer ou como dizer qualquer coisa.
Buscando trazê-lo de volta a realidade, Natasha deu alguns tapas no rosto dele e em seguida retirou o cinto de segurança. Carter caiu com baque sobre os estilhaços do carro, mas pelo menos estava conseguindo voltar a si.
── Anda, vem. ── ela disse para os dois, tanto Kane quanto Belova. Fez o possível para puxar os dois para fora do veículo destruído.
── Natasha, não. ── Grunhiu Yelena, ao sair do carro pela janela. Carter saía pelo lado oposto. ── Acho que estou sangrando. Eu...
Yelena tentou cobrir seu ferimento, mas foi impedida pela irmã.
── Não. Agora, não. Confia em mim. ── Disse a ruiva, puxando a irmã e chamando Carter para segui-la.
Ainda um pouco desnorteado, ele seguiu as duas mulheres. Desceram escorregando pelo corrimão da escada rolante, até chegar ao fim e estarem perto dos trens. Seu perseguidor lançou o escudo, que passou zunindo pelos três até fincar em uma parede. Atraindo vários murmuros surpresos das pessoas que subiam e desciam as escadas.
Ao se levantarem do chão, continuaram correndo, buscando não perder o ritmo e encontrar uma alternativa de fuga. Quando Natasha apontou para a ventilação, acima da área de embarque dos trens, eles não pensaram duas vezes em seguir essa ideia. Antes deixaram rastros de sangue de Yelena em um alçapão no chão, que foi o suficiente para distrair seu perseguidor.
── Espera aí. ── Carter murmurou, chamando a atenção das duas em seu esconderijo. ── Ele não vai descobrir que estamos aqui? Ainda estamos com os frascos, eles podem nos rastrear.
── Achei um inibidor de sinal no esconderijo da Natasha. ── Respondeu Yelena. ── Ele vai nos dar algum tempo de vantagem, mas não sei quanto isso vai durar.
Grunhindo enquanto apertava o pano em volta de seu ferimento, Belova respirou profundamente.
── Você tá legal? ── Natasha perguntou, preocupada com a irmã.
── Eu tô bem. Ótimo plano, a propósito. ── Respondeu Yelena, sentando-se. ── Adorei a parte em que sangro até quase morrer.
Carter soltou um riso fraco, enquanto se encostava em uma extremidade.
── Até que aqui é bem confortável. ── ele murmurou. ── Uma coisa meio stalker, bem medonha, mas até que é aconchegante.
── Foi aqui que me escondi durante 2 dias com o Barton. ── Disse Natasha, erguendo o olhar da grade para Carter e depois para alguns rabiscos feitos pelos dois.
── Deve ter sido uma diversão. ── Comentou Yelena, ironicamente.
── Quem é aquele cara? ── Perguntou Romanoff, mudando o assunto.
── Projeto especial do Dreykov. É chamado de Treinador. ── Yelena respondeu. ── Ele pode imitar qualquer um que já tenha visto. É como lutar contra um espelho. Dreykov só envia ele para missões de maior prioridade.
── Não faz o menor sentido. ── murmurou Natasha, balançando a cabeça de um lado ao outro.
── A verdade raramente faz sentido quando se omite detalhes essenciais. ── Yelena retrucou, olhando na direção da irmã mais velha.
As duas se encararam.
── Tá querendo me dizer alguma coisa? ── Romanoff a questionou, ríspida. Carter não gostava da forma como aquela conversa estava seguindo.
── Você não disse uma palavra sobre a filha do Dreykov. ── Yelena respondeu a ela no mesmo tom. ── Você matou ela.
── Não tive escolha. ── Natasha assentiu. ── Precisava que ela me levasse até o Dreykov. A filha dele foi um dano colateral da missão. Precisei dela pra garantir.
── Pelo visto, ── Carter murmurou, depois que Natasha terminou de cobrar o que havia acontecido. ── não foi tão garantido assim, né?
── Eu tinha que sair. ── Natasha respondeu, sua voz saindo quase como um sussurro quebrado. Levou tudo dela para conter as lágrimas, desviando o olhar e deixando se perder em qualquer ponto aleatório daquele lugar apertado onde se encontravam.
Yelena encarou a irmã por um momento, mas não disse nada. O silêncio entre eles durou por um tempo. Nenhum dos três tinha algo a mais para dizer sobre aquilo e era nítido o quanto Natasha se culpava pelo o que havia acontecido no passado, mesmo tendo feito tudo que achava necessário para comprar sua liberdade. Sobre tudo o que haviam conversado, Carter só conseguia pensar que ele não era o único capaz de voltar dos mortos. Dreykov também era muito bom nisso.
Depois de uma parada em um posto de gasolina para comprar alguns suprimentos como remédios e água. Ele deixou que Natasha e Yelena tomassem a frente disso, também dando um tempo para as duas conversarem em particular. Os três se reuniram em um bar que Carter encontrou, a poucos quilômetros do posto, para tentar aproveitar a paz temporária que tinham e também tirar um momento de descanso.
O tempo acabou passando bem rápido. A tarde foi tomada pela noite e por um vento fresco. Afundando mais em sua cadeira, Carter soltou um suspiro de conteúdo. Sua mente ainda repassava tudo que havia vivido nos últimos dias, tentando entender como chegou tão rápido a essa situação. Ao lado dela, Yelena cuidava de seu ferimento. Os dois esperavam Natasha retornar com as bebidas que tinha ido comprar.
Quando ela finalmente apareceu, deixou as respectivas bebidas na frente de cada um e se sentou do outro lado da mesa, encarando os dois.
── Aquele gás, o antídoto ── Yelena começou a dizer, apontando a cabeça na direção da bolsa com os frascos. A mesma estava ao lado de Natasha. ── foi sintetizado em segredo por uma Viúva mais velha, da geração da Eva e da Melina. Eu tava em uma missão para recuperá-lo e ela me expôs. Ai eu matei a Viúva que me libertou.
── Você teve escolha? ── Romanoff perguntou para ela.
── O que você sofreu foi condicionamento psicológico. ── Explicou. ── Eu to falando de alteração química das funções cerebrais. São coisas completamente diferentes. Você tá consciente, mas não sabe o que é decisão sua. Ainda não tenho certeza.
Natasha não respondeu, mas foi para o lado de Yelena para ajuda-la a cobrir seu ferimento. Carter levou seu olhar para longe, levando a garrafa de cerveja aos lábios para beber um pouco.
── Só sobrou isso? ── Ele perguntou, apontando para a bolsa.
── Sim. É a única coisa que pode impedir Dreykov e a rede de Viúvas Negras dele. ── Respondeu Belova, grunhindo um pouco pelo contato de Natasha com o corte que tinha abaixo do ombro. ── Ele cria mais a cada dia. Crianças que não tem quem as proteja. ── Se direcionou a ruiva ao seu lado. ── Como nós quando éramos pequenas. Talvez uma em vinte sobreviva ao treinamento e vire Viúva. O resto, ele executa.
Quando Natasha não respondeu, Yelena desviou o olhar.
── Pra ele, somos só coisas. Armas sem rosto que ele pode jogar fora quando quiser. ── Disse ela. ── Por que tem sempre mais. E ninguém tá atrás dele, graças a você e ao Alexei.
── Alexei? ── questionou Romanoff.
── Uhum. ── Assentiu Yelena. ── "Papai. "
Natasha finalizou o curativo e retornou ao seu lugar. As duas levaram seu olhar a mesma direção que Carter, algumas crianças que brincavam do outro lado da rua. Ele havia ficado absurdamente quieto a maior parte do tempo, sua mente sendo consumida por pensamentos e lembranças desagradáveis.
── Carter. ── Natasha o chamou. Ele olhou para ela. ── Tá tudo bem?
── Tá, é só... muita coisa pra assimilar agora. ── ele limpou a garganta. ── Sai da cadeia a 2 dias e minha vida já tá mais bagunçado do que quando entrei na prisão.
── Espera ai. ── interveio Yelena, chocada. ── Você tava preso?
── Não contei essa parte pra vocês? ── Carter perguntou. Elas negaram. ── Cara, não acredito que deixei a melhor parte da minha vida de fora. ── ele ironizou.
── Na verdade, você deixou toda sua vida de fora. ── Disse Yelena. ── O que esteve fazendo em todos esses anos que achamos que você morreu?
── Eu estava tentando viver uma vida normal. ── Deu de ombros. ── Depois que minha mãe e o Mikhail morreram, eu estava sozinho no mundo. A última coisa que ela havia me dito antes de morrer era "mude seu nome, vire outra pessoa se precisar, apenas não deixe que ele chegue até você". Ele, no caso, era o psicopata do meu avô. Fiz exatamente o que minha mãe pediu.
── Você era apenas uma criança.── respondeu Yelena. ── Como conseguiu?
── Sinceramente, nem eu sei. ── Ele riu, sombriamente. ── Depois de fugir do acidente, peguei carona com um doido no meio da estrada. Fui parar em vários lugares aleatórios do Estados Unidos. Sem identidade, sem um nome. Poderia ser quem eu quisesse ser e eu fui várias pessoas, antes de me tornar Carter Kane.
── Parece uma mulher que eu conheci a um pouco tempo atrás. ── Natasha comentou, levando a sua bebida aos lábios. ── Ela era ótima em fingir ser quem não era. Uma perfeita atriz.
── Era alguma amiga sua? ── Carter perguntou, curioso.
── Não, com certeza não. Alyssa Blake não é amiga de ninguém. ── Fracamente, a ruiva riu. ── Mas enfim, continua a sua história. E como você chegou a quem é agora?
── Bom, algumas pessoas me deram um lar temporário, outras queriam me levar pra um orfanato. Felizmente o tempo passou rápido e eu dei um jeito de me virar sozinho. ── Carter explicou. ── Conheci um cara que poderia fazer documentos novos e ele praticamente me deu uma nova vida. Aproveitei a chance pra entrar pro exército, ficar o máximo de tempo o possível fora da cidade ou do radar de qualquer autoridade.
── Isso explica porque foi tão difícil de encontrar você. ── Respondeu Natasha. ── Você realmente queria ficar inalcançável.
── Só não queria ver o desgraçado do meu avô novamente. ── Disse Carter, com certo ódio ao lembrar de Anatoly. ── Ele acabou com a vida e com a sanidade da minha mãe. Transformou a própria filha em uma arma e, quando ela se revoltou contra ele, a caçou como se fosse um bicho.
── Para esse tipo de gente, não existe linguagem capaz de superar a necessidade constante que ele tem de querer estar no controle de tudo. ── Yelena comentou, olhando para a sua própria garrafa. ── Dreykov começou com esse controle depois que sua mãe fugiu. Ele dizia que não queria mais "garotas rebeldes como Eva".
Carter umedeceu os lábios, balançando a cabeça de um lado ao outro. Seus olhos estavam marejavam um pouco, mas ele se conteve. Não deixou uma lágrima sequer derramar. Ao invés disso respirou fundo e bebeu um pouco mais.
── Eu me casei. ── ele revelou a elas. ── Conheci uma mulher e tive uma tentativa de vida feliz ou algo do tipo.
── Sério? ── Yelena perguntou, dando um olhar rápido para Natasha e percebendo um mínimo sinal de desconforto nela.
── É, mas eu fodi com tudo. ── Cruzou o braços em cima da mesa e deixou seu olhar intercalar entre as duas mulheres. ── Nos divorciamos quando fui parar na cadeia. Achei que era o melhor a se fazer.
── Por que você foi preso? ── foi a vez de Natasha perguntar.
── O capitão do meu pelotão no exército estava contrabandeando tecnologia alienígena para o exército inimigo. ── Carter confessou. ── Traeger era... Ele foi como um pai pra mim, foi quem me recebeu e quem sempre me tratou super bem. Todo mundo considerava o cara. Ele era inspiração para vários homens e mulheres naquele batalhão.
Carter respirou fundo novamente. As lembranças do dia retornando a sua mente e lhe fazendo sentir tudo de novo. Incredulidade, raiva, ódio, tristeza, culpa.
── Ele estava fazendo isso junto de outros dois do nosso pessoal. ── Continuou a explicar. ── Uma noite, acabei descobrindo. Eu vi eles descarregando o equipamento e os confrontei. Traeger tentou me comprar dizendo que eu ganharia muito dinheiro, que conseguiria dar uma vida melhor pra Eliza, minha esposa. Não aceitei aquela merda e eles tentaram atirar em mim, pra me calar. Eu revidei e acabei mantando os três aquela noite.
Ele quase poderia ouvir o som dos disparos novamente. Tão vívido quanto antes.
── Os disparos alertaram o pessoal e todos foram ver o que aconteceu. Ao invés de contar a verdade, eu me entreguei como culpado. ── Concluiu Carter. ── Vocês podem achar que foi burrice, mas eu... Eu acho que foi melhor assim. Muita gente contava demais com o Traeger, era difícil que acreditassem que ele era um traidor.
── Então você assumiu a culpa de boa vontade. ── completou Yelena.
── Isso aí. ── ele assentiu. ── Passei 8 anos na cadeia e tô em condicional agora. Bom, na verdade acho que, depois de hoje, vão me querer de volta atrás das grades.
── E eu achando que a minha vida era uma merda. ── Murmurou Belova, rindo fracamente.
── Bom, se servir de consolo acho que ninguém aqui tá com a vida 100% ── respondeu Natasha. ── Todos nós nos encontramos no fundo do poço.
── É muito bom dividir o fundo do poço com vocês, senhoras. ── Disse Carter, levando erguendo sua garrafa para um brinde, o qual elas alegremente fizeram.
Depois que olhar das duas recaiu momentaneamente nas crianças brincando novamente e um menino que correu até o pai, um silêncio temporário recaiu sobre eles. Até ser quebrado por Yelena.
── Você já foi procurar os seus pais? ── a loira perguntou a irmã. ── Os verdadeiros?
── Minha mãe me deixou abandonada na rua como se fosse lixo. ── Disse Natasha, brincando com as próprias mãos. ── E você?
── Eles destruíram minha certidão de nascimento, então eu reinventei. ── Respondeu Yelena. ── Meus pais ainda moram em Ohio. Minha irmã se mudou para o oeste.
── É sério?
── Você dá aula de ciências. ── Yelena continuou, sorrindo. ── Mas fica lá só meio período, especialmente depois que teve um filho. Seu marido faz reformas de casas.
── Essa não é a minha história. ── Comentou Romanoff, rindo.
── E qual é a sua história? ── Perguntou Carter.
── Eu nunca... Fico sozinha o bastante para pensar nisso. ── Natasha respondeu, olhando tristemente para ele. Um curto sorriso nos lábios.
── Você já quis ter filhos? ── Yelena perguntou, puxando o colete para poder vestir. Quando Natasha não respondeu, ela se virou para Carter. ── E você? Já quis?
── Eliza e eu... Nós íamos ter um filho. ── Carter respondeu, melancólico. ── A gestação não saiu como o planejado. Depois disso, depois do que passamos, acho que estou meio que deixando essa experiência de lado. ── terminou bebendo o resto de sua bebida.
Yelena concordou, assentindo com a cabeça. Natasha desviou o olhar, ponderando sobre as palavras dele.
── Eu quero um cachorro. ── Yelena comentou, enquanto fechava seu colete. Os dois sorriram fracamente com a fala dela.
── Tenho certeza que dá tanto trabalho quanto um filho. ── Disse Carter, no que Natasha assentiu.
── Pra onde você vai agora? ── A ruiva perguntou para a irmã.
── Não sei. ── Yelena respondeu, Sinceramente. ── Eu não tenho lugar nenhum pra onde voltar, então acho que pra qualquer lugar.
── Tava pensando em um convite. ── Natasha se inclinou sobre a mesa, seu olhar intercalando entre Carter e Yelena. ── Para os dois.
── Ir até a Sala Vermelha e dar um fim no Dreykov? ── Yelena perguntou.
── Um fim definitivo dessa vez? ── completou Kane.
Natasha afirmou com a cabeça.
── Mesmo que a Sala Vermelha seja impossível de achar? ── Disse Belova.
── Sim.
── Isso vai dar um trabalhão. ── comentou Carter. ── Promete que não vai tentar atirar em mim dessa vez?
── Se você for um bom menino, talvez eu não atire. ── Concluiu Romanoff, sorrindo e atraindo uma risada fraca dos dois.
Carter bufou, em diversão e em seguida deu de ombros.
── Não tenho nada de mais importante pra fazer mesmo. ── Carter respondeu. ── Nesse momento qualquer coisa é lucro.
⧗. TRADUÇÕES ━━
¹vadia
²esse não é mais o meu nome
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