𝐈. 𝐏𝐎𝐒𝐓 𝐂𝐑𝐄𝐃𝐈𝐓 𝐒𝐂𝐄𝐍𝐄
CENA PÓS CRÉDITOS I
── O CUBO.
APÓS MESES FUGINDO E AGINDO DE FORMA SILENCIOSA pelas cidades que passaram, Carter já estava se acostumando com a vida de procurado. Wanda, Steve e Sam eram uma boa companhia, se tornou fácil estar com eles, mesmo com suas peculiaridades. A sensação de segurança era sempre temporária, porém sempre bem-vinda e ele estava disposto a fazer de tudo para não voltar para a cadeia.
O problema de agir pelas sombras, era que eles tinham muito para lidar. Entre fugir do governo, ajudar os necessitados, ser cuidadoso e ser capaz de limpar o próprio nome, Kane quase se esqueceu de relaxar ou focar em algo que já estava a algum tempo escondido no fundo de sua mente. Apenas quando eles pararam no Colorado durante um período é que ele se lembrou daquilo que deu início a todos os seus problemas: o cubo.
Aquele objeto que foi feito por seu avô para ele e Mikhail. Carter tinha as duas partes do objeto, mas nunca pensou em finalmente uni-los para saber o que significavam. Ele demorou bastante para decidir o que fazer. Ponderou sobre as suas possibilidades, se deveria ou não descobrir o que aquele objeto deveria significar, ele considerou até mesmo a possibilidade de simplesmente jogar aquilo fora ou quebra-lo em vários pedaços. Estava tentando esquecer aquela parte do seu passado, aquela que foi dilacerada por Anatoly, mexer naquilo poderia ressuscitar muitas lembranças ruins.
Foi necessário uma conversa com Natasha para ele tomar coragem. Na quinta noite deles na cidade, ela já havia percebido o quanto ele estava inquieto. Steve estava fora, tirando um tempo para encontrar Cora e Daniel e dar algumas explicações. Sam e Wanda estava resolvendo algum problema em outra cidade. A casa em que se escondiam estava silenciosa e Carter não conseguia pregar o olho por nenhum minuto sequer. Seus olhos estavam focados no teto amarelo do quarto, Natasha estava deitada ao seu lado, supostamente dormindo.
── O que está te incomodando, ein? ── a voz dela soou no silêncio, atraindo a atenção do loiro. Sempre direta, Natasha já não aguentava mais ve-lo tão distante. Precisa de respostas e precisava ajuda-lo. ── Cogitando a possibilidade de pintar o teto de quarto de novo?
Carter riu, fracamente. A poucos dias atrás ele havia comentado com Steve que queria mudar a cor do quarto, porque não gostava da cor amarela. Como o dinheiro que tinham não era muito, o Capitão não apoiou a ideia dizendo que não deveriam gastar com coisas tão triviais como uma lata de tinta. Ainda mais porque não ficariam ali por muito mais tempo.
── Bom, o Capitão não tá aqui agora. ── ele deu de ombros. Voltando a olhar para cima, um braço atrás da cabeça e outro descansando em seu estômago. Natasha estava de lado, olhando para ele. ── Eu bem que poderia pintar essa casa toda de novo. Acho que ele nem perceberia.
── E o que ele faria se percebesse? Te colocaria para dar 50 voltas em volta da casa? ── Natasha debochou. Carter riu. ── Mas, falando sério, tem alguma coisa séria passando pela sua cabeça agora? Está arrependido de ter me seguido?
── O que? Não. ── ele olhou para ela. ── Nunca. Faria tudo novamente, sem pensar duas vezes. Gosto de estar com você.
── Então o que é? ── Natasha perguntou, ainda um pouco preocupada. ── Já faz um tempo que você está estranho, Carter.
Ele olhou para um ponto além dela, pensando em como tocar no assunto. Kane respirou fundo.
── Achei os cubos que meu avô fez. ── Ele respondeu, ainda sem conseguir encara-la. Carter não sabia dizer o porque de se sentir tão incerto. Talvez estivesse com medo de Natasha desaprovar sua idéia de mexer no objeto? Ou medo dela apoia-lo? Se sentia tão confuso. ── Sei que não parece grande coisa, mas... Não consigo tirar essa merda da minha cabeça. Não sei o que fazer com aquilo.
── Você quer saber o que tem dentro dele? ── a loira o questionou, com um olhar impassível. Ela não demonstrar estar chateada ou brava, apenas estar prestando atenção em Carter.
── As vezes, sim. Tem vezes que só quero jogar aquilo o mais longe o possível e fingir que nunca existiu. ── Kane respondeu, com sinceridade. ── A verdade é que tenho medo do que vou descobrir, mas também tenho medo de nunca saber o que o velho escondeu ali. Fico pensando, e se acabar caindo em mãos erradas de novo? Muitas possibilidades passam na minha cabeça e isso tá me deixando ansioso.
── Você tem que parar de se cobrar tanto. ── disse Romanoff, levando sua mão até a dele, entrelaçando seus dedos. Carter olhou para suas mãos unidas por um tempo. ── Basta fazer o que sente vontade, amor. Se acha que deve descobrir o que tem ali, você deve fazer. Por mais difícil que seja, as vezes pode ser o certo a se fazer. É melhor acabar de uma vez com aquilo que te faz perder o sono a noite, do que deixar te corroendo pelo resto da vida.
── Mesmo que eu acabe me decepcionando ao descobrir o que tem naquela coisa? ── Ele a questionou.
── Olha, pelo menos você não vai ser surpreendido. Já estamos esperando o pior mesmo. ── Natasha respondeu.
── Isso é verdade. ── disse Carter, rindo fracamente. ── Foi feito pelo meu avô, é claro que vai ser o pior.
── Mas você também pode se recusar a descobrir o que é. ── cogitou. ── Podemos arrumar um jeito de destruir os dois cubos, sumir com eles de vez. Não vão fazer falta mesmo e não vão dar trabalho pra ninguém.
O polegar dele passou suavemente pelas costas da mão de Natasha. Carter se observou brincar com os dedos dela por um tempo, ponderando sobre as palavras que a mesma disse a ele.
── As vezes me pergunto se Mikhail viu o que tinha dentro dos cubos. ── confessou ele, com sinceridade. ── Ele ficou com os dois por um tempo, com certeza deve ter mexido. Queria saber qual foi a reação dele, se ficou com mais raiva do nosso avô. Se foi isso que o impulsionou a mata-lo no final das contas, ou se já havia matado ele antes de conseguir os cubos. Sei que parece loucura, mas penso demais nele.
── Não é loucura, Carter. Sente falta dele e é normal se sentir assim. ── disse a loira. ── Você passou a maior parte da sua vida achando que seu irmão estava morto. Logo no momento em que se reencontraram, Mikhail foi embora. Vocês nem tiveram tempo de conversar direito, de realmente se entender.
Ele ficou em silêncio por mais um tempo, se Natasha não o conhecesse tão bem, poderia jurar que Carter havia voltado a dormir. Porém os dois já estavam juntos a alguns meses, mesmo com todo a loucura desse nova vida, eles conseguiram achar tempo para recuperar os anos perdidos. Se tornou fácil conhecer um ao outro tão bem.
── Quero saber o que tem dentro dos cubos. ── ele respondeu, decidido. Natasha pode perceber que ele não planejava voltar atrás com essa decisão. ── Depois disso podemos destrui-los.
── Tudo bem. ── ela assentiu, dando um sorriso mínimo para ele. ── Vamos descobrir o que tem neles amanhã. Por agora, temos que descansar.
Carter a puxou para mais perto, envolvendo seu braço em volta da cintura de Natasha, ela deixou sua cabeça descansar sobre o ombro dele. Fez o possível para ficar confortável e cair em um sono tranquilo novamente. Infelizmente, Kane apenas conseguiu ter um sonho estranho com o seu irmão. Tentava alcançar Mikhail, mas nunca conseguia chegar até ele. Depois percebeu que era apenas a sombra do próprio irmão e que nunca conseguiria alcança-lo, principalmente depois que todas as luzes foram apagadas.
No dia seguinte, Carter fez exatamente o que Natasha disse. Ele juntou os dois objetos e conseguiu abri-los com a própria digital. Dentro do cubo unido, estava um pen drive. Cada caixa continha uma das duas parte do mesmo, que agora estavam devidamente unidas. No mesmo dia, um noticiário chamou a atenção daquele pequeno grupo de procurados: um homem desconhecido que cometeu uma chacina em um bar Russo em Londres. Mesmo que as imagens não mostrassem muito do rosto dele, Carter sabia muito bem quem era aquela pessoa.
O trabalho de Mikhail não parou por ali e o Kane sabia que não pararia tão cedo. Ele parecia estar fazendo a limpa, acabando com a vida de vários criminosos e políticos corruptos, alguns eram russos, outros tinhas negócios com russos. Tudo levava Carter a crer que esses negócios envolviam a Sala Vermelha e o Somodorov mais velho estava dando um fim nisso.
Enquanto todos se preparavam para partir atrás de Mikhail e tentar para-lo, Carter se viu com o notebook de Sam na mesa do quarto em que dividia com Natasha. Os outros estavam ocupados arrumando tudo para partir do Colorado, agora com uma nova missão para concretizar, e ele aproveitava aquele momento para ficar sozinho. Demorou alguns minutos para Carter tomar coragem e colocar o pendrive no aparelho. Depois de um tempo, uma tela retangular apareceu e pediu uma senha.
Foram horas de tentativas falhas e Carter agradecia aos céus por não ter um limite de tentativas. Quando ele finalmente conseguiu acertar, ── a senha sendo a data de nascimento de sua mãe ── sentiu um nó se formar em sua garrando quando vários arquivos começaram a abrir na tela. A maioria eram projetos de um novo uniforme, possíveis táticas de ataque e treinamentos intensivos que dariam um novo significado aos assassinos treinados do seu avô. O plano seguia em partes o que o Treinador já fazia, que era basicamente copiar o estilo de luta de seus possíveis adversários, algo que fez Carter pensar que Anatoly teve a ideia inicial a muito tempo.
Havia tantos planos, tantos objetivos e até alguns vídeos. Carter sabia que já estava gastando tempo demais ali e já se sentia inquieto e ansioso, por isso pulou para um dos últimos arquivos. Aquele que dizia de forma clara o objetivo do Projeto Black Mamba, aquele que seria capaz de reiniciar a Sala Vermelha, caso ela acabasse fracassando em algum momento, e limpar cada pequeno rastro para poder reconstruí-la novamente.
── Merda. ── Carter murmurou para si mesmo, ainda lendo tudo que estava escrito. A porta do cômodo foi aberta e Sam entrou com cuidado, com o objetivo de checar seu novo amigo.
── Ei, cara. Como as coisas estão indo? ── Wilson perguntou, ficando atrás da cadeira em que o Kane estava sentado. ── Descobriu alguma coisa interessante?
── Muita coisa... ── murmurou Carter, ainda sem desviar os olhos da tela. ── Meu avô criou um plano para reiniciar a Sala Vermelha do 0 depois que a minha mãe morreu. Uma precaução para o caso de tudo dar errado e a Sala ser destruída. Isso incluía acabar com vários antigos parceiros de negócios, incluindo empresários, políticos e donos de bares ── a lembrança da reportagem que viu mais cedo lhe veio a mente ── e criar uma nova base de assassinos para...
── Para? ── questionou o Falcão, se inclinando sobre a cadeira de Carter para ler o que estava no notebook, mas não entendendo nada porque estava em Russo. Sam olhou para o loiro de novo, vendo ele engolir o seco. ── Carter, para de fazer suspense.
── Para dar a eles um único objetivo principal e final, para limpar de vez qualquer rastro do passado. ── Carter respirou fundo, lendo o final novamente, apenas para ter certeza de que não estava errado. ── Exterminar todas as Viúvas Negras.
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