Capítulo Um
Derick Evans:
Eu me sentei abruptamente na cama, o coração batendo forte e descompassado, como se estivesse tentando escapar da minha caixa torácica. Passei uma mão trêmula pelo cabelo, enquanto a outra tentava, inutilmente, conter o tremor que sacudia meu corpo. Fechei os olhos com força, buscando alguma sensação de controle. Mas meus lábios tremiam, e senti o calor das lágrimas se acumulando atrás das pálpebras fechadas, uma pressão sufocante que parecia pronta para explodir a qualquer segundo.
Não importava o quanto eu tentasse afastar aquelas lembranças dolorosas, elas sempre me alcançavam, como sombras impiedosas. E, mais uma vez, o passado me dominou. As primeiras lágrimas escorreram silenciosamente pelo meu rosto, salgadas e amargas. Minha respiração ficou errática, cada soluço parecia uma luta desesperada por ar. O quarto, frio e escuro, parecia engolir qualquer vestígio de esperança. Sozinho, desmoronei, desejando com todas as forças que aquilo fosse apenas mais um pesadelo — e não as memórias dolorosas que me assombravam há tanto tempo.
Três anos atrás... Aquelas lembranças ainda doíam como facadas. Me vi cercado por socialites altivas, sentindo o peso esmagador da humilhação. Meu coração foi despedaçado, pisoteado, jogado fora como se fosse nada. Meus pais... as pessoas que deveriam me amar incondicionalmente, me descartaram como se eu fosse um fardo. E o homem que eu amava? Ele me usou, fez de mim um tolo.
Mas, no meio de toda aquela desolação, houve uma luz. Meu tio Erick, com seu abraço acolhedor e sua ajuda silenciosa, me tirou daquele inferno e me ajudou a reconstruir minha vida. Graças a ele, consegui me formar. No entanto, mesmo assim, o peso daquele amor não correspondido ainda me perseguia. Lembrar do que eu havia passado me fazia reviver a dor de ter sido trocado, preterido, por alguém que ele mal conhecia. Eu, que havia estado ao lado dele por anos, que sacrifiquei tantas oportunidades, fui simplesmente descartado.
Desperdicei anos correndo atrás de um homem que nunca olhou para mim com sinceridade. Quando ele se cansava do trabalho, eu assumia a empresa, expandindo seus horizontes, lutando para que ela crescesse. Fiz de tudo para apoiá-lo. E ele? Retribuiu com traição, jogando-me fora como se eu não fosse nada.
Apaixonei-me ingenuamente, coloquei tanto esforço e amor em alguém que nunca mereceu. Eu estava disposto a cruzar o mundo por ele, mas ele sequer daria um passo por mim. Estava pronto para sacrificar tudo — minha saúde, meu tempo, até minha alma — e, no fim, ele fez tudo isso por outra pessoa.
Desabei novamente, desta vez na cama, meu corpo afundando na escuridão sem fim que me cercava. Jurei que seguiria em frente, que deixaria o passado para trás. E, por um tempo, acreditei ter conseguido. Mas os pesadelos, como o que acabara de viver, me puxavam de volta para aquele abismo, forçando-me a encarar a dor que, aparentemente, nunca me deixaria.
Uma batida suave na porta me trouxe de volta à realidade. O som foi ficando mais forte, ecoando no quarto vazio e oco. Uma batida se transformou em duas, depois três, quatro... até que a porta se abriu com um leve rangido.
Charles entrou, sorrindo amplamente, e a escuridão que me envolvia começou a dissipar-se. Sua presença era como um raio de sol em meio à tempestade. Ele carregava uma bandeja com o café da manhã e colocou-a à minha frente, sem perder o sorriso carinhoso.
— Tudo pronto, amor. Vamos tomar um café delicioso e, depois, seguimos para o casamento do seu tio Erick — disse ele, com uma alegria contagiante. — Fiz panquecas com gotas de chocolate, do jeito que você gosta.
Um sorriso tímido surgiu nos meus lábios. Charles sempre sabia como iluminar os momentos mais sombrios. — Você é mesmo um romântico, me trazendo café na cama — falei, tentando esconder o quanto sua gentileza me tocava profundamente.
Ele riu de forma brincalhona. — Eu sei que sou o melhor namorado do mundo — disse, inclinando-se para beijar minha bochecha e, depois, meus lábios com uma profundidade e desejo que me fizeram esquecer, por um breve instante, de todo o peso que eu carregava.
— Estou com bafo — brinquei, empurrando-o levemente, e ele se afastou, rindo divertido.
— Vou comer esse café da manhã delicioso, escovar os dentes, tomar um banho e aí podemos sair — completei, levando um pedaço da panqueca à boca.
O gosto doce e familiar das panquecas de Charles fez com que, pela primeira vez naquela manhã, eu sentisse um pouco de paz. Entre uma garfada e outra, ele me fazia rir com suas piadas, afastando, pelo menos por enquanto, as sombras do meu passado.
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Desde o momento em que conheci Charles, ele era meu chefe, alguém com quem eu mantinha uma relação estritamente profissional. Com o tempo, aquela linha formal foi se dissolvendo, e ele se tornou meu amigo. Aos poucos, a amizade deu lugar a algo mais profundo, uma paixão que cresceu de forma silenciosa, até culminar no que éramos agora — namorados. Mesmo com todas as complexidades desse caminho, cada momento ao seu lado parecia certo.
Coloquei a bandeja de lado, sentindo meu coração acelerar com a proximidade. Quando murmurei um "obrigado", Charles inclinou-se e me deu um beijo suave, que, em questão de segundos, se transformou em algo mais. Antes que eu percebesse, ele estava acima de mim, os olhos brilhando com um calor que fazia cada nervo do meu corpo despertar. A luz suave do sol invadia o quarto, iluminando-o de maneira quase mágica.
Sua camisa estava meio desabotoada, revelando sua pele clara e a curva sedutora de sua clavícula, um detalhe simples, mas que fazia minha respiração vacilar. Naquele instante, minha racionalidade quase se despedaçou por completo. Não havia dúvidas nem incertezas, apenas o desejo e a proximidade que compartilhávamos. E, para mim, isso era o melhor de tudo — a sensação de estar tão perto dele, tão conectado, que nada mais importava além daquele momento.
O calor entre nós se intensificou com a proximidade, como se a própria atmosfera ao nosso redor estivesse mais densa, carregada de uma eletricidade que me envolvia por completo. Charles, com aquele sorriso levemente inclinado que sempre me fazia perder o fôlego, abaixou-se mais, seus lábios roçando os meus com uma gentileza que contrastava com o desejo palpável no ar. O toque dele era ao mesmo tempo suave e ardente, como se ele estivesse saboreando cada segundo da nossa conexão.
A ponta dos dedos de Charles deslizava pela minha pele, traçando um caminho lento e deliberado pelo meu peito, fazendo minha respiração se prender. Seus olhos, fixos nos meus, brilhavam com um misto de carinho e desejo. A luz do sol brincava em seu rosto, iluminando-o de uma maneira quase divina, como se o universo estivesse conspirando para tornar aquele momento ainda mais perfeito.
Ele se inclinou mais uma vez, seus lábios encontrando os meus em um beijo que começou doce, mas logo se aprofundou, ganhando uma intensidade que fez meu coração acelerar. Suas mãos estavam agora em meus cabelos, puxando-me delicadamente para mais perto, como se ele quisesse garantir que eu não fugisse, que eu permanecesse ali, perdido no calor do momento.
Eu podia sentir o peso de seu corpo contra o meu, a pressão suave, mas firme, como se ele estivesse me ancorando no presente, afastando qualquer vestígio de insegurança ou dúvida. O aroma suave do perfume de Charles misturava-se com o frescor do quarto, e cada movimento seu era como uma promessa silenciosa de que não havia mais barreiras entre nós, que estávamos exatamente onde deveríamos estar.
Nossos corpos se moviam em sincronia, e eu percebi o quanto ansiava por isso — não apenas o toque físico, mas a conexão emocional que nos unia. Quando Charles finalmente se afastou, apenas o suficiente para nos deixar respirar, ele sorriu de uma forma que me fez derreter por dentro. Ele deslizou a mão pelo meu rosto, seus olhos ainda fixos nos meus, como se estivesse memorizando cada detalhe.
— Não sei se te disse isso hoje, mas você é tudo para mim — ele murmurou, sua voz suave, mas carregada de uma sinceridade que atingiu meu coração como uma flecha certeira.
Eu sorri, sentindo um calor se espalhar por todo o meu corpo.
— Eu sinto o mesmo, Charles. Com você... tudo parece mais fácil, mais real.
Ele riu baixinho e inclinou-se para me beijar de novo, dessa vez com uma suavidade que fez o tempo desacelerar. Estar com Charles era como flutuar em uma maré constante de carinho e paixão, e naquele momento, nada mais existia. Só nós dois, em meio à luz do sol, completamente perdidos um no outro.
Quando ele se afastou novamente, sua voz soou como um sussurro entre nós.
— Se eu soubesse que trazer café da manhã na cama resultaria nisso, faria todos os dias.
Rindo, eu puxei-o para mais perto, meus dedos enroscando-se em sua camisa semi-aberta.
— Não é o café da manhã. É você.
E com essas palavras, o mundo ao nosso redor desapareceu mais uma vez, e nos entregamos completamente ao calor e à química que havia crescido entre nós, sem pressa, sem pressões. Apenas nós dois, deixando o amor nos envolver por completo.
Quando Charles inclinou-se para me beijar novamente, o som insistente do meu celular cortou o momento. Suspirei, pegando o aparelho ao meu lado e vi que era o alarme, me lembrando de que tínhamos que encarar o mundo real.
— Temos que ir trabalhar — murmurei, com uma mistura de frustração e diversão na voz, ainda sentindo o calor de seus lábios a poucos centímetros dos meus.
Charles, no entanto, não parecia nem um pouco disposto a voltar para a rotina tão rápido. Ele deu um sorriso malicioso e deixou seus lábios roçarem meu pescoço, depositando um beijo suave que fez um arrepio percorrer minha espinha.
— Podemos chegar atrasados um pouco... — disse ele, com a voz rouca e cheia de charme. — Essa é uma das vantagens de ser o dono do hospital. E você, por me namorar, tem um passe livre para isso também.
Eu ri, incapaz de conter a leveza que ele sempre trazia, mesmo nas manhãs que deveriam ser apressadas e cheias de compromissos. Sua mão deslizou pela minha cintura, mantendo-me próximo enquanto ele continuava a brincar com meu pescoço, fazendo meu corpo responder instantaneamente àquele toque.
— Charles... — tentei dizer entre risadinhas, mas a força da minha determinação estava desaparecendo rapidamente. — Se continuarmos assim, nem vamos sair de casa hoje.
Ele ergueu o rosto, aquele sorriso travesso nunca deixando seus lábios. — E isso seria tão ruim assim?
Mordi o lábio, tentando não ceder completamente ao seu charme irresistível, mas era difícil resistir quando ele parecia determinado a me fazer esquecer de qualquer outra coisa.
— Você sabe que temos responsabilidades... — comecei, mas logo soltei uma risadinha quando ele me puxou para um beijo rápido e provocador, interrompendo qualquer tentativa de ser sério.
— Tá bom, tá bom, vencido pelo alarme — disse ele, rindo. — Mas saiba que estou contando os minutos para voltarmos e terminar o que começamos.
Dei um sorriso satisfeito, sentindo o calor subir ao meu rosto. Charles sempre sabia como transformar as manhãs mais comuns em algo especial.
Charles se afastou lentamente, ainda com aquele sorriso travesso, enquanto eu me levantava da cama com um suspiro de diversão misturado com um toque de frustração. Sabia que, uma vez no trabalho, seria difícil encontrar momentos assim, mas ele sempre fazia questão de nos lembrar de que o que tínhamos era único, mesmo nas manhãs mais apressadas.
— Você vai me fazer perder o foco o dia inteiro — brinquei, pegando minha roupa enquanto olhava para ele, que agora estava sentado na beira da cama, ainda com a camisa desabotoada e o olhar fixo em mim.
— Esse é o plano — ele respondeu, piscando para mim, antes de se levantar e ir em direção ao banheiro. — Mas tudo bem, acho que posso me comportar... por algumas horas.
Rindo, comecei a me vestir, tentando ignorar o fato de que, se ele continuasse com esse charme irresistível, o trabalho seria a última coisa na minha mente. Charles voltou logo depois, já mais arrumado, mas ainda com aquele ar descontraído que eu amava tanto. Ele parou ao meu lado, ajeitando a gola da minha camisa com um carinho quase distraído, mas que carregava consigo uma intimidade que nos unia.
— Pronto para enfrentar o mundo? — ele perguntou, inclinando-se para me dar um beijo rápido na testa, algo que sempre me acalmava.
— Acho que sim — respondi, com um sorriso que misturava a tranquilidade e o carinho que sentia por ele.
Saímos do quarto juntos, e mesmo que a rotina nos esperasse lá fora, havia algo no jeito como Charles segurava minha mão, apertando-a levemente, que me fazia sentir que, não importa o que acontecesse, tudo seria mais fácil ao lado dele.
Quando chegamos ao carro, ele me lançou um último olhar cheio de promessas. — Mais tarde, vou te lembrar de como a gente não precisava ter saído tão cedo de casa.
— Vou cobrar isso — respondi, rindo.
E, com o som do motor e a luz do sol banhando a manhã, partimos juntos, prontos para o que quer que o dia trouxesse, mas com a certeza de que, ao final dele, sempre haveria nós dois, prontos para continuar de onde paramos.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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