Capítulo Seis

Charles Griffin:

Terminando tudo no escritório, decidi finalmente ir almoçar. Quando entrei no refeitório, avistei Derick conversando com um homem que eu não conhecia e com Ronald. Peguei uma bandeja, coloquei a comida, e fui até eles. A atmosfera entre eles parecia leve e descontraída, o que me fez sentir à vontade.

— Oi, posso me sentar com vocês? — perguntei, sorrindo.

— Claro que pode — Derick respondeu, dando-me um sorriso caloroso. — Deixa que eu te apresento oficialmente: esse aqui é meu tio Erick.

O homem ao lado de Ronald acenou para mim e se levantou para me cumprimentar. Seu rosto era familiar de uma maneira sutil, como se eu já tivesse ouvido muito sobre ele.

— Finalmente estamos nos conhecendo pessoalmente — Erick disse, estendendo a mão com um sorriso genuíno. Apertei sua mão com firmeza.

— Finalmente mesmo. Ouvi muito sobre você, Erick — respondi, sentindo-me mais à vontade ao lado deles. — E como vocês conheceram o Ronald?

— Eu esbarrei nele do lado de fora quando estava vindo falar com o Derick. Ele estava observando uma das áreas com a ajuda de uma das enfermeiras — Erick explicou, apontando para Ronald, que assentiu. Nesse momento, uma jovem ruiva se aproximou da mesa com sua bandeja e se sentou ao lado de Ronald.

— Essa aqui é Débora, ela que estava ajudando o Ronald a fazer o tour pela ala psiquiátrica — Erick acrescentou, fazendo um gesto para a jovem.

Débora acenou para mim com um sorriso amigável. Derick já havia falado dela algumas vezes, sempre com boas impressões, então eu sabia que ela era uma pessoa dedicada.

— Olá, senhor Griffin — ela disse com uma voz suave e gentil, antes de se virar para Derick com um pequeno pote em mãos. — Aqui está o bolo que eu falei para você. Meu irmão acabou de trazer, e por isso me atrasei para o almoço.

Ela entregou o pote para Derick, que aceitou com um sorriso animado. Ele sempre teve uma queda por doces, e era evidente que aquele bolo havia despertado seu interesse.

— Obrigado, Débora! — Derick disse, abrindo o pote com um entusiasmo genuíno. — Eu mal posso esperar para provar.

O ambiente na mesa era leve, cheio de risadas e conversas casuais. Ronald e Erick pareciam à vontade, e a presença de Débora apenas adicionava à sensação de camaradagem. Enquanto almoçávamos, senti que, mesmo com a correria e os desafios diários, momentos como aquele — cercado de pessoas queridas e novas conexões — eram os que realmente importavam.

Naquele instante, entre um pedaço de comida e uma conversa descontraída, percebi que, apesar de todo o trabalho e responsabilidade, ainda havia espaço para compartilhar momentos simples e significativos com aqueles que me cercavam.

Conforme o almoço prosseguia, a conversa fluía com uma leveza que fazia o tempo passar rapidamente. Derick, entre uma colherada de bolo e outra, estava claramente mais relaxado, rindo de algumas piadas que Erick fazia sobre a infância dele. Eu observava de perto, gostando de ver essa versão mais descontraída de Derick, uma que ele raramente mostrava no ambiente de trabalho.

— E então, como foi o tour pela ala psiquiátrica, Ronald? — perguntei, tentando retomar a discussão sobre os planos que ele havia mencionado mais cedo.

Ronald enxugou a boca com o guardanapo antes de responder, com um brilho nos olhos. — Foi incrível, devo dizer. A estrutura que vocês têm aqui é excelente, mas o que realmente me impressionou foi a abordagem humanizada que vocês adotam com os pacientes. Débora me mostrou cada detalhe, e eu pude ver que há um compromisso genuíno em fazer a diferença na vida dessas pessoas. Acho que podemos construir algo especial aqui.

— Com certeza podemos — concordei, sentindo uma onda de orgulho. — Esse hospital sempre buscou tratar os pacientes de forma holística, e com seu apoio, acredito que poderemos ampliar ainda mais esse alcance. Estamos sempre em busca de melhorar e oferecer o melhor tratamento possível, especialmente quando se trata de saúde mental.

Débora assentiu ao meu lado, parecendo satisfeita com os elogios de Ronald.

— É bom ouvir isso, senhor Griffin. Trabalhar aqui me ensinou que pequenas mudanças no ambiente e no tratamento fazem uma enorme diferença para os pacientes. E estou animada com as possibilidades de crescer ainda mais nessa área.

Erick, que até então estava mais focado na comida, se inclinou para a frente, como se quisesse entrar na conversa. — Sabe, eu estava conversando com o Derick sobre isso, e acho que há uma demanda crescente por um atendimento psiquiátrico mais acessível e inovador. Muitas pessoas não têm a chance de receber o cuidado que merecem, e expandir isso seria uma forma incrível de ajudar mais gente.

Derick assentiu, concordando com seu tio.

— Sim, acho que o hospital tem um grande potencial para se tornar uma referência nesse campo. E, sinceramente, acho que meu tio tem razão. Quanto mais conseguirmos inovar e expandir, mais vidas poderemos transformar.

Sorrindo, olhei ao redor da mesa. A energia positiva que emanava dessas pessoas me dava a certeza de que estávamos caminhando na direção certa. O hospital estava em boas mãos, com aliados dispostos a fazer a diferença.

— Acho que estamos todos na mesma página — comentei, inclinando-me levemente para a frente. — Vamos continuar essa conversa mais a fundo depois. E, Ronald, estou ansioso para trabalhar juntos nisso. Tenho certeza de que sua experiência e paixão serão um grande acréscimo à nossa equipe.

Ronald sorriu, claramente satisfeito.

— Eu também estou animado, Griffin. Acho que isso é o começo de algo grande.

O almoço terminou em um tom leve e amigável, e enquanto todos se levantavam para voltar às suas respectivas rotinas, senti um peso de gratidão. Mesmo em meio ao caos da administração e das responsabilidades, havia momentos como este que reforçavam o propósito de tudo. A sensação de que, juntos, poderíamos realmente fazer a diferença.

*************************************

Olhei para os últimos documentos que ainda estavam sobre a minha mesa, revisando alguns detalhes finais, quando ouvi uma batida suave na porta. O som trouxe-me de volta à realidade da rotina ocupada que, apesar de tudo, eu tentava administrar com equilíbrio.

— Pode entrar — falei, minha voz firme, mas curiosa para saber quem era.

A porta se abriu devagar, revelando Derick, que entrou com um sorriso cansado, mas genuíno. Ele parecia um pouco mais leve do que quando o deixei no apartamento depois da cabana, mas ainda havia uma sombra de preocupação em seus olhos.

— Espero não estar incomodando — disse ele, fechando a porta atrás de si e caminhando até a minha mesa.

— Claro que não. O que houve? — perguntei, me levantando e gesticulando para ele se sentar na poltrona em frente.

Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos, claramente pensando em como começar. — Queria falar sobre uma coisa que tem me incomodado... sobre a visita dos meus pais, e como estou lidando com isso desde então.

Eu imediatamente soube que seria uma conversa séria, então me sentei novamente, pronto para ouvi-lo. Sabia que o encontro com os pais havia mexido muito com ele, e ainda que tivéssemos tido um ótimo tempo na cabana, essas questões mais profundas não se resolviam tão facilmente.

— Fique à vontade — respondi calmamente, dando-lhe o espaço de que precisava para se abrir.

Derick se sentou e começou a falar, enquanto eu ouvia com atenção.

Derick se acomodou na poltrona em frente à minha mesa, o olhar fixo em algum ponto distante, como se tentasse reunir as palavras. Eu podia sentir a tensão em seu corpo, algo que ele claramente tentava disfarçar, mas seus olhos sempre o denunciavam. Sempre fui bom em ler o que ele sentia, mesmo quando ele tentava esconder.

— Desde que voltamos da cabana, eu venho tentando processar tudo — ele começou, sua voz suave, mas com um toque de hesitação. — A visita dos meus pais... mexeu comigo de um jeito que eu não esperava. Achei que seria mais fácil ignorar, fingir que não me afeta tanto, mas a verdade é que está me consumindo por dentro.

Ele olhou para mim, e eu pude ver a vulnerabilidade em seus olhos, algo que ele raramente deixava transparecer. Aquele silêncio entre nós, cheio de sentimentos não ditos, foi o que me fez perceber que ele precisava mais de um ombro amigo do que de palavras agora.

— Derick... — comecei, inclinando-me ligeiramente para a frente, apoiando meus cotovelos na mesa para estar mais perto dele. — Você sabe que não precisa passar por isso sozinho, certo? Eu estou aqui. Sempre estarei aqui.

Ele suspirou profundamente, como se estivesse tentando aliviar o peso que carregava. Seus olhos buscaram os meus, e por um breve momento, parecia que o tempo havia parado. A química entre nós sempre foi algo palpável, algo que não precisava de palavras para ser compreendido. Eu sabia o quanto isso o afetava, e ele sabia que eu estava ao seu lado, sem julgamentos.

— Eu sei... — disse ele, a voz falhando um pouco. — Eu sei que você está aqui. E é por isso que estou conseguindo lidar com isso, de verdade. Mas é tão difícil... Não sei como perdoá-los, como deixar isso tudo para trás.

Eu me levantei lentamente e caminhei até ele, parando ao seu lado e colocando a mão suavemente em seu ombro. Derick olhou para mim com um olhar perdido, mas ali, naquele momento, ele sabia que não precisava ser forte o tempo todo. Ele soltou outro suspiro profundo, e antes que pudesse dizer qualquer coisa, eu me abaixei e envolvi meus braços ao redor dele, oferecendo o que ele precisava: conforto, sem palavras.

— Você não precisa perdoar agora — murmurei próximo ao seu ouvido, sentindo seu corpo relaxar aos poucos contra o meu. — Não há pressa. Leve o tempo que precisar. E, enquanto isso, eu vou estar aqui, ao seu lado.

Ele inclinou a cabeça para o meu ombro, e por um instante, ficamos assim, abraçados no meio do meu escritório, enquanto o mundo lá fora parecia insignificante. A proximidade entre nós nunca foi apenas física; era emocional, profunda. Eu sabia que ele se sentia seguro comigo, e isso era tudo que eu podia oferecer naquele momento.

Derick apertou levemente meus braços, como se estivesse absorvendo cada segundo do abraço.

— Obrigado — ele sussurrou, a voz embargada de emoção. — Por ser esse apoio, por sempre estar aqui, mesmo quando eu não consigo lidar com as coisas sozinho.

Eu me afastei apenas o suficiente para olhar em seus olhos, e ali estava o homem que eu amava, vulnerável, mas ao mesmo tempo incrivelmente forte. Passei a mão em seus cabelos suavemente, um gesto de carinho silencioso.

— Não precisa agradecer, Derick. É para isso que estou aqui. Sempre estarei, de qualquer jeito que você precisar — falei, sorrindo com carinho.

Por um momento, apenas ficamos assim, nossas testas encostadas, sentindo a conexão entre nós. Não havia necessidade de mais palavras, pois tudo que precisávamos estava naquele momento: a certeza de que, juntos, poderíamos enfrentar qualquer coisa.

Ficamos ali, por alguns minutos, em silêncio, nossas testas encostadas, compartilhando uma intimidade que transcendia as palavras. O peso do que Derick estava carregando parecia suavizar um pouco com o simples gesto de estarmos juntos. Senti a tensão em seus ombros relaxar, e uma sensação de paz sutil começou a se espalhar pelo ar.

— Eu não sei o que faria sem você — ele sussurrou, a voz ainda embargada, mas cheia de sinceridade. — Às vezes, eu me sinto tão perdido, mas você... você sempre me traz de volta.

Aquelas palavras mexeram comigo mais do que ele podia imaginar. Ser o porto seguro de alguém, especialmente de Derick, significava muito para mim. Eu passei meus dedos pelos cabelos dele, afastando alguns fios de seu rosto e observando seus olhos se fecharem por um breve momento, como se ele estivesse permitindo que, naquele pequeno instante, a dor o abandonasse.

— Você nunca vai estar sozinho, Derick — falei suavemente, com a voz carregada de uma promessa. — Mesmo nos dias mais difíceis, mesmo quando parecer que o mundo está desmoronando... eu vou estar aqui, com você.

Ele levantou os olhos, e havia algo diferente neles. Era como se, naquele momento, ele tivesse encontrado algo que vinha buscando há muito tempo: segurança, apoio, e talvez até um pouco de esperança. Ele se endireitou um pouco, respirando fundo, e o leve sorriso que surgiu em seus lábios me fez perceber que, por menor que fosse, ele estava encontrando força dentro de si.

— Eu vou tentar — ele disse, com determinação. — Vou tentar lidar com isso... e com eles. Não sei como vai ser, mas... com você ao meu lado, acho que consigo dar um passo de cada vez.

Eu sorri, sentindo um calor crescer em meu peito. — É isso que importa, Derick. Um passo de cada vez. Não precisa resolver tudo agora. O importante é que você está disposto a tentar.

Ele se levantou lentamente, ainda segurando minha mão por um breve instante antes de finalmente soltar. — Eu preciso ir, mas... obrigado por isso. De verdade. Você sempre sabe o que dizer.

Eu apenas assenti, observando-o enquanto ele se dirigia à porta. Quando ele parou, prestes a sair, Derick se virou uma última vez, com aquele sorriso que eu adorava ver em seu rosto.

— Até logo, amor — ele disse, e havia uma ternura nas palavras que me fez sentir uma leveza indescritível.

— Até logo, Derick — respondi, sentindo meu coração bater um pouco mais rápido.

Assim que ele saiu, eu voltei para minha mesa, mas, desta vez, com uma sensação de gratidão. Derick estava se abrindo, e mesmo que o caminho à frente fosse difícil, sabíamos que não precisávamos enfrentá-lo sozinhos.

O que importava era que, passo a passo, estávamos caminhando juntos. E isso, para mim, era o bastante.

________________________

Gostaram?

Até a próxima 😘

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top