Capítulo Cinco
Charles Griffin:
Ficamos o final de semana inteiro naquela cabana, e posso dizer que foi exatamente o que precisávamos. Um tempo só nosso, sem interrupções, sem o peso das responsabilidades e dos problemas do mundo lá fora. Foi libertador estar apenas com ele, em nossa própria bolha de tranquilidade, aproveitando cada momento sem pressa. Derick parecia mais leve, como se aquele tempo isolado estivesse realmente fazendo bem a ele, e isso me enchia de alegria.
Claro, não foram dias completamente sem interrupções. De vez em quando, o celular dele tocava, e era o tio Erick querendo saber como estávamos. E, por mais que eu adorasse o silêncio, não pude deixar de sorrir toda vez que meu filho, Carlos, ligava com a minha netinha ao lado. A voz animada dela do outro lado da linha sempre fazia Derick rir, e nesses momentos eu podia sentir como nossa família, mesmo à distância, tinha um poder de nos reconectar com as partes mais simples e bonitas da vida.
— Ela é a coisa mais linda — Derick comentou em uma das vezes, sorrindo ao ouvir as risadinhas da minha netinha ao fundo.
— E cheia de energia, como o avô — brinquei, fazendo-o rir enquanto desligava o telefone.
Depois de cada uma dessas breves ligações, voltávamos a nos perder um no outro, no calor da lareira, nas conversas profundas ou nos momentos em que simplesmente estávamos juntos, sem dizer nada, mas entendendo tudo.
Aqueles dias na cabana foram uma pausa necessária. Talvez o mundo não tivesse mudado lá fora, e os problemas ainda nos aguardassem, mas ali, naquele espaço só nosso, recuperamos um pouco de nós mesmos. E isso era o que mais importava.
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Quando voltamos para a cidade, o peso do cotidiano começou a se insinuar novamente, embora eu desejasse que a serenidade da cabana pudesse durar um pouco mais. Estacionei o carro em frente ao apartamento de Derick e o ajudei a descarregar as poucas coisas que levamos. Ele parecia mais tranquilo, mais em paz do que quando havíamos saído, e isso me confortava de uma maneira que era difícil de explicar. Era como se, mesmo que por um curto período, eu tivesse ajudado a aliviar um pouco da dor que ele carregava.
— Obrigado por esse final de semana — ele disse, me dando um abraço demorado antes de se afastar. — Acho que era exatamente do que eu precisava.
— Não foi só você — respondi com um sorriso, retribuindo o abraço. — Foi bom para nós dois.
Depois de nos despedirmos, observei enquanto ele entrava no prédio, me certificando de que estava bem. Só então voltei para o carro e dirigi de volta para minha casa. A sensação de voltar à realidade estava lá, mas trazia uma tranquilidade que não tinha antes da viagem.
Ao chegar em casa, comecei a arrumar minhas coisas, organizando os detalhes que ficaram para trás enquanto estávamos fora. Mesmo com a rotina tomando conta, a sensação de renovação que o final de semana trouxe ainda permanecia, como se algo dentro de mim também tivesse se reestruturado.
Então, aos poucos, a rotina voltou ao seu curso normal. O conforto e a tranquilidade que eu havia experimentado na cabana com Derick agora pareciam distantes, enquanto me vi novamente imerso no turbilhão do dia a dia. Ao entrar no hospital, fui imediatamente envolvido pelos meus afazeres. Ser o dono e, ao mesmo tempo, ainda atuar como médico criava uma corrida frenética que parecia nunca acabar.
Entre consultas com pacientes, papéis e documentos que precisavam ser revisados, e uma pilha interminável de relatórios que aguardavam minha assinatura, eu mal tinha tempo de respirar. E como se não bastasse, as reuniões constantes com os investidores adicionavam ainda mais pressão, exigindo que eu equilibrasse a saúde financeira do hospital com as necessidades dos pacientes e da equipe. Cada decisão parecia ter um peso enorme, e havia dias em que eu mal via a luz do sol, preso em salas de reunião ou na ala de emergências.
Por mais desgastante que fosse, eu sabia que essa era minha escolha — uma escolha que fazia porque amava o que fazia. Mas, ao mesmo tempo, não podia evitar pensar em Derick e na paz que havíamos encontrado juntos na cabana. Mesmo no caos do hospital, aqueles momentos calmos e cheios de afeto estavam sempre presentes em minha mente, como um lembrete de que, apesar de tudo, havia mais do que apenas trabalho e responsabilidades.
Era nesses pequenos intervalos entre uma consulta e outra, ou quando passava pela janela de uma sala de reunião e via o céu lá fora, que eu me lembrava de respirar fundo. De alguma forma, equilibrar tudo parecia um pouco mais fácil agora, porque eu sabia que, no meio de todo o caos, havia algo — ou alguém — esperando por mim.
Eu estava no meu escritório, aguardando mais uma reunião, com os olhos fixos no computador. Quando ouvi a porta se abrir, olhei para ver quem estava entrando. Era um novo investidor, Ronald Ross, especializado na área de psiquiatria. Seu rosto me parecia vagamente familiar, mas eu não tinha certeza de onde o conhecia.
— Por acaso tem uma sobrinha chamada Samara Rossi? — perguntei, tentando ligar os pontos.
— Sim, eu tenho — ele respondeu, com um leve sorriso no rosto.
— Ela é amiga de um conhecido meu... você conhece o Patrick Thompson? — acrescentei, lembrando-me de conversas passadas.
Ronald assentiu, parecendo mais relaxado. — Sim, claro. O Patrick e minha sobrinha são praticamente inseparáveis.
— Interessante — comentei, surpreso com a coincidência. — Mas então, o que o trouxe aqui, além da nossa reunião?
— Bem — ele começou, seu sorriso se alargando —, foi justamente a Samara que me deu a ideia de investir em alguns hospitais. Ela sempre fala muito bem de você e de como seu hospital tem uma abordagem humana e inovadora. Quando ela soube que eu estava pensando em expandir meus investimentos na área psiquiátrica, ela imediatamente me indicou este hospital, o do "amigo do conhecido dela", como ela disse. Aproveitei que estava na cidade e marquei essa reunião com o senhor para discutir algumas ideias.
Fiquei surpreso e lisonjeado ao mesmo tempo. Era bom saber que o hospital estava sendo recomendado por pessoas que valorizavam nosso trabalho. O fato de a Samara ter feito essa ponte entre mim e Ronald me fazia ver o quanto as conexões pessoais podem ter um impacto positivo nos negócios.
— Fico muito feliz em ouvir isso — respondi, gesticulando para que ele se sentasse. — Vamos falar mais sobre as suas ideias e como podemos trabalhar juntos. Acredito que sua experiência e os planos que temos para o hospital possam se alinhar muito bem.
Ronald se sentou à minha frente, ajeitando a gravata de forma casual, e pude ver em seus olhos um brilho de curiosidade e entusiasmo. Claramente, ele estava interessado em discutir novas possibilidades e parecia genuinamente envolvido com a ideia de fazer algo significativo na área de saúde mental. Isso me deu uma boa impressão desde o início.
— Então, Ronald, me fale mais sobre o que você tem em mente para o investimento — comecei, interessado em entender seus planos e como eles poderiam se integrar ao nosso hospital.
— Bem, eu acredito que a área de psiquiatria ainda tem muito espaço para inovação, especialmente no que diz respeito ao bem-estar dos pacientes e às abordagens mais holísticas — ele começou, com uma postura firme e confiante. — Além das terapias tradicionais, gostaria de explorar métodos alternativos, como o uso de terapias artísticas, musicoterapia e até mesmo o desenvolvimento de ambientes imersivos que possam ajudar no processo de recuperação. Sabemos que a mente responde de maneiras diferentes a estímulos sensoriais, e acho que podemos fazer uma revolução nesse campo, oferecendo opções que vão além das intervenções convencionais.
Enquanto ele falava, pude ver o quão bem fundamentado ele estava, e suas ideias ressoavam com algumas das abordagens que já estávamos considerando no hospital. A psiquiatria, em particular, era uma área em que eu queria expandir, especialmente para oferecer cuidados mais completos e inovadores para nossos pacientes.
— Concordo totalmente — respondi, cruzando os braços enquanto ponderava sobre as possibilidades. — Acredito que o cuidado com a saúde mental deve ir além do que já conhecemos. Precisamos tratar o ser humano como um todo, levando em conta não apenas o aspecto clínico, mas também suas emoções, seu ambiente, e como isso afeta a sua recuperação.
Ronald assentiu, parecendo satisfeito com minha resposta.
— É exatamente essa visão que eu gostaria de apoiar. Samara sempre me falou muito sobre o seu trabalho, sobre como você se preocupa em fazer algo diferente, algo que realmente toque as pessoas. Eu acredito que o nosso investimento pode ajudar a levar isso adiante, tornando o seu hospital uma referência em tratamentos psiquiátricos inovadores.
Havia algo reconfortante em saber que Samara falava sobre meu trabalho com tanto carinho e respeito. Isso me fez perceber que, mesmo nos pequenos gestos, nosso impacto pode se espalhar de maneiras inesperadas.
— Fico grato pelas palavras e pela confiança, Ronald. Eu vejo muito potencial nessa parceria — falei, me inclinando levemente para a frente. — Tenho certeza de que, juntos, podemos transformar o modo como a psiquiatria é abordada. E quanto à sua sobrinha, fico feliz que ela tenha sido o elo para esta conexão. É bom saber que o hospital está sendo recomendado por pessoas que realmente se importam com o bem-estar dos outros.
Ele sorriu de volta, e naquele momento, soube que estávamos no início de algo promissor.
— Que tal agendarmos uma visita para você conhecer mais a fundo nossa ala de psiquiatria? — sugeri. — Assim, podemos ver como suas ideias podem ser implementadas em nosso sistema.
— Perfeito. Ficarei feliz em conhecer tudo pessoalmente e explorar as possibilidades — Ronald disse, levantando-se e me cumprimentando com um aperto de mão firme. — Acredito que estamos prestes a fazer algo grande aqui.
Enquanto ele saía, senti um misto de alívio e excitação. A parceria com Ronald parecia ser o passo certo para elevar o hospital a um novo patamar. Além disso, havia uma satisfação pessoal em saber que as conexões que fizemos ao longo do caminho, como a amizade de Samara com Patrick, estavam agora contribuindo para algo maior.
O futuro parecia promissor, e eu estava pronto para enfrentar os desafios que viriam, sabendo que tinha aliados dispostos a fazer a diferença.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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