Bônus Um

Erick Evans:

Bebi lentamente o uísque do meu copo, sentindo o líquido queimar minha garganta enquanto meus pensamentos fervilhavam. A amargura era mais intensa que o sabor do álcool. Como meu irmão e minha cunhada podiam ser tão crueis? A traição deles me atingiu como um soco no estômago. Fingir arrependimento, fingir uma aproximação apenas para manipular Derick, para tentar quebrar o coração do meu sobrinho ainda mais do que já tinham feito... Era algo que eu não podia perdoar.

Se eu não tivesse descoberto a tempo... o que teriam feito a ele? A ideia me fazia apertar o copo com mais força, o vidro quase se estilhaçando sob meus dedos trêmulos de raiva. O rosto de Derick me veio à mente, sua expressão de vulnerabilidade quando acreditou, ainda que por um breve momento, que eles queriam reparar o passado. E eu, impotente por ter chegado tão perto de não impedir isso. Meu coração se apertava, não apenas pela decepção, mas pela dor que saber disso poderia causar a ele.

Eles eram sangue do meu sangue, e isso só tornava a traição mais amarga, mais difícil de suportar. Como chegaram a esse ponto? Como meu próprio irmão pôde se tornar alguém tão frio, tão mesquinho?

Olhei para a porta do restaurante, e lá estava ele, Ronald, entrando com aquele ar confiante que sempre o acompanhava. Seus olhos logo encontraram os meus, e eu sabia que ele tinha me visto sentado no bar. Um sorriso pequeno e quase provocativo surgiu em seus lábios, e meu coração deu uma leve acelerada. Não era apenas sua presença que me causava isso; Ronaldo era, sem dúvida, um homem lindo, exatamente o meu tipo ideal. Alto, elegante, com um charme desconcertante, ele conseguia captar a atenção de qualquer um ao seu redor sem esforço.

Com passos tranquilos, ele se aproximou, parando na minha frente antes de se sentar no banco ao lado. Seus olhos brilharam com um toque de diversão, como se já tivesse algo em mente antes mesmo de falar.

— Posso saber o que você veio fazer em um lugar como este? — perguntou, deixando transparecer um leve tom de brincadeira enquanto se acomodava na cadeira, sua voz grave e calorosa ressoando no bar.

Levantei uma sobrancelha, surpreso com o comentário, mas sem perder o ritmo.

— O que quer dizer com isso? — respondi, minha curiosidade evidente, embora soubesse que Ronaldo gostava de jogar com as palavras.

Ele se inclinou um pouco mais para frente, cruzando os braços sobre o balcão enquanto mantinha aquele sorriso travesso.

— Simples — disse, sem desviar o olhar. — Você não tem cara de quem bebe sozinho. — Sua voz soou tranquila, mas havia algo mais ali, como se ele estivesse me provocando de propósito, testando minhas reações.

Havia uma conexão no ar, uma tensão silenciosa que pairava entre nós, e eu não conseguia evitar o leve sorriso que ameaçava se formar em meus lábios.

— Só estou querendo descansar, e este era o único lugar disponível — respondi, dando de ombros, enquanto observava Ronaldo se acomodar no banco ao meu lado. Fiz um gesto discreto para o bartender e pedi mais um copo de uísque, sentindo a tensão se dissipar levemente ao vê-lo ali comigo.

Ronaldo suspirou, recostando-se no banco enquanto pegava o copo que o bartender havia colocado na frente dele.

— Preciso relaxar um pouco também. Muito trabalho, e ainda mais agora com minha irmã e minha sobrinha tentando conversar e se acertar... Achei que seria melhor deixá-las sozinhas — ele disse antes de tomar um gole do uísque. Sua voz carregava uma nota de cansaço, mas também um toque de esperança, como se desejasse que as coisas entre elas finalmente se resolvessem. — Elas estão tentando encontrar uma maneira de seguir em frente, mas... minha irmã e minha sobrinha são teimosas demais para um diálogo fácil.

Assenti, compreendendo a situação, mas não pude deixar de morder o lábio antes de falar.

— Não deve ser nada fácil para sua sobrinha perdoar tantos anos de abandono — comentei, sentindo o peso da situação. Estalei a língua no céu da boca, refletindo sobre as palavras. Anos de mágoa não se curam de um dia para o outro.

Ronaldo olhou para mim, um pouco mais sério desta vez, como se quisesse me fazer entender a complexidade da situação.

— Minha irmã não abandonou a Sam por completo... — ele começou, escolhendo as palavras com cuidado. — Sempre mandava cartões, mantinha contato do jeito que podia. E ainda enviava dinheiro, que usei para cuidar da Sam, pagar as mensalidades da escola. Ela até mandava fotos para a Lidia, mas... nunca foi o suficiente.

Havia uma tristeza nos olhos de Ronaldo, um peso que ele parecia carregar por ser o mediador entre a irmã e a sobrinha. Ele tomou outro gole de uísque, o líquido dourado descendo lentamente, enquanto eu absorvia cada palavra. A verdade era sempre mais complicada do que parecia à primeira vista.

— Foi difícil cuidar da Sam? — perguntei, curioso para entender o que Ronaldo havia passado, especialmente sendo uma figura paterna para sua sobrinha.

Ele balançou a cabeça levemente e soltou um sorriso nostálgico antes de responder.

— Não, a Sam sempre foi uma criança simples e uma adolescente maravilhosa. Ela se tornou uma mulher fantástica — disse ele, com orgulho visível em sua voz. — Mas assumir o papel de figura paterna... bem, isso foi complicado para mim. Naquela época, quando eu era mais jovem, eu era meio galinha, sabe? Estava começando minha empresa e, digamos que, minha vida pessoal refletia um pouco da minha despreocupação.

Não pude deixar de rir suavemente, imaginando o Ronaldo mais jovem e cheio de energia, o tipo de pessoa que facilmente atraía a atenção de todos ao redor.

— Acho que acertei em cheio como você era quando mais novo, hein? — comentei, provocando-o de leve.

Ele piscou um olho em minha direção, com aquele brilho travesso que parecia nunca desaparecer, mesmo com os anos.

— O que posso dizer? Muitas pessoas gostavam da minha companhia — respondeu com um doce sorriso nos lábios, o tipo de sorriso que, de alguma forma, ainda carregava um toque de charme irresistível.

Havia uma leveza em suas palavras, mas também uma sinceridade que revelava um lado mais complexo, alguém que tinha aprendido com os erros do passado, mas ainda mantinha uma conexão com o homem que um dia fora. O silêncio confortável que se seguiu foi interrompido apenas pelo som dos copos no balcão e pelo movimento suave do bar ao nosso redor, enquanto eu absorvia cada detalhe daquele momento com Ronaldo.

Eu sorri, sentindo a química entre nós crescendo no ar, uma tensão silenciosa que se manifestava em pequenos gestos e olhares. O jeito que ele sorria, o brilho travesso nos olhos, tudo nele era envolvente de um modo que era difícil de ignorar. Ele sabia disso, e parecia gostar de me provocar, sem pressa, apenas deixando as coisas acontecerem.

— Ah, então muitas pessoas, é? — provoquei, erguendo uma sobrancelha enquanto levava o copo de uísque aos lábios. — Parece que você nunca teve problemas em ser o centro das atenções, Ronaldo.

Ele riu suavemente, inclinando-se mais perto de mim, até que nossos ombros quase se tocassem. O perfume dele, discreto, mas cativante, encheu o ar entre nós, fazendo-me perceber o quão próximo estávamos agora.

— Sempre gostei de boa companhia — respondeu ele, a voz grave e suave. — E acredite, eu sei como reconhecer quando estou em boa companhia agora.

Senti meu rosto esquentar um pouco com o comentário, mas não queria demonstrar tanto assim. Em vez disso, apenas mantive o olhar firme, desafiando-o silenciosamente a continuar.

— Você parece bem confiante disso — retruquei, tentando soar despreocupado, mas a intensidade daquele momento era inegável.

Ele inclinou a cabeça levemente, seus olhos prendendo os meus por um segundo mais longo do que o necessário. Havia algo a mais ali, uma faísca, algo que nos atraía, algo que estava crescendo a cada palavra, a cada troca de olhares.

— Confiança é algo que vem com o tempo — ele disse, a voz um pouco mais baixa, quase como um segredo entre nós dois. — E eu já vivi o suficiente para saber o que quero.

Senti meu coração acelerar de leve, enquanto o bar ao redor de nós parecia desaparecer, deixando apenas a nossa conversa, nossos olhares e a eletricidade que agora percorria o ar. Eu podia sentir que Ronaldo estava testando os limites, medindo as reações, mas, de alguma forma, isso só tornava a dinâmica entre nós ainda mais envolvente.

— E o que exatamente você quer agora? — perguntei, a voz saindo um pouco mais rouca do que o esperado, minha curiosidade mesclada com a tensão crescente.

Ele sorriu, aquele sorriso que carregava mistério e desejo, antes de inclinar-se apenas um pouco mais, perto o suficiente para que eu pudesse sentir o calor de sua presença.

— Acho que isso você já sabe — ele disse, sua voz carregada de uma suavidade tentadora, como se estivesse esperando por esse momento há muito tempo.

O mundo ao nosso redor desapareceu por completo. Estávamos ali, envolvidos em uma troca de energia que apenas aumentava, e, por um breve instante, tudo o que importava era a proximidade entre nós, a expectativa, e o que poderia acontecer a seguir.

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Três doses depois, estávamos completamente à vontade um com o outro, rindo e compartilhando histórias que, de alguma forma, pareciam nos aproximar ainda mais. Descobrimos que ambos já havíamos conhecido o mesmo barman marinheiro, um tipo peculiar que deixava marcas em todos que cruzavam seu caminho. Também compartilhávamos o prazer de tomar banho na Lagoa Azul, cujas águas ricas em minerais eram aquecidas pelas fontes termais, nos deixando relaxados, sonolentos, e até mesmo estranhamente afeiçoados ao cheiro de ovo podre e enxofre das fontes.

Nossas risadas ecoavam pelo bar, mas conforme as palavras se dissipavam, uma tensão diferente começou a preencher o espaço entre nós. Eu podia sentir isso nos olhares demorados, nos sorrisos furtivos e na maneira como nossos corpos pareciam naturalmente inclinados um em direção ao outro, mesmo quando estávamos apenas conversando.

Eu tentei disfarçar o calor subindo pelo meu corpo e me inclinei para frente, já meio bêbado.

— Eu, hum... acho que preciso ir ao banheiro — disse, minha voz arrastada e um tanto embaraçada.

Ronaldo sorriu, aquele sorriso que era ao mesmo tempo tentador e cheio de segundas intenções.

— Posso ir junto? — ele perguntou, sem hesitar, seus olhos brilhando de diversão.

Pisquei, surpreso, e meu coração disparou por um segundo.

— Oi?

Ele riu de leve e coçou a nuca, percebendo o quão ousado havia sido.

— Quero dizer, hum... isso foi muito... muito ousado da minha parte? — perguntou, olhando para mim com as sobrancelhas franzidas, tentando medir minha reação.

Minha mente estava a mil. Os efeitos do álcool faziam tudo parecer mais lento e ao mesmo tempo mais intenso. Eu sabia exatamente o que ele queria dizer, e parte de mim também queria aquilo. Lentamente, me levantei, ainda sem desviar os olhos dele. Segurei sua mão, sentindo o calor e a eletricidade no toque. Ele entrelaçou os dedos nos meus enquanto nós nos olhávamos durante todo o caminho até o banheiro.

Por sorte, o lugar estava vazio. Fechei a porta atrás de nós, e antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa, Ronaldo me puxou para perto, seus braços fortes me erguendo com facilidade. Em um movimento rápido, ele me colocou sobre a pia. Minhas pernas instintivamente se enrolaram em volta de sua cintura, aproximando-nos ainda mais. O calor entre nós parecia explodir naquele instante.

Sem dizer uma palavra, nossos lábios se encontraram em um beijo profundo, cheio de desejo e intensidade. A sensação de seus lábios contra os meus, o gosto do uísque ainda em nossas bocas, o calor de seu corpo pressionado contra o meu — tudo isso parecia apagar o resto do mundo. Só havia nós dois, naquele momento, consumidos pelo que sentíamos, pela atração que finalmente nos dominava.

O beijo parecia eterno, como se todo o tempo tivesse parado para nós naquele momento. Suas mãos deslizavam pelas minhas costas, enquanto minhas pernas se apertavam ao redor da sua cintura, trazendo-o para ainda mais perto. O calor entre nós era palpável, cada toque carregado de uma energia que ia além do desejo físico — era como se algo mais profundo, mais significativo, estivesse sendo revelado.

Eu podia sentir o seu coração batendo forte contra o meu peito, enquanto sua respiração se tornava cada vez mais pesada. Suas mãos subiram, segurando meu rosto com firmeza, mas com um toque que ao mesmo tempo era cheio de carinho. Ele aprofundou o beijo, e a sala parecia pequena demais para conter toda a intensidade que estava entre nós.

Nos separávamos apenas o suficiente para respirar, e cada pausa era acompanhada por olhares que diziam mais do que qualquer palavra. Havia uma mistura de desejo, diversão e algo que parecia mais sincero, algo que eu não sabia descrever com precisão, mas que me atraía de um jeito que nunca imaginei.

— Acho que... — comecei a dizer, com a respiração entrecortada, tentando reunir meus pensamentos. — Isso foi um pouco mais do que eu esperava quando entrei neste bar.

Ele riu, sua testa encostando na minha, enquanto suas mãos continuavam segurando meu rosto com gentileza.

— Nem me fale — ele murmurou, seus olhos brilhando. — Acho que nenhum de nós esperava.

Por um momento, ficamos ali, parados, respirando juntos, a proximidade e a química entre nós quase eletrizante. A intensidade inicial havia dado lugar a algo mais suave, mais íntimo, como se as barreiras que normalmente erguíamos entre nós e o mundo tivessem se quebrado por completo.

— Você tem esse efeito nas pessoas? — perguntei, ainda sentindo meu coração bater forte.

Ele sorriu, aquele sorriso irresistível e cheio de charme que me deixou completamente envolvido.

— Não em qualquer pessoa... — Ronaldo respondeu, a voz suave, mas com uma profundidade que me fez acreditar nele. — Só em quem realmente importa.

Meus dedos traçaram levemente a linha de seu maxilar, e eu o puxei para mais um beijo, desta vez mais lento, mais profundo. O mundo lá fora poderia esperar. Naquele momento, só existíamos nós dois, perdidos na química que parecia nos consumir desde o momento em que nos reencontramos.

Quando finalmente nos afastamos, nossos corpos ainda próximos, o toque ainda presente, eu sabia que algo havia mudado entre nós. Algo que ia muito além das palavras ou dos beijos que havíamos trocado. Era como se o espaço que antes existia entre nós tivesse desaparecido, deixando apenas a possibilidade do que mais poderia vir.

E, pela primeira vez em muito tempo, eu estava disposto a ver onde isso nos levaria.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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