Bônus Dois
Erick Evans:
Olhei para o meu irmão mais uma vez, observando-o revisar pela décima vez o documento que eu havia feito questão de preparar com o auxílio de um dos melhores advogados da minha empresa. Cada detalhe foi cuidadosamente digitado, refinado, e ainda assim ele insistia em verificar cada linha como se esperasse encontrar algum erro escondido. A tensão pairava no ar, e eu sabia que este momento era crucial.
Minha cunhada, sempre calma e observadora, estava ao lado dele. Seus olhos passavam lentamente pelas páginas, absorvendo o conteúdo como se precisasse entender cada nuance. Ela parecia ser a voz da razão entre nós, mas naquele momento, até ela demonstrava uma leve preocupação.
— Está dizendo que você e o Derick estão nos permitindo vender a empresa sem a obrigação de consultá-los novamente? — sua voz soou baixa, mas carregada de dúvida, enquanto pousava a xícara de chá sobre a mesa. Bebi o meu próprio chá calmamente, saboreando cada gole como se isso pudesse suavizar o peso da conversa.
— Só isso? Sem nem uma pequena porcentagem da venda? — meu irmão perguntou, a desconfiança evidente em seu tom. Ele me olhava como se eu fosse louco, como se não pudesse acreditar no que estava ouvindo.
Sorri ligeiramente, conhecendo bem esse olhar dele.
— Eu não preciso desse dinheiro, irmão. Tenho inúmeros investimentos em diferentes áreas, desde finanças até setores que mal imagina, todos atendendo às necessidades da minha empresa. Esse montante, por mais impressionante que seja para você, não me faria falta. E para o Derick, tampouco. Não precisamos nos rebaixar por algo assim — minhas palavras saíram afiadas, e pude ver o brilho de raiva se acender nos olhos deles.
A tensão aumentava, mas eu continuei.
— Contudo, a empresa passará pelas minhas mãos. Eu vou supervisionar quem será o comprador, e também farei investimentos, garantindo que ela permaneça firme — acrescentei, firme, deixando claro que ainda manteria o controle de certa forma.
O olhar do meu irmão se estreitou, aquele velho ar de superioridade que ele sempre carregava. Desde a infância, ele usava essa mesma expressão comigo, como se estivesse acima de todos. Até mesmo o próprio filho, três anos atrás, foi alvo desse olhar implacável.
— Eu... — ele começou a falar, mas eu o interrompi sem piedade.
— Apenas aproveite a oportunidade que estou oferecendo. Analise todos os documentos que te entreguei. A verdade é que a empresa está afundando a cada segundo que passa. — Minha voz ganhou um tom mais grave. — Se o Derick e eu não aprovarmos essa venda, tudo o que nossos pais construíram será destruído. Assim como os avós do Derick. Décadas de trabalho, suor e sacrifício serão reduzidos a nada. — Inclinei-me levemente, encarando meu irmão com um sorriso calculado. — Mas você não se importa com isso, certo? O que você realmente quer é o dinheiro que essa venda irá proporcionar, não é? Apenas o lucro, nada mais.
O silêncio que se seguiu foi pesado. Eu podia sentir a raiva fervendo debaixo da superfície, mas também sabia que ele não tinha escolha. Eu estava oferecendo a única chance de salvar tudo aquilo que um dia foi o legado de nossa família, e, por mais que ele não gostasse de admitir, ele precisava de mim.
— Podem ser rápidos com isso? Já perdi tempo demais. Preciso ajudar o Derick com os preparativos para o casamento dele — falei, a impaciência transparecendo na minha voz. Minha cunhada levantou o olhar pela primeira vez, surpresa, mas com uma expressão que não conseguia esconder um toque de mágoa.
— Ele vai se casar? — ela perguntou, incrédula. — E nem nos convidou... nem sequer mencionou para nós...
Soltei um suspiro pesado, cruzando os braços enquanto mantinha o olhar firme sobre eles.
— Vocês perderam esse direito há muito tempo — respondi, minha voz mais dura agora, carregada de um ressentimento que há muito tempo tentava suprimir. — E sabem muito bem o motivo disso. Então, por favor, não se façam de vítimas agora.
O silêncio que seguiu minhas palavras foi carregado. A verdade estava ali, nua e crua, e eu sabia que doía. Mas eles, mais do que ninguém, conheciam a história que nos trouxe até aqui.
Minha cunhada desviou o olhar, mordendo levemente o lábio inferior, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas para responder. O desconforto entre nós era palpável, quase sufocante. Mesmo assim, com a voz suave que, em outros tempos, poderia ter me acalmado, ela tentou amenizar a situação.
— Eu sei que cometemos erros, mas... somos família — sua voz tremia ligeiramente, carregando um apelo quase desesperado. — Não pode apagar isso.
Soltei uma risada amarga, uma que reverberou dentro de mim com um peso que nem eu sabia que ainda carregava. *Família*. Aquela palavra sempre surgia como um escudo, como se pudesse justificar todos os erros, todas as traições e abandonos do passado.
— Família? — repeti, sentindo o gosto amargo da palavra na boca, deixando que a incredulidade se infiltrasse no meu tom. — Vocês usam essa palavra como se fosse um laço indestrutível, mas onde estavam quando realmente importava? — Cruzei os braços, voltando meu olhar para meu irmão. Ele mantinha os olhos fixos nos documentos, evitando me encarar, fingindo que minhas palavras não o atingiam. Mas eu sabia que elas o cortavam fundo. — Onde estavam quando acusaram o Derick de desviar os fundos da empresa? — perguntei, minha voz carregada de frustração e indignação. — Vocês o destruíram com aquelas acusações, sem ao menos darem a ele a chance de se explicar. E sabem como ele se sentiu? Afundado no próprio desespero, sem ninguém a quem recorrer, abandonado por vocês.
Fiz uma pausa, permitindo que o peso das minhas palavras se instalasse no ambiente. As lembranças vinham à tona, e eu sentia o calor da raiva fervendo dentro de mim. — Eu juro — continuei, a voz mais grave —, se o pior tivesse acontecido, se ele tivesse cedido ao desespero que vocês impuseram a ele, eu teria certeza de que vocês pagariam por isso. Eu faria com que vocês sentissem o peso da culpa, do arrependimento... porque *família*, pelo visto, só vale quando convém, não é?
O silêncio que seguiu minhas palavras foi como um golpe final. Eles sabiam, tanto quanto eu, que essa conversa era apenas o reflexo de anos de feridas mal curadas. E, por mais que tentassem se esconder atrás de uma palavra que deveria significar tudo, eu já não acreditava mais. Não havia laço que pudesse apagar o que fizeram.
Em poucos instantes, eles assinaram os documentos em silêncio. Nenhuma palavra foi trocada enquanto meu irmão, com uma expressão impassível, empurrava os papéis de volta para mim. O som da caneta deslizando sobre o papel foi a única coisa que quebrou o silêncio constrangedor, carregado de ressentimento.
Ele se levantou logo em seguida, sem me olhar nos olhos, um gesto que carregava anos de mágoas não ditas. Minha cunhada o seguiu de perto, hesitante, como se quisesse dizer algo, mas sabendo que qualquer palavra seria em vão naquele momento. Sua mão pousou brevemente no braço dele, um gesto de apoio silencioso, mas sem olhar para trás.
Eu os observei saírem, sentindo uma mistura de alívio e tristeza. O espaço vazio que eles deixaram para trás era quase palpável, como um eco de tudo o que havia sido perdido entre nós. Segurei os documentos com força, como se, de alguma forma, eles pudessem me ancorar à realidade.
Família, pensei amargamente. A palavra havia perdido o significado para nós há muito tempo.
**********************
Joguei a cabeça para trás e soltei uma risada enquanto observava Ronald, que havia caído sentado exatamente no lugar onde as pessoas da reunião tinham acabado de sair, como se fosse o dono do mundo.
— Como foi a reunião com eles? — perguntou ele, a curiosidade estampada em seu rosto enquanto se acomodava, cruzando os braços de forma descontraída.
— Você entrou na sala de reunião da minha empresa sem ser anunciado, que ousadia a sua — retruquei, arqueando uma sobrancelha, mas sem conseguir esconder o sorriso que se formava nos meus lábios. Ronald sempre soube como invadir meus momentos sérios com uma leveza desconcertante.
Ele me lançou aquele sorriso malicioso que só ele sabia dar, os olhos brilhando com diversão.
— Esses são os privilégios de estar com o dono — disse ele, com uma voz carregada de charme, piscando para mim antes de soprar um beijo no ar, que ele sabia que me faria corar.
Tentei manter a expressão séria, mas era impossível. Aquele seu jeito sempre tinha o poder de desarmar qualquer resistência. Ronald fazia tudo parecer mais leve, como se o peso do mundo sumisse por alguns instantes quando ele estava por perto. O simples fato de ele estar ali, brincando, fazia o ambiente mudar, e eu sentia aquele calor familiar crescer no peito.
— As coisas foram... exatamente como eu esperava — respondi, revirando os olhos e jogando o corpo contra o encosto da cadeira. — Eles leram a papelada por uma eternidade antes de assinar, e claro, não podiam deixar de se fazer de vítimas em algum momento. — Soltei um suspiro exasperado, lembrando da tensão sufocante que tinha pairado na sala.
Ronald sorriu, um sorriso carregado de uma compreensão tranquila. Ele se inclinou um pouco na cadeira, os olhos sempre atentos em mim, como se pudesse ler além das minhas palavras.
— Isso não te surpreende mais, né? — ele disse com um tom suave, mas havia algo nos seus olhos, um brilho familiar de apoio incondicional. — Você já sabe exatamente como eles vão agir.
— Exatamente — concordei, sentindo a frustração começar a derreter um pouco. Havia algo na presença dele que sempre me trazia essa sensação de alívio, como se as situações mais complicadas fossem apenas um detalhe insignificante no grande esquema das coisas.
Ele se levantou, caminhando até mim com aquele ar confiante, e pousou as mãos em meus ombros.
— Relaxa, eles são previsíveis. O importante é que você fez o que precisava fazer. Agora, vamos focar em algo mais interessante, tipo... nós dois. — O sorriso provocante apareceu de novo, e eu sabia exatamente onde ele queria chegar.
Não pude evitar o sorriso que se formava no canto dos meus lábios. Ronald sempre sabia como transformar o clima, como fazer com que, mesmo em meio ao caos, houvesse espaço para um momento nosso, algo que sempre fazia meu coração bater um pouco mais rápido.
Senti as mãos de Ronald nos meus ombros, firmes e reconfortantes, e fechei os olhos por um segundo, permitindo-me relaxar sob seu toque. Ele sempre tinha essa habilidade de transformar qualquer situação tensa em algo... leve, quase despreocupado. Quando abri os olhos novamente, lá estava ele, aquele sorriso provocante, os olhos dançando com diversão.
— Ah, então agora você quer focar em "nós dois", é? — perguntei, meu tom sarcástico, mas o sorriso que acompanhava a frase denunciava que eu estava entrando no jogo dele. — E o que exatamente você tem em mente, Ronald?
Ele soltou uma risada baixa, inclinando-se para frente até nossos rostos estarem a poucos centímetros de distância. O calor de sua proximidade fez meu coração acelerar, e eu sabia que ele percebia isso. Ronald sempre soube o efeito que tinha sobre mim, e usava isso com uma precisão cirúrgica.
— Bem, eu estava pensando em algo mais... relaxante — ele disse, a voz carregada de intenções, enquanto seus dedos começavam a traçar pequenos círculos em meus ombros. — Talvez uma pausa para você esquecer essa papelada chata e lembrar de como é bom estar ao lado de alguém que te entende.
Inclinei a cabeça levemente, sentindo o toque de suas mãos se tornarem uma distração agradável demais para ignorar.
— E o que você sugere? Porque se depender de mim, essa papelada vai ficar aí... e nós dois podemos fazer algo mais interessante.
Ronald sorriu ainda mais, os olhos brilhando com malícia.
— Eu sabia que você ia gostar da minha sugestão. — Ele se abaixou até seus lábios quase tocarem os meus, sua respiração quente e próxima. — Que tal começarmos por um jantar? Só nós dois, sem interrupções, sem reuniões... e depois, quem sabe, podemos ver onde a noite nos leva.
Eu sentia o calor subir pelo meu corpo, o coração acelerando com a antecipação. Ronald tinha essa capacidade de transformar qualquer coisa em um momento intenso, cheio de promessas não ditas. Ele sabia exatamente como mexer comigo, e a verdade é que eu não queria resistir.
— Um jantar, hein? — disse, fingindo pensar por um momento, enquanto meus olhos o encaravam diretamente. — Isso parece o começo de uma noite perigosa... mas, você sabe o quanto eu gosto de um pouco de perigo.
Ronald riu, aquela risada baixa e rouca que sempre me arrepiava. Ele se aproximou um pouco mais, até nossos lábios quase se tocarem. — Então acho que estamos prestes a ter uma noite memorável.
Eu sorri, sabendo que com Ronald, as coisas nunca eram simples. Mas também sabia que, com ele, o imprevisível era sempre emocionante.
Ronald permaneceu ali, tão perto que eu podia sentir o calor que emanava dele, seus olhos presos aos meus, criando uma tensão no ar que parecia eletrificar o ambiente. A familiaridade desse jogo entre nós nunca falhava em me deixar à beira, sempre ansiando pelo próximo movimento. Ele sabia disso, e essa era a parte que mais me atraía – o controle suave que ele exercia sobre a situação sem nunca precisar ser óbvio.
— Então, um jantar... — repeti, a voz saindo baixa, quase um sussurro, enquanto meus olhos ainda estavam fixos nos dele. — E o que vem depois?
O sorriso de Ronald se alargou, seu rosto iluminado por um brilho malicioso. Ele levantou uma sobrancelha, claramente se divertindo com a tensão crescente. — Depois? Ah, depois... bem, isso depende de você. — Sua voz era um sussurro agora, íntima, carregada de promessas não ditas. — O que você quer que venha depois?
A provocação era evidente, e eu sabia que ele estava me testando, esperando ver até onde eu deixaria essa conversa nos levar. Mas naquele momento, com o calor de suas mãos em meus ombros e a proximidade de nossos lábios, eu não queria jogar defensivamente.
— Vamos ver... — murmurei, inclinando-me ligeiramente para ele, meus lábios quase tocando os seus. O toque era intencionalmente leve, apenas o suficiente para provocar, para sentir sua respiração mudar. — Acho que podemos pular o jantar, afinal.
Ele riu, aquele som baixo e rouco que sempre fazia meu estômago revirar de expectativa. Ronald então deslizou suas mãos dos meus ombros até meu pescoço, seus polegares traçando a linha da minha mandíbula com uma lentidão quase torturante.
— Eu estava esperando que você dissesse isso — ele disse, e dessa vez, o espaço entre nós desapareceu completamente.
Os lábios de Ronald encontraram os meus, firmes e quentes, em um beijo que começou lento, mas cheio de intensidade. Era como se toda a tensão que havia se acumulado entre nós ao longo daquela conversa tivesse explodido naquele momento. O mundo ao redor desapareceu, as preocupações, os documentos, tudo se dissolveu naquele instante. Era só eu e ele, como sempre acontecia quando estávamos juntos.
O beijo se aprofundou, e eu senti as mãos dele apertarem levemente a minha nuca, me puxando mais para perto, como se não houvesse distância suficiente entre nós. Quando finalmente nos separamos, ambos respirávamos com dificuldade, e o sorriso satisfeito que Ronald me lançou era a confirmação de que ele sabia exatamente o que estava fazendo.
— Bem... isso foi bem mais interessante do que uma reunião — brinquei, tentando recuperar o fôlego.
— Eu sempre sei como deixar as coisas mais interessantes pra você — ele respondeu, sua voz ainda carregada de provocação. — Mas a noite está só começando.
Eu sorri, já antecipando que essa era a primeira de muitas provocações que viriam. Ronald sempre sabia como transformar qualquer momento em algo inesquecível, e eu sabia que, com ele, a noite ainda nos reservava muito mais.
O sorriso no rosto de Ronald era um convite silencioso para tudo o que ainda estava por vir. Ele sempre conseguia transformar cada momento em algo carregado de eletricidade, e aquela tensão que pairava entre nós prometia muito mais. Eu ainda sentia o gosto de seus lábios nos meus, e o calor de suas mãos parecia ter deixado um rastro de expectativa no meu corpo.
— A noite só está começando, hein? — perguntei, minha voz carregada de uma diversão leve, mas também de antecipação. — Então, qual o próximo passo, mestre dos planos imprevisíveis?
Ele deu de ombros, mas o sorriso malicioso não saiu de seu rosto.
— Bom, isso depende de quanto tempo você quer gastar aqui — disse, acenando para o escritório ao nosso redor. — Porque eu tenho algumas ideias muito mais... interessantes que não envolvem reuniões ou documentos.
Eu ri, sacudindo a cabeça. Ele realmente sabia como me desarmar, como me tirar daquele estado sério e focado que, muitas vezes, era necessário no trabalho. Com Ronald, as coisas eram sempre assim — cheias de leveza e espontaneidade, algo que eu sempre precisava, mas que raramente admitia.
— Vamos, então. Já perdemos tempo demais com coisas chatas. — Me levantei, pegando meu casaco e o jogando por cima do ombro. — Me mostre essas suas ideias.
Ronald se levantou também, os olhos brilhando como se ele já tivesse planejado tudo. Ele se aproximou, seus dedos roçando os meus de uma forma quase casual, mas que continha uma intenção clara.
— Ah, eu vou te mostrar, pode acreditar — ele disse, sua voz baixa e carregada de uma promessa.
Caminhamos até a saída do escritório, e o silêncio entre nós não era desconfortável, mas cheio de uma expectativa gostosa. Eu sabia que com Ronald, as noites nunca seguiam um roteiro previsível. Ele tinha esse dom de transformar o ordinário em algo extraordinário, e eu estava mais do que disposto a seguir o ritmo.
Ao sairmos, o ar noturno nos envolveu, fresco e leve, quase como um reflexo da sensação que ele sempre me trazia. Ronald olhou para mim de lado, o sorriso travesso ainda no rosto.
— Eu conheço um lugar perfeito — ele disse, e sem mais uma palavra, tomou minha mão na dele. O simples toque fez meu coração acelerar de novo, e era impossível não sorrir.
Enquanto caminhávamos juntos, de mãos dadas, eu soube que essa noite — como todas as outras que passávamos juntos — seria memorável. Não por onde iríamos, nem pelo que faríamos, mas pela forma como Ronald, com seu jeito único e irresistível, conseguia fazer o mundo ao meu redor parar, deixando apenas nós dois no centro de tudo.
E isso, como sempre, era o suficiente.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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