Capítulo 3

O sinal soava por todo campo do Colégio Direção, indicando para todos o fim do último tempo da manhã.

Os alunos rapidamente começaram a arrumar as suas coisas para o horário da refeição.

— Não esquecem de fazer os exercícios indicados para fixarem em suas mentes a fórmula de baskhara. As provas finais já estão logo ai, tenho certeza que nenhum de vocês gostará de ficar para recuperação comigo — avisou a professora para os estudantes que deixavam a sala de aula aos montes.

Nicolas guardou seu material em sua mochila. Em seguida olhou para trás. Emilly o esperava, em pé, com as mãos em seu quadril e um olhar indagador.

— Vamos para o refeitório — falou Nicolas.

Os dois deixaram a sala e caminharam pelos carredores amarrotados de gente. Era como se o próprio zoológico houvesse sido despejado ali mesmo. Nicolas tentava abrir espaço pela multidão de alunos aglomerados.

Os dois chegaram no grande salão do refeitório.

Aqui estava um fato sobre o Colégio Direção: o estabelecimento era uma tentativa frajuta de imitar uma escola estadunidense. Os armários escolares, popularmente chamados de locker, o sistema de ensino integral, o time de futebol, a quadra de esportes e o refeitório eram basicamente imitações baratas tiradas direto de um filme clichê de adolescente.

Até a sua própria versão de líderes de torcida existia, apesar de não ser um título tão desejado assim pelas garotas do colégio.

Os pais dos alunos obviamente adoravam tudo aquilo, afinal, qualquer coisa que se assemelhasse a realidade norte-americana disfarçava o fato de morarem no Brasil, agradando a classe média e alta daquela pequena cidade do interior de São Paulo. E isso refletia na mensalidade do Colégio a qual custava o olho da cara, por assim dizer.

Nicolas pegou uma bandeja localizada em uma mesa do refeitório.

Passou ela para uma mulher atrás de uma bancada. A funcionária colocou arroz, bolas de carne acebolada e uma porção de purê de batata, junto com um pacote de suco natural pois o diretor havia decidido que coca-cola fazia um mal danado a saúde.

Não que ele se importasse, afinal, apenas o que lhe interessava era o dinheiro dos responsáveis que debateram acerca da mudança no cardápio.

— Próximo — gritou ela após Nicolas deixar a fila.

Ele esperou Emilly se servir e, então, os dois foram sentar na mesa costumeira.

— E então, você vai começar a me explicar o que aconteceu exatamente ontem a noite?

Nicolas usava o garfo para brincar com a bola de carne, sem interesse na comida.

Ele a fitou diretamente nos olhos.

— Apenas saíamos para dar uma volta por aí, simples assim.

Emilly riu.

— Tá bom. E em que parte exatamente o pichação entra na história?

— Eu sugeri que nós fossemos lá em casa e no caminho pensamos em pichar o muro.

— Só não entendi ainda porque você e o Carl exatamente, vocês não são tão próximos assim...

Existem muitas coisas sobre o Carl que você não sabe, pensou em dizer. Ao invés disso, respondeu: — Apenas não tinha outra pessoa para chamar.

Emilly era sua melhor amiga. E também era louca por Carl, por isso, não podia contar nem um terço do que se passou naquela e em muitas outras noites.

Ela não pode saber do meu relacionamento com o Carl, pensou ele.

Nicolas não estava com fome, então deixou a sua bandeja de lado e pegou seu celular.

Checou as suas notificações.

Havia uma mensagem não lida de Carl.

Me encontre no lugar de sempre.
05:00

Nicolas começou a digitar. Respondeu:

Ok...
12:31

Notou que Emilly o olhava, desconfiada.

— Acho que vou matar aula durante o período da tarde.

Ela logo o indagou: — Para onde vai?

Nicolas pensou em alguma história para inventar em que Emilly não fosse acreditar.

— Quero ir na psicóloga — mentiu.

Ela levantou as sobrancelhas. — Vou fingir que acredito.

Nicolas começou devanear, pensando no que Carl falaria para ele quando o encontrasse.

Coisa boa não é.

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