Capítulo 2

A psicóloga o olhava, esperando alguma resposta.

Nicolas, no entanto, se recusava a falar.

A mulher olhou para os pulsos escondidos pela longa manga do seu moletom.

— Nicolas, você está se cortando novamente?

Nicolas apenas acenou com a cabeça em concordância.

A mulher o deu um olhar reprovador.

— Achei que nós já estivéssemos evoluído dessa fase... mas vejo que vou ter mais trabalho do que pensava.

Nicolas pegou um tufo do seu cabelo azulado e enrolou no dedo.

— Nicolas, eu preciso que você responda. Já faz um ano que você é meu paciente — disse a mulher. — Se quisermos levar essa terapia realmente a sério você vai ter que colaborar comigo, caso contrário eu não vejo qual o ponto de continuarmos tendo essas sessões.

Nicolas deu de ombros.

— Tudo bem, eu tive uma recaída. Só isso, não tem nada demais por trás.

Mas aquilo não era verdade.

A mulher começou a anotar em seu bloco de notas. — Nicolas, eu quero que você preste bem atenção. Nós já chegamos longe demais e você melhorou muito desde que começamos com as consultas. Não podemos regredir depois de tanto trabalho.

Nicolas se sentiu mal ao ouvir o tom na voz de Carla.

Ela não tinha culpa que ele era a porra de um adolescente problemático, do contrário, sempre havia o tentando ajudar mesmo sem a sua cooperação inicial.

— Tudo bem... eu prometo que nunca mais vou me cortar novamente.

Ela o repreendeu com o olhar.

— Não precisa me prometer nada, apenas cumpra. — Ela voltou a anotar no seu bloco de anotações. — Seu pai me disse que você não anda se alimentando bem ultimamente... gostaria de falar sobre isso.

Nicolas balançou a cabeça em recusa.

O resto da conversa seguiu como o de costume: vazia e constrangedora.

No caminho para o colégio seu pai não trocou nem uma palavra com ele.

Nicolas olhou através do espelho a expressão no rosto dele. O olhar de alguém que não via a hora de se livrar do problema encontrado no banco de trás.

Quando chegaram na frente do Colégio Direção, o seu pai parou o carro.

Nicolas pegou a sua mochila e abriu a porta do veiculo.

— Benção Pai — disse ele com a porta entre aberta.

Antônio apenas respondeu friamente: — Não arrume confusão. Se eu receber alguma chamada no meu telefone a respeito de alguma palhaçada sua eu juro que eu mando você para um internato para padres.

Ao fechar a porta, o carro saiu em disparada, deixando uma grande quantidade de poeira para trás.

Não tem de quê.

Ele, então, se encaminhou para a entrada do colégio.

Ao andar pelos corredores, Nicolas pôde perceber os olhares de relance e as conversas paralelas envolvendo seu nome.

Ele não ligou, afinal, já estava acostumado com o falatório daquele povo desocupado.

Sotopolis não era exatamente uma cidade muito grande, então quase todos os habitantes conheciam as histórias que corriam a respeito de seus habitantes. Principalmente quando a fofoca, por acaso, envolvia o filho do prefeito.

Nicolas abriu o seu armário escolar e pegou alguns dos livros que usaria naquele dia. Após pegar o desejado, o trancou.

Quando sentou-se em sua cadeira costumeira na sala de aula, sentiu uma mão tocar seu ombro.

— Você está fodido — sussurrou Emilly em seu ouvido. — O Carl foi pego pelos canas por sua causa.

Nicolas olhou para ela.

— Eu não tenho culpa se aquele tapado não conseguiu correr a tempo de fugir da polícia — respondeu com as sobrancelhas franzidas. — E antes que falar merda, procura saber o que realmente aconteceu.

— Bom... tá todo mundo dizendo que foi você que chamou ele para pichar o prédio onde você mora. E eu não culpo eles, a única pessoa maluca o suficiente para pichar o prédio onde o prefeito mora que conheço é você.

A professora de matemática entrou na sala, interrompendo o assunto.

— Depois a gente conversa melhor... — sussurrou, encerrando o assunto.

A professora esperou todos irem para seus lugares e cessarem as conversas paralelas para iniciar a aula.

— Abram o livro na página 26.

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