Capítulo 1

Henrique se remexeu na sua cadeira, tentando encontrar a posição ideal para ficar ereto de forma aparentar um semblante mais formal o quanto possível.

Olhou uma última vez seu reflexo através da tela desligada do celular. Seu cabelo encaracolado estava encharcado por uma grande quantidade de gel capilar e, no momento, se assemelhava mais com um capacete do que com qualquer outra coisa.

Quando ele ouviu a porta da sala ser aberta, Henrique deu um leve pulo de onde estava sentado. Sentiu a vermelhidão subir a sua face e esperou que o entrevistador não tivesse percebido o momento de constrangimento.

Bom trabalho Henrique, mal começou a entrevista e você já quer estragar tudo, depreciou-se mentalmente.

O homem sentou na cadeira da bancada a sua frente, em seguida pegou uma caneta e começou a anotar qualquer coisa em um caderno.

Quando terminou de anotar ele o fitou diretamente através de suas lentes de óculos retangulares.

— Bom... acho que podemos começar a entrevista — disse ele enquanto ajeitava seu óculos sobre o nariz. — Vamos lá, deixa eu ver... Carlos Henrique. Por que você acha que dentre os concorrentes você merece a vaga?

Henrique engoliu o seco.

Havia passada a noite anterior praticamente em claro decorando aquele discurso, agora que chegou a hora de o por em prática não podia falhar.

— Bom... eu trabalho desde que me entendo por gente. Sempre dei duro em qualquer serviço que eu me prestasse a fazer e possuo boas referências de trabalho.

O homem pegou o seu currículo e pareceu ler as suas referências.

— De fato vejo que suas referências são boas para alguém com apenas 19 anos. Jovem Aprendiz no Correios, Mac Donalds, Mundo do Real...

Henrique sorriu com o elogio.

— Agora estou curioso... o que levou alguém com o currículo tão impecável quanto o seu a aceitar trabalhar como um vendedor de batata frita para a nossa franquia?

Henrique tinha um motivo bem específico para ter procurado aquele emprego, mas preferia deixar oculto pois aquele não era um fato que o favoreceria muito.

A verdade é que eu estou desesperado.

— Apenas quero sair da minha zona de conforto e me arriscar em algo novo — mentiu.

Nem ele acreditava naquilo.

— Okay. Certo Henrique. Obrigado por participar dessa entrevista de emprego. O resultado da seleção será publicado na nossa página da internet. — Ele levantou de sua cadeira para apertar sua mão. Henrique fez o mesmo. — Entraremos em contato com você, isso eu tenho certeza.

Henrique deixou o prédio com um semblante sorridente de alguém que tinha certeza que havia feito algo certo, para variar.

Os dias pareceram correr em câmera lenta desde o dia de sua entrevista de emprego.

Henrique passava o tempo inteiro checando seu celular para ver se não existia nenhuma mensagem ou chamada perdida.

A geladeira de sua casa estava se esvaziando e, logo, não restaria mais nenhum dinheiro para fazer a compra da semana.

Precisava urgentemente da resposta de algum dos locais aonde havia entregado seu currículo, ou acreditava que em alguns dias estaria sobrevivendo apenas de arroz e ovos de galinha.

Passou-se uma semana exata quando recebera o chamado esperado.

— Você foi o escolhido entre os demais. Esperamos a sua presença na reunião de esclarecimento que acontecerá dia 10/05 no balcão do Paraiso das Batatas — disse a voz no telefone.

Ao desligar o telefone, Henrique caiu de cara nos travesseiros de sua cama. Em seguida, começou a rolar pelo colchão em animação.

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