Trickster

      A clareira não era tão grande, assim como a quantidade de pessoas nela. Eu entrei com os passos incertos, havia umas quinze pessoas encapuzadas com manto vermelho espalhados a minha volta, como se seitas não atualizassem seu guarda roupa há  milênios.
- tá bom aqui. - Bella me fez parar no meio de uma espécie de centro improvisado e bem em frente uma mulher na faixa dos 40 que sentava em um trono de pedra lapidada, ela tinha olhos negros e seus cabelos eram loiros dourado, sua postura era imponente, mas algo nela era muito familiar eu só não sabia o que.
- Que bom que pôde se unir a nós Liatris. - a mulher disse com um sorriso assustador no rosto.
- Eu diria que o prazer é meu, mas não é como se fosse de vontade própria minha presença. - olhei em volta, Bella ainda estava atrás de mim, mas a uma distância considerável agora, a arma apontada para o chão e seu olhar não era mais afetuoso e sim de deboche.
Uma risada parecida com delicados sinos veio da mulher a minha frente.
- O sarcasmo você com certeza não puxou de mim.
O comentário me fez olhar com mais atenção e sim a mulher era uma versão de mim mais velha tirando o olhos e o cabelo, minha testa automaticamente se enrugou.
- Isso mesmo, sou sua mãe biológica.- a mulher disse sem tirar o sorriso do rosto.

        Minhas pernas falharam me fazendo dar um passo para trás. Todos a minha volta pareceram incomodados com o movimento enquanto eu olhava envolta estranhando a insegurança causada pelo meu ligeiro movimento.
- Desculpe meus amigos, eles são um pouco supersticiosos. Ninguém antes foi um desafio tão interessante, alguns aqui acreditam que você é uma espécie de karma que veio para acabar com uma instituição quase milenar. - ela riu das próprias palavras suavemente. - Esse é o problema de lidar com uma organização onde metade das regras são baseadas na fé. - ela soltou a última palavra com uma expressão de nojo e total descrença.
- Achei que eu fosse só mais um sacrifício, não pensei que perdesse tempo com suas vítimas. - disse olhando mais uma vez em volta.
- Ah, você é muito mais que isso. - ela fez uma pausa, pensando nas próximas palavras. - Quando eu soube que minha casa seria quem ia dar o próximo sacrifício, acho que até mesmo um pouco antes, eu sabia que precisaria de uma oferenda. Eu sou a última da minha casa, meus pais morreram cedo e alguns acidentes trágico cuidou do resto. - ela olhou com olhar acusatório na direção dos membros em volta.
- Eu sabia que precisaria de um filho, então fiz um, para o bem maior. Eu precisava de mais tempo.
Meu corpo tremeu com a frieza da sua voz.
- Eu sempre fui um sacrifício para você? - perguntei incrivelmente só por curiosidade.
- Se seu pai não tivesse te roubado teatralmente de mim. - ela disse com seus olhos ferozes em minha direção. - Mas ele já está pagando por isso de qualquer forma. - ela falou um gesto como se o assunto foi desnecessário.
- Você sabia que eu costumava chamá-la de Rosa? - Ela me olhou com seus olhos negros brilhantes me assustando pela primeira vez. - Parece que seu destino era ser nomeada com uma flor, apesar de que eu prefiro a minha no lugar de Liatris.
Ela ainda estava com ar de deboche e eu pensei se não era mais um ato de defesa do que o sentimento em si, Bella costumava fazer isso para compartimentalizar seus sentimentos, e porque diabos eu estava pensando na Bella?
- Ele tinha desistido de ser Messore não tinha? - perguntei tentando me livrar de pensamentos inconvenientes  e lembrando da Júlia estranhando o fato da possível inocência do meu pai.
- Não se desiste de ser um Messore. - a mulher olhou para mim com ódio enquanto meus olhos automaticamente iam para Bella. - Isso mesmo, Bella fez um ótimo trabalho com você. - Ela sussurrou maldosamente. - Seu pai roubou você de mim e achou que podia se esconder, quando nós o achamos e jogamos alguns sacrifícios ocorrido na região em suas costas ele pensou em contar sobre nós e acabar com tudo, nós o ameaçamos fazendo os pré sacrifícios com pessoas parecidas com sua mãe para lembrá-lo o quanto ele tinha a perder, mas nada adiantava e ele era esperto o suficiente para não ser pego, mas então nós tiramos sua querida esposa e por fim fizemos um acordo de salvar sua querida filha se ele confessasse que foi ele quem cometeu os crimes, afinal era matar dois coelhos com uma cajadada só, nossa organização saia da visão dos policiais e ficava livre de suspeitas e você  ficava só mais um problema para mais tarde e foi exatamente o que ele fez, nos obedeceu como foi criado para fazer.
- Meus olhos ameaçaram lacrimejar pensando o quanto meu pai se esforçou para manter sua palavra só para me manter segura e o quanto eu o desprezei e o culpei por tudo, mas eu forcei as lágrimas de volta para a garganta apertando minhas mãos em punho até quase sangrar.
- Não me olhe assim, você saberia se fosse criada dentro da organização, os Messores só servem para uma coisa. - ela olhou para Bella com olhar predador. - obedecer. - ela terminou a frase olhando de volta para mim.
- Então esse é seu xeque-mate? - perguntei olhando em volta. - derramar o sangue de mais um dentro de uma caverna sinistra? - sussurrei pensativa.
- Ora, chega desse jogo inútil, nós nao jogamos xadrez porque gostamos, nós tiramos sarro da última família que se revoltou como um preço a se pagar, sabe nós damos muito valor a honra no nosso meio e quando a sexta família saiu nos impondo regras e ameaçando, na época não podíamos fazer muito , pois eles eram uma família muito poderosa, mas agora são só uma piada. - ela olhou em volta como se o lembrete não fosse só para mim. - Nós caçoamos da regra imposta quando não obedecemos a regra desse maldito xadrez e sim manipulamos as peças,você é prova viva de como trapaceamos.
- Só tem um problema nisso. - eu disse colocando as mãos tremendo e ainda dolorida no bolso.
- Tem? - ela se levantou lentamente do trono com seu olhar de indiferença. - e qual seria? - perguntou obviamente contra sua vontade.
- Não se pode trapacear um trapaceiro. - eu disse tirando um dispositivo do bolso e erguendo na direção do meu ouvido.

Aconteceram uma série de coisas depois disso, primeiro vários pontos vermelhos apareceram em cada testa daquele lugar e as pessoas entraram em um segundo de choque enquanto a força tarefa especial que me seguia entrava na clareira a deixando claustrofóbica. Depois várias armas escondidas nos mantos vermelhos das pessoas a minha volta foram erguidas e tudo que eu pude fazer foi me abaixar e tampar os ouvidos enquanto sequências de tiros eram feita​s.
  Eu sabia que estava a salvo, eu era o último sacrifício ninguém da seita abriria fogo contra mim e a força tarefa meio q estava do meu lado, mas mesmo assim meu corpo não queria entender isso, eu tremia com a adrenalina produzida para fuga e meus ouvidos pareciam querer implodir com o barulhos dos tiros, mesmo assim tudo que eu conseguia pensar era nela.

    Eu a procurei no lugar em que ela estava da última vez em que a vi o que era inútil, obviamente ela já tinha se movido, então olhei em volta e tinham muitos corpos no chão e muito sangue que se misturava a mantos vermelhos dando uma ilusão de mais sangue ainda. Alguém estava gritando ordens para mim, mas eu não estava prestando atenção pois vi um vulto conhecido correndo na lateral da clareira, era Bella eu tinha certeza, como se eu conhecesse até mesmo sua sombra. Eu não tinha visto antes, mas tinha uma curvatura que criava a ilusão de mais paredes de pedra, mas era obviamente uma passagem pois o corpo de Bella sumiu do nada, como se ela desaparecesse no ar e então pude notar a ilusão de ótica.
  Eu corri em sua direção sem notar o perigo dos tiros  zunindo bem próximo ao meu ouvido e mergulhei onde ela tinha sumido. Era um corredor estreito, úmido e fétido e eu não me importava, tudo que eu queria era encontra-la, então eu corri escorregando nas pedras com lodo aos meu pés e quase caindo várias vezes, mas o corredor estreito me dava firmeza, mas não me impedia de me ralar por todo corpo, deixando minhas mãos em carne viva toda vez que eu me apoiava com mais força para evitar uma queda.
  Eu sabia que estava perto de uma saída, quando ouvi o barulho do mar se aproximando e então a claridade me cegou, mas ainda assim não parei de correr, quando meus olhos se acostumaram com a claridade eu vi Bella muito mais perto do que eu imaginava, ela com certeza tomou mais cuidado no corredor estreito. Nós estávamos em cima da caverna, onde tinham muitas árvores pedras e troncos caídos, então pode-se dizer que eu não pensei muito quando me joguei em cima dela e saímos rolamos morro abaixo até cairmos numa pequena estrada de terra com aparência de nunca ser usada.
   Bella se desenrolou de mim o mais rápido que pôde e eu me levantei com a mesma velocidade, porém ela estava apontando uma arma para mim e eu só estava a encarando sem esperança alguma.
- Eu sabia. - ela gritou de repente com animação, sendo a Bella de sempre.
Eu dei um passo para trás me assustando um pouco, mas não consegui conter um sorriso.
- Você sempre tem um plano eu falei para Eleonor . Cuidado com Lia, ela é um pequeno Gênio, mas ela não escutou, ficava dizendo " Nós somos uma instituição milenar , ela é apenas uma garota com menos de trinta. Quem você acha que ganha essa guerra?" - ela disse a última frase imitando a mulher que eu imaginava ser minha mãe, Eleonor. - Rá, eu sabia que você venceria. - ela disse com orgulho.
Meu coração despedaçou ainda mais porque pela primeira vez eu percebi que eu a amava e ela era obviamente o " inimigo".
- Como soube? - ela perguntou, agora sem sorrisos, mas com a voz num sussurro de carinho e perda, seja  pela minha expressão ou por sentimento mútuo.
Eu não sabia se minha voz sairia pela quantidade de choro preso na minha garganta, mas mesmo assim eu tentei.
- A Bella que eu achei que conhecia nunca deixaria eu seguir uma pista daquelas sem reforço, eu estranhei o fato de você me ver sobre ameaça e não se importar, no começo eu achei que você tinha sido ameaçada ou algo assim, mas quando você separou o grupo de busca nos deixando sozinhas  para entrar numa caverna sem nenhum reforço ou análise do perímetro ao redor eu já não sabia mais o que pensar. - minha voz saiu rouca e chorosa e eu me condenei por isso.
- Ótimo toque o GPS móvel no seu bolso e a força tarefa também, é claro. - ela disse, agora um pouco mais preocupada olhando de onde nós viemos.
- Por que me seguiu Lia? - ela perguntou ficando ainda mais incomodada.
- Eu precisava saber. - falei quase num sussurro.
- Se foi tudo mentira? - ela perguntou com um sorriso no canto da boca.
Eu confirmei com a cabeça duvidando  da minha habilidade em falar.
- Eu não sou sociopata Lia, não consigo desligar um sentimento como se fosse um interruptor, mas eu nunca trairia meu povo, nem mesmo por você.
Seu povo? Pensei a analisando sem entender muito sobre quem ela realmente era.
- Nossas mães não nos vendem ou algo assim, como seu pai deu a entender na cadeia, nós viemos da rua e da miséria e tudo que temos é graças a nossa fé, eu não sou Messore por lavagem cerebral Lia, eu fiz da minha religião minha família e não me importa o que o resto do mundo pensa.
- O mundo pensa que vocês são assassinos treinados . - eu disse com a voz firme dessa vez.
- Bom então talvez eu esteja errada e o mundo sabe exatamente o que somos, de qualquer forma não me importo. - ela disse se aproximando.
- Eu poderia te matar sabia ? - ela diz destravando a arma em sua mão e mirando o meio da minha cabeça.
- E eu não te impediria. - disse olhando seus olhos e sua boca, sem saber se a veria novamente.
  Uma lágrima solitária finalmente caiu do meu olho mas Bella não pareceu se importar pois continuava sorrindo.
- Você tem um último pedido? - ela sussurrou alto, como se dividisse um segredo.
Eu confirmei com a cabeça.
- Qual? - ela perguntou com curiosidade.
- Eu só desejo do fundo da minha Alma ou do que restou dela, que sua mira seja impecável porque se eu sobreviver , todos os dias da sua vida em que você acordar a partir de hoje tenha em sua mente que eu estou indo trás de vocês, todos vocês. - eu me aproximei ficando perigosamente mais próximo de uma mira certeira. - E quando eu chegar, todos vão queimar. - eu sussurrei agora com o rosto ensopado de lágrimas, mas dessa vez era de pleno ódio.
  Bella disparou e eu estava a menos de dois metros dela, eu caí no chão com uma dor pungente no ombro direito e soube naquele momento que ela não me matou porque não quis.
  Eu senti meu joelho queimar pelo impacto da queda, e meu braço ensopar com meu próprio sangue, mas nada disso importava, pois Bella estava sorrindo, meu sorriso preferido, aquele que me fez apaixonar por ela mesmo sem saber o que eu sentia, até de certa forma perdê-la.
- Eu disse para eles que você tinha um plano, você sempre tem. Foi por isso que armei minha fuga mesmo com as chances de você saber sobre mim serem quase nulas, mas eu tenho que tirar o chapéu para você.
Ela se aproximou segurando meu ombro machucado e o apertando me fazendo urrar de dor.
- Shh, está tudo bem, eu só preciso que desmaie, não posso me arriscar com você acordada, só dorme em breve tudo vai acabar. - ela dizia com uma voz doce e assustadora enquanto apertava o buraco da bala no meu ombro o abrindo ainda mais e me fazendo tremer e gritar de dor.
Ela não ia parar até eu desmaiar, então me joguei com um baque no chão sem pensar em proteger minha cabeça, ouvindo um barulho oco de uma possível contusão.
Exigiu muito de mim não gritar ainda mais alto pelas dores intermináveis que corriam pelo meu corpo.
- Lia? - ela chamou enquanto eu estava no chão fingindo já ter desmaiado, antes que eu precisasse aprender escrever com a mão esquerda.
   Ela plantou um beijo na minha testa e sussurrou ao meu ouvido.
- Amei nossa pequena aventura L.
Então se virou e correu, eu abri meus olhos a medida que ouvia seus passos distanciarem e notei pela primeira vez uma moto de corrida estacionada no canto da estrada.
   Eu já tinha acionado meu dispositivo de rastreamento pouco antes de levar um tiro, meu objetivo era colocar de alguma forma em Bella, mas era um tiro no escuro e minha janela de oportunidade se perdeu com tiro no ombro, mas como todo clichê policial o dispositivo serviu para algo, para a polícia chegar depois que tudo acabou.
   A força tarefa me encontrou alguns minutos depois que Bella tinha partido, pelo menos pareceram minutos, eu não sei realmente, eu ficava indo e voltando com minha consciência e eu só soube que não estava sonhando porque senti meus ouvidos zunirem com o barulho dá sirene da ambulância minutos antes dos paramédicos injetarem a abençoada morfina em minhas veias e tudo se transformar um enorme e silencioso buraco negro.

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