Perseguição

- Espera um minuto, - começou Bella se ajeitando no sofá, - explica exatamente o que quer dizer?

Eu a encarei pensando duas vezes se soletrava ou não para ela. Achei melhor não, eu estava cansada e meu mau humor obviamente estava afetando meu raciocínio. Eu puxei uma grande quantidade de ar e a encarei dormente pelo excesso de ar nos pulmões. - O assassino só queria se gabar, analisa todos os casos, até agora. Ele deve ter feito uma assinatura de alguma forma.

Bella se apressou a agir, ao invés de continuar com a cara de pena que mal combinava com ela e se pôs ao telefone.

Eu levantei do sofá à procura de algo menos destruidor ergonômico para me recostar e achei o quarto que definitivamente era de Bella. Ao contrário do resto da casa, o quarto era completamente organizado, parecia dormitório do exército, lençol bege na cama com uma coberta dobrada simetricamente ao pé, camas de madeira, guarda-roupa simples e escuro. Era tudo sem vida, com cores mortas e sem nenhuma decoração aparente. Não me surpreende a Bella acordar tão mal humorada. Eu poderia continuar bisbilhotando o quarto dela, mas o cansaço me invadiu novamente e eu senti o meu corpo pender em direção à cama, me joguei a ela e fechei lentamente os olhos com o sono.

Eu senti a cama se mover levemente de um lado ao outro, tudo dizia para eu ficar tensa, mas esse movimento de ninar me acalmou e tudo que eu queria era que ele continuasse. Mas não foi o que aconteceu, a cama ficou com uma textura fina, como se eu tivesse deitada em plástico, depois afinou ainda mais como papel machê e se dissolveu em água. Foi quando percebi que estava afundando lentamente, estranho, jurava que sabia boiar. Água envolveu minha nuca e meus cabelos estavam molhados num segundo, eu tremi dos pés à cabeça com o toque gelado, meu rosto se preencheu por completo de água e eu me forcei a fechar os olhos e a boca para impedir de afogar. Um líquido parecido um pouco mais grosso que água preencheu meus pulmões e eu senti um esforço do meu esôfago tentando botá-lo para fora o que me fez engasgar e engoli ainda mais. Abri os olhos para ver que tipo de líquido pegajoso era e não consegui enxergar nada. Então, acordei pulando e tentando puxar o máximo de ar que conseguia. Ainda estava no quarto da Bella então me tranquilizei, eu senti uma enorme puxada no braço esquerdo, mas não conseguia ver o que estava puxando-o o que me fez sentir uma pontada na cabeça, levei minha mão à cabeça e senti meu cabelo gosmento, todo ensopado e quando voltei minha mão em direção aos olhos vi um líquido pegajoso e vermelho, quase preto. Sangue. Quando olhei em volta todo meu corpo estava manchado com o mesmo vermelho pegajoso. O puxão na mão esquerda persistiu e algo começou a criar forma de ante dos meus olhos. Era um corpo.

- Que merda é essa Lia, você estava dormindo de olho aberto?- disse a forma humano ainda transparente prestes a colorir.

Quando notei que tinha realmente acordado olhei apressadamente para o meu corpo e passei as mãos com urgência nos cabelos e nada, estava tudo seco. Sem sangue. Disse a mim mesmo um pouco contente e satisfeita.

- Você é louca? – disse a forma já visível. Bella.

- Eu acho que estou ficando. – disse com incerteza olhando para nada em específico.

Bella se ajeitou em uma posição ereta e analisou o quarto à procura de algo. – Precisamos sair.

- Por que, outro crime? – eu estava muito confusa com o rosto impassível de Bella e minha mente ainda não tinha alinhado todas as engrenagens, como se tivesse entre o mundo físico e o quântico ainda.

- Aconteceu Lia, por isso precisamos sair daqui. – Bella finalmente achou o que queria, era uma espécie de bolsa/sacola, ela abriu as gavetas e começou a puxar roupas aleatórias sem pensar.

- Estamos fugindo?

- Yeap. – respondeu Bella com um estalido de boca se fechando no final.

- Eu estava brincando Bella. – aquela agitação toda estava me perturbando. – Tem como você parar um minuto e me explicar o que está acontecendo?

- Você vai ficar numa cabana da minha família por um tempo. – ela pausou finalmente me encarando com olhar de súplica, como se fosse um pedido em forma de ordem. – E eu, vou resolver umas coisas por aqui.

Eu me peguei rindo atônita. O que provocou um levantar de sobrancelhas em Bella. Respirei fundo e me forcei a continuar – Bella, você quer que eu pegue férias no meio de uma investigação? Não. Impossível.  O que está acontecendo afinal?

Bella jogou a bolsa em cima da cama e balançou o braço para cima, em sinal de desistência.

- Que inferno Lia. Por que você não simplesmente me obedece? – Bella inspirou profundamente o ar e colocou as mãos no bolso olhando para mim como se tivesse pensando no que fazer.

- Você foi acusada de assassinato, - Bella estava com a voz baixa e os olhos em direção ao chão, quando eu abri a boca ela continuou antes que eu pudesse falar, - acharam seu nome em diversas pastas na casa do suspeito, pareciam diários. Bella pausou olhando para o nada. – diários feitos por você Lia, com dados da delegacia que alguém de dentro saberia e todas as estratégias que você previu até agora.

O chão parecia de areia de repente e minha visão ficou turva até o completo negro. Eu continuei firme em pé e criei forças para falar mesmo não enxergando. Não era hora de demonstrar fraqueza.

- Eu não saí do seu lado. – O que pensei que seria uma voz saiu um sussurro, mas minha visão foi voltando aos poucos.

Bella se remexeu um pouco e encontrou o guarda-roupa para se encostar ainda com as mãos nos bolsos.

- Eu sei Lia, mas isso não vai colar em um tribunal, aquele diário pode ter sido escrito a qualquer momento fora que tem seu pai. – Bella se interrompeu.

Minha mente que a pouco não estava em pleno funcionamento, agora estava a vapor. Era tão obvio.

- Como não notara antes, só eu sabia as jogadas, só eu as ditava, os crimes eram idênticos aos do meu pai. Bom, quase idêntico.

- E é exatamente esse tipo de resposta que vai acabar te pegando no tribunal. – Disse uma voz vinda da porta do quarto.

- Luana, o que você está fazendo aqui?

Meus olhos passavam da Luana para Bella, que tinha desistido do chão e passou a me encarar.

- Relaxa Lia, eu vim em paz.

Continuei encarando Bella, como se só ela pudesse me responder o que eu queria ouvir, então ela balançou afirmativamente a cabeça o que me fez relaxar os ombros, que eu nem tinha notado que estavam tensos até o momento.

- Espera um momento. – eu me ajeitei na mesma posição com os dedos para cima envolta em pensamentos. – Como já identificaram o diário como meu  tão rapidamente?

- Lucas. – As duas disseram juntas se entreolhando.

- Ele disse que as pistas todas levavam a você, foi questão de minutos todos serem convencidos, como disse antes, seu pai. – Bella falava, mas olhos pareciam vazios e diziam alguma coisa, não sei se era o calor do momento, mas aquilo parecia quase como decepção para mim.

- Mesmo assim o chefe jamais...

- O delegado não pode fazer nada Lia.

Eu olhei para Bella com interrogação nos olhos forçando-a continuar e foi exatamente o que fez assim que encontrou meus olhos.

- São muitas mortes, as pessoas estão ficando assustadas, a Júlia colocou em proteção as pessoas que parecem com você e isso de alguma forma vazou para os repórteres, enfim, os federais pegaram.

- Que? Tem coisa estranha aí, isso não é nenhum desastre em massa para os federais pegarem.

- Não, mas é desastre na mídia e isso pesa quase como a mesma coisa. Eles querem esse caso fechado o quanto antes. – Disse Júlia aparecendo ao lado da Luana.

- Se eu sou uma provável suspeita, vocês não deveriam estar aqui. Isso parece uma óbvia cumplicidade e eu não quero isso. – eu suspirei e testei meu equilíbrio dando um passo à frente antes de continuar. - Bella, me leva a delegacia, seja lá o que for eu resolvo.

- Do mesmo jeito que o seu pai resolveu? – replicou Bella.

- O meu pai é culpado, você realmente acha que eu fiz algo? – eu olhei consternada para Bella como ela podia dizer isso ou pensar isso? Era um completo absurdo.

- Ei. Calma. – Bella exaltou a voz, como se quisesse me acalmar com aquilo.

- Eu não acho você culpada, se eu desconfiasse você já estaria na cadeia.

- Bella me pediu para olhar os arquivos de defesa do seu pai ontem. – Luana se aproximou um pouco e continuou - ela pode estar certa em sua teoria.

Eu olhei para Bella novamente esperando uma responda, quando seus olhos encontraram os meus ela simplesmente entendeu e se aproximou alguns passos em minha direção como Luana tinha feito segundos atrás. Essa sincronia estava me matando aos poucos. Toda aquela cena estava estranha, diferente.

Júlia interrompeu os pensamentos de nós três falando com a voz controlada como uma organizadora de um jogo caseiro prestes a acontecer.

- Muito bem gente, o que temos até agora. Em primeiro lugar te a Luana investigando as alegações do seu pai, e realmente, o que descobrimos é no mínimo duvidoso, ele tentou por dez anos alegar inocência. Ele só desistiu dois dias depois de uma visita sua ao presídio aos 18 anos.

Todos olharam para mim, e eu me afundei na cama ao lado, perdida em lembranças que há sete anos tentara esquecer.

- Eu disse que queria vê-lo apodrecendo na cadeia, que era o lugar em que ele devia estar e que nunca o perdoaria.

- Touchè. - Disse Luana olhando receosa para Bella, como se fosse levar uma bronca.

Era isso, Bella devia ter impedindo Luana de fazer piadas, por isso à cena estava tão tensa e estranha.

- Vocês estão dizendo que meu pai é inocente? – eu olhei para Bella, com um brilho nos olhos prestes a chorar e Bella veio em um segundo sentar à minha frente, como se estivesse se segurando o tempo todo para não fazê-lo até o momento, e havia tortura em seus olhos.

- Lia, não estamos te dizendo que seu pai é inocente.

- Ele alegou 350 vezes que armaram para ele e 289 vezes que era inocente e então nada, ele não disse mais nada. – Júlia parou de olhar suas anotações e viu as três olhando para ela o que a fez ruborizar.

- O que estamos querendo dizer é que precisamos te esconder enquanto procuramos por resposta, se você entrar na cadeia a burocracia vai te comer viva. – Bella respirou com dificuldade e afastou com a cabeça algum pensamento retornando os olhos para os meus. – O que eu quero dizer Lia. É que se não encontrarmos provas a seu favor, precisamos encontrar ao menos alguma contra alguém e nós já temos um suspeito, certo?

Luana olhou para um celular com a tela iluminada e saiu do quarto para atender quem quer que fosse. Bella que estava olhando para a Luana resolveu tentar uma resposta com a Júlia.

- Lia você não errou em nada até agora e isso é bom, significa que o palpite do Lucas está provavelmente certo.

- Provavelmente. - sussurrei pensativa.

- O chefe quer que você suma com a nossa suspeita em potencial. – Luana disse guardando o celular em um movimento automático.

- O delegado sabe disso? – eu estava espantada, se aquilo desse errado, se não achassem provas a meu favor eu ferraria todos ali, eu não podia deixar isso acontecer, isso era loucura. Talvez eu ainda estivesse sonhando. Fechei meus olhos firmemente então os abri novamente, lá estavam elas. Bella com a sobrancelha levantada, Julia anotando algo e Luana batendo o pé no carpete impaciente.

- Eu não posso... Vocês não podem... - nenhuma frase minha saia completa, simplesmente não sabia o que fazer, não podia arriscar a liberdade de ninguém naquele quarto.

- Alguém a acalma, isso está me deixando impaciente. – ninguém fez nada, ainda estavam me olhando com olhar encorajador. - Vou esperar no carro. – Luana pegou a bolsa que Bella tinha preparado antes de sair do dormitório.

- Lia, precisamos fazer algo. O que disser faremos. – disse olhando para Júlia que confirmou com a cabeça.

Eu pensei por alguns minutos e vi Júlia olhando automaticamente para o relógio, não tínhamos muito tempo, e de todos os ângulos analisados só existia uma saída visível.

- Certo, eu vou sumir enquanto vocês investigam por aqui. – Bella visivelmente se tranquilizou me olhando ainda incrédula. – Mas... – eu comecei, olhando para Bella que deixou seus braços cair em desistência. – Eu não vou ficar parada em uma cabana abandonada, vou investigar os crimes do meu pai, algo passou despercebido e eu sou o único ser vivo que entende meu pai.

- O que te faça sair daqui Lia. – Disse Bella me levantando da cama com as duas mãos ancoradas em meus ombros- O que te faça sair daqui – repetiu mais pausadamente se afastando.

- Eu só preciso me trocar, minha roupa está colando no corpo de suor.

Júlia balançou a cabeça e saiu do quarto imediatamente enquanto Bella me olhava com desconfiança.

- Você confia no seu pai?

Eu pensei por um instante, que diabo de pergunta era aquela?

- Acho que nunca confiaria nele, nem se tivesse prestes a morrer e ele fosse o único a me salvar.

Bella balançou a cabeça em confirmação ainda me alisando.

- Certo Lia, acho que você fez seu ponto de vista.

- Por que você parece nervosa comigo, te fiz algo?

Bella se aproximou ainda mais, encostando as mãos no meu rosto.

- Desculpa L, é difícil não tocar você ou dizer o que realmente quero dizer,- ela pausou e suspirou, jogando um hálito quente no meu rosto com gosto de café e menta que me inebriou automaticamente. - é que odeio te ver nessa situação.

Eu senti um aperto no peito e meus pulmões pareciam pesados, sentia uma pressão externa agindo sobre minhas costelas dificultando minha respiração que agora saia entrecortada.

- Pronto Lia, aqui estão às roupas que a Luana trouxe da sua casa, vamos te dar uns minutos. – Lia estava na porta descongelando toda cena desconcertante que rolava no quarto.

Bella retirou as mãos do meu rosto com pesar, e todo o lado que ela havia tocado parecia pinicar.

- Bom, te esperamos no carro tudo bem? – disse Júlia com muita delicadeza.

- Eu te espero na sala. – Bella disse, saindo do quarto e fechando a porta decidida.

Eu precisava me concentrar bolar um plano para tirá-las da jogada, nem em mil anos eu ferraria a vida das pessoas que me protegem e que eu me importo, Eu não sou o meu pai. Precisava sair dali, mas como?

Olhei em volta do quarto fechado e resolvi me trocar antes de qualquer coisa. Abri a mochila familiar e encontrei todo tipo de roupa amassada das quais fazia tempos que eu não usava e fiquei imaginando se a Luana escolheu aquelas peças só para me irritar ou se era a pressa que não lhe deixara muitas escolhas.

Troquei-me, depois de desistir de encontrar peças combinando acabei com uma calça jeans, uma camisa mescla com o desenho de uma rainha de tabuleiro e um all star branco velho e todo esfarrapado. Além de parecer uma adolescente aquela camisa era completamente irônica para, mas era o que tinha para o momento. Quando peguei o coldre de armas tive uma ideia que iria definir meu futuro de certa forma, corri atrás do meu celular no bolso da calça social de serviço e disquei para Júlia que depois de três toques atendeu alarmada.

- Lia?

- Júlia. Podem ir à frente de nós vou com a Bella de carro.

- Tem certeza? É que a Bella quer um tipo de escolta caso algo dê errado e precise de um carro para servir de isca, já que os federais estão na pista, você entende.

Eu precisava pensar agilmente antes que ela percebesse.

- Na verdade, a certeza não é minha é da Bella, ela pediu para eu avisar vocês. – eu esperei ela responder, mas tinha uma óbvia dúvida no silêncio de Júlia, tentei continuar com mais firmeza. – Ela quer que vocês confirmem que a estrada está sem risco, por que podemos pegar outro caminho caso algo esteja errado.

Ouvi um suspiro do outro lado da linha, que pareceu ter sido de confirmação.

- Estamos de saída então, cuidem-se! – respondeu finalmente Júlia.

Eu desliguei o telefone agradecendo minha ideia de ligar para Júlia e não para Luana que obviamente só fincaria o pé de lá depois de ouvir a Bella confirmando minhas alegações e me preparei para algo que eu pensei que nunca faria na vida.

Coloquei a jaqueta de couro marrom que escondia o coldre, finalmente Luana tinha acertado em algo naquela mochila. Então abri a porta sem fazer barulho, pisando com a ponta do tênis para não alarmar Bella.

Olhei para o sofá e não a vi, então peguei a arma do coldre e fui pelo canto da parede em direção à cozinha, Bella estava com a geladeira aberta mexendo em alguma coisa que fazia barulho como mexericos de ratos e me aliviei, porque Bella não veria o que eu estava prestes a fazer.

Como um flash de um sonho, toda cena se transformou, como que por milagre. Bella fechou a geladeira antes que eu conseguisse dar um passo à frente para impedi-la, ela parou no momento em que me viu com a arma em punho em sua direção. Bella estava com uma tigela de frios em uma mão, algum pão pequeno na outra, um pote de geleia se equilibrando entre os dedos, a boca cheia de pão e os olhos arregalados para mim.

Ela derrubou tudo ao chão na esperança de me distrair com a bagunça para sacar a arma, mas eu fui mais rápida destravando a arma que fez um barulho ameaçador fazendo-a parar com a mão a centímetros da arma. Eu ameacei mais uma vez apontando a arma para ela levantar os braços em desistência e foi exatamente o que ela fez.

- Nunca pensei que você fosse o tipo de pessoa que tem um diário.

Eu a olhei, indignada, tinha certa dúvida em sua voz, mas, como ela podia desconfiar de mim? Tudo bem que a arma me deixava sem muita convicção de inocência, porém essa não era a questão agora.

- Desculpa Bella, mas você precisa me entregar sua arma.

Bella me olhou com a sobrancelha levantada.

- E se eu não entregar o que você vai fazer? – Bella deu uma risada sem muita emoção me olhando indignada. – Vai atirar em mim?

- Eu posso não querer te matar, mas sei atirar no seu músculo de sartório sem atingir a safena. Não te mataria, mas te impediria de correr. – disse apontando para sua perna exatamente no lugar que eu poderia atirar.

- As meninas vão achar que estamos demorando e vão subir.

- Elas já foram. – eu a olhei com medo e continuei- Disse a elas que você mandou seguir na frente.

Bella continuou com o olhar impassível e então vestiu uma máscara de desdém e insignificância que eu nunca tinha visto até aquele momento. Ela começou a bater palmas lentamente, que ecoou pela cozinha me arrepiando.

- Muito bem Lia, você enganou a todos, qual sua jogada de mestre agora?

Eu me irritei com aquelas palavras o que me fez querer atirar nela de verdade, lógico que nunca faria isso.

- Bella, entregue a arma. Agora.

Ela foi calmamente até a cintura e desamarrou o coldre jogando ele aos meus pés, o que fez um estrondo maior do que eu previa. Então eu peguei as algemas do meu coldre e joguei em sua direção da Bella que a pegou no ar com reflexo automático.

- Coloque-a. – apontei a arma sinalizando as algemas e ela revirou os olhos lembrando um pouco a Luana.

- Nunca pensei que fosse do tipo que gosta de algemas. – Bella terminou de se algemar, então acenei para a haste de abrir e fechar a geladeira. Ela confirmou com a cabeça e travou a outra parte da algema na geladeira. Eu peguei a chave dos bolsos e joguei no chão junto com a arma dela.

- Agora me passa o celular.

Bella não olhou em minha direção, simplesmente colocou a mão livre nos bolsos jogou o celular com força, eu quase me desequilibrei para pegar com a minha pouco usada mão esquerda, mas consegui com maestria o que fez Bella torcer de leve o nariz.

- Desculpa Bells. Disse com engasgo de um possível choro na garganta e fui em direção à porta.

Peguei as chaves do carro de Bella que estavam em cima da mesa e corri em direção ao elevador sentindo minha mão pesar com a arma ainda em punho. Eu a guardei, desconfiando que fosse talvez a ultima vez a empunhar uma arma, então a guardei com pesar.

 Quando cheguei ao carro eu senti um peso tão grande no corpo que pensei que ia me desmanchar em milhões de pedaços de papéis, mas eu entrei no carro, o liguei, e nada acontecera comigo ou meu corpo então conclui que devia estar em estado de pânico.

Eu parei em frente à delegacia e desci do carro no mesmo momento em que uma tropa de policiais virava às pressas em direção ao estacionamento.

Eu os olhei em pânico e eles pararam me rodeando sem muita organização, algo feito as pressas.

- Ora, ora. Quem resolveu aparecer!- Exclamou uma figura magra com um enorme sorriso no rosto. Lucas.

- Cala boca Lucas. Eu disse colocando minha mão no coldre, o que fez todos os soldados esticarem a arma com alarme, fazendo um barulho uníssono típico de exército.

Eu continuei mais lentamente, desamarrei o coldre e o joguei aos pés do policial mais próximo.

- Eu vim me entregar soldado, podem se acalmar.

Lucas deu um sorriso de canto e se aproximou para me algemar, o que me deixou com vontade de arrancar a órbita dos olhos de vencedor dele e amarrar junto com a sua língua de cobra. Ele colocou minhas mãos para trás, nada gentilmente e se aproximou do meu ouvido, quando começou falar um hálito ácido e metálico alcançou minhas narinas me deixando enojada.

 - Te peguei maninha.

Eu o olhei sem entender, mas também não fiz questão de querer saber, eu tinha todo o por cento de certeza de que Lucas cometera aqueles crimes e eu iria provar.

Como para me lembrar de sua presença ele me empurrava mais forte a cada passo que dava em direção a delegacia.

Nós subimos o elevador em silêncio e a música ambiente fez com que parecesse deslocada para o momento.

Quando a porta se abriu, toda a agência me encarou e minhas pernas bambearam, eu estava todo esse tempo tentando proteger meus amigos das assombrações meu passado e tinha esquecido o quanto era horrível olhar para os seus colegas de trabalho e eles te olharem com olhares de traídos.

Eu vi o delegado se aproximando e ele parecia derrotado, ele não parava de digitar no celular e logo imaginei que Júlia e Luana iam ter uma surpresa nada agradável. Tinha também outro homem do lado dele, com olhar autoritário, devia ter uns 30 anos, alto, loiro e com a barba por fazer. Federais. Imaginei cuspindo mentalmente no chão enquanto pensava em quão poderosos aqueles caras se achavam.

            - O que está acontecendo aqui? – Disse o delegado realmente curioso.

            - Me disseram que estava a minha procura chefe. – Disse com tédio disfarçado na voz.

            O delegado me olhou consternado como um pai protetor quando pega a filha tomando sorvete escondido e pensa em como amenizar as coisas para a mãe não castigá-la.

            - Por que diabos você está algemada?

            - Lucas estava louco para brincar de polícia-ladrão, chefe. - Disse ainda com a voz tediosa, eu sei que eu era inocente, mas precisaria jogar muito bem jogado se quisesse sair da cadeia ilesa, coisa que meu pai não teve sucesso em fazer.

            - Pelo amor de Deus Lucas tire essas algemas da Lia.

            - Levem-na para a sala de interrogatório, com ou sem algemas não me importo. – disse o homem alto saindo da roda e chamando um dos policiais com ele.

            Lucas me empurrou desnecessariamente em direção à sala. - Você ouviu o homem.

            Eu entrei na sala apertada toda de metal com um espelho no meu lado esquerdo. A sala era arquitetada para ser claustrofóbica e agonizantemente fria, a mesa era também de metal presa no chão com parafusos o que tirava a graça dos policiais que assistiam filme e sempre quiseram empurrar a mesa em cima do suspeito imitando o mal policial revoltado, em cima da mesa tinha uma haste que você prendia as algemas ali.

            Quando Lucas pensou em fazer isto comigo, retirando minhas algemas presas nas minhas costas prestes a coloca-las novamente só que com as minhas mãos para frente alguém entrou na sala fazendo-a parecer ainda menor e mais apertada.

            - Pode soltá-la soldado. – disse o federal alto que me recepcionou na porta do elevador, ele parecia bem mais novo, agora o olhando de perto e muito bonito.

            Lucas parou ao meu lado me encarando como uma águia olhando um pássaro.

            - Quis dizer que pode sair da minha frente. – disse o federal apontando o dedo para a saída.

            Estou começando a gostar dele.

            Lucas se atropelou em passos, o que me fez lembrar o Lucas atrapalhado que eu conhecera no começo disso tudo, ele bateu em retirada parecendo uma criança decepcionada por não poder brincar com seu brinquedo novo, o que me fez sorrir um pouco.

            - Desculpa não nos apresentamos. Meu nome é Ezequiel, sou chefe do departamento que investiga sociedades secretas que esteja relacionado, de alguma forma, a crimes ou deturpação do meio.

            Eu engasguei com a própria saliva ouvindo aquilo, mas não tive vontade de cuspir dessa vez. E que raio de nome era esse?

            - Você não está meio longe da sua alçada aqui e existe esse tipo de departamento?

            - Talvez, - ele me falou olhando fixamente nos meus olhos com a testa enrugada em sinal de dúvida.

            - Eu investigo o caso do seu pai pelo fato dos vários símbolos de cultos nas cenas de crime.

            - Quê? – eu o olhei como se ele fosse um lunático, mas não pareceu se ofender então tentei me acalmar. – Eu olhei recentemente toda a investigação do meu pai e não existia nenhum símbolo senhor. – minha voz saiu entrecortada um pouco mais alto do que eu pretendia.

            O federal me olhou com um leve sorriso na boca. Ele parecia calmo e tinha um olhar respeitador que me fez odiá-lo por gostar dele. Uau. Ele bom! Eu precisava me concentrar antes que ele jogasse melhor que eu e me fizesse acabar dentro das grades.

            - Eu sei que olhou senhorita, mas o problema é que não estão no relatório, nós abafamos a história porque de alguma forma todo relatório vindo deste distrito vazava para os jornais, não podíamos deixar esse tipo de pânico vazar também.

            Assim que ele terminou de falar uma pasta que estavam em suas mãos o tempo todo, e eu não notara, foi jogada em cima da mesa espalhando algumas fotos de dentro. Eu olhei as mesmas fotos que olhara no apartamento com Bella dias atrás, mas algo nelas estava diferente. Estava escuro e a foto foi tirada com luz negra. Eu olhei para Ezequiel pedindo permissão com os olhos para tocar nas fotos e ele automaticamente assentiu.

            Eu vi a mesma cena, a cadeira velha, uma mulher sem vida, com as pernas soltas, porém abaixo da cadeira havia um pentagrama, daqueles usados em rituais satânicos, em cada ponta da estrela tinha um símbolo que me pareciam familiar, como se eu já os tivesse visto, mas não sabia nem onde nem como.

            Um flash como um borrão chicoteou minha visão e meus ouvidos zumbiram me fazendo jogar a foto desnecessariamente forte na mesa.

            - Está tudo bem? – eu não respondi então ele se levantou da mesa inseguro. Meus olhos estavam fora de foco e meu sangue parecia ter desistido de circular em minha cabeça.

            - Vou buscar água para você. – Ezequiel saiu da sala me deixando sozinha com aqueles símbolos assustadores.

            Eu demorei um pouco para recuperar do choque inicial que aquelas palavras tinham sobre mim e ainda as ouvia como se tivessem sido ditas em uma caverna e o eco começou a projetá-las mais intensificada.

Abri a pasta com força e comecei a vasculhar as pressas todas as fotos, então peguei todas as mulheres e notei símbolos diferentes em cada uma das fotos. Joguei a pasta no chão e comecei a organizar as fotos com os símbolos em uma ordem que eu não entendi como eu sabia aquilo, mas tinha certeza que a ordem era exatamente aquela. Eu coloquei uma embaixo da outra deixando só o símbolo exposto já que a mesa era pequena para tantas fotos. Mortes, não são apenas fotos, são mortes. Eu não entendia porque eu era tão fria, eu olhava os símbolos com tanta importância, mas mulheres inocentes morreram por causa daqueles malditos desenhos. Eu me afastei da mesa indignada comigo mesmo o que fez meus olhos mudarem de ângulo.

Ezequiel entrou batendo a porta e quando me visualizou no canto da sala voltou automaticamente os olhos onde eu estivera. Seus olhos arregalaram-se e a garrafa de água caiu de suas mãos rolando até meus pés. Foquei meus olhos ao mesmo tempo em que Ezequiel olhou para mesa com os olhos que pareciam saltar de suas orbitas, eu segui seu olhar instintivamente e vi um pentagrama exato com todas as fotos e os símbolos nas pontas das estrelas em algo que parecia ser ordem.

Não conseguia acreditar que tinha feito aquilo com as próprias mãos, será que lembrava aquilo de algum lugar? Talvez um diário do meu pai que eu vi escondido e simplesmente apaguei da memória. Ou alguém entrara lá enquanto eu observava as fotos em transe e as organizou. Não. Nada daquilo fazia sentido, mas tinha sido eu quem montara o pentagrama.

- Eu passei sete anos da minha vida olhando as fotos de todos os ângulos possíveis, mas nunca consegui colocar na ordem, seu pai a mudava a cada morte.

- Eu não. - minha voz travava seca quando tentei falar, então me agachei e peguei a garrafa de água, tomei um gole generoso limpando minha mente, lembrei-me de respirar, então resolvi tentar mais uma vez. – Eu não sei como fiz isso, mas acredito que ele mudava a posição da cadeira em relação à posição que ele estava da terra. Esses símbolos parecem indicar direções, veja. – disse a ele indicando um dos símbolos.

- Esse aqui, por exemplo, parece a Ursa maior, que no caso.

- Indica o Norte. – Disse ele me interrompendo.

Eu confirmei com a cabeça antes de continuar.

- Esse aqui também Orion ou as Três Marias como quiser chamar indica direção Leste, a posição das mulheres mortas na cadeira estão sempre apontando para uma direção. – disse lembrando as horas que eu passava com meu pai olhando as estrelas, rígida porque ele estava sempre sério quando me forçava a decorar as direções através das constelações.

- Mas não sei o que os outros símbolos significam. – eu o olhei em busca de resposta e ele só levantou o ombro desanimado.

- Não existe em nenhum livro que eu conheça.

Eu o encarei, deixando a adrenalina se dissipar e me concentrando em salvar minha pele.

- Eu estou presa? – perguntei o pegando de surpresa.

Ele me encarou seriamente, como se me visse pela primeira vez e notasse que talvez não devesse confiar em mim, então respirou fundo ao se sentar na cadeira e recolocou uma máscara determinada igual a que eu tinha visto quando o vi pela primeira vez na entrada do elevador.

- Tenho umas perguntas para você, sente-se. – Ezequiel me apontou a cadeira. Eu sentei imediatamente, achando impossível discutir diante do seu olhar, mesmo se eu quisesse.

- Como sabia todos os passos nesses crimes? – ele me olhou com genuína curiosidade nos olhos.

- Eu só estava jogando xadrez, senhor. - disse me arrependendo no ato, aquela frase soou muito sem sentimento e eu precisava ao menos parecer o que eu era. Inocente.

- Você quer dizer que nem ao menos cogita a crueldade que andou presenciando essa semana? – ele me olhou indignado, franzindo a boca como se tivesse engolido algo amargo que deveria ter cuspido.

- Não foi o que eu quis dizer Senhor, mas o assassino fez passos de um jogo e eu o identifiquei achando que a melhor forma de capturá-lo seria antecipando a jogada, já que nas cenas dos crimes não havia nada que nos pudesse ajudar.

Ele acenou de leve a minha frente como se espantando um mosquito e continuou com a voz menos amarga um pouco.

- Você acha que o assassino queria chamar sua atenção?

- Acho. – eu respirei fundo como Bella me ensinara, me preparando para fazer o que eu estava prestes a fazer. – porém, acredito que ele não sabia jogar xadrez, pois as jogadas só aconteciam depois que eu falava como seriam.

Ele me olhou intrigado, como se eu tivesse feito uma burrada.

- Então o assassino é vidente ou você ligava para ele para dizer como seria a próxima morte?

Era exatamente o que eu temia, eu só estava cavando a minha própria cova ali.

- Na verdade nenhum dos dois senhor. – eu tentei diminuir o sarcasmo e ser mais humilde, mas eu estava com muita raiva no momento para me controlar lembrando tudo que aconteceu.

 – O assassino na verdade é um policial. – disse com pesar.

Ele sorriu e se inclinou curioso. – e quem seria?

- Lucas.

Ele gargalhou e apontou para a porta.

- Aquele prego? Conta outra detetive. – eu o olhei devolvendo o sorriso e ele se calou.

- Não precisa acreditar em mim. Quem descobriu um provável diário com a minha letra? – ele recostou-se na cadeira pensativo. – Quem estava na frente de todas as investigações em campo que deram em nada?

- Isso eu acredito que a culpa é sua, ele recebia ordens suas.

- Sim, eu sei. E me odeio agora por não ter percebido antes, porém toda vez que eu lançava uma jogada ele saia dando alguma desculpa, eu não notara antes, mas agora está óbvio.

- Você tem alguma prova para apoiar esses argumentos?

- Nenhuma. – eu disse atropelando as últimas palavras dele.

Ele se interrompeu sorrindo novamente e levantou os braços para cima.

- Infelizmente não posso fazer nada com essas alegações sem prova Srta. Matarazzi.

Eu me assustei ouvindo meu sobrenome, há tempos não era chamada assim, até na academia de polícia pedi para me chamarem pelo primeiro nome, ninguém quis contrariar já que o nome Yuri Matarazzi esteve escancarado nos jornais como o serial killer mais conhecido no Brasil por volta dos anos 90 e me chamar pelo sobrenome sempre fazia as pessoas me olharem torto.

- Então acredito que precisarei procurar as provas eu mesmo. – eu o olhei devolvendo o olhar duro como pedra que ele me deu assim que ouviu minhas palavras.

Seja lá o que ele tenha pensado se foi junto com uma mexida de cabeça igual a que eu fazia para desanuviar meus pensamentos.

- Não te liberei ainda para usar palavras de uma livre. – ele sorriu sarcasticamente me analisando, ele parecia um dos heróis da Marvel, falando educadamente como se fosse de outra era ou mundo, mas não sei qual exatamente se encaixaria a ele.

- E eu me pergunto por que não? – eu devolvi o sorriso, porém seco e triste, que deve ter saído assustador. Thor. Sim esse se encaixava perfeitamente.

Ele ficou sério e sereno como se até então tudo não passara de uma encenação e se aproximou de mim deixando seu rosto a centímetros do meu.

- Você não faz ideia de onde se meteu né?

Eu olhei consternada e meio tonta para meu interrogador que tinha o hálito com cheiro de tempero saindo de sua boca e senti um embrulho no estômago pelas palavras confusas que fizeram minha garganta se amargar com a bile que tentara sair por causa do enjoo.

Foi quando tudo aconteceu rápido demais para que eu entendesse de imediato, mas ao mesmo tempo consegui ver todos os detalhes da cena se desenrolando na minha frente. A porta se escancarou e eu vi o delegado falando algo que parecia desculpas, porém não dava para saber direito, pois uma voz gritava do corredor com uma indignação genuína, como a de uma mulher que acabara de descobrir que tinha sido traída e todos ali sabiam e ela foi à última a descobrir. Bella.

- Não me interessam por que a prenderam apenas me interessa saber o porquê ainda não a soltaram. - Ela pausou assim que entrou na sala aos trancos e barrancos praticamente pisoteando o delegado que ainda olhava para o Ezequiel confuso e indignado.

- Por Deus o que está acontecendo aqui? – Ezequiel tinha praticamente jogado a cadeira na parede com o impulso de suas pernas, assustando todos nós. – Esse departamento parece um circo, primeiro vocês deixam uma investigação na mão da integrante que mais tem a ganhar com esse caso, fazendo essa vergonha que vocês chamam de desenvolvimento analítico se tornar pessoal a ponto do assassino servir café da manhã na casa de um dos nossos detetives, depois acusam um dos seus de ser o assassino e ainda tratam uma sala de interrogatório como se fosse à cantina. – Ezequiel pausou deixando um clima constrangedor no ar, para todos na sala, menos Bella que o olhava com uma das sobrancelhas levantadas e com cara de quem iria cuspir a qualquer momento na cara de um de nós, provavelmente na de Ezequiel.

- Um dos seus? - sussurrou o delegado em direção a Bella.

- Lucas.

O delegado encarou Bella e depois a mim e fez uma careta indecifrável.

- Eu não sei exatamente o que quer com a nossa detetive na verdade, tudo que ela sabe está no relatório de investigação, porém eu concordo com uma coisa, ela realmente não deveria estar nos ajudando nesse caso e isso a está despedaçando aos poucos. – Bella pausou tentando aparentemente abaixar um pouco o tom. – Na verdade tudo que ela queria era se afastar disso, eu vi o quanto ela lutou internamente para visitar o pai, e sair de lá quase desmaiando visivelmente. – Ela me olhou com um afeto que eu nunca tinha sentindo antes me fazendo tremer ligeiramente. – Eu não sei exatamente o que fazer aqui, mas Liatris só está fazendo o que o departamento pediu para que fizesse.

- Ela só está ajudando. – disse o delegado, que até então estava quieto com a cabeça baixa mexendo os pés, parecido com o que crianças faziam quando estavam nervosas.

- Lia não vai sair do país, qualquer dúvida é só chamar no rádio, mas esta cena aqui está ridícula afinal ela não é nenhum Ted Bundy. – Bella estava muito controlada, parece que ela percebeu que só ganharia a luta se falasse educadamente, mas me comparar com um Serial Killer, sociopata e lunático não me parecia uma boa abordagem.

Ezequiel finalmente se mexeu e andou em direção à porta parando em frente Bella. – eu vou ver o que posso fazer afinal as ordens não são completamente minhas, desde que a Srta. Matarazzi não saia de vista, não tem porque mantê-la, vou fazer algumas ligações. – Ezequiel saiu com graciosidade pela porta e eu o achei ainda mais novo do que já parecia.

O delegado pareceu aproveitar a deixa e saiu fechando a porta.

- Srta. Matarazzi? De que revista em quadrinhos esse cara saiu? – Bella sentou-se a minha frente apontando em direção à porta.

Nós nos encaramos por segundos que pareceram horas. Eu precisava falar tanta coisa com ela, pedir desculpas, contar o que descobri através de Ezequiel, mas não conseguia falar, Bella conseguia.

- Em que mundo você vive que te faz pensar que eu conseguiria pegar a chave das algemas daquela distância? – Eu encontrei um pequeno sorriso tentando se formar no rosto de Bella, mas ela ainda mantinha a expressão séria de antes.

- Pensei em você pegando o coldre com os pés depois o empurrando na direção da chave e a trazendo para si. – devolvi o mesmo sorriso dela, ou pelo menos tentei.

- Desculpa. – eu disse assim que paramos de sorrir, e ela balançou a cabeça afirmativamente com olhos brilhando para mim querendo dizer algo que eu não conseguia decifrar, mas era tranquilizador e me fez relaxar pela primeira vez depois de tudo que desenrolara.

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