Defesa Russa
Nós nos encarávamos através do vidro à prova de balas, até que ele pegou o interfone sorrindo largamente.
- Duas vezes na mesma semana? Estou começando a gostar do meu plagiador. – Ele puxou o rosto para o lado em sinal de leve adoração.
- Ele jogou os peões no pequeno centro e então o cavalo, mas algo está errado. Ele deu uma dica de truque de mágica, acho que ele quer me enganar, particularmente eu.
Meu pai me olhou orgulhosamente. Eu não entendia porque com ele minhas palavras saiam livremente, nossos pensamentos tinham uma conexão inexplicável, diferente do que eu tinha com Bella. Eu odiava admitir, mas me sentia bem desabafando com aquele assassino.
- Lia não se culpe demais. Você precisa parar de pensar que você é o centro das atenções, olhe de uma perspectiva externa. Que jogada você faria?
- Eu não sei, eu jogaria o cavalo preto em defesa, mas estaria jogando a defesa Petrov, é obvio demais. Estou com medo de que a intenção dele seja o obvio, ou seja, você pensa que ele está fazendo uma jogada, enquanto ele começa outra, sem tempo de fazer você rebobinar a sintonia de pensamentos. Mas isso seria errado, seria jogo sujo.
- Talvez o xadrez não seja o objetivo principal para ele querer complicar, talvez ele queira provocar você? Você pode saber como ele vai fazer a jogada final, mas quem são as peças? Você está vendo tudo de uma perspectiva amadora.
Ele adivinhava perfeitamente bem. Por que eu aceitaria conselhos de um lunático? Até que provem o contrário ele estava no jogo também, mas não sei, algo tirava a arte que ele imprimia nas vitimas. As vitimas que eu estava presenciando estavam superficiais, não existia nenhum tipo de adoração, não tanto quanto tinha nas vitimas de meu pai, a atenção parecia mais voltada ao jogo, mas não o xadrez e sim o psicológico que ele fazia comigo.
Aquele pensamento me alertou, o cara na minha frente era um lunático, eu não tinha que escutá-lo. Eu odiava sentir afeição por aquele monstro, isso me embrulhava o estômago todo momento.
Eu estava prestes a colocar o interfone no gancho, quando eu ouvi a voz embargada dele de um sentimento que eu não consegui decifrar.
- Eu não matei sua mãe.
O que? Isso era impossível. Por quanto tempo ele iria tentar me manipular? Aquilo já tinha passado dos limites, mas não conseguia me desgrudar da cadeira depois daquela alegação.
- Se não foi você, quem foi? – Disse com amargura na voz.
- Só quero que me perdoe um dia, por não ter conseguido proteger vocês, eu paguei pelos meus pecados.
Ele colocou o interfone no gancho e eu pulei da cadeira, fazendo um estrondo quando ela caiu. O policial na porta me olhou com suspeita apoiando imediatamente a mão na arma em sua cintura, então sai em um ritmo acelerado da sala.
Bella estava parada na porta como eu imaginava, mas eu passei reto por ela.
Como meu pai podia ser tão egoísta? Com tanta coisa em minha mente, não podia aguentar mais essa.
Bella correu para me acompanhar e ficou em silêncio ao meu lado.
Quando chegamos ao lado de fora, Bella fez menção de abrir a porta do carro para me acomodar e eu a interrompi, então ela parou e esperou eu entrar. Em seguida ela calmamente entrou e deitou a cabeça no encosto enquanto respirava fundo.
- Você vai acabar me matando desse jeito Lia. Tem noção da força que eu fiz para não correr atrás daquele canalha e acabar com o que ele chama de rosto? – Bella, respirou fundo, carregando sua voz com mais calma, ela estava com uma aparência de obvio sofrimento, então segurou minha cabeça com ambas às mãos e sussurrou em minha direção, o que me eletrizou novamente e isso já estava me irritando.
Seu hálito era como um tranquilizante, a mistura de menta, mel e café sempre me trazia paz, mas hoje me trouxe um mal estar parecido com tontura.
- Lia, para de me impedir de te ajudar assim. Olha para você, odeio te ver assim. Isso me assusta e não existe sentimento que eu odeie mais.
Eu a olhei afastando meu rosto de suas mãos e me concentrei em não encará-la novamente. O que estava acontecendo comigo?
A soma de sentimentos que espalhavam pelo meu corpo me irritava ao ponto de virar ódio, acho que eu estava odiando Bella neste exato momento.
- Bella, para de ser exagerada, não estou no momento para novela mexicana barata, você sempre deixa as pessoas desconfortáveis assim?
Bella se assustou com as minhas palavras, no inicio ela travou, mas se recuperou logo em seguida, pigarreou ligando o carro ao mesmo tempo e seguiu em frente.
O que tinha de errado comigo? Droga. Eu não quis em momento algum chateá-la, mas eu estava estranha, com o coração batendo forte demais, como se fosse explodir. Eu não queria que ela notasse o tremor no canto da minha boca, ou minhas mãos suando. Eu devia estar com muita raiva para ter todos esses sentimentos juntos, mas eu não queria magoá-la. De repente me deu um desespero, como se abrir a porta e pular do carro em movimento fossem coisas melhores do que ficar ali. Eu estava irritada, meu peito doía e eu queria chorar, gritar ou bater, eu não saberia dizer qual dos três.
Nós entramos no estacionamento da delegacia e ela soltou meu sinto quando notou quão distraída eu estava para fazê-lo, mas segurou a porta quando tentei abrir, o que fez um barulho que me fez pular. Eu era tão indefesa ao lado de Bella, o que era estranho, porque eu não era sim. Era como se eu fosse o que eu quisesse ser nos meus sentimentos mais obscuros. Ela inconscientemente notara o que eu jamais imaginara sentir.
Seu corpo estava deitado em minha direção e sua mão estava grudada na porta, como se aquele simples ato me impedisse de pular para fora. Funcionou. Eu não pulei. Ela estava com a cabeça abaixada como se não quisesse me olhar, então começou a mexer impacientemente os dedos encostados na porta do carro.
- Lia. minhas sinceras desculpas. Nunca foi minha intenção te deixar... - ela inspirou todo ar do ambiente e colocou a mão livre na boca pigarreando. -... de certa forma, desconfortável.
Ela ficou em uma aparente briga interna e então levantou os olhos que ficaram parcialmente escondidos por uma mecha repicada de seu cabelo bagunçando, mesmo dessa forma dava para notar como eles brilhavam. A onda de ódio me consumiu novamente e eu queria gritar, bater, mas principalmente chorar, era um sentimento estranho, quase como dor.
- Eu só quero te ajudar, minha vontade era de te aninhar nos meus braços e te manter segura. Você entende o quanto me preocupo com você? – Bella estava me olhando confusa, eu não conseguia decifrar. Eu sempre conseguia decifrar, era frustrante não conseguir desta vez.
Eu tirei o ar dos meus pulmões e então liberei a entrada de ar com força demais, o que fez a franja da Bella voar, e seus olhos mudaram a intensidade para algo novamente indecifrável. E esse olhar me deixou desnorteada, como se estivessem jogando fagulhas quentes de alguma droga. Eu fiquei tonta com uma tensa preguiça, como se estivesse prestes a cair em um sono profundo. Seus olhos se assustaram com a minha visível fraqueza e me sustentaram com os braços que antes estavam aparados na porta. Nós ficamos por um tempo, naquele desconcertante meio abraço. Então alguma energia inexplicável correu pelas minhas veias, como se eu tivesse tomado uma injeção de adrenalina.
- Lia, espera. – Bella disse
Eu tinha aproveitado sua desistência com a porta e a abri me jogando para fora como se fosse correr.
Ela saiu mais rápido que eu pela outra porta e falou apontando em minha direção com o indicador da mão que segurava a chave do carro.
- Entra no carro, vou buscar suas coisas. Você vai para casa. - Bella não esperou minha resposta, ela saiu em passos longos em direção ao prédio.
Eu fiquei tentando assimilar a mudança de temperamento repentino da Bella, ela estava diferente um segundo atrás, quase doce, eu diria. Eu não conseguia me mexer, eu não queria entrar na delegacia, só sai do carro porque estava com vontade de chorar. É como se de novo ela adivinhasse o que eu queria.
Bella sumiu de vista e eu finalmente consegui me mover, mas não entrei no carro, eu girei 180 graus e comecei a caminhar pela rua, já escura.
Meus sentimentos estavam estranhamente intensificados, eu sentia as folhas das árvores roçarem meus pés vez ou outra, sentia um arrepio pelo vento quente daquela noite, as sombras que as luzes dos postes faziam em comunhão com os galhos das árvores. Eu nunca chegaria a minha casa naquela velocidade, não sei nem se eu gostaria. Eu estava mentalmente cansada e meu corpo seguia com uma replica de cansaço em conjunto com minha mente. Era como seu eu tivesse descarregado ondas de sentimentos em doses largamente grandes e meu corpo e mente, estivessem derrotados por isso.
Eu senti algumas pessoas passarem por mim, mas meus olhos não focavam, eu andava rumo a lugar nenhum, como se minha mente dependesse disso. Eu andava, mas parecia que minha mente estava visualizando tudo em câmera lenta, era como se eu tivesse correndo, mas parecia andar, talvez fosse porque eu estava com a mente em milhões de pensamentos e meu corpo fosse fraco demais para acompanhar.
Eu ouvi um carro freando atrás de mim até alcançar o meu lado esquerdo e parou torto quase subindo na calçada, era ao carro de Bella, tudo que eu não queria no momento. Ela abriu a porta e colocou um dos pés para fora olhando em minha direção por cima do carro.
- Entra na porra do carro, agora!
Algumas pessoas perto olharam para mim, como se tivessem pena, sim era pena o sentimento que transbordavam dos olhos delas. Eu travei novamente, mas resolvi alertar meu cerebelo para que voltasse a funcionar antes que Bella surtasse. Mais.
Eu entrei no carro e virei o rosto em direção a janela, para futuramente não encará-la, quando ela entrasse também e então, ela entrou no carro, virou em minha direção em silêncio, ignorando algumas vagas buzinadas no trânsito e começou a falar com sua voz rouca, havia ira em seus olhos.
- Você quer morrer? – ela esperou em vão alguma resposta da minha parte. – Tem um assassino a solta matando pessoas com a sua aparência e deixando perguntas para você na cena do crime, quem você acha que é sua musa inspiradora? O seu xeque-mate?
Eu sabia de tudo aquilo, mas ouvir em voz alta me apavorava, era desesperador realmente ouvir isto, foi quando senti meus olhos perderem o foco, eu não podia chorar, simplesmente não podia. Como eu pude ser tão burra em sair vagando pela cidade assim, ele poderia estar à espreita. Talvez fosse melhor acabar logo com esse jogo, assim pessoas estariam vivas e eu teria pagado o pecado por ter nascido daquele sádico.
Bella notou meu desequilíbrio e fez um gesto para se aproximar e eu pulei em direção a porta como se tivesse me preparando para pular novamente. Ela levantou as mãos como se declarasse desistência, ligou o carro e seguimos em direção a minha casa.
Quando Bella estava estacionando eu desci do carro, desconfiei que o carro estivesse em movimento no momento em que coloquei os pés no chão, porque senti um pequeno desequilíbrio, mas já tínhamos parado, então ficou difícil ter certeza.
Eu chamei o elevador enquanto Bella me encarava encostada de lado na parede com as mãos no bolso.
- Você está com medo de mim? – ela deu um passo para frente e eu automaticamente dei um para trás.
Ela soltou uma gargalhada que fez meu corpo debilitado do cansaço estremecer.
- Jura? Eu bati em você por acaso? – ela levantou uma sobrancelha, mas logo em seguida trocou seu deboche por indignação. – Sério Lia. Você prefere se arriscar na rua com o Hannibal à solta do que entrar em um carro comigo?
Eu relaxei os ombros que estavam tensionados, e respirei mais calmamente. Realmente eu estava agindo ridiculamente.
- Só estou cansada Bella.
- Você quer que eu peça para outra pessoa te fazer companhia?
Eu pensei por um momento, não havia ninguém. Pelo menos ninguém que eu estivesse a fim de suportar. E ficar sozinha estava provavelmente fora de cogitação.
- Não, tudo bem. - Eu entrei no elevador que tinha aberto enquanto eu falava, ela entrou logo atrás e se encostou à parede novamente, com uma perna apoiada na parede do elevador e a cabeça abaixada tentando se manter o mais longe possível de mim.
Estava prestes a entrar em meu apartamento, quando ela me impediu com os braços e fez sinal de silêncio com um dedo na boca. Ela entrou e revistou todos os cômodos, enquanto eu me apoiava no batente da porta com indignação.
- Eu sou uma policial também sabia? – Ela não respondeu me preocupando. - Eu tenho até uma arma. – continuei me desencostando da porta e tentando ouvir algum som vindo do lado de dentro.
- Cala a boca e entra Lia. – disse Bella saindo do meu quarto e encostando-se à parede que dava para entrada da sala.
Eu entrei aliviada, trancando a porta e meu desespero voltou quando lembrei que Bella não iria embora.
Eu entrei em direção ao quarto passando por ela como se ela não estivesse ali.
Parecia uma eternidade desde a última vez que estive ali. Eu tinha tomado banho algumas vezes, mas fazia três dias que não chegava perto da minha cama. Seria desesperador pensar em dormir, se não fosse pelo cansaço.
Até que uma idéia me ocorreu. Eu desliguei o chuveiro, me enrolei no roupão que estava pendurado na porta do banheiro e fui até Bella.
Bella estava sentada confortavelmente com uma taça de vinho em uma das mãos, distraída, quase como imune a tudo que acontecera.
- Eu não tenho certeza, mas não custa nada verificar. Acredito que o assassino esteja jogando um truque russo no xadrez, temos mais três dias.
Bella suspirou e sorveu um gole de vinho com os olhos focados em lugar nenhum.
- Onde ele vai atacar?
- F6, Cavalo preto.
Eu estremeci ao som da minha voz e Bella pegou o celular para ligar para o restante do grupo, que deveriam estar quebrando a cabeça neste momento.
Eu coloquei uma camiseta velha e enorme que eu geralmente usava para as faxinas de domingo e uma calça de moletom esgarçada também. Estava distraída quando terminei de me trocar, então fiquei sentada na cama criando coragem para levantar, eu precisava dar Boa noite para Bella.
Como se ouvisse meus pensamentos ela limpou a garganta atrás de mim.
Bella estava encostada no batente da porta com a taça de vinho pendida ao lado do corpo, ela parecia estar o tempo todo posando para uma revista.
- Tem alguma coisa vinda da guerra assim para mim também? – ela disse apontando para o que eu deduzi ser minha roupa.
Eu era mais baixa que Bella, qualquer roupa minha ficaria cômico nela, não que me importasse.
- Segunda gaveta da cômoda. – disse me jogando na cama com os pés ainda em direção ao chão.
Eu acho que cochilei, porque uma hora eu estava ouvindo o som do chuveiro que logo imaginei ser Bella no banho e então não ouvi mais nenhum tipo de movimento. Eu acordei quando senti Bella me ajeitando na cama, mas fingi que estava dormindo porque não queria correr dela agora, estava muito cansada para isso.
Eu senti o sol no meu rosto, acordei com um cheiro de café, pão saído recentemente do forno e uma música baixa, eu acho que era Batille – Pompei. Bella tinha me dado esse Cd de aniversário. Eu gostava do som, mas fazia muito tempo que não colocava música naquele aparelho, parecia que nunca havia tempo para isso.
Eu levantei preguiçosamente, fui ao banheiro escovar os dentes, ainda lenta e então me olhei no espelho. Eu estava péssima com olheiras profundas, o cabelo com cachos emparelhados, o nariz vermelho o rosto grudando, provavelmente tinha chorado dormindo. Desde a morte da minha mãe, eu nunca chorei, pelo menos não acordada.
Eu fui em direção ao cheiro de café e vi uma mesa montada com todo tipo de comida que eu poderia imaginar. Bella nunca faria isso, não a Bella que eu conhecia. Talvez ela estivesse tentando me pedir perdão pelo comportamento da noite anterior.
Eu ouvi o barulho de chave na porta e me desesperei. Minha arma estava no quarto e não daria tempo de buscar. Por que Bella não tinha ouvido? Ela estava na cozinha, não estava?
Bella entrou com a sua cara de poucos amigos que fazia pela manhã.
- Uau. Perfeito. Que horas você acordou para me preparar tudo isso? Não precisava. Se bem que eu meio que mereço, seu sofá é um assassino. – ela olhou para mim me culpando e sentando ao mesmo tempo.
Eu abri os olhos e a boca e corri para o quarto buscar a arma como um ato automático.
Quando voltei do quarto com a arma na mão, Bella travou com um pedaço enorme de pão na boca e a sobrancelha levantada. Ela cuspiu o pão da boca e começou a levantar levemente as mãos como sinal de rendimento, levantando seu corpo bem devagar.
- Lia. Calma, eu não devia ter sentado à mesa antes de você, mas vamos combinar que apontar a arma para mim é demais. – Ela achou melhor parar com o deboche e imprimiu uma cara séria quando viu que minha arma ainda estava apontada. - E se for sobre ontem eu quero dizer... – ela estava fazendo todo procedimento para abordagem de sequestro com reféns e aquilo estava me matando de ódio.
- Cale a boca Bella, - interrompi. - Eu não preparei o café e pelo visto também não foi você.
Bella se afastou da mesa como se eu tivesse avisado de uma barata em seu pão e sacou a arma correndo por todos os cômodos.
Eu abaixei a arma e fui em direção a mesa como se tivesse algum monstro em um dos pães na cesta, foi quando avistei um papel com aquela letra familiar e assustadora.
“Amor é uma fumaça que se eleva com o vapor dos suspiros; purgado, é o fogo que cintila nos olhos dos amantes; frustrado é o oceano nutrido das lágrimas desses amantes. O que é o amor? A mais discreta das loucuras, fel que sufoca doçura que preserva.”
E embaixo, com uma letra menor estava: “Eu senti seu desespero e livrarei o peso da sua dor. Não chore mais minha Liatris.”
Eu sinceramente não sei se existe algo mais assustador do que um assassino preparando seu café da manhã.
Ele disse para eu não chorar o que significava que ele talvez estivesse me espionando enquanto dormia.
Um arrepio desceu vagarosamente dos fios dos meus cabelos às pontas dos meus pés. Eu sentei em uma das cadeiras da mesa de jantar e deixei a arma pender sob minha mão.
Bella voltou do quarto me olhando cautelosa, como se eu fosse um animal selvagem. Ela inclinou sua cabeça, como faz um cachorro curioso, e guardou sua arma me olhando cautelosa. Ela se aproximou ajoelhando a minha frente e afastou meus dedos travados calmamente da arma colocando-a em cima da mesa, então pegou minha outra mão e as juntou com as suas.
- Você está bem?
Eu balancei negativamente em resposta e continuei sem conseguir me mexer na cadeira.
Bella levantou e ligou para o restante do grupo dando um endereço para um encontro.
- Não vamos para a delegacia? – perguntei.
- Não. Vamos para a padaria, pessoa morta de fome aqui. – disse Bella, apontando com as duas mãos para si.
Os eventos seguintes ocorreram em absoluto silêncio, eu me troquei automaticamente lacrei todas as evidências depois das fotos e fomos rumo a padaria.
A padaria estava apinhada e barulhenta como sempre, mas dessa vez ao invés de procurar por Bella, estávamos atrás de três pessoas.
Lucas, Julia e Luana estavam com rostos perturbados, olheiras profundas e era palpável o cansaço dos três, logo que tornamos visíveis, seus olhares transmitiam interrogação.
Aproximamos da mesa e Bella jogou um molho de chaves no ar, que Lucas agarrou, levantando-se da mesa.
- Bom dia Lia. Bella.- Ele disse batendo em retirada.
- Aonde ele vai? – Perguntei para Bella.
- Sua casa, – Bella puxou a cadeira para que eu sentasse.
- Você deu a minha chave para o Lucas?
- Lá é um local de crime, em breve terá mais policias que velhinhas em brechó. Você vai dormir em minha casa hoje. – Bella disse
Luana fez um som que imitava uma bateria quando finaliza uma música, mas parou com as mãos no ar quando percebeu o olhar de Bella.
- O que vocês sabem sobre o bairro da próxima jogada. – Bella disse mordendo um pão que pegou do prato da Luana que automaticamente a fuzilou.
Júlia se arrumou na cadeira como se fosse dar uma entrevista.
- Se ele estiver jogando a defesa russa nós estaremos prontos, as duas próximas jogadas estão sofrendo o mais minucioso monitoramento tanto o cavalo preto F6 quanto o cavalo de F3 que captura o peão E5. Estou correta? – Júlia perguntou olhando em minha direção.
- Sim está. – Respondi sem prestar muita atenção.
O problema estava aí, as jogadas estavam muito óbvias, ou ele era mais lunático que o provável, ou gostava do risco, ou o que mais me incomodava, estava nos enganando.
Bella notou minha preocupação e encostou-se em meu ombro tentando me confortar.
- Nós não erramos até agora, provavelmente estamos certos.
Eu balancei a cabeça afirmativamente para Bella, dando um sorriso sem graça para agradecer sua tentativa de me acalmar.
- Eu acho que ele está tentando chamar a atenção da Lia. Pode ser algum admirador secreto. - Tagarelou Luana.
Todos os olhos se voltaram para ela indignados, o meu não durou muito. Eu estava focando a janela à minha direita, sem finalidade alguma.
Bella colocou suas mãos em meus ombros de novo.
- Quer comer alguma coisa? – Ela disse chamando a garçonete antes que eu pudesse responder, fazendo um pedido enorme de pães, suco e algum tipo de doce.
Júlia atendeu ao telefone e abriu um sorriso largo enquanto anotava algo em um guardanapo.
- Ótimas notícias. – Começou ela assim que desligou o celular. – Eu pedi para um amigo do monitoramento do trânsito avaliar algum padrão no trânsito dos bairros das vítimas. Acontece que um Chevrolet Truck C-10 foi visto indo para as direções dos bairros. – Ela pausou esperando algum tipo de elogio, e continuou na investida. – Enfim, temos um endereço.
- Quem quer dar uma volta? – Disse Luana, levantando.
- Me manda o endereço pelo celular, Lia ainda vai comer e vai atrás do Lucas, pede para ele trazer meu carro e vem seguindo ele para ele ter como voltar. – Bella disse olhando para Júlia, que se levantou imediatamente.
Eu a olhei com indignação, mas estava com preguiça para começar uma briga.
- Por que o Lucas não pode ir com a gente? – Perguntei confusa.
Bella me ignorou completamente.
Quando ficamos sozinhas, Bella aproximou sua cadeira mais para perto, e eu senti uma enorme vontade de sair correndo, mas isso estava ficando ridículo.
Meu pedido chegou e eu comecei a mastigar um pedaço do pão fresco e sorver um enorme gole do suco de laranja.
Bella colocou um cacho atrás da minha orelha e desceu as costas de sua mão da orelha até meu queixo.
Eu a olhei, confusa e ela me respondeu com um sorriso no canto da boca.
- Você está bem? – Bella perguntou
- Cansei de ouvir essa pergunta. – eu disse com rispidez.
Droga. Por que eu a estava tratando tão mal? O que havia de errado comigo?
Bella imediatamente afastou sua mão do meu rosto e pigarreou.
- Desculpa, Lia. Estou preocupada só, não fique brava. - Ela olhava fixamente para a mesa.
Eu perdi todo o apetite, jogando um pedaço de pão que estava em minha mão.
Apareceu uma garçonete que entregou uma chave nas mãos da Bella.
- Um jovem chamado Lucas, pediu para te entregar. Ele disse que espera vocês na casa. – explicou a moça loira, pequena e com traços delicados à minha frente.
Eu estava perdida em sentimentos confusos, mas entendi muito bem a parte de que já podíamos sair daquele lugar.
- Está tudo bem Bella. Vamos? – respondendo as desculpas dela ao mesmo tempo em que levantei da cadeira.
Ela estava com uma mão em seu queixo pensativa, quando olhou em minha direção perdida, rodando as chaves em sua outra mão, que estava livre. – Que? – ela perguntou levantando em um pulo. – Sim. Vamos. – continuou ela, enquanto colocava delicadamente sua mão em minhas costas me direcionando para a saída.
Bella se virou lembrando de repente da menina loira em pé ao lado da nossa mesa e colocou um dinheiro nas mãos dela, que pegou segurando mais tempo que o necessário a mão da Bella, e quando a garçonete finalmente soltou sua mão ela piscou e sorriu, fazendo Bella sorrir de volta.
Antes de sairmos Bella olhou em minha direção como se fosse falar algo, mas desistiu.
- A garçonete deu em cima de você? – Eu perguntei confusa com a situação que tinha desenrolado a minha frente poucos minutos antes.
- Que? Ah. Não. Ela só estava sendo simpática. – Disse Bella com os olhos vagos e um pequeno sorriso.
- Claro. – Respondi enquanto Bella abria a porta do carro para mim.
Eu não fazia ideia do por que eu queria saber isso, e se a garçonete tivesse dado em cima da Bella? E se ela gostasse de meninas? Eu não tinha nada que me meter. Precisava pedir desculpa pela minha intromissão.
Bella deu a volta no carro em passos largos e logo chegou a sua porta. Ela fez uma cena exagerada para sentar ao banco, puxou uma enorme quantidade de ar e colocou as chaves na ignição.
- Bella. Eu queria pedir descul... – Eu me interrompi assustada com os movimentos bruscos que ela fez em minha direção.
Bella estava há dois dedos de distância do meu rosto, o hálito em sua respiração exalava café e isso me inebriava, dava para sentir as fagulhas que elas causavam em contato com meu rosto. Meus olhos embaçaram e eu gaguejei palavras sem sentidos. Quando notei que palavras não seriam efetivas naquele momento, eu a empurrei com uma das mãos, porém não tinha forças para afastá-la, então ela colocou sua mão em cima da minha que estava nela e apertou afagando ao mesmo tempo.
- O que você está fazendo? – Eu sussurrei tentando encará-la sem sucesso. Seu rosto estava muito próximo.
- Você é tão idiota às vezes. – Bella disse sorrindo com o canto da boca.
Eu deitei minha cabeça no encosto do banco para afastar um pouco o rosto na tentativa de encará-la.
Bella se aproximou ainda mais, até sua boca encontrar meus lábios. Eu congelei ao toque. Minha mente desligou e onde sua boca encostou provocou uma espécie de dormência. Ela empurrou mais forte seus lábios nos meus e eles grudaram firmemente um ao outro, então ela começou abri-los fazendo a minha boca repetir o gesto com uma incrível simbiose. Quando minha boca se entreabriu Bella colocou sua língua para dentro e meu corpo tremeu por inteiro quando assimilou seu gosto, a textura quase áspera, molhada e extremamente quente. Sua língua fez um movimento, e como se minha boca não respondesse mais meus comandos, movi a língua acompanhando-a. Fazendo com que outro arrepio invadisse meu corpo.
Bella se afastou o que fez com que eu abrisse meus olhos, e quando o fiz não enxerguei de imediato, primeiro ficou escuro por uns segundos, então vi cores embaçadas que logo se focaram devolvendo-me a visão, seus olhos cintilavam.
Três batidas na janela do lado do motorista me fizeram pular, e Bella também se assustou olhando na direção das batidas.
Era a garçonete com meu casaco em suas mãos, eu nem lembrava que estava com ele, muito menos que tinha tirado ele lá dentro, provavelmente Bella deve tê-lo feito.
Bella abriu os vidros do carro fazendo com que uma brisa fria e relaxante entrasse em minha direção aliviando um pouco a tensão em meu corpo. Bella retirou o casaco das mãos da garçonete que estava congelada demais para entregá-los e então eu lembrei o porquê ela estava assim, eu senti meu rosto quente, provavelmente estava vermelha de vergonha.
- Obrigada. Não tenho como lhe agradecer o suficiente. – Disse Bella com uma voz baixa, profunda e provavelmente deu seu sorriso torto, porque algo deixou a garçonete perdida em seus pensamentos.
Bella estava obviamente debochando de toda a situação. Ela ligou o carro com um sorriso ainda grudado no rosto e manobrou para fora do estacioname
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