A charada
À primeira vista a casa do nosso provável suspeito era comum, era uma branca de alvenaria, com um jardim mal cuidado e lamacento.
- Uma casa por aqui? Eis ai uma coisa rara. – disse Bella olhando para o lamaçal que um dia fora um quintal grande. - E tem até uma área recreativa. - continuou ela olhando com uma sobrancelha levantada para o lugar destruído.
Bella tinha razão, a cidade era feita de prédios, uma casa era coisa rara.
Nós saímos do carro e eu senti minhas pernas querendo falhar, ainda estava balançada com a coisa de outro mundo que acontecera no estacionamento da padaria. Pergunto-me se essas já eram as intenções de Bella, por isso não queria que o Lucas fosse conosco.
Uma onda de ódio preencheu todo meu corpo, e eu senti vontade de chorar, eu nunca tinha vontade de chorar, esse caso estava acabando comigo, Bella estava acabando com todo meu autocontrole e iria me pagar por me causar tantos sentimentos estranhos e horríveis. Assim que acabasse o caso eu me transferiria. Não tinha mais condições de trabalhar com Bella, não dessa forma pelo menos.
Eu ainda estava parada ao lado da porta do carro quando a encarei e vi Bella dando risada do meu recém-congelamento, completamente descontraída. Ela revirou os olhos ao andar em minha direção e eu a ignorei, andando quase correndo em direção a casa.
Deixei Bella para trás com as mãos no ar como se estivesse prestes a agarrar algo, então entrei na casa, apinhada de policiais em uma pequena sala mais abafada que o normal.
- Aí está você, precisamos te mostrar algo inédito. – Disse Luana se aproximando de mim.
Eu estava ainda confusa e perdida em pensamentos, mas notei que era comigo que Luana estava falando.
- Você não faz ideia do que tem no porão. – Continuou Júlia, comandando a situação.
Luana a olhou como se tivessem roubado seu ursinho de pelúcia e desconfiava que fosse Júlia
- O que acontece aqui crianças. – Disse Bella entrando dramaticamente na sala. Às vezes Bella deixava a situação tão premeditada, calculando todos os passos, como se a vida fosse um palco de teatro. Tenho que admitir era sempre impactante olhar para ela.
- Nada demais, só Lia, estrelando como atração principal do nosso tabuleiro humano. - disse Luana com a cabeça inclinada em direção a uma porta logo em frente, como se algo lá dentro explicasse sua frase.
Eu imediatamente me arrepiei dos pés a cabeça, e puxei o ar para tentar aliviar a dor, o que me fez sentir uma latejante pancada no peito.
- Ok. Coelho Branco mostre-nos o que tem atrás da porta? - Disse Bella com um gesto teatral, fazendo analogia com um dos personagens de Alice no país das maravilhas que transportava pessoas de um mundo para o outro.
Luana revirou os olhos ao comentário, e fez menção de responder, mas parou assim que seus olhos cruzaram com uma provável sobrancelha levantada inquisidoramente logo atrás de mim.
- Por aqui. - Disse ela balançando rapidamente a cabeça de um lado para o outro, como se estivesse apagando uma imagem colada à sua mente.
Quando atravessamos a porta, um cheiro forte de mofo e umidade impregnaram minha mente e tudo se anuviou no instante que a escuridão bloqueou minha visão.
-Existe um lance de degraus logo
à frente, cuidado, - Disse Júlia do mesmo jeito que um guia de museu faz ao direcionar crianças a uma incursão pelo local.
Os olhos demoraram alguns segundos para se acostumar à penumbra, e assim que eles entraram em foco suas primeiras imagens capturadas foram um choque. Ondas vibraram pelo meu corpo e se instalaram em minha cabeça que agora estavam vibrando com pontadas latentes.
Um barulho fez com que meus olhos cegassem novamente, então olhei para a origem do barulho às minhas costas e assim que meus olhos se ajustaram se fixaram na direção de Bella que estava olhando para todos com cara de interrogação.
Que? - disse ela, tirando a mão da tomada.
A luz piscou algumas vezes antes de se estabilizar e nos jogar as imagens mais claramente à frente, como se eu tivesse acabado de relevar uma foto e o que antes não passava de umas sombras anuviadas se transformou em imagens nítidas e ainda mais assustadoras. Aquilo à minha frente era definitivamente um porão, porém, fora reformado de um jeito doentio para parecer uma espécie de lugar de trabalho ou coisa assim, logo à minha frente tinha um balcão com várias ferramentas enferrujadas, que me lembrava a ferramentas de tortura, ao lado do balcão tinha uma cadeira velha de madeira e cordas em cima do acento, a cadeira estava posicionada exatamente abaixo da luz, que por sua vez era de alta luminescência e deixava a cadeira uma sensação de iluminada, não conseguia achar outra palavra para descrever aquela cena, mas ela parecia organizada demais, quase obviamente calculista.
- Então é aqui que ele trabalha nas vítimas. - Disse Lucas aparecendo do nada pelo lance de escadas.
- Ora, ora, quem resolveu dar o ar de sua graça. - resmungou Luana mais para si mesma do que para nós.
- Desculpem-me, estava resolvendo algumas questões. - disse ele diminuindo sua voz até quase um sussurro.
- O que podemos dizer disso tudo? - Bella disse apontando o dedo para a parede à frente, que até então eu não tinha focado minha atenção.
O que eu vi realmente me espantou, atrás da cadeira em uma parede que um dia fora branca, mas agora estava salpicada de bolores esverdeados, estava uma espécie de mural com várias fotos de uma garota um pouco encolhida com cara de poucos amigos e um olhar perdido, uma trança frouxa nos cabelos arrepiados dela demonstrava um sinal de tentativa frustrada aos cuidados de seu pai inexperiente com a moda ou qualquer coisa que fosse apresentável naquele século, porém as fotos recentes que a incomodavam, fazia anos que não tirava fotos e aquelas pareciam realmente de um perseguidor.
- Uau. Lia você realmente melhorou com o passar do tempo. - Luana estava com a boca aberta e as mãos a tampando, um pouco teatralmente na verdade.
Eu estava em choque. Ver minhas fotos por toda a parede foi um golpe no qual eu não esperava, era óbvia a obsessão do assassino por mim, mas tinha fotos minhas de todas as idades ali. Se o assassino me seguiu a vida inteira, que era o que parecia, por que ele só apareceu agora? Foi então que as fotos antigas abriu a mente dela e a aterrorizou ainda mais, como se a ideia de alguém a perseguindo a vida inteira fosse muito melhor do que acabara de pensar.
Bella se inclinou com menção de me tocar, mas desistiu assim que eu encolhi automaticamente. Seu olhar era de uma dor quase palpável e eu me arrependi imediatamente do meu ato assim que trocamos olhares, ela só estava preocupada e eu estava agindo como uma completa idiota.
- Acho que devemos colocar asilos nas nossas listas de busca, esse cara deve ser idoso se perseguiu a Lia por tanto tempo assim. - Júlia parecia falar sério, mas não impediu de fazer Luana revirar os olhos.
- Na verdade não, ele foi à minha casa ontem, essas fotos eram de um álbum de família, algumas são do álbum pelo menos, o que explica a visita ao meu apartamento, - eu respirei fundo para acalmar os nervos antes de continuar - essas fotos não estão aqui há muito tempo. - Minha voz estava rouca, aguda demais e quase embargada. Eu realmente estava com uma bola colada em minha garganta, mas não tinha reparado até o momento.
- O que quer dizer com isso? Você sempre quer dizer algo quando é tão vaga. - Júlia disse esperando uma resposta minha, que não veio. Eu não conseguia falar, as ideias estavam jorrando em minha mente e nesse momento seria impossível conseguir falar coisa com coisa, palavras é um método obsoleto quando se trata de acompanhar os pensamentos.
- Ela quer dizer que o assassino sabia que encontraríamos este lugar e fez um cartão de visitas peculiar. - Disse Bella, apontando para a parede.
- Bella me assustava sempre com essa sincronia mental. Todos olharam para a parede com a compreensão finalmente atingindo seus olhos e então começaram a falar ao mesmo tempo, vozes baixas e concentradas começaram a entoar pelo lugar e minha mente vagou a uma dimensão onde suas vozes não alcançavam meus ouvidos.
- Era estranho, como se ele estivesse sempre me observando, esperando eu dar o passo para ele dar o dele logo em seguida. Todas as jogadas de xadrez só foram dadas depois que eu disse como seria, tudo o que aconteceu só aconteceu depois que EU falei que aconteceriam.
- Foi então que de repente uma ideia incabível se desenrolou em minha cabeça, meus neurônios começaram em um turbilhão de sinapses e eu vi a sala rodando. Eu precisava definitivamente me acalmar. Mas, será que aquilo poderia ser verdade. E se o assassino estivesse entre nós? E se, eu estivesse montando aqueles crimes. Eu dizia o que aconteceria e então acontecia exatamente do jeito que eu disse no lugar que eu disse. Era a única explicação de sempre estarmos perto demais, mas nunca conseguirmos pegá-lo.
- Eu comecei a repassar todas as imagens minhas entrando na cena do crime, quem já estava lá, quem chegou depois. Quem? Quem? Quem? . Eu ouvi alguns sussurros e minha mente alertou para que eu voltasse à realidade.
- E ai Hercule Poirot, podemos ter sua atenção, se não for incomodo? - sussurrou Bella, afastando um cacho que estava entre meus olhos.
- Minha atenção é sua Bella - Retruquei me afastando um pouco, para conseguir uma distância segura da talvez assassina Bella. Era óbvio que não era Bella, mas eu não confiaria em ninguém naquela sala até que me provassem o contrário.
- Bella pigarreou com uma das mãos fechadas em punho na boca e começou a falar em um tom polido, diferente do debochado cotidiano. - Tem alguma ideia do porque ele fez tudo isso?
-Na verdade, não. - repliquei com incerteza na voz, e me arrependi imediatamente de ter aberto a boca. Se alguém notasse minha insegurança ali eu estaria em apuros, precisava correr imediatamente para um local seguro. Eu olhei a minha volta e ninguém parecia ter notado a não ser, lógico, Bella que me olhava com uma sobrancelha levantada.
- Liatris sem ideias? Essa é nova – disse Luana com um ponto de interrogação no rosto, o que me fez tremer e me encolher quase imperceptivelmente. Era ridículo meu medo repentino, mas primeiro que ninguém sabia meu nome na delegacia, há tempos sou chamada somente de Lia e só o fato de Luana me chamar assim já me causou dúvida e desespero. Bella deve ter percebido porque olhou exatamente para direção que eu olhava e me pegou pelos ombros.
- Não sei como ainda não pirou com tudo isso. Vem, vamos tomar um café ou algo assim.
- Júlia deu o primeiro passo para nos seguir em seguida de outros dois primeiros passos em minha direção e eu me encolhi novamente, parecia que estávamos ligados a um fio e se um dava um passo automaticamente todos mudavam suas posições. Bella estendeu sua mão livre como se afastasse todos imaginariamente e começou a passar ordens que eu não conseguia entender pelo torpor que minha mente voltou a ficar, assim que olhei para Lucas que era o mais próximo da escada e me arrepiei, como quando alguma janela se abre e uma lufada de vento te surpreende. Minha mente se acalmou quando Bella me guiou até os pequenos lances de escadas que me levavam para a liberdade, Bella notou meu alivio e apertou o passo. Quando estávamos do lado de fora eu me aventurei em puxar o máximo de ar que eu consegui daquela manhã que parecia avisar uma tempestade, foi quando me pareceu impossível continuar andando. O que está acontecendo comigo? Eu não consigo me mover, droga isso só pode ser brincadeira. Eu não quero entrar em estado de choque. Droga. Droga. Droga
- Calma Lia, respira. - Bella estava começando a fazer menção de me acalmar com a respiração de novo o que me irritou muito.
- Eu não quero me acalmar, me tira daqui. - gritei.
Bella não argumentou ou levantou a sobrancelha como de costume, ela simplesmente me empurrou até o carro me colocou no banco carona e me amarrou ao cinto de segurança, enquanto ela atravessava o carro meus olhos foram em direção a casa e eu vi algo de estranho que não consegui identificar a tempo. O carro começou a se mover, e meu corpo tremeu involuntariamente. E se Bella for à assassina? Porque eu confiava nela? Não é como se eu tivesse sido traída por quem eu amava pela primeira vez, meu pai já tinha feito as honras. Espera um minuto eu acabei de dizer que a amava ou a comparei com um assassino louco que mata mulheres inocentes?
- Lia, será que poderia me explicar o que está acontecendo? - Bella puxou todo o ar do carro e continuou com a voz um pouco mais comedida. - Se for por causa do beij...
- O assassino é alguém entre nós. - disse a interrompendo antes que chegasse ao assunto que eu fugiria para o resto da minha vida. Agora não sei se contei a ela para fugir do assunto ou porque confiava nela, mas agora já contei e se ela for à assassina eu acabei de assinar minha despedida deste mundo.
- Bella fez menção de frear o carro, mas parece ter se recuperado a tempo, seus olhos sumiram em pensamento e eu tive a impressão que bateríamos a qualquer momento, tentei olhar para frente para avisá-la caso tivesse algo que a fizesse bater, mas não conseguia focar nada, minha cabeça parecia perdida em um completo buraco negro o que fazia de mim uma louca desvairada sem massa encefálica.
- Como chegou a essa conclusão? - Disse Bella em sussurros como se pudesse impedir de se tornar palavras o que ela obstinadamente não queria acreditar.
- As jogadas são todas minhas e talvez o assassino nem saiba jogar xadrez, depois da primeira jogada eu dei todas as cartas e nós nunca nos adiantamos, estamos sempre na cola, sempre na mesma página. Eu falo, e logo em seguida acontece. A única resposta para isso é que alguém esteja me escutando, poderia ser simplesmente escutas, mas eu acredito que não.
- Bella olhou para mim com cara de espanto, e foi quando um carro surgiu do nada, Bella freou bruscamente e meu corpo se projetou para frente como se tivesse acabado de conhecer a gravidade. Ela suspirou em meio a xingamentos sussurrados e resolveu encostar o carro perto da orla em frente a praia.
- O dia estava realmente assustador agora, os coqueiros balançavam como se lutassem para não cair, o mar revolto tinha traços de cinza e preto e o vento zumbia pela fresta da janela que Bella tinha acabado de entreabrir para sugar mais ar, como se dentro do carro tivesse em falta.
- Por que diabos, você está me contando isso? Como sabe que não sou eu, eu te ensinei melhor que isso. - Bella parou de gritar me olhou como se estivesse vendo pela primeira vez. - Você confia em mim? - sussurrou ela olhando com seus olhos brilhantes e emotivos.
- Eu simplesmente não pensei. - disse tirando o cinto e massageando as marcas que ele acabara de fazer.
- Bella voltou a vestir suas feições de debochada, mas parou preocupada olhando para minha mão.
- Eu te machuquei? - disse ela rouca.
- Não, o cinto fez isso. - disse olhando com uma carranca para o lado, abandonando automaticamente a massagem eu coloquei a dor no passado.
- Bella pigarreou e olhou para frente pensativa e foi então que o silêncio me deixou mais calma, minha mente não tinha calado até aquele momento, e o silêncio mental me deixou levemente feliz e zonza ao mesmo tempo.
- Isso tá me matando Lia, tudo o que eu queria era te proteger, mas você sempre acaba se metendo em encrenca, às vezes tenho a sensação de que te proteger seja impossível para qualquer humano. - Bella olhou para minha direção e seus olhos estavam embaçados de uma possível lágrima que se recusava a cair.
- Eu aproximei minhas mãos do seu rosto e toquei sua pele gelada e estranhamente macia, Bella era sempre tão forte que eu imaginava a pele dela dura como pedra e impenetrável como tal. Meus dedos foram até abaixo dos seus olhos e ela os fechou deixando uma lágrima solitária finalmente encontrar meus dedos, eu os afastei ao toque e passei minha mão distraidamente em minha blusa como se os secassem. Bella saiu de sua transe assim que parou de sentir minha mão e voltou imediatamente a sua posição de defesa.
- Precisamos encontrar respostas de qualquer forma. - Disse Bella enquanto ligava o carro.
- Eu toquei seu braço com meus dedos como se quisesse fazê-la parar o que estava fazendo para prestar atenção em mim e foi exatamente o que ela fez. Bella desligou o carro sem me olhar e recostou-se no banco, puxando novamente o ar como se estivesse desaprendendo a respirar.
- Sinto muito, por lhe causar tanto incômodo. - disse realmente sentindo muito.
- Bella entreabriu sua boca e balançou negativamente a cabeça prestes a dizer algo, mas parou assim que seus olhos encontraram os meus. O que fez meu rosto queimar. Eu sabia que estava com o rosto vermelha o que me revoltou. Quem eu sou agora? Uma adolescente tímida. Eu evitei qualquer forma de visão refletida com medo de encontrar uma garota de 15 anos com espinhas e aparelho me encarando, mas me peguei encarando o vidro filmado do carro e estava aliviada por me ver exatamente como me lembrava de ser, tirando duas enormes olheiras se formando, o resto parecia estar como antes.
- Bella tocou em meu queixo, o que me fez pular levemente ao toque e direcionou meu olhar em sua direção.
- Não me incomoda nunca Lia, - disse ela com a voz embargada, arrancando-me um turbilhão de sentimentos.
- Quando eu encontrei seus olhos meu coração pareceu pular do meu peito, como um peixe tentando encontrar o mar depois de capturado, mas então me concentrei em suas batidas estrondosas e me certifiquei que estava tudo bem. O que é isso? Dopamina?. Opensamento me revoltou.
Bella você precisa parar com isso, eu estou enlouquecendo. - eu respirei fundo, e não era o suficiente para continuar, mas isso precisava acabar agora, então continuei – Eu não sou lésbica. - Gaguejei. - e mesmo que fosse, eu não estou com cabeça para isso agora, eu tenho um assassino na minha cola e minha cabeça não foca quando você está por perto, eu não quero que encoste em mim desse jeito, ou me beije ou qualquer coisa desse tipo, nunca mais! - Disse com um nervoso visível, mas julgando pela feição de Bella, funcionou.
Bella me encarou por um instante e então levantou a sobrancelha. - Sua cabeça não foca quando estou por perto? - disse ela com o sorriso de canto repetindo o que eu tinha falado.
- É isso que você pegou de tudo o que eu disse? - eu respirei fundo para dizer mais coisas, mas ela colocou a mão em sinal de pare me imedindo de continuar e ligou o carro.
- Relaxa L não vou te perturbar com mais nada, já deixei claro meus sentimentos, isso tudo acaba agora. Vou te levar para casa e pensamos o que fazer de lá.
Eu a olhei espantada. - Relaxa você vai para minha casa, ninguém entra na minha casa, minha politica é de atirar primeiro e perguntar depois. - Disse Bella finalizando a conversa.
Bella deu ré e começou a dirigir em direção a sua casa que ficava oposta a minha, isso já me causou alivio. Ela me chamou de L? Essa era nova me senti como um personagem de Manga chamado Death Note, o mais engraçado é que L era um dos personagens mais inteligentes da história, tirando o fato dele ter morrido por confiar no assassino. Essa ideia me fez arrepiar, meus músculos não aguentavam mais isso.
O apartamento de Bella era caótico, tinha tanta coisa fora do lugar que me deu agonia.
- Home, Sweet, Home - disse Bella apontando em direção a entrada, eu não queria, mas só a ideia de discutir me cansou, afinal eu não tinha outra escolha.
- Esse lugar está uma bagunça.
- Esse lugar é minha casa, tente não se intrometer narizinho. - Bella se afastou com um gesto dramático me indicando uma espécie do sofá e fechou a porta assim que entrei.
Ela afastou algumas revistas do sofá para que eu sentasse e foi direto para onde eu pensava ser a cozinha.
A sala do apartamento começou a desaparecer diante dos meus olhos até virar um borrão negro. Eu me desesperei levantando em um salto que pareceu ser em slow motion, uma luz forte atingiu meus olhos e eu tentei protegê-los com a mão até meus olhos se acostumarem e perceber que a origem da luz era um sol radiante, lindo, não me lembro de tê-lo visto com aquela intensidade antes. Havia uma campina a minha frente, eu olhei para o chão e vi várias flores pequenas brancas Dente de leão ouvi a voz da minha mãe dizendo em minha mente.
Você está horrível. Ouvi uma voz rouca, que eu jamais esquecera, atrás de mim. Eu me virei e novamente meus movimentos estavam lentos, agonizantemente, lentos. Quando meu corpo virou completamente o vi, logo à minha frente estava ele, livre da prisão me encarando com seu sorriso amistoso, ele parecia incrivelmente novo, como quando eu era pequena. Sua mãe iria me matar se olhasse para você agora, você está horrível Liatris. Lá estava ele, completamente distraído, como se nunca tivesse feito algo de errado. Onde estou? No cemitério particular das suas vítimas? O alfinetei olhando em volta, pouco importava se iria morrer, eu estava cansada de tudo. Relaxa Lia, Estamos em campo neutro. Eu olhei em volta para confirmar se tinha enlouquecido de vez, não tive respostas com a imagem surreal então resolvi dar corda para o homem
à frente. Já que está aqui, talvez possa me ajudar. Ele entortou a cabeça para o lado como sempre fazia pelo que eu me lembrava, ou era outra pessoa que fazia isso?
Meus pensamentos congelaram quando ouvi o som gutural de uma risada vinda daquele homem. Você veio até mim, Lia. Não ao contrário. Disse ele rindo mais um pouco. Tanto faz quem você infiltrou em minha divisão para matar por você? Ele entortou novamente o rosto, parecendo um cão curioso e trocou o peso dos pés, o que me deixou desconfortável. Ora, ora. Minha menina inteligente, então já descobriu o infiltrado? Ele se abaixou para pegar um dente de leão e me olhou de canto de olho o que me fez querer correr, mas eu não iria longe à slow motion, eu estava travada naquele lugar e algo atrás dele se mexeu e eu não consegui ver o que era a tempo. Ele já tinha voltado para sua posição desconfortável. A ideia está na direção correta, mas esta pergunta está tão novamente amadora Liatris. Disse ele rodando a flor entre os dedos. Eu estava absorta observando a flor em sua mão que não o vi se aproximar, quando meu rosto voltou a posição original levei um susto com o rosto dele grudado ao meu, o que me fez pular para trás, na velocidade que eu estava pareceu o efeito de uma pedra quando jogada no rio. Não é comigo que deveria se assustar. Então ele olhou com uma cara de admiração comedida que não era de seu feitio, e foi exatamente aí que eu soube de onde ele estava tirando todos aqueles movimentos, meu pai queria me dizer quem era o assassino, e estava o imitando, me lembro daquelas manias. Mas por que então ele não simplesmente disse o nome?
Como se o lugar lesse meus pensamentos, uma nuvem negra entrou na direção do sol e tudo escureceu, uma tempestade tomou conta do lugar chicoteando raios por toda a campina, eu ouvi uma voz ao longe Lia, você está bem? Lia? A voz abaixou até ficar inaudível, eu olhei para o meu pai que começou a gritar para que eu ouvisse por cima dos trovões. Filha, eu sei que já fiz muita coisa errada, mas eu não matei sua mãe. Ele matou. Ele disse no mesmo instante em que uma ventania o fez desequilibrar e abriu a minha visão. Meu pai o estava escondendo esse tempo todo, era por isso que ele mexia quando eu mudava de posição. Eu vi um olhar a minha frente, que eu sabia que já tinha visto antes, mas antes que eu pudesse pensar uma escuridão tomou conta de tudo, eu comecei a ver vibrissas abrindo e fechando até se fixarem em um rosto apavorado à minha frente, era Bella.
- Por Deus, Lia. Estava começando a pensar na ideia de te espancar. Você desmaiou?
Bella estava olhando fixamente para mim com as mãos apoiando meu rosto, mas eu não conseguia responder.
A imagem que eu achei ter visto na casa do assassino antes da Bella sair com o carro, foi exatamente a imagem que eu vi escondida atrás do meu pai.
- O rei manipulando a rainha o tempo todo. - sussurei para eu mesma.
- Lia, que diabos está acontecendo? - Bella soltou meu rosto bruscamente e meu rosto pendeu para baixo como se tivesse solto do pescoço.
- Eu estava sonhando. - Disse rindo como uma louca em seu pior surto.
- Eureka. - Resmungou Bella se sentando ao meu lado e afagando meu rosto. Foi quando eu percebi que ele estava molhado, eu devia ter chorado dormindo.
- Quanto tempo eu dormi?
- Bella abriu a boca com menção de me responder, mas desistiu olhando para porta que estava sofrendo batidas ininterruptas. Meu coração pulou quando Bella se levantou para atender.
- Espere, eu preciso te contar al...- Bella abriu a porta antes que eu pudesse terminar a frase o que me fez afundar ainda mais no sofá.
Luana entrou depois de sussurrar algo para Bella e colocar uma mochila, que parecia muito uma que eu tinha, nas mãos de Bella.
- Oi Lia. - Disse Luana com um jeito descontraído.
- Desculpa à cara de louca dela, ela teve um pesadelo e desconfia que você seja um possível serial killer. Quer um café? - Bella, abriu espaço para Luana entrar e eu olhei atônita para ela. Como ela pôde fazer isso? Talvez as duas fossem assassinas e eu iria morrer naquele instante.
- Relaxa Lia não sou o que procura. - Luana disse olhando para mim, então bateu com as palmas das mãos no ar o que me fez dar o que seria um pulinho se eu tivesse em pé. - Bom, vou para delegacia tentar descobrir o lobo entre as ovelhas e você cuida da gatinha assustada aí. - Disse Luana dando passos em direção à saída.
Bella notou minhas dúvidas e deu passos para frente como se não suportasse a ideia de me ver perdida e assustada. - Eu já interei a Luana, Lia. Ela não é a assassina. - Ela olhou para Luana como se tivesse pedindo confirmação, o que fez Luana balançar a cabeça em concordância.
- Eu confio nela. - Sussurrou Bella mais para si do que para alguém naquela sala.
O clima ficou completamente constrangedor, e eu ainda não tinha entendido exatamente o porquê, então resolvi confiar em Bella.
- Talvez devesse olhar com mais atenção para os arquivos de Lucas. - Disse com a voz chorosa que surpreendeu a todos na sala, inclusive a mim.
Luana estalou os dedos e os apontou no ar em confirmação, deu os passos restantes para saída passando por Bella girando parcialmente. - Pode apostar que sim. - disse ela, olhando para Bella, rodando os dedos em círculo em volta do ouvindo, deixando entender que eu estava louca. Ela disse algo sem som para Bella, mas eu não consegui ver antes de Bella fechar a porta na cara da Luana.
- Lucas então hãm? - Começou Bella num tom alto demais para o ambiente. Ela e Luana pareciam irmãs, será que era por isso que Bella confiava em Luana? Isso explicaria muita coisa.
- A Luana, é parente sua? - perguntei ainda absorta em pensamentos.
- A Luana é minha ex Lia. - Disse Bella calmamente ao mesmo tempo em que se aproximava com cuidado em minha direção.
Ex? Não. Não. Não . Por que diabos eu me importava afinal, eu não queria Bella daquela forma e Bella por sua vez deixou bem claro que iria se afastar.
Bella deve ter notado minha cara de dúvida, porque começou a falar em tom explicativo. - Ela era novata e foi encarregada de me conquistar por causa de um trote, enfim. Deu certo! Não que todos saibam essa versão. - disse ela sorrindo orgulhosamente de algo que não tinha entendido.
Não me importa, se você confia eu confio. - disse tentando entender minha própria frase, eu não consegui então recomecei. - afinal não tenho motivo para desconfiar também.
Bella me olhou com dúvida, mas apagou algo em sua mente, antes de falar.
- Isso não importa agora, o que te fez achar que era Lucas?
- Na verdade nada, só uma intuição, eu acho.
- Lia, eu sei que você está destruída com tudo isso, mas preciso te fazer a pergunta que todos estão se fazendo. O que você faria para a próxima jogada?
Eu pensei bem sobre o assunto.
- Eu não faria nada. - disse finalmente expondo exatamente o que eu pensava de tudo aquilo.
- Ele não é meu pai, só queria chamar minha atenção. - comecei. - ele conseguiu, agora está se exibindo, mostrando seu furgão, onde ele matou as vítimas. - respirei fundo sentindo um pouco de tontura.
- Você quer dizer que acabou?
Parei para refletir bem minhas palavras. Eu já tinha chegado ao meu cheque mate, mas estava escondendo meus pensamentos até então.
- Não Bella. Estou dizendo que eu sou a próxima. - Disse olhando para parede à frente e encontrando uma campina bem iluminada, cheia de dentes de leão ao chão de um jardim esplendidamente verde de um quadro pintado a tinta a óleo.
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