● Capítulo 02 ●
Os brinquedos espalhados pelo quarto chamavam atenção, nada de bonecas ou coisas semelhantes que meninas adoravam nos seus poucos anos de vida, não que faltasse incentivos da parte dos pais. Mas, Maria Luzia desde seus 2 anos tinha um amor pela astronomia, o que explicava muito bem o telescópio perto da janela e ilustrações do sistema solar, os demais desenhos ocultavam o papel de parede que um dia decorava seu quarto.
Um miado fez Malu deixar o lápis azul de lado e olhar para sua amiga saindo atrás da porta. A gata ronrou e pulou na cama junto de Malu, com os olhos verdes atento a gata olhava para o desenho, uma grande bola com a cor ultrapassando o círculo, não era grande coisa mas a criança parecia satisfeita.
— Sabe o que é isso? — indagou Malu para gata, não esperando uma resposta. — Esse é o planeta Netuno, mamãe disse que ele é o oitavo planeta do sistema solar.
Netuno, a simples menção fez as patas afiadas da gata arranhar o desenho com fúria, deixando Malu boquiaberta. Os rumores sobre a atrocidade executada por Poseidon percorria por todos os deuses, Medusa castigada submetida aos atos de Poseidon, como os olimpianos não gostavam de ouvir um não. Desse modo, Bastet não achava certo que esse nome fosse concedido para esse planeta, em referência ao rei do mares.
Mesmo com o olhar tristonho de Malu, a deusa não sentiu remorso com seu ato, lambeu as patas como se sinalizasse um trabalho bem feito. Observou, quando os pequenos cachos de malu balançava enquanto ela foi até o cesto para jogar o que sobrou do desenho.
— Por que fez isso, Bas? — Malu inquiriu, não era uma criança de guardar rancor.
Bastet apenas soltou o miado em protesto, não se sentiu ofendida. Conhecia Malu antes mesmo de nascer e tinha consciência do poder de perdão e gratidão, que sua pequena chocolate de cabelos revoltosos tinha.
— Tudo bem não vou contar pra sua dona — Malu ergueu a gata até seus olhos, estampando um sorriso.
Devolveu a felina ao chão espalhando pelos por todo lado, mas Malu não se importou. Seguiram para cozinha quando se aproximou de 12:00, o tempo em que seu pai voltava do trabalho e a mãe preparava tudo, uma rotina conhecida a 9 anos pela deusa, desde que um jovem casal havia aparecido em seu santuário. Mas diferente de antes algo intrigante neles despertou a curiosidade da deusa, talvez fosse as trocas de olhares afetuosos deles ou o amor nítido, a deusa gata nunca soube discernir.
— Finalmente vieram me ajudar? — inquiriu a mulher de vestido florido, com um tom amistoso.
— Eu pensei em brincar com Bas, lá fora — Sussurrou Malu, suplicante. — Por favor, mãe.. Por favor! Por favor!
Bruna sorriu vendo súplica da filha, assim como ela tinha uma personalidade forte. Porém, a mãe não se deu por vencida, os últimos anos sendo professora de ciência no fundamental havia preparado ela um pouco para cuidar de uma criança.
— Que tal fazermos melhor — Bruna sugeriu. — A tarde todos nós vamos, eu, você, Bas e seu pai, o que acha?
A pequena parecia ponderar a ideia, seus olhos miúdos se fechavam um pouco parecendo analisar a proposta. Por fim, um sorriso radiante formou-se consentindo. Um miado da felina completou concordando com as duas, se Bastet pudesse teria sorrido. No entanto, o simples fato de fazer parte daquela família, mesmo em forma de gata, era o suficiente para ela.
O dia correu como se o tempo tivesse pressa, o sol ofuscado pela neblina se pôs ao leste. Os raios solares deram lugar ao brilho da lua, mesmo no final do inverno ainda era possível vislumbrar com nitidez, como prometido os membros da família Monteiro e Bastet aproveitaram a tarde, como esperado Malu o aproveitou o quanto pudesse. Logo, às 21:30 ela já estava deitada na cama dormindo, depois da história que o pai contou, John seguia sempre esse ritual desde o nascimento da filha.
Após todos dormirem, a deusa se esgueirou pelo porta dos fundos levando consigo a ração que todos os dias Bruna deixa no prato, presumindo que Bastet comeria, como se fosse uma gata comum. Contudo, a deusa levava consigo e dava para gatos de rua, os quais sentiam sua presença e nada temiam.
Dessa forma, enquanto ela alimentava alguns dos felinos na rua escura e deserta, algo que se movia na escuridão chamou sua atenção.
— Então é isso que você faz? — uma voz carregada de sarcasmo inquiriu. — Serve de babá durante o dia e a noite é boa samaritana.
— E o que você sugere — retrucou ela ao mesmo nível, não se intimidando com o frio que se instalou de repente.
Com suas roupas finas, adequadas para un deserto árido, sua pele caramelo sentiu o frio de forma cruel.
— Se divirta com eles? — Ele sorriu presunçoso. — Humanos não duram uma eternidade, mas tem suas utilidades.
Bastet riu de escárnio, Hades presumia mesmo que ela tinha essa índole ? Por mais que humanos tivessem seus pecados, ela não usaria eles.
— Não brinco com vidas de mortais por diversão como você, Hades — ela desdenhou.
A fama de Plutão e suas possíveis tortura das almas humanas era passada por histórias há anos, não era atoa o receio que os mortais tinham dele.
— Por que sempre me representam como o deus mau na história? — fingiu estar ofendido.
— Talvez você os da munição para isso — retrucou a felina.
Os gatos continuavam ronrando em busca de mais comida, ela presumiu que aquela seria a primeira refeição deles no dia. Bastet suspirou em lamento, nem sua eternidade a acostumou a essas situações.
— E você tem misericórdia demais — ele finalmente saiu das sombras. — Tome, você vai congelar nesse frio.
Hades ofereceu seu casaco, com roupas comuns e aparência mais estável do que antes ele esboçou um sorriso.
— Obrigada — ela agradeceu, vestiu reduzindo o frio.
— Vamos dar um passeio, Bastet.
— Por que eu iria com você? — inquiriu desconfiada, ainda não acreditou na bondade repentina dele.
— Porque pelo menos uma vez pense em você mesma, posso lhe garantir diversão.
As ruas quase desertas, a não ser por jovens bêbados, não intimidou nenhum dos deuses, Bastet caminhava ao lado de Hades, que tagarelava sobre os humanos e suas intervenções. Se uma coisa que o deus do submundo não dispensava era atenção, em mais uma de suas histórias ele prosseguia, contudo outra coisa chamou a atenção da felina.
Uma mulher caminhava desnorteada pela calçada parecia perdida, as roupas que um dia eram impecável se encontravam agora em trapos que a mal cobria direito, os fios dourados se embaraçou com o vento. Mas não era isso que chamava a atenção de Bastet, o sopro da vida se esvaziou, aquela mulher estava morta.
— Ela está morta — sussurrou incrédula.
— Sim, está — Hades retrucou. — Nunca viu um morto?
Bastet rolou os olhos.
— Ela não deve está aqui — falou. — Deve ir de acordo com suas crenças.
— Não se preocupe, esse é meu trabalho — ele explicou. — Não é como se ela fosse fugir.
— Mortos não podem interferir nas vidas humanas, isso valeria mais que a almas deles — a deusa comentou, com um olhar sombrio. — Você precisa levá-la.
— Meu ofício, minhas regras.
Após 15 minutos percorrendo as ruas torturosas da pequena cidade do anterior, não demorou muito para chegarem ao festejo no centro da cidade. As pequenas tendas dispostas sobre ao ar livre chamavam atenção pelos seus objetos e comidas peculiares, não tardou para Bastet deduzir sobre a comemoração.
— Festim asiático? Inquiriu fitando Hades, que esboçou um sorriso.
— Não estava presumindo um jantar romântico? — o deus do submundo fingiu-se surpreso.
Bastet soltou uma risadinha e tornou a apreciar o festival, aparentemente todos pareciam contentes, conversas que ela podia ouvir sem necessitar se aproximar, graças a boa audição, aromas das mais variadas comidas e o leve toque de perfume, porém não um qualquer. A deusa virou em direção do fragrância dando de encontro com Hades.
— Acho que não somos bem vindos — falou, tentando evitar a fagulha que sentiu.
— Não estamos profanando no território deles — retrucou o deus.
Deuses não interferiam nos outros sem ter um bom motivo, assim tinham total liberdade de andar ou ocupar qualquer parte do mundo mortal. No entanto, não era uma decisão sensata a se tomar, longe dos seus templos ou casas de seus adoradores os deixavam a mercê de perigos que ameaçavam sua imortalidade.
— Então me guie — Bastet declarou.
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