11 - quando você é julgado injustamente

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#jikookbasquete

Park Jimin
🏀

O cérebro e tudo que envolve o sistema nervoso, tanto central como o periférico, são tão interessantes e surreais que me deixam fascinado por saber o quanto o corpo humano e suas aderências são impressionantes, a ponto de cientistas e pessoas especializadas no assunto muitas vezes não terem respostas para algo inexplicável.

Podemos usar como exemplo a situação atual em relação a Taehyung, que havia acordado e não lembrava de absolutamente nada. Não lembrava do acidente, não lembrava do motivo para que isso tenha acontecido, e não lembrava dos amigos, o que era ainda pior. Só que estranhamente ele lembrava de uma pessoa, e essa pessoa era eu, me colocando em uma posição muito estranha.

Com posição estranha quero dizer que não somos amigos, no máximo colegas que começaram a ter algum contato agora, então por que se lembrar logo de mim? Não faz sentido nenhum.

E pelo que vi, também não fazia sentido para Hoseok que ainda me encarava de braços cruzados, enquanto dentro do quarto do jogador todos me olhavam, com uma típica pausa dramática.

— Sim Hoseok, estou vendo que ele lembra de mim, mas obrigado por avisar. — soltei o ar tentando ter calma, apesar de que eu queria mesmo era sumir de dentro daquele quarto já que eu senti de longe a indiferença de um dos jogadores.

Jung não parecia desgostar de mim, mas talvez eu estivesse errado já que ele me olhava como se me acusasse. E eu não precisava disso, eu mesmo estava fazendo isso a mim mesmo desde que o acidente aconteceu, era até um pouco cruel ao meu ver.

— O que você queria, Jimin? Disse que era importante. — me ajudando a quebrar aquele clima pesado que havia se formado, Yoongi me perguntou vindo até o meu lado. — É algo com Jungkook?

— Sim. — respondi um pouco apressado, agora voltando a atenção a Namjoon. — Os pais deles estão lá no quarto junto com ele, e eles nos pegaram em um momento um tanto constrangedor, fora que não deu tempo de contar sobre Taehyung.

— Os pais dele são bem.. como posso dizer? — Namjoon enrolou.

— Homofóbicos. — esse foi Hoseok, que voltou a sentar na cama ao lado de Taehyung.

— Certo, e o que a gente faz? — a minha pergunta fez com que todos que estavam dentro do quarto se olhassem, e eu já sabia a resposta para aquilo.

Não tinha o que ser feito. Se eu entrasse lá no quarto do Jungkook, os pais dele iam nos encher de perguntas, ou até coisa pior já que eles deviam estar cheios de paranóias depois de terem visto nós dois bem próximos. E para ser sincero, eu nem sabia que eles voltariam já que haviam deixado claro antes que tinham muito trabalho para fazer.

— Eles não disseram que iam trabalhar? Estranho. — Namjoon comentou como se tivesse lido os meus pensamentos, com certeza havia acontecido alguma coisa.

— Eu queria ser uma mosca pra entrar lá dentro e descobrir o que eles estão conversando. — Hoseok brincou, levando um tapa de Yoongi que estava rindo de nervoso com a situação.

— Eu vim te chamar por que quando eu saí, ouvi ele pedindo "chama o Namjoon", então acho que ele te quer lá. — expliquei, ainda de pé apertando os dedos em pura aflição.

— Certo, eu vou lá e trago notícias. — ele concordou, dando passos até a porta de saída. — Não fiquem ansiosos, não deve ser nada, eles só estão vendo como o filho está depois do acidente. Ele ainda vai precisar passar uns dias aqui, é normal que estejam preocupados.

Ninguém disse nada, ele apenas saiu e nos deixou a sós naquele silêncio constrangedor, esperando que ele voltasse com notícias, enquanto Taehyung me olhava curioso. Era tão estranho. Era como se ele estivesse vendo a minha alma de tão profundo que me olhava, e eu não fazia idéia do motivo ou razão, eu só permanecia quieto, vez ou outra olhando para Yoongi, esperando que ele me tirasse dali às pressas.

— Vamos perder aula, coisa que não fazemos há anos. — meu amigo comentou, se aproximando mais de mim. — Tem certeza que não quer ir pra escola? Não sei se o Seokjin vai por causa do Yeonjun, e acho que não vai ter como você entrar lá de novo enquanto os pais dele estiverem aqui.

— Não acha que você deveria ir comigo então? Taehyung está com Hoseok, está tudo sob controle aqui. — falei baixinho, e ele voltou a atenção aos dois rapazes que nos olhavam, eles pareciam curiosos.

— Tenho medo de ir e eles se desentenderem. — ele comentou e suspirou , acabou me puxando pelo braço até a porta para que nós saíssemos, então eu só o segui. — Os pais do Taehyung não podem vir, eles estavam preocupados mas explicaram que não tinham como ficar, então por hoje ele só tem nós dois. Como sem querer eu acabei revelando que Hoseok gostava dele, não acho uma boa idéia deixar os dois sozinhos agora, eles precisam conversar antes.

— Entendi. — murmurei baixinho, agora vendo os corredores movimentados do hospital, já que estava cedo. — Acha mesmo que é melhor eu ir pra aula? Não sei nem se vai ter já que falaram que decretaram feriado por causa da festa.

— Então vá para casa e tome um banho. Se alimente direitinho e durma um pouco se conseguir. Explique à sua avó que vai dormir aqui a noite com ele, e aí Namjoon irá pra casa. É melhor vocês revezarem, porque os pais dele não irão ficar.

— E você? Não vai descansar?

— Vou, Hoseok vai ficar com Taehyung a noite, então acho que daqui pra lá eles conversam. E aí eu vou para casa, espero você chegar aqui.

Confirmei um pouco cabisbaixo ainda por ter que sair e deixar Jungkook sem ao menos me despedir, mas seria melhor assim. Eu iria até a escola resolver algumas coisas, a tarde iria descansar e a noite voltaria bem disposto e certo de que ele já saberia de tudo até lá, então estaria tudo bem.

Acabei então me despedindo de Yoongi, sem comentar sobre Nayeon que havia ido lá mais cedo. A garota tinha me falado sobre tudo ter sido um plano, mas eu já não sabia quem estava envolvido nessa brincadeira toda, então esperaria tudo isso passar para o perguntar.

Aquela não era a hora certa.

Andei pelo os corredores ouvindo o meu estômago roncar devido já passar das sete horas da manhã, e tratei de apressar o passo, tendo ciência de que o ônibus demoraria, mas daria tempo de ir para a escola.

— Ei você. — ouvi uma voz grave atrás de mim parecer me chamar assim que passei da porta de saída, e quando me virei dei de cara com o pai do Jungkook que usava um belo terno azul com gravata preta, parecia realmente alguém importante. — Você é Park Jimin, não é? Eu sou Jeon Chin-hwa.

Eu sorri um pouco torto e forçado pelo susto e medo que havia sentido, mas quando fiz a reverência desajeitada e voltei a o olhar notei seu olhar de desprezo logo que de imediato. Eu não fazia ideia do motivo para que ele tivesse me chamado, mas eu sabia que não era nada bom só de notar a forma como ele me olhava.

— Bom dia, o senhor precisa de algo? — me fiz de desentendido e olhei algumas vezes para a saída deixando claro que estava apressado, mas ele pareceu não ligar já que estava perdendo tempo me olhando de cima a baixo.

— Você está de saída? Achei que fosse ficar com o meu filho. — sua pergunta saiu em um tom amargo, como se fosse difícil engolir as próprias palavras, mas resolvi não o julgar, eu não o conhecia bem e até então não tinha motivos para desgostar.

— Oh, Namjoon irá ficar com ele. Eu preciso ir até a escola, sou líder de algumas turmas então não posso faltar. — voltei a sorrir sem mostrar os dentes, e com a destra passei a mão no meu bolso traseiro sentindo o meu celular, e quando o peguei fingi olhar a hora para poder dar uma desculpa. — Queria ficar e conversar mais, só que eu realmente estou atrasado. Falo com o Jungkook depois.

— Não se preocupe, Park. Posso te dar uma carona até a escola, é caminho já que vou ter que ir até lá conversar com a diretora.

Paralisei ao ouvir o convite, mas não menti sobre estar atrasado, eu precisava chegar o mais rápido possível na escola para poder comer alguma coisa antes da primeira aula começar, e também explicar a diretora que ficaria responsável pelos afazeres de Yoongi e Seokjin, mesmo que não tivesse ninguém lá por causa da festa.

— Eu não quero dar trabalho. — tentei negar de uma forma gentil mesmo sabendo que precisava da carona, mas ele não apareceu ligar já que acabou tirando a chave do carro do bolso e passou por mim devagar em um pedido silencioso para que o seguisse.

— Não se preocupe, eu gostaria mesmo de conversar com você no caminho.

Sua fala era sempre brusca, como se ele estivesse cuspindo palavras, mas eu não tive escolha a não ser acompanhá-lo. A viagem seria rápida de qualquer maneira e a espera pelo ônibus demoraria muito.

— Tudo bem, obrigado senhor Jeon.

Min Yoongi
🏀

Havia passado no mínimo uns vinte minutos desde que Jimin tinha ido embora, quando o médico apareceu para dar notícias de Taehyung. Os pais do jogador Kim Jangmi e Kim Taeyang se apresentaram para os médicos e ao lado de Hoseok ouviram tudo o que ele tinha para falar sobre o caso do marrento. Ele mais uma vez afirmou que os exames estavam normais e devido a isso o jogador teria alta no dia seguinte pela manhã, já que era necessário assistência nas primeiras vinte e quatro horas.

Eles perguntaram sobre a memória do rapaz, questionaram se ele voltaria a se lembrar das coisas e em quanto tempo isso aconteceria, mas o médico não soube dizer. Ele apenas afirmou que isso era normal depois de uma pancada tão forte na cabeça, mas que não existia nenhum hematoma ou algo grave na TC e nos exames, então era questão de tempo.

Antes de sair ele afirmou que seria bom se contássemos coisas importantes que aconteceram na vida do jogador, coisas marcantes e que pudesse servir de gatilho emocional para ele, talvez assim ajudasse a memória retomar aos poucos e com isso decidimos que iríamos tentar.

— Eu queria poder ficar, mas a empresa está uma loucura meu bebê. — a mãe do rapaz falou rente a sua testa, enquanto deixava um beijo estralado. Taehyung fechou os olhos e ficou quietinho, talvez por não lembrar ainda dos próprios pais.

— Viajo depois do almoço e só volto amanhã à tarde, garoto. Então, Hoseok fica encarregado de te levar para casa, posso mandar o carro vim buscar vocês. — agora foi a vez do senhor Kim que transbordava cuidado em suas afeições. Ele aparenta mesmo ser alguém ocupado, mas parecia amar o filho o suficiente para deixar as suas emoções amostra, e isso era importante.

— Deixa comigo, eu levo ele. — Hoseok concordou com o homem, o vendo sorrir pequeno antes de balançar a cabeça afirmando que estava tudo bem.

Depois que eles deixaram o quarto, Taehyung pareceu mais à vontade. Durante o almoço ele comeu bem, vez ou outra me fazendo dar a comida na boca dele por pura manha e drama, alegando que estava com os braços doendo mesmo sabendo que estava atolado em morfina. Um verdadeiro ator.

Hoseok saiu e voltou algumas vezes, parecendo esperar algo, mas não perguntamos, tenho certeza de que ele queria falar algo mas talvez não estivesse na hora.

— Onde acha que ele foi dessa vez? — já de barriga cheia e agora sem nada para fazer, Taehyung perguntou se referindo a Hoseok enquanto assistimos um filme chato na televisão do hospital. Eu estava sentado ao lado da cama, com um dos meus braços apoiado no colchão enquanto segurava meu queixo, ele me observava atentamente.

— Não sei, deve ter ido tomar um ar lá fora.

— Ele já comeu? Não vi ele comendo. — por mais que ele não lembrasse, ele ainda se preocupava.

— Ele é chato para comer, você só não lembra agora. — sorri pequeno e voltei a atenção a  tv, mas ainda assim, sentia o peso do seu olhar. — Deve ter comido lá fora, não se preocupe eu vou perguntar quando ele voltar.

— E como estava a sua comida?

— Comida de hospital sempre é ruim. — dei os ombros e acabei bocejando por não ter dormido nada desde que chegamos, e Taehyung notou meu olhar cansado, tanto que acabou se afastando da cama.

— Vem, deita aqui comigo. — ele arrumou o travesseiro para que desse para nós dois, e me olhou com a maior cara lavada possível. — Vai ser estranho se você deitar aqui e alguém entrar e ver?

— Não. — respondi sincero. — Não me incomodo com isso, e acho que você também não, mas o espaço é pequeno e eu não quero machucar os seus braços.

— Você coloca a cabeça no meu peito então, e aí eu coloco o braço por cima do seu ombro, não vai machucar e terá espaço por que você vai estar de lado. — eu sorri pequeno por notar que ele realmente se importava com o meu sono, e acabei não enrolando muito já que estava realmente cansado.

— Certo, mas cuidado com o soro e também com os seus machucados, se alguém entrar e quiser que eu saia você me acorda, beleza?

Ele concordou.

Eu acabei ficando de pé rapidamente e me sentei ao seu lado na cama, tendo muito cuidado na hora de deitar. E ele fez o que disse que faria, esperou que eu deitasse e encostasse a cabeça em seu peito, para só então apoiar o braço no meu ombro e descansar melhor. Estava confortável e quentinho já que ele passou o edredom por cima do meu corpo com o braço esquerdo que também estava enfaixado.

— Não é pra fazer movimentos bruscos, Taehyung.

— Fica quietinho e descansa, se Hoseok aparecer peço para ele deitar também para descansar. Onde cabe um, cabem três. — soltei uma risadinha com a fala dele, e acabei fechando os olhos sentindo o cansaço me consumir, Taehyung tinha razão, ficar a madrugada inteira acordado não era pra mim.

Fiquei em silêncio por alguns instantes e não demorou para que eu dormisse, eu sentia os dedos longos do jogador roçar no meu pescoço, fazendo um carinho que deixava todos os pelos do meu corpo eriçados, e de uma forma inusitada aquilo me fez dormir melhor.

Dormi durante uma hora sem pausa, e aquilo só me deixou ainda com mais sono.

Bocejei e notei que havia acordado porque ouvia uma conversa baixinha de Taehyung com Hoseok, que parecia não querer me acordar.

— Eu te trouxe uma coisa. — a voz era de Hoseok que falava como um sussurro.

— Quer que eu acorde ele? — Taehyung se referiu a mim. — Ele precisa ir pra casa e descansar Hoseok, você fica comigo e a noite ele volta. Não precisa os dois ficarem aqui juntos, vocês estão cansados.

— Ele é teimoso, você não lembra por que está doente, mas acredite ele não vai embora. — senti Taehyung suspirar já que estava colado nele, e escutei Hoseok dar alguns passos até o lado oposto da cama onde nós estávamos, ele parou logo ao meu lado, acariciando o meu cabelo que está um pouco grande. — Tenho algo para te dar. Não sei se vai ajudar em alguma coisa, mas vale a tentativa.

Me mexi na cama e abri os olhos deixando a entender que eu já estava acordado a um tempo, e Taehyung me olhou antes de voltar a atenção a Hoseok, ele parecia confuso. Mas a sacola que o jogador segurava atrás das costas deixava claro que ele havia comprado alguma coisa, só não tínhamos ideia do que poderia ser para ter todo aquele suspense.

Quando enfim ele entregou a sacola a Taehyung, eu me sentei devagar para ajudá-lo a abrir já que suas mãos doíam um pouco quando ele fechava, então acabei tirando de dentro uma pequena caixinha de acrílico, e dentro dela havia um kyungdan¹ um doce feito de massa de arroz, recheado com açúcar e mel.

Taehyung olhou fixamente para o doce e franziu o cenho por alguns instantes. Hoseok o olhava com expectativa, e eu com curiosidade já que não havia entendido todo o suspense. Mas foi quando ele abriu a boca e arregalou os olhos que eu havia entendido tudo.

Ele tinha se lembrado, e eu não fazia ideia do por quê.

— Hoseok.. — ele falou baixinho, fazendo o jogador morder os lábios de tão ansioso. — Eu lembro. — ele sorriu grande, mostrando toda euforia. — Lembro de você, do Yoongi, do Jungkook e de tudo.  — Hoseok sorriu mas de uma forma estranha, como se estivesse bastante nervoso e aquilo me fez sorrir também. — Não acredito que você foi atrás de um Kyungdan¹, onde você encontrou?

— Fui longe pra encontrar. — ele revelou ainda contido.

— Alguém pode me explicar? — perguntei e vi ambos me olharam com a maior cara de inocência possível, Taehyung estava radiante possa-se dizer.

— Hoseok me deu um desses e me beijou a uns anos atrás. — ele falou sorrindo, e eu me surpreendi com o que havia escutado. — Nós havíamos ganhado um jogo importante da liga, e ele veio correndo até mim no vestiário segurando um Kyungdan¹ que a avó dele tinha feito, e eu mal coloquei um pedaço na boca, ele me beijou desesperado, quase bati a cabeça na parede pelo susto.

— Ninguém é hétero nessa escola? — perguntei e o vi gargalhar, sendo acompanhado por Hoseok que estava bem mais alegre.

— Hoseok se passa a muito tempo, gatinho. Só que aquela foi a única vez que isso aconteceu, depois ele me ignorou por um tempo e quando veio falar comigo, fingiu que nada aconteceu. Então, eu fiz a mesma coisa. — ele deu os ombros e continuou segurando o doce como se fosse a coisa mais preciosa do universo, e aquilo me fez ficar mais aliviado já que eu sentia que a conversa viria a qualquer momento.

— Uou. — disse agora me levantando para ficar de pé ao lado de Hoseok. — O médico pediu para que nós falássemos de coisas importantes Taehyung, então o beijo foi importante pra você, não é?

A pergunta fez Hoseok tossir igual a um tuberculoso, e Taehyung ficar corado pela primeira vez em anos, já que eu nunca tinha visto ele se intimidar daquela maneira. Não era nem necessário resposta depois daquelas reações, mas ouvi Taehyung bufar fingindo chateação.

— Puff, quem me beijou foi ele então deve ter sido importante.

— Foi você que lembrou! — Hoseok rebateu.

— Foi você que beijou. — ele respondeu sorridente.

— E você retribuiu. — o que estava ao meu lado cruzou os braços frente ao corpo e sorriu debochado, pareciam duas crianças discutindo algo sério.

— Ok, era importante para os dois. — respondi por último e os vi revirar os olhos, tentando negar algo que era óbvio. Taehyung socou todo o doce na boca, mastigando devagar olhando para a TV, enquanto Hoseok foi para o sofá e ficou quieto com os braços cruzados

A birra deles era eterna, não me surpreendia eles nunca terem tentado ter algo.

— Agora que está silêncio, vamos ver o filme por que o meu sono passou e Taehyung precisa descansar em paz. — sentei ao lado de Hoseok, e ele passou o braço por trás das minhas costas, me puxando mais para perto.

De longe vi Taehyung dar um sorrisinho, antes de fechar a cara novamente e nos olhar, ele parecia assustado agora.

— E o Jungkook? Ele sofreu mesmo um acidente e está aqui também? Merda, preciso ver ele rápido.

E aí começou a luta de prender Taehyung na cama até que ele tivesse alta para não correr o risco de pegar alguma infecção hospitalar. E quando falo prender, me refiro a Hoseok na porta do quarto dizendo que ele só sai quando o médico liberar, e assim iríamos passar a nossa tarde.

Ele estava nitidamente preocupado com o amigo agora que lembrava, mas não tinha escolha, precisava ficar onde estava para ficar bem logo.

Park Jimin
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Eu estava me sentindo pequenininho dentro do carro com o pai do Jungkook, não por ser pequeno, — o que não era mentira já que o Jeon parecia ter no mínimo um e oitenta de altura —, ou por ele ter dito algo, já que ele estava em silêncio desde que saímos do hospital, mas por achar pela primeira vez nessa semana que a minha vida não condizia com a de Jungkook, e só de olhar para a riqueza daquele homem isso ficava cada vez mais nítido.

Eu nunca havia pensado daquela maneira.

O carro era puro luxo, todo de couro e com um cheiro insuportável de riqueza, o perfume caro do senhor Jeon era forte e me dava náuseas, me lembrava do cheiro de Jungkook quando eu o conheci. — cigarro, perfume francês e perfume feminino —, nada poderia ser pior que esse último de fato, mas ainda assim eu não me sentia confortável. O relógio enorme no pulso do homem me fazia pensar que com o dinheiro daquele único acessório eu conseguiria comprar uma casa, e olhando para os meus pés com os tênis surrados eu notei que realmente tínhamos vidas opostas, até por que eu nunca teria entrado naquela escola se não fosse a bolsa que eu havia ganhado, e o resto do dinheiro que meus pais haviam deixado.

— A quanto tempo estuda lá, Park? — depois de bons minutos em silêncio, ouvi o homem perguntar.

— Três anos, esse é o último ano. — minha voz saiu mais baixa do que eu imaginava, e aquilo que me fez perceber o quando eu estava me sentindo intimidado. A situação em si era estranha, mas eu não seria mal educado, afinal, eu nem sabia o que ele queria.

— E como conseguiu entrar lá? — ele prestava atenção no trânsito, até estranhei ele próprio dirigir. — Você não me parece alguém que tem condições de pagar a fortuna que é aquela mensalidade todo mês.— e aí estava a pergunta que todos me faziam quando descobriam onde eu estudava, eu já nem me sentia mal com isso, estava acostumado.

— Eu ganhei uma bolsa. — dei os ombros, e continuei olhando a rua movimentada sem ter coragem de encarar o pai do capitão, aquele homem me dava calafrios.

— Oh sim, não sabia que a escola oferecia esse tipo de coisa. — ele deu uma risada nasal e continuou focado na direção. — Mas se você conseguiu, e por que mereceu, não é? — com a pergunta ele me olhou momentaneamente e apertou o volante dando a entender que não precisava de uma resposta. Ele era realmente intimidador, e eu só esperava chegar o mais rápido possível na escola.

No caminho ele passou no posto de gasolina, e enquanto o carro era abastecido ele focou em mim, e voltou a puxar assunto.

— Você tem familiares vivos? — me assustei com a pergunta, mas esperei que ele continuasse. — Me lembro de ter conhecido um Park na infância e ele também morava aqui em Seoul.

— Não, meus pais morreram e pelo que sei, ambos eram filhos únicos. — vi ele prensar a boca e apertar os olhos como se duvidasse da minha resposta, então completei para não deixar dúvidas. — Park Kangdae e Park Jisoo caso queira saber os nomes.

— Não eram eles então. — ele respirou fundo e soltou o ar, voltando a ligar o carro que já estava abastecido. — O nome era Park Jaehwan.

— Oh. — pensei um pouco para ver se conseguia lembrar de alguém que se chamasse assim, mas não havia ninguém. — Park é um sobrenome comum, deve ser isso.

— É, deve ser. — ele não pareceu engolir aquilo, mas continuou dirigindo, agora um pouco incomodado. — Qual a sua relação com o meu filho?

A pergunta me fez engolir a seco e olhar para o lado oposto da janela. O que eu poderia responder? "Não sei, estou beijando ele as vezes, mas acho que é só isso mesmo." Óbvio que não. Imediatamente me lembrei dos meninos dizendo o quando ele era homofóbico, mas eu não sabia o que Jungkook havia dito quando ele entrou dentro do quarto. E se fosse uma armadilha?

— Somos amigos. — não menti.

— Nunca imaginei que Jungkook fizesse amizade com.. — ele pausou, talvez por ter pensando melhor sobre o que iria dizer. — Bom, como todo mundo não é? Ele não me parece ser bom em fazer amigos, afinal, por anos só foram Taehyung, Hoseok e Namjoon.

— Todos são amigos dele na escola. — revelei ainda cabisbaixo por saber exatamente o que ele queria dizer. — Ele é bem popular.

— Entendo. — ele concluiu.

Algo sobre mim que eu nunca contei é que eu não faço questão de esconder quem sou. Nunca me privei de usar a roupa que queria mesmo que fosse tachada de feminina, nunca me privei de usar as joias que queria, os acessórios que me faziam bem, e as cores que me chamavam atenção. E digo isso, porque desde quando ele chegou no hospital de madrugada eu notei os olhares dele sobre mim, e eu não precisava dizer nada para que ele me julgasse.

Era como se ele já soubesse que sou um cara gay, e não gostasse de quem ele achava que eu era.

Minha avó não sabe, não que eu tenha vergonha ou algo assim, apenas porque até então, eu esperava que alguém aparecesse na minha vida para que eu finalmente tivesse essa conversa. Mas por outro lado, todos sabiam, eu só não havia contado para a pessoa mais importante da minha vida, ela me amava com todas as minhas qualidades e defeitos, então eu sabia que ela estaria de braços abertos para me ouvir quando chegasse a hora. Por isso, nunca deixei ninguém me julgar ou humilhar a ponto de me sentir mal por ser quem sou. Já havia percorrido um longo caminho com auto-aceitação, não seria ninguém que iria destruí-lo.

— Espero que saiba que Jungkook namora a Nayeon. — a frase fez com que eu o olhasse automaticamente — Faz poucas semanas, mas ambas as famílias estão felizes com o relacionamento. A família Lim tem bens maravilhosos, e são empresários assim como eu, então, ela é a pessoa certa para ele namorar. Ele é jovem, mas cuidamos do futuro deles desde já, sei que será algo bom para eles.

Resumindo: quanto mais dinheiro ele tem, mais dinheiro ele quer.

Senti o impacto da informação como se ele tivesse sido enfiado na minha garganta. Ele indiretamente falou do meu status financeiro, de um relacionamento que eu nem sabia para início de conversa, e também, de um casamento entre famílias, algo que eu nem imaginava que ainda existia.

Tudo em uma conversa rápida, e sem rodeios.

Eu não fazia idéia do que o Jungkook havia falado depois que saí do quarto quando Namjoon entrou, mas eu sabia que o pai dele não havia sido benevolente com nada que ele dissesse, é claro eu não poderia perguntar, como eu poderia saber de algo sem voltar lá?

— Não precisa se dar ao trabalho de voltar ao hospital hoje a noite. — ele falou como se pudesse ler os meus pensamentos. — Nayeon vai ficar com ele, já conversei com ela. E Namjoon irá buscá-lo amanhã pela manhã quando ele tiver alta.

— Achei que ele passaria uma semana.. — comentei comigo mesmo, mas alto o suficiente para que o homem escutasse, e quando ele estacionou de frente a escola, pude ouvir a sua resposta clara.

— Quem tem dinheiro não precisa ficar em hospital, Park. Ele vai ter os cuidados que precisa em casa, tanto ele como Taehyung, os dois ficarão juntos na minha casa para ter todo o tratamento necessário.

Ouvi as palavras dele com cuidado, e cheguei a conclusão óbvia de que ele não me queria perto de Jungkook. Eu não sabia se era por eu aparentar não ter dinheiro, ou se era por eu ser gay, ou por ele ter me encontrado perto o bastante do capitão, mas não existia algo que eu pudesse fazer, ele iria estar embaixo de seu teto, não iria entrar lá sem seu consentimento.

— Tudo bem, espero que eles se recuperem logo. — soltei o ar que prendia, e tirei o cinto para descer do carro e ir até a escola logo, mas antes que pudesse descer do carro, ouvi ele falar pela última vez. — Espero que não tenhamos que conversar mais uma vez, garoto, não gosto de repetir mais de uma vez o básico, e sei que você entendeu.

É, eu realmente tinha entendido.

Não respondi e não falei mais nada, apenas andei em passos rápidos até à entrada da escola que por sinal não tinha ninguém. Passei pelo vigia sem o cumprimentar pela primeira vez em anos já que minha cabeça estava cheia de informações, e fui direto para sala da diretora sabendo que em alguns instantes o pai do capitão estaria lá.

— Bom dia. — ela me cumprimentou antes que eu entrasse. — Você foi um dos poucos alunos que vieram para a aula hoje, Jimin, e isso não me surpreende. Da sua sala só veio o Seokjin, então não precisam ficar.

— Seokjin está aqui? — questionei e a vi afirmar enquanto mexia em alguns papéis.

— Sim, ele acabou de sair, deve estar na sala já que tinha ido pegar alguns livros. — ela suspirou agora me olhando dos pés a cabeça. — Está com roupa de festa, ele me contou que você passou a noite no hospital com Taehyung e Jungkook. Como eles estão?

— Melhorando. — tentei soar calmo, mas a minha cabeça ainda girava com as últimas informações no carro do Jeon. — O pai dele está aqui e vai conversar com a senhora sobre isso, mas eu queria mesmo era informar que iria para casa dormir um pouco, como já fui liberado posso ir?

— Sim. — ela me olhou transbordando cuidado. — Vá para casa e durma bem, se alimente direitinho e amanhã nos vemos. — confirmei com um pequeno sorriso e deixei a sala sem precisar de mais desculpas.

Sai de lá lembrando que amanhã finalmente é sexta-feira e último dia da semana.
Com certeza passaria o fim de semana com Yoongi e Seokjin, contando tudo o que havia acontecido e tentando entender o que tinha se passado naquele carro.

Foi pensando nisso que andei pelo os corredores até a sala de aula, esperando que Seokjin ainda estivesse lá quando eu chegasse, e ele estava, com a caneta na mão e escrevendo algo no quadro, quase pulou de susto quando me viu entrar.

— Que susto, querendo me matar a essa hora da manhã? — ele levou a mão ao peito fazendo o drama matinal, e eu acabei sorrindo um pouco pela encenação.

— Achei que estivesse com o Yeonjun, não sabia que ia te encontrar aqui. — andei pela sala de aula e sentei em uma das primeiras cadeiras, voltando a atenção ao quadro e vendo ele escrever sobre algo relacionado à física quântica.

— A mãe do Namjoon apareceu depois de semanas com o namorado dela, então, me expulsou de lá. — ele voltou a escrever no quadro enquanto falava. — Não queria sair mas não tinha escolha, mandei mensagem para o mimado e ele falou que ia resolver.

— Ele vai deixar Jungkook lá sozinho? — a pergunta fez Seokjin me olhar com a maior cara de deboche.

— Não, seu namorado não ficará sozinho, não se preocupe. — revirei os olhos e cruzei as pernas, vendo ele voltar a escrever, vez ou outra olhando no livro que estava na mesa do professor. — Ele me contou que Jungkook e os pais conversaram.

— Sério? — me sentei melhor na cadeira e o observei atento. — Ele contou o que eles falaram?

Seokjin respirou fundo e parou o que fazia, se virando para mim com uma cara não muito boa. Não que eu esperasse que viesse algo bom daquilo, mas sei lá eu literalmente não tinha feito nada para que eles agissem de forma brusca comigo.

— Perguntaram para Jungkook o que você era dele, e ele não soube responder. Não disse nada, ficou em silêncio, e aquilo só alimentou a paranóia dos pais dele. Segundo Namjoon, eles são homofóbicos, e quando ele entrou no quarto eles estavam brigando com ele, reclamando sobre a moto, reclamando sobre imprudência e coisas que já sabíamos que viria. — ele completou. — Sobre você, Jungkook se recusou a falar. Disse que a vida pessoal dele não era da conta dos pais, e isso só deixou o pai dele mais irritado. Se ele tivesse dito que vocês eram amigos talvez ele parasse com isso, mas acho que ele ter ficado em silêncio não ajudou muito. — eu entendia bem. Dizer que Jungkook era meu amigo foi difícil também, talvez por que eu já me envolvi emocionalmente, ou apenas porque amigos não beijam amigos na boca, bom, não sempre.

— O pai do Jungkook me trouxe até aqui. — contei e vi meu amigo abrir a boca e fechar várias vezes chocado demais com o que ouviu, mas eu não julgava, também fiquei surpreso com isso. — Dentro do carro ele perguntou se eu e Jungkook éramos amigos e eu disse que sim.

— Cristo, Jimin. — ele passou as mãos no cabelo, sentando na mesa do professor de braços cruzados. — Ele disse alguma coisa ruim? Tipo, não conheço ele mas homofóbico deveria ser extinto.

— Ele basicamente disse que me queria longe do filho dele, indiretamente claro. Mas quando desci do carro ele foi bem objetivo, não era para conversamos de novo sobre isso. — apertei os dedos da mão e vi Seokjin olhar para o chão, sem saber o que dizer.

Não tinha nada que pudesse ser dito, e a sorte é que o que eu sentia por Jungkook estava no início, tinha como reverter a situação. Não era como se eu fosse chorar de saudade, ou ir até a casa dele escondido para vê-lo, mas eu mentiria se dissesse que não estava preocupado com ele e com a sua recuperação, queria sim estar com eles mas se os pais dele não queriam então não tinha muito o que se fazer.

— Eles vão mandar ele para a Suíça pelo que eu soube. — fiquei de pé rapidamente após ouvir aquilo, como assim ele iria sair do país?

— O quê? Não. — neguei por impulso. — Por quê?

— Disseram que lá tem o melhor tratamento do mundo para casos assim, e o médico havia dito que seria no mínimo um ano para ele se recuperar das lesões. — levei a mão à testa, e fixei o olhar na parede branca à nossa frente. Um ano? Ele perderia o campeonato assim. — Mas.. na Suíça tem um tratamento que tem a durabilidade de seis meses, se ele for, no meio do ano ele volta e já pode iniciar os treinos leves. Assim, no final do ano ele não perde o campeonato e nem a possibilidade de uma bolsa na faculdade.

Então era isso.

Ele teria a chance de ficar bem mais rápido, só que bem longe e é claro que não tinha o que fazer. Ele não tinha escolha, precisava ir.

— Mas.. — Seokjin continuou, vendo a minha total confusão. — Ele disse que não queria ir.

— Oi? — o olhei e vi que ele não parecia estar brincando.

— Ele soube de Taehyung, e disse que não ficaria longe dele durante o tratamento. O pai dele tentou o convencer de levar o amigo também, mas ele não aceitou. Disse que era ridículo fazer Taehyung viajar só para que ele pudesse fazer um tratamento fora do país, mas no fim, Namjoon disse que ele não queria mesmo era ficar longe de você, Minie.

— Ele é louco? — a pergunta foi retórica, enquanto eu caminhava de um lado para o outro preocupado. — Ele precisa ir. A escola tem um ótimo sistema de aulas online, ele não ia perder o ano, fora que seis meses passa rápido e provavelmente de qualquer forma é o tempo que ele passaria sem vir à aula presencial.

— Nós sabemos. — ele deu os ombros. — Mas a escolha é dele, Jimin. Se ele não quiser ir, então ele deve ter uma segunda opção, não sei.

— Com certeza ele não tem. — Bufei frustrado, já conhecendo bem o gênio que aquele garoto tinha. — Alguém precisa socar na cabeça dele que é o melhor a se fazer, não existe opções. — voltei a sentar na cadeira, deitando a cabeça desajeitadamente no braço, sentindo meu corpo reclamar de exaustão. — Eu também sentiria saudades dele, acredite, foram três longos anos com ele na minha cola todos os dias, mas eu prefiro que ele fique bem. A saudade pode esperar seis meses.

E realmente podia, ou eu achava que poderia, não sei ao certo.

Mas eu não conseguia imaginar não ver mais Jungkook jogando basquete, ou pegando aquela moto dele e saindo por aí a 150km por hora. Era o futuro dele e tudo o que vinha depois que estava em risco, a fratura dele foi algo sério, não dava para brincar com isso.

— Taehyung se lembrou de tudo. — Seokjin contou, ainda me vendo de cabeça baixa. — Ele disse que tem uma ótima clínica em Daegu que vai dar assistência a ele durante o tratamento. Ele também vai precisar de fisio por causa dos braços, então pode ser isso que Jungkook está pensando.

— Eu não sei o que ele está pensando. — entreguei o que estava sentindo. — Eu nunca sei, e parece que o universo conspira contra a gente, e sempre que vamos conversar acontece alguma coisa. Não tenho como saber o que ele está pensando, mas eu queria. — e não queria pouco. Fechei os olhos e comecei a lembrar como isso havia acontecido, porque eu estava me sentindo tão frágil em apenas uma semana, e o que eu poderia fazer em relação a isso.

Não tinha nada que eu pudesse fazer.

Eu literalmente estava gostando de Jungkook pela primeira vez em anos, e ele parecia estar em um ritmo bem mais avançado que isso, mas como eu poderia saber se ele nunca havia conversado comigo sobre isso, ou ao menos tocado no assunto? E agora, como eu poderia saber se parecia que estava dando completamente tudo errado?

Eu não entendia como em tão pouco tempo tudo que eu sentia parecia ter mudado, claro que não podemos adivinhar quando vamos começar a gostar de alguém, ou de que forma isso viria a conhecer, mas parecia que esses dias sucediam rápido demais ou talvez nós estivéssemos sentindo o tempo passar apressado.

Tinha algo que pudéssemos fazer para voltar no tempo?

Eu sabia que era impossível, mas tudo parecia tão impossível agora, talvez sonhar alto demais não fosse um problema.

— Vamos dar um jeito de você conversar com ele, se é isso que você está pensando. — Seokjin voltou a falar, me fazendo o olhar. — Se você acha que conversando com ele, vai fazer ele mudar de idéia, então você fará isso.

— Não tem como. — dei os ombros, já afetado demais com aquilo tudo. — Nayeon vai dormir com ele lá hoje a noite, e eu estou cansado para voltar lá agora, sabemos que provavelmente os pais dele ainda estarão lá, pelo menos a mãe dele está, então.. — voltei a deitar a cabeça no braço da cadeira.

— Não seja assim, nós faremos essa conversa acontecer, acredite no nosso potencial. — ele arqueou a sobrancelha, sorrindo logo depois. — Só que precisa ser hoje, por que parece que o pai dele vai levar ele amanhã.

— Ah é, e como você vai fazer isso? — voltei a ficar de pé, sentindo os meus pés doerem devido a fadiga. — Não há maneira dessa conversa acontecer, não quero ser pego no hospital pelo pai dele, ele já foi claro o suficiente.

Seokjin então ficou de pé e veio até mim em passos lentos, como um gato que dá o bote. — Confia em mim, e verás, meu jovem. Eu faço você conversar com ele a noite, ou eu não me chamo Kim Gostoso Seokjin.

Gargalhei com a fala dele, e ele sorriu grande me passando total confiança no que estava dizendo. Eu não duvidava da capacidade dele, já que quando ele queria uma coisa, ele conseguia, mas eu tinha medo do que poderia acontecer nessa conversa.

Talvez não fosse medo do pai do Jungkook aparecer, e sim medo do que ele me contaria nessa conversa.

Mas eu mentiria se dissesse que não estava ansioso, eu queria muito descobrir o que ele pensava e também saber o motivo para ele ter saído da festa sem ao menos me ouvir. Ele me contaria a verdade? Eu espero que sim, porque faz menos de uma hora que eu estive com ele, e é como se já fizesse dias.

É como se eu precisasse estar perto.

E eu queria estar.

[...]

A tarde havia passado bem rápido e a noite já dava as caras quando a minha avó apareceu. Eu havia comido quando cheguei em casa ainda pela manhã, e dormi o dia inteiro tentando recuperar a noite de sono que não tive por causa da festa, do acidente e tudo o que aconteceu depois, e só acordei quando escutei as panelas batendo na cozinha, deixando óbvio que tinha alguém em casa.

— Oi meu anjinho, senta para comer. — ela falou assim que me viu entrar na cozinha, com os cabelos bagunçados e a cara inchada, eu acabei sorrindo por ver a mesa pronta.

— Já vamos jantar? — perguntei ao ver Jjajjangmyun à mesa. — Não está cedo, vó? São só seis horas da tarde.

— Já está escuro. — ela constatou olhando pela janela. — E você, irá dormir no hospital hoje, não é?

Enquanto levava um pouco de comida à boca, paralisei com a pergunta que ela havia feito. Ela sabia sobre o acidente? Eu tinha apenas dito que ia ficar na casa do Yoongi ou Seokjin.

— Como a senhora sabe disso? — ela sorriu ainda de pé, próximo a pia onde lavava alguns pratos.

— Seokjin ligou para você, mas você está dormindo, então ele ligou para o telefone residencial, meu filho. Eu atendi e ele pediu para que você estivesse lá às sete horas, que no caso, daqui a uma hora. — ela avisou, quase me fazendo engasgar com a notícia. — Ele me contou sobre o acidente, e eu fiquei muito surpresa com o que aconteceu. Não se preocupe, você pode ajudar os seus amigos, aquele jovem rapaz que veio te buscar na noite passada sofreu um grave acidente pelo que ele me contou, então está tudo bem você ir, só me ligue para dar notícias, sim?

Oh céus, ele havia conseguido.

Depois que saí do colégio ele deve ter feito o plano dele funcionar, e é claro que ele conseguiria. Nunca duvidei, só as primeiras vezes que ele me contou se quiserem saber, umas dez para ser exato.

Terminei de comer rápido porque eu tinha pouco tempo, e logo corri para o quarto atrás do meu celular que estava no carregador. Tinha quinze ligações perdidas do Seokjin, fora as mais de cem mensagens no grupo de amigos, onde cada um falava uma coisa e já estava me deixando tonto.

"Seokjin mudou o nome do grupo"
De: Deuses do Olimpo
Para: "Plano 2.0 today"

Seokjin adicionou Taehyung
Seokjin adicionou Namjoon
Seokjin adicionou Hoseok

| Gente, o que rolou? [18:32]

| Hwasa: ainda está em casa?
venha logo para o hospital. [18:33]

| Seokjin: achei que tinha morrido,
liguei mil vezes nessa porra. [18:34]

| Taehyung: oi gostoso, lembra
de mim? [18:35]

| Taehyung sjjsjsjsj [18:36]
Eu já estou saindo, qual o plano?

| Namjoon: o plano é: você vai dormir aqui  com o Jungkook hoje, e eu vou dormir em casa. Ele quase chorou porque você foi embora e não se despediu. [18:37]

| E a Nayeon? [18:37]

| Seokjin: duvidou do meu
potencial? [18:40]

| Hwasa: relaxa, deu tudo certo.
te contamos quando você chegar. [18:41]

| Já avisaram ao Jungkook? [18:42]
Ele pode sei lá, querer a Nayeon aí
né kk

| Namjoon: ele quase ficou de pé
quando soube que você vinha [18:43]

| Yoongi: emocionado. [18:45]

| Iti kk chego já por aí.
Aviso quando estiver perto. [18:46]

|Yoongi: belezinha. [18:49]

Terminei de trocar mensagens e fui trocar de roupa esperando que desse tempo, já que eu ainda precisaria chamar um Uber. Tentei ser o mais breve possível buscando roupas leves, e não esquecendo de pegar o celular.

Me despedi da minha avó, e fui correndo para a entrada do prédio rezando para que não demorasse, afinal, eu estava realmente ansioso para saber o que seria daquela conversa. Falei ainda um pouco com os meninos no grupo, e eles afirmaram que iria dar tudo certo e que estava tudo pronto para que eu chegasse.

Os pais dele estavam em casa, Nayeon parecia que não estava por lá, então não havia nada que nos impedisse de ter a tal conversa. Tudo estava fluindo bem, e eu acreditava fielmente que de algum modo, aquela conversa poderia de fato mudar algo entre nós dois.

E quem sabe, isso poderia ser o início de uma bela história de amor, ou algo bem clichê.

🏀

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