1- quando você conhece alguém
Não esqueça o votinho ⭐
Jeju, Korea.
( 05.02.2009 )
Park Jimin
Até os meus dez anos de idade, morei em uma cidade chamada Jeju, onde todas as pessoas que eu conhecia eram apressadas e sem tempo algum para viver. Digo isso porque os meus pais eram desse tipo, ocupados. Ocupados a ponto de levar trabalho para casa, virar a madrugada trabalhando só para no outro dia trabalhar ainda mais.
Era como um ciclo vicioso.
Não que eu pudesse reclamar de algo, afinal, ainda era muito novo, e também não me faltava nada, então, era como se o esforço deles de alguma forma fosse para pagar com dinheiro a falta que eles me faziam. Não que eu quisesse alguma coisa daquilo, eu só queria mesmo era passar um tempo com eles. E só quem parecia notar isso era a minha avó, Park Jihye, ela nunca me deixava sozinho.
Sempre saia de Seoul e ia até a minha casa em um dos bairros nobres onde nós morávamos. E apesar de amar a presença dela, e adorar ela em nossa casa — principalmente por eu me sentir muito sozinho, — eu também sentia pena por uma senhora sair de sua cidade sozinha e ir até outra tendo poucas condições financeiras, já que a minha mãe parecia não ligar para os problemas da vovó. Com apenas dez anos eu notava isso, e parecia muito triste aos meus olhos.
Era triste não amar uma mãe que fazia tudo por você.
Então, sempre que eu a encontrava, tentava demonstrar todo o meu amor fazendo desenhos, pintando, escrevendo cartas, coisas de criança. Presenteava ela com pulseiras que eu mesmo fazia, brincava de carrinho e bonecos com ela, e sempre deixava ela ganhar quando jogávamos xadrez.
Passávamos o dia inteiro juntos e acabou que em um desses nossos encontros, recebemos a pior notícia de nossas vidas, fazendo tudo mudar de uma só vez como um vendaval que chega sem ao menos dar um sinal.
Meus pais sofreram um acidente grave.
Inicialmente vimos a notícia na tv, e só depois foi que recebemos a ligação da polícia e do hospital pedindo para que fossemos até lá. Lembro como se fosse hoje.
A tv mostrava um carro colidindo com uma carreta enorme, que acabou capotando e empurrando o carro para fora da ponte onde estavam.
O carro caiu dentro do rio.
Quando vi o noticiário, conheci imediatamente o veículo que eu próprio ajudei a escolher. Papai havia feito questão de me perguntar o que eu achava naquela época, e claro que como criança amante de desenhos animados e apaixonado por super heróis, escolhi um de cor vermelha, que me lembrava constantemente do homem aranha e fiquei bastante feliz pela escolha.
Mas eu não disse nada.
Sufoquei a dor e a agonia que senti porque tinha medo de dizer a vovó e ela passar mal. E se ela passasse mal, o que eu faria? Era pequeno demais, com medo demais, e eu só pedia aos céus em meus pensamentos que se fosse realmente eles, que se fosse realmente verdade, eles estivessem vivos.
Mas mamãe não sabia nadar, e aquilo martelava em minha cabeça.
Foi quando o telefone tocou que eu havia entendido tudo. Vovó chorou incansavelmente, enquanto me abraçava em seus braços magros buscando também o consolo que eu nem sabia que precisava.
A partir daquele momento eu só tinha uma pessoa em minha vida, e os meus pais que sempre fizeram tudo por mim haviam partido. Mas era como a minha avó sempre dizia:
“As lágrimas podem vir à noite, mas você precisa sorrir pela manhã. A dor não é para sempre, mas a saudade sim, e você precisa aprender a lidar com ela.”
Dias atuais, Seoul.
Fazia trinta minutos desde que me sentei em uma das mesas do refeitório, olhando absolutamente para lugar nenhum enquanto roía minha unha, constantemente tentando parar de pensar no que aconteceu alguns minutos atrás.
Veja isso. Não sou uma pessoa que costuma reclamar do trabalho no início do semestre. Por favor? Mas nas circunstâncias certas, seria um grande problema. E eu definitivamente teria que trabalhar mais do que o normal, e olhe que eu já fazia mais do que o suficiente.
Parecia um suplício.
— Ei, está pensando em quê? — Yoongi sentou ao meu lado segurando sua bandeja, enquanto tentava a equilibrar junto com seu próprio celular que estava em sua outra mão. Acabou conseguindo.
— Ainda não acredito no que a professora fez — ofeguei alto e deitei na mesa encostando a minha cabeça nos meus próprios braços. Tinha sido um péssimo jeito de começar o ano, como um castigo colossal.
— Não vai durar muito tempo, você sabe — meu melhor amigo gesticulava conforme levava a caixinha de suco à boca. Parecia alheio a situação em si. — Você só precisa dar um jeito de fazer ele se interessar no assunto, fora isso não vai ser tão difícil.
Falou o cara que vai fazer com Jung Hoseok.
Entretanto, para você entender melhor a situação onde me colocaram, você precisa conhecer os quatro caras mais famosos de toda a escola e bom, eu vou tentar de explicar de uma forma que dê para entender toda essa minha decepção súbita.
O primeiro cara que você precisa conhecer para poder julgar por si só, é Kim Namjoon.
Kim Namjoon é o cara mais aleatório que você irá conhecer, acredite. Ele literalmente é o garoto mais inteligente, não só da sala, como de toda a escola sem dúvida alguma. Só que ele simplesmente não gosta de estudar. Não é que ele não tenha capacidade, porque bom, ele já provou para todos que quando de fato quer se concentrar na aula, e mergulhar no mundo da sabedoria, ele deixa Kim Seokjin no chinelo. E olhe que meu melhor amigo é um dos alunos com as maiores notas já existentes.
Um garoto prodígio.
Mas parece que aquele jogador de basquete metido a galinha não tem noção nenhuma quando se fala de boas notas. E acaba sempre tendo que ficar em recuperação, todos os anos, como de praxe. Fora que só vive na detenção, e recebendo suspensão logo que só se mete em confusão junto com os outros amigos. Um total desperdício de QI se quiserem saber. Mas em relação a ser mulherengo, não é como se as pessoas pudessem julgar esse ponto não tão peculiar. Todos os garotos dessa escola parecem estar em total sincronia quando o assunto é hormônios.
O que gera vários problemas para a direção.
O segundo mais conhecido da escola inteira, é Kim Taehyung.
Taehyung é um exemplo vivo de "come quieto", você já ouviu essa expressão?
Esse cara literalmente já passou o rodo na escola inteira, segundo boatos dos próprios alunos. Mas quem olha para a carinha doce e inocente de Taehyung, não imagina o quão namoradiço ele é. Bom, pelo menos ele não esconde isso de ninguém. Academicamente falando ele tira boas notas apesar de que fica mais tempo flertando com as meninas do que copiando alguma coisa, mas no geral, ele é o menos bagunceiro.
Porém não se engane, se tem algum tipo de problema acontecendo na escola, com certeza ele está envolvido junto com os amiguinhos dele. É aquela coisa estranha de amizade em acervo.
O terceiro garoto que está entre eles, finalmente é Jung Hoseok.
Aquele cara é o cara mais galanteador que você irá conhecer. Pois veja bem, ele consegue chamar cem por cento de atenção por onde passa, graças a sua simpatia e seu sorriso que parece contagiar todas as pessoas ao seu redor.
Definitivamente uma fábrica de aptidão.
Ele é praticamente bom em tudo o que faz. Joga basquete, já fez aulas de teatro, passou pela equipe de música e xadrez, ajudou na cantina, jogou vôlei com a turma vespertina, fora que fez trabalhos sociais promovidas pela a escola, e ainda tinha tempo para os treinos e para lidar com todo tipo de boato que já criaram sobre ele. E para que você saiba, não foram poucos. Mas isso não é assunto para ser discutido agora, você vai entender mais lá na frente.
E por último, e bem menos importante, Jeon Galinha Jungkook.
Bom, ele é o pior de todos.
O cara literalmente não faz nada, e ainda assim é o garoto mais popular e conhecido da escola inteira. Mas sobre ele não fazer nada, foi uma blasfêmia, desculpe. Ele de fato faz, e eu vou dar exemplos para que vocês fiquem a par da situação.
Jeon Jungkook já se meteu em mais brigas do que você possa contar. Ele é o típico garoto rebelde, que não pode ser contrariado de forma alguma que já explode com uma facilidade absurda. Não é que ele seja um cara educado, ele não tem um pingo de educação. Ele age por impulso, sem ao menos tentar esconder seus atos, porque na verdade ele gosta da atenção que recebe.
Bom, pelo menos é o meu ponto de vista, você sabe, não gosto de julgar.
— Como se eu fosse obrigado a fazer esse cara se interessar pela matéria, sendo que a obrigação é dele — suspirei frustrado. — Com certeza me colocaram com ele porque ele está com nota baixa.
— Seokjin disse que ele, Namjoon e Hoseok estão — o vi dar os ombros e voltar a comer. — Não me preocupo porque sei que Hoseok vai ajudar, mas os outros dois.. — ele suspirou pesado.
— Eu odeio o Namjoon! — Seokjin que estava chegando próximo a mesa gritou sem se importante com quem ouvia, atraindo atenção de alguns alunos que estavam perto. — Nossa, ele é insuportável, juro — colocando a bandeja na mesa, o meu vice sentou enquanto levava o cotovelo a plataforma lisa apertando os próprios cabelos com as mãos. — Ele vai me enlouquecer, e olhe que não faz nem trinta minutos direito que a professora anunciou o trabalho.
— Credo — Yoongi falou enquanto comia sorrindo pela voz abafada.
— O que ele fez agora?
Perguntei, mas sinceramente já esperava de tudo. Nada mais me surpreenderia vindo daqueles garotos que mais parecia o f4 dos dramas, e olhe que isso nem era elogio.
— Vocês acreditam que ele estava mexendo nas minhas coisas? E quando eu cheguei lá, ele ainda teve a cara de pau de dizer que estava procurando um papel para anotar o número dele — ele bufou. — Quem caralho quer o número dele?
Yoongi gargalhou pela implicância de Jin e acabou levando um tapa do mesmo para que parasse com a zombaria. Não era como se Yoongi pudesse opinar visto que ele não se importava com a hierarquia da escola.
— Mas Jinie, você não precisa do número dele? — perguntei e recebi um olhar ameaçador em troca. Certo, quem eu queria enganar? Não era como se a gente fosse obrigado a passar nossos números pessoais, vai que dá algo errado.
— Você vai passar seu número para o Jungkook, Park Jimin?
— Não.
— Foi o que eu pensei — dando os ombros, ele começou a comer me deixando pensativo sobre o assunto.
Hwasa havia dito que depois da detenção falaria comigo sobre um plano que tinha para que eu conseguisse sair arrastando o jungkook até a minha casa. O problema é que eu não sabia bem se era aquilo que eu queria, porque veja bem, não seria melhor fazer sozinho e evitar dor de cabeça, do que fazer com ele e enlouquecer em apenas alguns dias?
— A próxima aula é de inglês, Minnie — Yoongi ditou conforme limpava a boca com o guardanapo. — Significa que o Jeon estará na sala. Você pode aproveitar e ir falar com ele sobre isso.
Tentei o máximo ser imparcial sobre esse assunto mas sempre que penso que irei me virar sozinho, pesquisar sozinho e passar noites acordado para apresentar algo no mínimo apresentável sozinho, me lembro do quanto o jungkook não merece essa nota já que vai estar fazendo qualquer outra coisa que não seja me ajudando.
Então acabei decidindo que iria falar com ele, porque se pelo menos ele entendesse que daria certo tirarmos apenas uma hora do nosso dia para se dedicar a isso, então as coisas andariam bem, sem precisar de desentendimentos ou brigas futuras.
[...]
Quando o sinal tocou, eu, Yoongi e Seokjin decidimos voltar logo para sala, antes da professora nos pegar e nos dar uma bronca.
Mas acreditem, a primeira coisa que vimos quando chegamos no local foi Jeon Jungkook, sem camisa, usando apenas uma calça nada decente apertada, e acreditem, aquela calça deveria ser proibida dentro da escola, porque marcava completamente tudo. Inclusive suas pernas, bunda e outras coisas que eu não notei.
— Papai Noel chegou mais cedo esse ano? — Hwasa perguntou assim que parou na porta onde estávamos paralisados, fazendo todo mundo rir. — Porque o tamanho desse saco, garoto..
As gargalhadas foram ouvidas, e tinha gente até que não era da nossa sala presente. Porém a sala não tinha um líder ainda, então não existia pessoa sequer que pudesse acabar com aquela palhaçada.
— Fala alguma coisa, Jiminie. Você era o líder ano passado! — Seokjin acabou me lembrando desse fato e me empurrou devagar para dentro da sala. Mas poxa, ele sabia que não era assim que funcionava.
— Eu era ano passado Seokjin, esse ano a diretora ainda vai escolher.
— Calado homofóbico, você sabe que será você de novo, não sabe? — quem falou foi Yoongi, esse que não tirou os olhos de jungkook nem por um segundo. — Ele é cheio de tatuagens né? Aquela ali no peitoral é-
— Yoongi, eu não quero saber. — cortei rápido. — Por favor, mantenha a decência.
Revirei os olhos, porque veja só. Aquele era o tipo de atenção que aquele garoto queria e Yoongi estava dando, céus, eu joguei pedra na cruz?
— Estão fazendo tumulto aqui na porta, por quê? — a professora apareceu de repente e cruzou os braços esperando que entrássemos. — Espero que tenha gostado da detenção de hoje, senhorita Ahn Hye-jin.
Hwasa que ainda estava conosco e nem havíamos percebido, adentrou a sala arrancando sorrisos por ficar imitando a professora, fazendo mímicas e remexendo a cabeça com total deboche. Ela não ligava para nada ou para ninguém, então não se importou por estar sendo observada.
— Park Jimin, a diretora quer falar com você — a professora sussurrou para que só eu ouvisse. — Depois da aula você pode passar lá na sala dela, certo? Vou encerrar mais cedo hoje.
Confirmei com a cabeça e entrei sem me preocupar com o assunto. Sabia bem o que era, já que todo ano durante esses três anos havia sido assim. Ele apenas iria anunciar que eu era o novo líder, então, divulgaria formalmente.
E quando sentei na minha cadeira de sempre, uma das primeiras fileiras na sala, e abri o meu caderno, veio um flashback bem estranho na minha cabeça. A primeira vez que pisei na escola e no mesmo dia fui nomeado líder. Realmente foi algo que não pude esquecer.
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Escola East High - Três anos atrás.
( 09.02.2016 )
— Vó, eu não vou me encaixar nessa escola. — enquanto andava pelos corredores ao lado da minha vozinha, ela segurava forte a minha mão como se tivesse um enorme cuidado para que eu não fugisse, mas acreditem, era exatamente o que eu queria fazer.
— Claro que vai, meu filho. Você é muito inteligente, tenho certeza que irá fazer amigos rapidinho, hum? Não se preocupe com isso — com a voz branda, ela falou sorrindo conforme ainda andávamos devagar, no ritmo dela, visto que era uma senhora que sentia várias dores em suas articulações. Mas isso não a impedia de fazer o que queria, tanto que estávamos ali às sete horas da manhã.
— Vovó, a senhora não acha melhor me colocar em uma escola mais barata? Isso aqui deve ser muito caro, mesmo que eu tenha uma bolsa de estudo, não é cem por cento, e-
— Você não deve se preocupar com isso, meu filho. Se preocupe apenas em estudar, tudo bem? A sua avó sempre sabe o que fazer — ela falou baixinho como se fosse um segredo e eu sorri negando repetidamente.
Não era como se eu fosse conseguir fazer ela mudar de ideia, então apenas segui com o seu plano sem reclamar.
Mas foi quando a gente chegou na porta da diretoria que nos surpreendemos com o que vimos. Dentro da sala, estava a diretora de pé, tendo três jovens em sua frente sendo repreendidos enquanto estavam de cabeça baixa.
Os três usavam uniforme de algum time que eu não fazia ideia do que poderia ser, mas era bem bonito, um tecido vermelho com números grandes na frente e um leão estampado pequeno da parte das costas, parecia legal.
— Eu estou cansada de falar com vocês, de verdade — a voz da diretora aumentava gradativamente enquanto ela passava as mãos nervosas pelo cabelo curto. — Hoje é o segundo dia de aula, segundo, e vocês já estão dando problemas?
— Nós-
— Silêncio, Jeon Jungkook. Eu tenho certeza que isso foi ideia sua, não adianta tentar explicar. — ela cortou o rapaz voltando a andar até a sua mesa, levando a atenção ao computador. — Foi tudo filmado e vocês sabem disso. Inclusive, estou decepcionada com vocês Hoseok e Taehyung, não esperava isso dos dois.
— Professora, nós-
— Com licença — minha avó cortou a fala do rapaz que usava uma camisa com o número nove, e me puxou para dentro da sala com ela sem sequer se importar com o que estava acontecendo minutos atrás.. Eu corei na hora quando notei que todos nos olhavam de forma curiosa, odiava atenção, e estava recebendo de todos ali. — Eu sou Park Jihye, falei com a senhora no telefone.
A jovem diretora que estava minutos atrás com o rosto já vermelho de tanta reclamação, mexeu nos papéis na mesa e sorriu quando voltou a atenção para nós dois. Parecia feliz em nos ver.
— Senhora Park, que prazer conhecê-la. — ela ficou de pé, fazendo uma reverência desajeitada, enquanto voltava a atenção aos garotos que ali estavam para que fizessem o mesmo, e eles fizeram.
Menos o de camisa com numeração 9, ele parecia estar ocupado me olhando. Estranho.
— O prazer é meu, minha filha. — minha avó sorriu e olhou para os garotos com um sorriso ainda mais caloroso. Parecia ter gostado deles.
— Esse é o seu neto, senhor Park Jimin, certo? — A diretora saiu de trás de sua mesa e se aproximou de onde estávamos para me cumprimentar de modo formal.
— Sim sou, por favor cuide bem de mim — fiz uma reverência rápida, e me pus reto novamente e bem rápido, porque estava tenso demais sob os olhares intensos dos garotos.
Odiava ser novo, em uma escola nova. Era a pior sensação do mundo, eu juro.
— Fofo — ela falou sorrindo voltando a olhar para os outros alunos. — Parece que finalmente teremos alunos corretos na turma do primeiro ano, não acham? Park Jimin, Kim Seokjin e Min Yoongi chegaram hoje e eu já sinto como se eles fossem a salvação dessa turma.
Olhei para o chão e senti meu rosto esquentar com a constatação da diretora. Tudo era tão novo, e ainda precisava acontecer daquela forma esquisita.
— Professora — um aluno loiro e alto chamou a atenção de todos quando passou rápido pela porta, vestindo também um uniforme vermelho número onze, ele parecia ofegante por ter corrido até ali. — Desculpem interromper. — seus olhos vagaram por todos os outros garotos que estavam ali e ele acabou franzindo o cenho e voltando o olhar para mim.
— O que quer, senhor Namjoon? — a diretora se irritou com os olhares alternados que olhava para mim, e para o aluno que ainda me encarava, me deixando ainda mais confuso. Por que me olhavam tanto?
— É que bom — ele pausou, engolindo a seco antes de voltar a falar. — O treinador está chamando eles. Quer todo mundo na quadra, agora.
Céus, que tensão.
No momento em que ele anunciou aquilo, o garoto que já me olhava a bons minutos, olhou para ele assustado como se negasse aquele pedido. Mas não era como se pudesse fazer alguma coisa, afinal parecia importante.
— Ele vai punir os três diretora, palavras dele — o rapaz olhou para mim ladino e saiu da sala passando pelo os três garotos, ele sussurrou algo que não entendi muito bem. Mas o garoto de camisa número 9 abaixou o olhar imediatamente, como se tivesse sido repreendido. E isso me deixou ainda mais envergonhado.
— Vocês três podem ir para a quadra, e eu espero muito que não aconteça novamente o que aconteceu hoje!
Os três concordaram freneticamente com a cabeça antes de se despedirem com uma reverência torta, sem sequer olhar para ninguém ali.
Mas o de número nove me olhou uma última vez antes de sair pela porta e seguir o seu caminho, me deixando tenso e confuso para trás. Ótimo.
— Espero que eles não tenham feito nada tão grave — minha avó falou gargalhando um pouco pela situação, atraindo a minha atenção de volta para si.
— Eles encheram a piscina de papel higiênico, soltaram bombas nos banheiros, riscaram todos os armários, de todos os corredores com tinta preta, e ainda tiveram a coragem de mentir descaradamente, sendo que a escola inteira tem câmeras e todos nós vimos.
Eu abri bem os olhos pelo choque e vi a minha avó fazer o mesmo antes de voltar a me olhar com preocupação.
— Não tenho mais certeza se esse é o colégio certo para você, meu neto.
Sua voz era baixa e com um tom melancólico que eu conhecia bem. Mas eu não deixaria que ela pensasse que eu precisaria de tanta mordomia assim. Provaria que era capaz de ficar em qualquer escola, mesmo que passasse por algumas dificuldades. Afinal, eu faria amigos, não faria?
— Não vou estar sozinho vovó, não se preocupe. — sorri grande, segurando as suas mãos, e deixando um beijo nas suas duas palmas. — Farei amigos, a senhora mesmo disse.
Concordando e respirando aliviada, ela voltou a atenção para a diretora e sentou na cadeira à frente para conversarem sobre toda a burocracia.
E assim iria iniciar meu primeiro dia de aula. Em um colégio novo, e com alunos problemáticos. Mas em todo colégio tem isso, não faria diferença ser aquele ou outro. Eu me daria bem, sabia disso.
— E você, Park Jimin, será incluído na votação para líder de turma hoje. Eu irei decidir mais tarde, suas notas são excelentes e você parece alguém calmo e perfeito para o cargo. Se der certo, te chamo novamente aqui. Tenha um bom primeiro dia.
Bom, ou não me daria tão bem assim não é?
Dias atuais
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— Certeza que é para te contar que você vai ser líder de novo — Yoongi cochichou atrás de mim, olhando para ver se a professora iria notar, mas não notou. Então ele continuou. — Antes de ir, fale com Jungkook. Espere sair todo mundo, porque ele sempre é o último a ir embora, e aí você tenta convencer ele.
— Acho isso um tanto injusto — respondi enquanto copiava o conteúdo do quadro, ainda sem olhar para trás. — Preciso convencer um garoto a fazer um trabalho escolar, o quão estúpido isso é?
Ora pois, desde quando eu havia virado babá de marmanjo? Jungkook estava sempre rodeado de pessoas que faziam tudo o que ele queria a todo momento, isso não significava que eu iria fazer também. Afinal, nesses três anos que estou aqui, nunca fiz de qualquer maneira, não ia ser agora que iria fazer.
— Bom, então deixe ele sem nota. — Yoongi disse, parecendo finalizar o assunto.
A questão era: o time de basquete.
Se a professora me colocou com ele, significava que ele precisava de boas notas. E quando falam que um jogador do time precisa de boas notas, isso significa que ele está a ponto de ser expulso.
Não que isso me interesse, porque veja só, não interessa.
Mas a questão é que eu não quero ser o cara que tirou o capitão do time de basquete do jogo. Porque acredite, é isso que vai acontecer se eu simplesmente ignorar a existência dele e fazer sozinho. Vou acabar com uma péssima fama, e sendo acusado por todos que gostam dele, e isso quer dizer, a escola inteira.
Não, não quero essa atenção desnecessária.
— Não deixe ele sem nota. — Seokjin que estava sentado na minha frente falou baixinho para que não ouvissem, a professora de inglês era bem severa. — Se você fizer isso, vai ser julgado, condenado, amordaçado, crucificado pela escola inteira. Acredite, eu pensei em deixar aquele bobão do Namjoon, sem nota. Mas, eu prefiro evitar a fadiga futura.
Realmente..
O que você precisa entender é que às vezes nós precisamos insistir em algo impossível, para lá na frente não se arrepender. Então, esse era o caso com o capitão do time de basquete. Eu precisava fazer ele se interessar pela matéria que era história e fazer ele entender que precisava me ajudar apenas com vinte por cento para eu fingir que ele fez — de fato — alguma coisa que preste. Agora como eu ia fazer isso, é que eu não sabia.
Então, foi assim que eu perdi a aula inteira de inglês. Fiquei pensando enquanto olhava para o teto, perdido nos meus próprios pensamentos, sobre como convencer aquele galinha a tirar um tempo para mim apenas uma vez.
Só notei que o sinal havia tocado, quando vi todos de pé arrumando suas próprias coisas.
— Ei — Hwasa surgiu na minha frente vestindo sua tradicional roupa de vôlei. Ela ficava linda com aquele uniforme, bom, acho que não existia uma roupa que não combinaria com ela. — Vou te contar o meu plano infalível para você colocar Jeon Jungkook contra a parede! — ela exclamou baixinho falando animadamente, sentando de frente para mim na cadeira. — Só que você precisa ser corajoso, porque bom, requer você vim aqui na escola a noite e entrar no vestiário sozinho com ele.
— O quê? Não!
— Ora vamos! Você é um homem ou um rato? — ela perguntou, chegando mais perto quase colando as nossas testas para me intimidar. O que funcionou é claro.
— O rato está seguro nessa história?
— Olha, vou te dar um tempo para pensar, certo? Caso você aceite, eu venho com você para você não ficar sozinho. Só me ligue antes, porque tenho treino hoje a tarde. Se desistir, tudo bem também. Você faz sozinho e dá a nota a ele — ela sorriu enquanto falava a última frase debochadamente.
Até parece que eu daria tudo o que Jungkook me pedisse de mão beijada.
— Ligo pra você mais tarde — falei olhando para os lados, precisava falar com Jungkook. Talvez nem fosse necessário vir à noite se conseguisse agora. — Te confirmo depois, tudo bem?
— Fechou, meu doce.
Revirei os olhos no instante em que ouvi a última palavra, porque veja bem, eu sabia que ela tinha escutado o que Jungkook havia sussurrado no meu ouvido mais cedo.
Hwasa parece uma alma que está em todo canto e em todo lugar. Às vezes me assusta.
Fiquei de pé e comecei a arrumar as minhas coisas, percebendo que Seokjin e Yoongi provavelmente me esperavam na sala da diretora, como sempre em todo início de semestre. Busquei Jungkook na sala e notei que ele estava sentado ainda, anotando alguma coisa em uma prancheta, todo concentrado, enquanto os amigos dele saiam da sala.
Ótimo, perfeito. Essa é a minha hora.
Coloquei a mochila nas costas e respirei fundo tomando coragem para ir até ele, mas só bastou eu dar um passo em sua direção para ver uma certa líder de torcida invadir a sala pulando e pulando, enquanto segurava aquela coisa redonda que elas balançam animadamente na quadra. Acho que nunca ninguém soube o nome daquilo, bom eu não sabia. Seu uniforme também era vermelho, e tinha listras brancas na ponta da saia, combinando totalmente com o uniforme que Jungkook agora vestia.
Nem tinha sequer notado que ele havia trocado de roupa.
— Jungkook oppa.. — a garota falou manhosa a última palavra,nem notando que eu ainda estava ali e observava. — Você prometeu que me levaria para almoçar hoje.
O garoto nem ao menos olhou para a menina, continuou escrevendo concentrado enquanto mordia os lábios parecendo insatisfeito.
— Tenho treino. — seco e rude, ele respondeu.
— Eu também tenho, mas eu posso tirar um tempo pra você hoje.
— Mas eu não posso, Nayeon. — ele disse parando de escrever e suspirando frustrado. Parecia estar fazendo algo importante.
— Tudo bem, me liga quando puder.
A garota deu as costas e saiu andando devagar, perdendo toda a animação com a qual havia chegado. E aquilo me deixou com ainda mais raiva, afinal, quem ele pensava que era?
— Você não tem educação não? Seu mal educado — falei alto agora atraindo a atenção dele, que me olhou sem surpresa alguma nos olhos após notar que estávamos sozinhos naquele instante.
— Ora ora, se não é Park Jimin — ele falou sorrindo ladino, típico de quando ele se preparava para soltar seu veneno. — Não sabia que meu fã número um estava aqui me olhando. Se eu soubesse, tinha ido até aí te fazer um carinho, doçura.
Eu já falei o quanto eu odeio esse apelido ridículo?
— Você não cansa de ser idiota não? E o nosso trabalho, Jungkook? Quando vamos começar?
Dando um sorriso nasal, Jungkook soltou a caneta e ficou de pé rapidamente, me fazendo instintivamente dar um passo para trás. O que foi ridículo diga-se de passagem, visto que ele ainda estava do outro lado da sala. Mas ora, não me julgue. Ele é intimidador.
— Achei que nós já havíamos conversado sobre isso mais cedo, meu doce. Lembro claramente de dizer que estava ocupado com os treinos — sua voz era pura calma, e aquilo contradiz o que ele de fato era. Acabava sendo estranho ele falar naquele tom, porque não é como se ele fosse modelo de leveza e paciência. — Disse até que daria o meu melhor por você, está lembrando?
Seus passos pareciam passos de um lobo que estava prestes a atacar sua presa, lentos e precisos, enquanto suas mãos balançavam rente ao seu corpo, me fazendo engolir a seco pela a visão que tinha. Então, quando ele já estava chegando perto, por algum motivo meu coração começou a bater muito forte, quase como se fosse pular para fora de tão rápido que estava.
Obviamente era o medo.
— Você sabe que não posso fazer tudo sozinho, Jeon. Por favor, tire apenas uma hora. Não é necessário mais que isso, você sabe. — Sim, eu falei repetidamente a mesma coisa praticamente, porque parecia que o meu cérebro tinha entrado em pânico e havia desconfigurado. Odiava aquele sentimento ridículo de insegurança, porque era assim que eu me sentia perto dele, e já faziam três anos.
— Você está nervoso, Park? — com um sorrisinho lascivo nos lábios, ele se aproximou ainda mais parando de frente para mim, invadindo totalmente o meu espaço pessoal. Por isso, acabei levando as duas mãos para trás me apoiando na mesa. Sim, ele é um desgraçado. — Não precisa ficar, você sabe bem que gosto de meninas, não sabe?
— E o que isso tem haver com o trabalho, Jungkook? Não seja ridículo.
— É que me contaram por aí que você anda ficando com o Kai e eu sinceramente fiquei surpreso.
Meus olhos quase saltaram da cara quando ele falou sobre aquilo.
Por que veja bem, eu não ando ficando com o Kai, isso foi um boato que criaram sobre mim no fim do ano passado, quando na festa de fim de ano, eu acabei ficando com ele e foi apenas isso. Ficou muito confuso né? Eu sei, mas estou nervoso para explicar de uma forma mais clara..
Tentando resumir, algum engraçadinho viu e saiu espalhando que eu estava em um relacionamento com ele, — que inclusive também é do time de basquete, — como se realmente soubesse que aquilo era verídico. Mas a realidade era que ele queria ficar comigo mais vezes, até me ligou querendo marcar algo, só que sabe quando não existe química nenhuma e você só se dá conta depois que faz a merda? Pois é, foi bem isso que aconteceu.
Não que tenha sido ruim ficar com ele, não é isso. Kim Jongin é um cara muito bonito e com uma pegada que...céus.
Mas não existia química alguma, tanto que depois o Seokjin olhou para minha cara e riu, afirmando que havia visto de longe e quase correu para fora com o tanto de radiação, vocês acreditam? Eu não entendi essa parte. Mas não julgo ele, ele não gosta de nenhum do time de basquete mesmo.
— Eu e o Kai não é da sua conta, Jeon. Se preocupe apenas com o trabalho, não com a minha vida pessoal — dei os ombros e olhei para qualquer outro ponto da sala que não fosse seus olhos. Eu tinha medo de olhar para ele e querer cair no soco, então era melhor evitar.
— É que eu não sabia que você era bi, você sabe, nessa sociedade preconceituosa de hoje eu achei que-
— Não sou bi, era isso que queria saber?
Vi Jungkook franzir o cenho inclinando a cabeça para o lado, parecia confuso.
— Ué, então você.. — ele pausou. — Você é gay?
Eu sorri desacreditando que ele realmente tinha tido a coragem de perguntar, ele sempre era indireto com as suas questões. Como foi que aquela conversa chegou naquele ponto?
— Você não é? — perguntei e o vi levar a mão ao peito, como se tivesse levado um tiro. O quão dramático e sem noção ele era? Falar sobre o trabalho que é bom ele não queria.
— Você já deve saber que não sou.
— Bom, você está quase grudado em mim caso ainda não tenha notado — falei e corei imediatamente, porque veja só, não sou o modelo de coragem que vocês imaginam. E para falar aquilo, precisei de bastante ousadia, coisa que geralmente não tenho. — Se alguém ver a gente assim agora, o que acham que vão pensar, senhor galinha hétero?
Contra gosto, vi Jungkook olhar para baixo notando que de fato estava tão próximo que um pequeno passo e seu corpo estava fundido no meu. Ele subiu o seu rosto e olhou de volta para mim, parando ali por um instante com um olhar indecifrável, antes de dar dois passos para trás tossindo.
— Sobre o trabalho.. — ele pigarrou, molhando os lábios logo depois, e olhando para os lados como se tivesse feito algo errado. — Estou sem tempo.
Revirei os olhos e estava pronto para responder, mas ele só deu os ombros e saiu da minha frente, voltando para a sua mesa onde estava suas coisas.
— Jungkook, você-
— Tenho treino agora, Jimin — ele falou, arrumando as coisas às pressas, segurando tudo de uma forma desajeitada. — Estou atrasado.
Hum.
Era por esse motivo que eu não havia feito sequer um trabalho com ele em três longos anos de ensino médio. Porque ele era assim, desleixado e grosso, como se ele tivesse razão o tempo todo e quisesse tudo na boquinha, sem ao menos fazer por merecer
Sem olhar para trás, ele saiu da sala me deixando sozinho sem ao menos dar uma resposta sobre o trabalho. Não que eu esperasse muita coisa, mas ao menos ele podia ter mentido dizendo que tentaria fazer o possível.
Ora, esse capitão de uma figa.
Suspirei e resolvi que seria melhor ir me apresentar logo na diretoria já que meus amigos estavam lá me aguardando para assinar os papéis de responsabilidade. Durante três anos foram assim: Seokjin meu vice, Yoongi vice do meu vice. Isso tudo porque a diretora não foi capaz de escolher só um, e acabou nos dando total poder sobre todas as turmas do primeiro, segundo e terceiro ano, A, B e C, todas as classes.
Mas não se engane, não era algo fácil. Vez ou outra recebíamos denuncia de bullying, preconceito, denúncias de homossexuais que eram espancados fora da escola apenas por sua orientação sexual, alunos negros que se sentiam excluídos dos esportes, porque a escola tinha pessoas de outros países também, então, era para sermos modelo de diversidade, mas nada era tão bonito quanto mostravam na propaganda escolar na tv.
E aquilo chegava a ser nojento.
Claro que a diretora fazia o que podia, suspendendo, expulsando alunos que agiam dessa forma, não só os alunos, professores também, como foi um dos casos que havia acontecido recentemente meses atrás, quando finalizamos o trimestre.
Ela ajudou a processar um de seus professores, que havia agido de forma inaceitável.
Josh era o nome do aluno negro que havia denunciado um professor asiático, que se negava a ensiná-lo por puro racismo. O garoto havia falado comigo um dia antes dizendo que estava tendo problemas com a matéria e que não sabia o que fazer. Me lembro até de ter achado estranho porque normalmente os professores sempre nos davam brechas para que pudéssemos tirar dúvidas, e até mesmo chegavam a nos explicar novamente em outro momento para não nos prejudicar, mas foi só ele contar a situação que eu havia entendido tudo.
E o meu coração ficou apertado por sequer ter pensado naquela possibilidade. Era uma realidade triste e cruel demais, mostrava o quanto a nossa sociedade estava longe de ser perfeita, sendo que dentro da nossa própria escola onde deveria ser um lugar puro, de aprendizado fácil, existia esse tipo de pessoa que se achava melhor do que os outros, apenas para tentar impor sua autoridade sobre elas.
Nojento.
Mas no fim, a justiça foi feita e o professor de biologia foi expulso e está respondendo um processo, no qual os pais de Josh, que são brancos, gays, e ricos, estão movendo céus e terras para que aquilo não passe despercebido. Afinal, temos que mostrar que isso é um absurdo e que não deve voltar a acontecer.
Por essa, o professor não esperava.
Em todas as escolas existe isso, e muitas vezes a gente nem sabe. Mas cabe a nós alunos ajudarmos da forma que pudermos, porque preconceito não é algo para ser tolerado, e a educação e a forma como a pessoa foi criada não deve ser usada como motivo para defender mal caráter e pessoas machistas, de má índole.
Precisamos fazer a diferença. Precisamos ser a resistência.
🏀
Jimin:
|• Hwasa, eu vou com você a noite para o treino de basquete falar com Jungkook, certo? Me espere na entrada do colégio às 19h, acho que essa hora eles já têm finalizado. ✓✓ 13:51
— Ele aceitou ir comigo — a voz da garota era baixa enquanto mandava uma mensagem de áudio em meio a quadra de vôlei. — Eu acho que seu plano vai dar certo, amigo. Te conto como foi, amanhã. — e ela finalizou o áudio, vendo a mensagem ser visualizada no mesmo segundo.
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