04 - quando você cuida de alguém


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Park Jimin
( Vestiário da escola )

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Vocês já notaram que sempre que ficamos a sós com uma pessoa que não gostamos, ou com alguém que simplesmente a existência não é tão importante ao nosso ver, o silêncio fica insuportável?

Pois é, parece que dá até dor de cabeça.

Nós até tentamos olhar para o teto, para as paredes, para o chão, ou para qualquer lugar que não seja o dito cujo, só que bom, nunca adianta nada porque parece que os nossos olhos gostam de nos trair, e aí sempre acabamos olhando demais, só que sem querer. Há até explicação para isso.

A explicação óbvia é que: não queremos estar ali. Mas não é como se o destino se importasse com o que de fato queremos ou não, então fica sempre nisso. Vamos ter momentos, sim, que não desejamos, mas isso faz parte da nossa existência e de quanto o universo nos odeia. E eu só estou falando sobre isso, por que nesse exato momento, o universo resolveu me odiar como nunca odiou antes.

Já haviam passado três horas desde que eu havia chegado no vestiário. Meu relógio de pulso marcava exatamente meia noite, e vejam só, foram horas de silêncio e calmaria, coisa que eu jamais imaginaria passar visto que estava com o cara mais tagarela e chato da escola. A chuva estava cada vez mais forte lá fora, e o frio que fazia ali naquele ambiente molhado era indescritível. Nunca me arrependi tanto de sair sem um casaco quente, mas sobre o capitão..

Ele estava imóvel.

Jungkook era de fato um garoto que eu nunca conseguiria entender, mesmo se eu tentasse. Eu sei que ele gostava de irritar as pessoas, brincar na maioria das vezes em horários inoportunos, sair quebrando a escola quando estava no tédio, mas o que eu realmente não entendia de verdade, era porque de uns dias para cá ele havia aumentado as minhas doses de irritação diária. Porque você sabe, ele não é uma pessoa fácil de lidar, mas ele também nunca ficou no meu pé por tanto tempo. Tipo, ele me irritava um dia ou dois por semana, mas de três semanas consecutivas pra cá ele estava direto no meu pé.

E não, não foi por causa do trabalho porque isso a professora passou não faz nem vinte e quatro horas direito, certo? Isso tudo começou antes disso, e eu sentia que estava vendo Jungkook mais do que o normal logo que ele sempre dava um jeito de esbarrar em mim nos corredores, ou acabava puxando assunto na sala como se eu realmente quisesse lidar com suas brincadeiras. Mas veja bem, esse não era o problema. As brincadeiras dele comigo nunca foram pesadas, era sempre algo bem idiota que me fazia revirar os olhos de vergonha alheia. Mas ainda assim, ele estava estranho.

O que poderia ter acontecido do nada?

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Pátio da escola
( 1 semana antes )

A terceira aula havia chegado ao fim, então, eu, Seokjin e Yoongi resolvemos que iríamos pela primeira vez em muito tempo comer com o resto dos alunos na cantina da escola.
Por sermos líderes de todas as salas no ensino médio pela manhã, acabamos sempre comendo na própria sala ou na sala dos monitores para não termos que nos meter na briga que sempre existia quando todos eles estavam juntos.

Eles literalmente vivem brigando por qualquer coisa. Principalmente por causa das divisões da escola, que não acontecem obviamente só aqui. Toda escola tem seus grupos de famosinhos e desconhecidos. E eu, felizmente, sempre fiz parte daqueles que ninguém conhecia, mas ainda assim, era famoso por passar vergonha.

A divisão era bem simples na verdade, e quando chegamos na cantina, isso era bem nítido já que todos ficavam separados.

Primeiro tinha o time de basquete, claro. Era composto por Namjoon, Taehyung, Hoseok, Kai, Jackson, Sehun, Yugyeom, e claro, o capitão que é o Jungkook. Entre eles existiam também o Taemin e o Chanyeol, mas esses dois viajaram desde o início do ano e ainda não voltaram. Fora que também tinha todos os reservas, que provavelmente eram no total de quinze alunos.

Enfim, muita gente.

Depois tinha o time de vôlei, que era composto por Hyejin, Moonbyul, Yerin, Yuna, Seulgi e Seungwan. Fora claro as outras seis garotas que faziam parte da reserva.

Todo mundo sempre ficava junto na hora do intervalo.

Fora isso também tinha os caras da natação, do xadrez, do clube de dança, as líderes de torcida e também da matemática avançada. Céus, eram vários grupos divididos em um lugar só. Mas veja bem, não era sempre que tinha brigas por território, acredite, porque querendo ou não, todo mundo sabia que o time de basquete da escola era de fato o mais popular visto que chamava a atenção de várias escolas e até a mídia, e tinha mais investimento que qualquer outro projeto por ser levado a campeonatos e nacionais.

Mas os garotos do time eram bem problemáticos, típico de adolescente mimado que quer atenção. E era por isso, que a maioria das brigas começavam. Eles soltavam piadinhas, e os outros respondiam. E assim, voava leite de banana e milk shake na cara dos alunos. E adivinhem só a quem chamavam? Pois é. Eu não tenho um segundo de paz.

Só que naquele dia em questão, eu e os meninos não tínhamos tido tempo de fazer algo pela manhã e levar para comer lá, logo que todos os relatórios dos alunos estavam tomando o nosso tempo. Então, tomamos coragem e entramos na cantina no intuito de pegar algo para comer, e correr dali, só que bom, obviamente não foi o que aconteceu.

Quando passamos pela as mesas, logo conseguimos ver a bagunça que era na parte do pessoal do vôlei, e também do time de basquete que como sempre discutiam algo que nunca iríamos entender. No colo de Jeon Jungkook estava Nayeon, que também era "capitã" das meninas líderes de torcida. E daí você já tira, que os famosinhos saem com famosinhos, e é assim que as coisas funcionam por aqui.

— Tem uma mesa vaga ali — Yoongi constatou assim que chegamos próximos as bandejas — A gente pode sentar lá, não vejo problema.

— Não vê problema agora, mas tenho certeza que quando começar a briga você vai querer correr — rindo, Seokjin falou enquanto pegava a sua maçã de cada dia. Ele de fato tinha razão, aquilo viraria uma baderna.

— Depende do humor de Jeon Jungkook hoje — falei terminando de colocar tudo na bandeja, e voltando o meu olhar para onde estava o capitão do time. Ele estava me olhando. — Espero que ele não arrume confusão hoje.

— Ele está te encarando desde que a gente entrou — Yoongi falou baixinho como se contasse um segredo. — E eu não acho que isso seja bom.

— Já faz duas semanas que ele resolveu me dar essa atenção extra — eu dei os ombros, seguindo agora para a mesa que era a única vaga no refeitório. — Não é como se me incomodasse verdadeiramente. Deixa ele tentar me irritar, hoje eu estou muito paciente para retrucar qualquer tipo de coisa que ele inventar.

Certo, isso foi uma epifania.

Não existia um momento sequer que eu conseguisse replicar o capitão sem me irritar no processo. Mas ao longo desses três anos eu já estava tão acostumado, que quando não acontecia, eu ficava realmente surpreso.

Não sei, mas quando imagino outra escola, também vejo alguém assim que sempre iria implicar com o resto da turma. E bom, na minha tem ele claro, não podia ser diferente.

— Bom, eu mesmo não tenho mais paciência com nenhum do time de basquete. — Seokjin falava enquanto mastigava a maçã, agora sentado junto a mim na mesa. — Namjoon semana passada resolveu que seria uma boa ideia colocar suco artificial no bebedouro. Eles parecem que tem cinco anos de idade, incrível.

— Acho que alguém de cinco anos não faria algo assim — Yoongi falou, enquanto tomava um suco de caixinha. O canudo brincava em seus lábios, e seus olhos estavam na mesa do time, parecendo curioso com o que estava acontecendo por lá. — Mas eu sinceramente não falo mais sobre isso, inclusive disse para a diretora. Ela sempre me chama quando o Taehyung ou o Hoseok criam problemas. Eu acho que provavelmente ela tenha separado uma quantidade para tomarmos conta.

— Geralmente ela me chama quando Namjoon, Kai e Jackson criam problemas — agora também olhando para a mesa dos atletas, Seokjin ditou um pouco pensativo.

— Então está explicado. — falo assim que compreendo a situação. — Ela só me chama quando Sehun, Yugyeom, e Jungkook criam seus shows.

— Isso é um pouco inteligente da parte dela, mas ainda assim, irritante. Não é como se a gente fosse conseguir parar eles. — bom, Yoongi estava certo.

Se ela, que é a diretora, tinha todo o suporte da parte pedagógica, fora o contato com os pais dos alunos, e o corpo docente, não conseguia, quem dirá eu que não sei nem como cuidar de mim mesmo.

— Mas o fato é.. — Seokjin começou, agora levando a atenção até mim. — Jungkook continua te olhando. Então, se cuida que hoje você é o alvo.

— Como sempre. — respondi contra gosto, e respirei fundo antes de virar e olhar para a mesa dos jogadores. Jungkook realmente ainda me olhava, mas eu realmente não poderia fazer nada. Se ele queria olhar, então olhasse. — Eu vou ao banheiro. Espero que quando voltar, nós possamos ir até a diretoria falar sobre isso. De um tempo pra cá, ela tem me chamado muito e isso causa todos aqueles relatórios.

— Já estava pensando nisso. — Yoongi declarou, enquanto mastigava algo. — Vou dizer que se isso não diminuir, eu me demito.

— Ela chora. — Seokjin sorriu sem humor. — Você realmente é o único que coloca aqueles dois na linha. Me surpreendo porque quando falo eles não me escutam. Mas parecem realmente escutar você.

Fiquei de pé sem dar mais atenção a aquele assunto, e fui em direção ao banheiro que ficava ali mesmo na parte central da cantina. Normalmente não usamos qualquer banheiro da escola, porque líderes de turma e monitores tinham os seus próprios banheiros que ficavam no mesmo corredor da sala da diretoria. Mas como já estávamos ali, e o corredor ficava um pouco longe, resolvi que seria uma boa ideia ir ali mesmo, afinal eu só iria lavar as mãos e dar uma olhada rápida no meu rosto, coisa de cinco minutos, não iria demorar.

Só que bastou eu entrar no banheiro e ficar de frente ao espelho, para eu ouvir a porta se abrindo dando a entender que havia entrado alguém.

Bom, se fosse um alguém qualquer estava numa boa, não é? Mas quando olhei para o lado, dei de cara com Jeon Jungkook me olhando como se tentasse decifrar todos os meus pensamentos. Ele tinha muita cara de pau. Cruzou os braços frente ao peito, e deu um sorrisinho ladino que esses três anos me ensinaram muito bem o que significava.

Era um sorriso de flerte.

Aí agora é a hora que você me pergunta: Jimin ele não é hetero?
Bom, é o que ele diz não é? Mas eu realmente acho que ele só faz isso para me irritar, então claro que não levo a sério.

— Oi meu doce.. — a voz dele era extremamente baixa e irritante. Sinceramente eu já desisti de fazer ele parar de me chamar assim. — Tava com saudades..

— Jungkook, para de palhaçada e me diz logo o que você quer. — falei rápido e voltei a olhar para o espelho, tentando internamente criar paciência para não o agredir, mas sabemos que isso não era possível né? Eu chamaria o Seokjin pra fazer.

— Poxa Minie, por que está me tratando assim, hum? Não sentiu a minha falta?

— Jungkook você está no meu pé todo dia. Por que eu sentiria falta?

O capitão bufou fingindo uma falsa irritação, e deu passos para dentro do banheiro, fechando a porta atrás de si e parando de frente a mim, tentando me intimidar.

— Olha pra mim. Ficar falando com alguém sem contato visual é falta de educação, meu doce. Não te ensinaram isso?  — a mão dele se aproximou do meu rosto, mas ele pareceu notar o que iria fazer e parou no meio do caminho.

— Jungkook, o que você quer? — agora o olhando, suspirei audível e cruzei os braços esperando que a resposta viesse, mas o capitão do time de basquete apenas se aproximou ainda mais, cortando a distância e invadindo o meu espaço. A cara dele de galanteador era insuportável.

— Você está tão bonito hoje..

Sorri com a fala dele, porque céus o que ele estava fazendo? Me elogiar para ele é algo normal, não é novidade nenhuma, já que ele falava sobre meu cabelo, minhas roupas, meu perfume, todos os dias quando tinha a oportunidade. Mas dizer que estou bonito, tão próximo assim, e olhando nos meus olhos..

— Você jurou que era hétero, Jungkook.

— Sou hétero, não cego.

Soltei um sorrisinho sarcástico, e vi eles prender os lábios com os dentes. Jungkook era mesmo alguém indecifrável. Quando eu achava que o entendia, ele me vinha com mais essa.

— Acho bom você se afastar, porque se alguém entrar aqui e ver você assim tão próximo.. — falei amansando a voz, até que a última frase saísse como um sussurro. — Vão achar que você não é hétero.

Parecendo notar a proximidade em que estávamos, Jungkook olhou para baixo e viu que seu peitoral estava quase encostado no meu, e aquilo foi o suficiente para que ele desse dois passos para trás, mas não foi o suficiente para ele tirar aquele sorrisinho oblíquo do rosto.

— Espero te ver mais essa semana, doçura. O seu cheiro é gostoso. — a voz dele era grave e extremamente sugestiva. Típico de um cafajeste de novela mexicana.

— Para com isso e volta para a sua namorada, vai.

— Isso é ciúmes? — as sobrancelhas arqueadas, mostrava claramente o deboche em suas palavras. Ele era tão cínico.

— No dia que eu sentir ciúmes de você, eu mudo de país, Jungkook. — voltei a atenção novamente ao espelho e terminei de arrumar o meu cabelo, sendo observado ainda de perto por Jungkook. Ele não parecia disposto a sair.

— Ok, então vou deixar você aí. Espero que passe o dia pensando em mim. — eu o olhei, e ele piscou pra mim, colocando as mãos nos bolsos da calça, dando passos até a porta para finalmente sair. — Ah.. — ele falou, sem ao menos se virar. — Falei sério sobre o seu cheiro. Ele é doce igual a você, por favor use mais vezes.

Quando ele saiu, eu olhei para mim mesmo no espelho, tentando entender o peso das palavras que ele havia usado comigo naquele instante. De três semanas para cá ele mudou drasticamente na forma de agir comigo e eu não fazia ideia do porquê.

— O que você realmente quer, Jeon Jungkook?

O questionamento foi feito ao breu, mas eu sabia que se Jungkook queria algo, estava longe de me contar. Não que isso fosse importante pra mim, não é isso. Mas eu de fato gostaria de saber, o que eu havia feito para ganhar toda essa atenção extra.

Vestiário
🏀

O silêncio era incômodo, mas o que mais me incomodava nesse momento, era o fato de Jungkook estar dormindo enrolado em uma toalha molhada, sentado em um dos bancos próximo aos armários. Claro que já havia se passado um tempo considerável que estávamos ali, e ele havia treinado a noite toda, porém como alguém conseguiria dormir naquela situação?

Primeiro porque estava frio, segundo, estamos presos e não sabíamos a hora que iríamos sair, terceiro, porque ele estava completamente sem roupa, e quarto, a primeira razão. Estava realmente frio.

E foi pensando nisso que eu voltei a olhar pra ele.

Ora, se eu que estava vestido com roupas secas estava com frio, quem dirá ele que estava com uma toalha molhada enrolada na cintura, sem camisa, e com o tronco ainda um pouco molhado pelo os fios de cabelo que deixava escorrer.

Então como ele poderia dormir?

— Jungkook? — o chamei para pedir que ele viesse ao colchão. Ele havia encontrado um cobertor fino para mim, só que com certeza precisava mais do que eu naquela situação, todavia ele não me respondeu. — Jungkook? — aumentei um pouco a voz dessa vez, só que ainda assim ele não me respondia. Continuava parado, da mesma forma com as costas encostadas no armário, parecia sereno, o que era estranho. — Jungkook? — novamente falei seu nome, mas continuava tudo do mesmo jeito, silêncio absoluto como se não estivesse realmente me ouvindo.

Comecei a estranhar o fato que ele estava dormindo tranquilamente em meio a tudo aquilo, e resolvi levantar e ir até ele para saber se estava tudo bem. Mas aí, foi quando eu cheguei perto o suficiente, que vi suas bochechas coradas e seus lábios roxos, mostrando nitidamente o quanto ele estava sentindo frio.

— Não acredito, ele não disse nada!

Levei automaticamente a minha mão até a sua testa, e só então pude sentir o quanto ele estava quente, e caras, ele realmente estava muito quente, acho que devia estar no mínimo com 40° de febre e não tinha nada que ele pudesse tomar.

— Jungkook? Jungkook, acorda. — bati devagar em seu rosto, e vi ele formar um bico enorme, resmungando coisas desconexas provavelmente delirando pela febre. — Jungkook, eu preciso que me ajude a tirar essa toalha molhada que está na sua cintura. — apertei as suas bochechas, balançando levemente para ver se ele despertava e nada. Ele parecia realmente mal. — Olha, eu vou procurar uma toalha seca por aqui, acredito que tenha uma em algum lugar, e aí você vai precisar se levantar um pouco para que eu tire essa que está aí, certo?

Obviamente ele não me respondeu.

Deixei ele quieto por um instante, e comecei a mexer em todos os armários que felizmente estavam abertos, buscando qualquer coisa que ajudasse. Acabei encontrando duas toalhas, e as separei as colocando no banco. Fui atrás de mais algum cobertor, ou mais colchonetes que desse para arrumar ali no chão, mas infelizmente não tinha mais nada.

Ele teria que deitar comigo, ou eu teria que passar a noite inteira acordado.

Soltei o ar que prendia e resolvi que aquilo não era hora para me preocupar com esse tipo de besteira. Ele estava doente, e eu precisava ajudar. Esse era o ponto.

Me aproximei então e levei novamente a mão a sua testa, tentando medir a temperatura para saber se havia piorado, mas estava basicamente a mesma coisa, nada havia mudado.

— Jungkook? — chamei enquanto pegava as toalhas e colocava ao lado dele para ajudar quando fosse fazer a troca, e só aí eu vi ele abrir os olhos devagar. Pareciam estar pesados. — Jungkook, olha, preciso que me ajude, tudo bem?

— J-Jimin?

— Shiu, não fala. — coloquei ambas as mãos nas costas dele, o puxando um pouco para frente, até que ele não estivesse mais encostado todo desajeitado naqueles armários frios. Ele precisava ao menos ficar de pé por alguns segundos, precisava me ajudar. — Eu vou abrir essa toalha que está na sua cintura, e você vai ficar de pé para eu tirar ela de você. Depois, você vai aguentar firme até que eu passe outra seca do mesmo jeito que essa está agora, entendeu?

Jungkook pareceu pensar sobre aquilo visto que seus olhos continuavam semi cerrados e ele olhava fixamente para mim. Sua boca ainda roxa estava meio aberta, e ele parecia respirar com dificuldade.

— Mas eu estou sem-

— Eu sei. Isso não é problema agora.

Ele molhou os lábios já secos, e fechou os olhos suspirando alto, confirmando lentamente com a cabeça entendendo a gravidade do que estava acontecendo. Ele estava queimando em febre, e morrendo de frio. O quão ruim isso poderia ser?

— Olha, você está queimando em febre, e eu estou morrendo de frio. Se a gente conseguir trocar essa sua toalha, eu consigo te colocar ali nos colchonetes e te enrolar com aquela coberta.

— Aquela coberta não vai me esquentar, você sabe.. — sua voz estava como um fio de tão baixa, e seus olhos continuavam fechados. Era como se ele estivesse se esforçando para falar, e continuar acordado. Aquela noite realmente não poderia ficar pior.

— Eu sei que não vai. — constatei o óbvio. — É por isso que eu vou tirar a roupa e deitar do seu lado.

Ok, eu sei, parece uma idéia bem idiota se pararem para pensar. Mas veja bem, isso realmente funciona, e fizeram até um estudo sobre isso para comprovar o óbvio. Porque, se Jungkook está queimando pela febre, e eu estou tremendo pelo frio, isso iria me ajudar não é? Sim. Mas também ajudaria a ele, já que o contato corporal o esquentaria. Então, de fato era a melhor opção e eu não tinha tido nenhuma outra ideia que pudesse ajudar nesse caso.

Por isso, eu iria ajudar como pudesse. Mesmo que eu precisasse tirar a roupa nesse processo.

Jungkook pareceu levar um tempo para entender o que eu havia dito, mas quando entendeu, abriu os olhos devagar até que estivesse me encarando brevemente. Mas ele não disse nada. Apenas esperou os meus movimentos, e o que eu iria fazer para que pudesse me ajudar.

— Tá, vamos lá. — fiquei agora entre as suas pernas, observando atentamente para caso ele tivesse alguma franqueza e viesse a cair. — Eu vou abrir a toalha, certo? — o capitão confirmou lentamente com a cabeça, e fechou os olhos esperando que eu desse o próprio passo, e bom, assim eu fiz.

Me inclinei um pouco sobre ele que ainda permanecia sentado, e abri a toalha, levando uma ponta para cada lado, deixando ele livre da peça. Olhei para o lado nesse momento, porque senti minhas bochechas queimarem por ter o carinha pelado ali na minha frente, mas não demorei muito, precisava ser rápido para não piorar a situação. Com isso, deixei a toalha seca já apostos e aberta ao lado dele no banco, e o observei momentaneamente para ver se suas expressões mudaram. Nada, ele permanecia do mesmo jeito.

— Vem, Jungkook.. preciso que levante rápido. — falei agora levando ambas as mãos aos seus cotovelos com a intenção de ajudá-lo a levantar, mas ele era pesado, realmente precisava da ajuda dele. — Jungkook, preciso tirar essa toalha molhada debaixo de você e colocar essa seca. Por favor, se esforce, vamos.

Ele soltou um gemido baixinho quando fez esforço para se endireitar, mas não demorou a levar as mãos até os meus ombros para ter apoio.

— Vem, segura em mim.

Como um impulso que precisava, Jungkook pareceu me ouvir já que um segundo depois consegui fazer força e ficar de pé devagar.  Senti seu corpo inteiro tremer logo que apoiei minhas mãos em sua cintura para que ele ficasse de pé em minha frente, e é claro que o frio ficou pior já que agora ele estava sem nada.

— Calma, vou te cobrir.

Ele permanecia de olhos fechados, ainda corado pela febre, e parecia fazer uma força absurda. Com isso em mente, peguei a toalha rapidamente um pouco desajeitado, e a abri, a colocando por trás do corpo dele, para só depois puxar as duas pontas para frente, uma de cada lado de seu corpo, o cobrindo parcialmente até que conseguisse perder o pano em sua cintura.

Olhei para baixo apenas para prender o pano de vez, e vi ele dar uma risadinha nasal. Até em uma situação daquela ele não deixava de ser debochado, céus.

— Nunca pensei que ficaria pelado na sua frente, nessa situação, Park.

— Para de falar- Espera. — levantei a cabeça e olhei pra ele, vendo quando ele também olhou para mim. — Quer dizer que você tinha pensado em outra situação?

— Shiu, você disse que eu não podia falar.

Hum.

Neguei rapidamente e o ajudei a ir até os colchonetes para que eu pudesse o cobrir com o único cobertor que tinha ali. E ele não lutou contra, estava cansado demais pelo esforço. Quando ele finalmente deitou, eu peguei o cobertor e o enrolei, deixando ele parecendo um sushi, todo fofinho e confortável, mas aí vi ele abrir os olhos como se esperasse algo.

— Deite logo.. — ele falou baixinho. — Seus lábios estão roxos e você está tremendo.

— Eu vou deitar. — confirmei decidido, e vi ele me encarar. Parecia curioso. — Vou tirar a camisa e a bermuda, e você não vai me tocar, entendeu?

— Impossível. Esse colchete é minúsculo, meu doce. Precisamos ficar de conchinha pra isso funcionar.

— Eu sou a de fora.

— Não.

Acabei rindo pela birra do cara, porque convenhamos, quem em sã consciência discutiria algo naquele momento? Mas ele estava de fato falando sério, então, dei os ombros sem me importar de fato com aquele tipo de besteira. Afinal, a gente morreria de frio se continuasse com aquela conversa que não chegaria a lugar nenhum.

Com isso, removi a camisa rapidamente e a coloquei no colchonete para que eu usasse de apoio na minha cabeça. Fiz o mesmo com a bermuda, e não demorei a me colocar debaixo da coberta com Jungkook, porque bom, ele estava me olhando e aquilo só me fazia sentir mais vergonha.

— Isso não vai funcionar assim, doçura..

— Jungkook, fica quietinho.

— Eu estou sentindo o chão frio embaixo de mim, você precisa virar ou apoiar a cabeça no meu peito. — a fala do jogador me fez tossir igual a um tuberculoso. O que porra ele estava querendo fazer? — Para com isso, eu estou falando sério. Você precisa encostar em mim, pra poder ficar quente e eu poder esquentar também.

— Jungkook, eu não vou me virar.

— Então, deita aqui ó. — a sua mão livre saiu de baixo dos lençóis, apenas para ele passar pelo peitoral, mostrando onde eu deveria colocar a cabeça. — Tudo bem, não vou reclamar.

Olhei pra ele com a maior cara de surpresa da minha vida, mas ele pareceu não ligar para isso. Ele estava tranquilo, mas ainda parecia estar com frio.

— Eu vou virar, e você.. — falei o olhando. — Controla essa sua mão, entendeu?

— Para de ser chato, eu estou doente!

Neguei rapidamente, e me virei para o lado direito sentindo o espaço aumentar entre nós. O frio também aumentou consideravelmente já que eu havia me afastado dele repentinamente, mas não demorou nada para que eu pudesse sentir o seu peitoral encostado nas minhas costas, e seu braço envolvendo a minha cintura, enquanto as suas pernas roçavam nas minhas.

— O que você está-

— Te esquentando.

Cristo.

Não que eu pudesse reclamar, estava quentinho daquela forma. Mas.. o capitão de basquete estava me abraçando.. estávamos em uma conchinha e eu era o de dentro.. como isso aconteceu? Eu só havia ido falar sobre o trabalho.

— Eu preciso que você fique quietinho e imóvel, meu doce. — ele sussurrou rente ao meu ouvido, e eu senti todos os pelos do meu corpo se arrepiarem pelo contato quente.

O que eu estava fazendo da minha vida?

— Por quê?

— Você tem a resposta.

Virei a minha cabeça devagar, até que eu pudesse encontrar seu rosto, esse que quase se colou ao meu. Ele parecia com sono, mas estava com um sorrisinho na cara como sempre, era inacreditável.

Voltei à posição inicial, e relaxei sob os seus braços visto que não havia nada que eu pudesse fazer além de dormir. O relógio marcava uma hora da manhã, então significava que ainda iríamos passar boas horas ali, abraçados e grudados sem ter escolha. Era isso, não tinha o que fazer.

Vez ou outra eu sentia seu nariz roçar na minha nuca, e ouvia ele dar a desculpa de que era por que estava com o nariz gelado. E assim seria o resto da noite.

Abraçados e quentinhos, coisa que eu nunca imaginei na minha vida que aconteceria.

Eu queria dizer que aquele contato era horrível e que eu estava me sentindo desconfortável, mas a verdade é que por mais estranho que fosse parecer, eu estava feliz por ser Jungkook ali. Talvez se fosse outra pessoa eu não estivesse tão confortável da forma que estava, e ele me fazia sentir bem, mesmo que a situação não fosse das melhores. Era estranho? Sim, mas não tinha por que negar, estar nos braços de Jungkook naquela noite congelante e estranha, não era tão ruim quanto eu pensei que seria.

Agora era só esperar alguém aparecer, e nos tirar daquela situação. Porque, eu tinha a estranha sensação de que depois que saíssemos do vestiário, nada mais seria como antes.

E foi entre as mãos de Jungkook me esquentando, e seu nariz resvalando na minha pele, que eu acabei fechando os olhos brevemente sentindo o cansaço me atingir.

Por quê eu pensaria nas consequências depois, afinal, não era como se fossemos nos apaixonar em uma noite.

🏀

os capítulos estão ficando maiores rs

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