03 - quando você fica preso com alguém


Não esqueçam do voto, por favor. Ajuda muito, de verdade. ⭐

Park Jimin
( 5 horas antes do incidente no vestiário )

🏀

Uma das coisas mais valiosas que aprendi com a minha vó, e que levo comigo desde a adolescência até agora no ensino médio — e provavelmente vou levar por toda a minha vida — é: o amor não deve ser entregue a qualquer um, e também, não deve ser confundido com a paixão.

Porque claro, isso gera problemas inimagináveis.

Uma coisa é você se sentir atraído por alguém, outra é você estar perdidamente apaixonado. Já outra é você amar desesperadamente como se o mundo inteiro estivesse a ponto de acabar, outra é você dizer que odeia a pessoa, sendo que não é bem isso que acontece. Mas tudo isso, tem sua hora certa de acontecer e com a pessoa certa. Bom, a verdade é que de vez em quando precisamos errar, certo? Mas o amor mesmo, aquele que faz a gente perder o fôlego todas as vezes que vemos a pessoa, borboletas no estômago, e tudo aquilo que é clichê, geralmente acontece uma vez. E caramba, deve ser incrível.

Falo que deve ser porque nunca aconteceu comigo, mas não vou ser hipócrita e falar que nunca me apaixonei. Já aconteceu um ano atrás, mas talvez não fosse para ser, ou talvez não fosse recíproco, não sei. Mas, fico ansioso com a possibilidade de um dia o amor chegar e fazer com que eu fique bobo igual a aqueles caras de dorama que fazem as meninas ficarem vermelhas e tudo mais.

E só estou falando tudo isso, por conta da Hwasa.

A Hwasa é a menina mais inteligente do colégio. E fora isso, ela ainda é gentil, meiga, e bem estressadinha. Quando cheguei aqui ela já estava, e felizmente de cara me tornei amigo dela, antes mesmo de fazer amizade com Yoongi e Seokjin. Ela nunca me deixou sozinho, nem um dia sequer, e sempre me ajudou com os deveres que eu não entendia, ou com qualquer outra coisa que eu precisasse. De fato, ser amigo dela foi uma das melhores coisas que me aconteceu nesses três anos.

Só que, o que acontece é que como todo melhor amigo que temos, Hwasa acha que sabe tudo sobre mim. E com isso, ela acaba querendo me proteger até de mim mesmo muitas vezes. Só que bom, eu normalmente não me abro fácil com ninguém, e por mais que ela seja a minha amiga, paixão, amor, ou sentimentos no geral, nunca fizeram parte de alguma conversa que já chegamos a ter. Porque sobre isso, geralmente não falo com ninguém, e não é como se eu quisesse mudar isso, mas ela insiste em querer me fazer viver e conhecer coisas novas, como se fosse algo obrigatório de se fazer antes da formatura.

—Larga de ser chato, garoto. — agora estávamos na entrada da escola, e ela mastigava um chiclete enquanto prendia o cabelo para poder ir até o treino de vôlei. Não era como se ela estivesse errada, eu de fato estava fazendo uma birra enorme. — O meu plano é perfeito, e tem o total de zero defeitos. Cabe a você fazer dar certo.

— Eu tenho medo de entrar naquele vestiário, Hwasa. É escuro, imundo e sem falar que tem um monte de garoto pelado. Por Deus, quem quer entrar ali?

— Jimin, não vai ter ninguém lá, eu já te disse. Jungkook é o único que fica depois do treino para tomar banho e tal, ele só vai sair depois que fizer isso. Vai estar completamente sozinho. — as mãos dela não paravam quietas com ela explicando, e explicando como que fosse a coisa mais divertida do mundo. Ela adorava esse tipo de situação, não era como se eu não a conhecesse. — E vocês vão estar sozinhos..

— Pode parar. — cortei a fala dela pois eu já sabia onde iria chegar. Ela sempre batia na mesma tecla. — Você sabe que ele é bem idiota. Fora que não é meu tipo, e além do mais é hétero. Você me odeia?

— Eu não disse nada, você que tirou conclusões precipitadas. — parecendo inocente, ela olhou para o chão e depois voltou o olhar para mim, com a carinha de anjo que ela sempre fazia quando lançava o próprio veneno. Quem não conhece, que a compre. — Mas assim.. conversa direitinho com ele, tá? Se ele não quiser fazer, você vai embora e faz sozinho. Mas só tenta antes, não custa nada.

Acreditem, ir no vestiário da escola, à noite, enquanto não tem ninguém lá além do Jungkook tomando banho, não fazia parte dos meus planos, e nem parecia a melhor opção agora em uma sexta feira. Mas não era como se eu tivesse outra escolha, eu precisava fazer aquele capitãozinho metido a besta notar que precisa de fato me ajudar ou então ficaria sem nota. Porque eu não queria meu nome na boca de todo mundo da escola, mas isso é o que iria acontecer se eu deixasse ele sozinho já que é dramático e fica se fazendo de inocente.

— Tudo bem, eu venho à noite falar com ele. — suspirei audível, e pisquei algumas vezes incomodado. Aquela não parecia a melhor ideia, mas não era como se eu tivesse outra. — Por favor, me espera aqui na entrada certo? Nove da noite já estarei aqui, mas caso demore eu aviso por mensagem.

— Você não pode demorar, ele pode sair e eu não vou poder impedir. Tem que vir uns dez minutos antes do treino acabar, e aí a gente espera lá fora até que todo mundo saia.

Certo. Essa de fato era a pior ideia que alguém poderia ter algum dia.

Mas era só uma conversa, certo? Obviamente nada poderia dar errado, afinal, nós só precisaríamos ir até a minha casa e terminar o que ainda nem havíamos começado. Ele tem moto, então mesmo que fosse tarde, ele poderia ir tranquilo para casa, não era como se ele não ficasse a noite inteira na rua sem fazer absolutamente nada.

E com esse pensamento, acabei deixando a escola para ir em direção a uma pequena lanchonete que havia em frente. Seokjin e Yoongi sempre paravam lá para comprar um café antes de ir para casa, e eu precisava contar para eles que havia resolvido vir depois do treino só para conversar com Jungkook, porque se eu não contasse, seria briga na certa. E bom, a reação deles obviamente não foi uma das melhores.

— Você está ficando louco? — Seokjin perguntou com a sua típica cara de tédio enquanto segurava agora um copo de café quente que eu jurava que voaria na minha cara. — Você realmente quer ficar sozinho com ele dentro dessa escola?

— Não é como se ele fosse me bater, não é?

— Ele bate em todo mundo. — Yoongi falou baixinho, dando mais atenção ao próprio copo do que à conversa.

— Vocês estão exagerando. Jungkook não faria isso, ele só é chato, não é violento.

— Não é violento? — explodindo na gargalhada como se estivesse ouvindo a melhor piada de todos os tempos, Seokjin quase se engasgou com a própria saliva enquanto tentava equilibrar o copo e o corpo ao mesmo tempo. Ele realmente estava rindo de verdade.. — Jimin, ele já brigou com a escola inteira. Você sabe disso por que é líder da turma, quantas vezes ele já foi suspenso?

Oh. É. Ele tinha um ponto.

— Você sabe que ele nunca fez algo do tipo comigo, né? Ao contrário. Ele sempre me ouviu, apesar de usar deboche noventa por cento das vezes, então conversar de boa sobre o trabalho me parece até uma tarefa bem simples. Falo rápido, e dou o fora o mais rápido possível também.

O plano da Hwasa realmente não parecia ter falhas. O capitão estaria sozinho, então não é como se ele não fosse me escutar, ele realmente precisava porque não tinha para onde correr.

— Bom, se você quer acreditar nisso, tudo bem. Só cuidado na hora de voltar para casa, porque vai ser tarde e eu tenho certeza que ela não vai te esperar — Yoongi falou e deu os ombros, tomando o restante de café, ele parecia estar incomodado com alguma coisa, mas não havia dito nada demais.

— Vai agora? — Seokjin também tomou tudo e ficou de pé jogando o recipiente no lixo. — Vamos juntos, preciso ir na casa do Namjoon ficar com o Yeonjun.

— Você ainda toma conta do irmãozinho dele? — perguntei e vi Yoongi também ficar de pé, acompanhando nós dois. Ele permanecia em silêncio.

O que era estranho já que ele era bem falante.

— Só de vez em quando, eu tinha parado, né? Mas eu estava precisando do dinheiro pra uma coisinha, então voltei. E fora que o garoto me adora, então não é nenhum sacrifício.

— E o trabalho com ele? Você está conseguindo fazer? Ele parece inteligente. — enquanto conversávamos, atravessamos a rua e fomos em linha reta até o metrô. Poderíamos ir a pé, mas tomar conta de três turmas acaba sugando toda a nossa energia no fim das aulas.

— Ele sai toda noite e chega bêbado. Deve estar com alguma garota, ou com os amigos por aí. Então, acabamos fazendo na escola mesmo. Acho que domingo já terminamos.

Concordei sorrindo e voltei a minha atenção a Yoongi, que segurava a mochila com as duas mãos frente ao peito, parecia olhar para o nada já que não estava prestando atenção na conversa.

— E você, yoon? Hoseok está ajudando em alguma coisa?

Parecendo acordar dos próprios devaneios, ele me olhou assustado por um instante, mas tossiu levando uma das mãos a boca tentando disfarçar seu desconforto sobre o assunto. Não conseguiu, mas eu não iria perguntar o motivo.

— Ele ajuda.

E foi isso.

Seokjin olhou pra mim, e negou com a cabeça como se pedisse para que eu não tocasse mais no assunto, mas eu de qualquer forma não iria. Não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que se fosse algo de extrema importância, ele me contaria. Então, deixei ele em sua bolha sem o incomodar por enquanto.

🏀

Quando anoiteceu, a minha avó me ligou avisando que dormiria na casa de sua irmã, minha tia-avó de coração, que sempre me mandava roupas e bolos de chocolate. Ah, eu sentia falta da casa dela. Tinha cheiro de flor de cerejeira com um toque de bolo de limão, um dos meus favoritos, mas não era como se eu pudesse ir até lá.

A família dela me odiava.

Bom, a verdade é que eu não sei ao certo o porquê disso tudo. Mas segundo a filha dela, era porque o sangue falava mais alto ou algo assim, e como por parte sanguínea eu não fazia parte da família dela, eles acabavam me excluindo, deixando apenas a minha avó por dentro de suas vidas. Mas ainda assim, eu agradecia.

Eu e a minha vó não tínhamos ninguém, então acabava que éramos muito sozinhos, e por mais que nós tivéssemos um ao outro, havia momentos que ela precisava conversar com alguém, ou até mesmo sair para levar um ar fresco. E ela estando lá com eles, para mim estava tudo bem. Assim, ela não se sentia sozinha, e eu bom, tenho meus amigos claro.

Normalmente em um dia como hoje eu chamaria Seokjin ou Yoongi, ou os dois para dormir aqui em casa já que eu odeio ficar sozinho durante a noite. Mas como os meus planos envolviam um certo jogador de basquete, eu não poderia chamar porque poderia atrapalhar o trabalho e Jungkook era muito chato, então preferi não arriscar e dormir sozinho aquela noite. Traria ele comigo aqui em casa, faria o trabalho, e depois que ele fosse embora eu colocaria algum filme ou iria dormir logo para passar o tempo, mas o importante mesmo era finalizar aquela porcaria de uma vez.

Não aguentava mais ficar atrás de Jeon Jungkook.

Pois veja bem, você sabe que ele é um doido que só vive querendo chamar atenção, não é? Então, sempre que eu dava isso a ele, ele começava seu joguinho de provocação, e inclusive eu acho que foi por isso que até agora nós não tínhamos de fato começado essa pesquisa. Ele parecia gostar da atenção que eu dava, e aquilo era ridículo, mas parecia ser um fato.

Olhando agora para o relógio, notei que faltavam trinta minutos para às nove da noite. Não demorei muito para sair visto que a Hwasa me ligava de cinco em cinco minutos perguntando se eu já estava perto.

Ela parecia ansiosa.

Acabei não perguntando o motivo, eu queria mesmo era ir logo e voltar logo pois quanto mais tempo eu poupasse, melhor. Assim, fechei a porta e chamei um táxi para não correr o risco de ser assaltado no caminho. As ruas estavam escuras e vazias naquele horário, e se eu tenho medo de dormir sozinho onde moro, quem dirá andar nas ruas perigosas desse bairro.

Não demorou mais que dez minutos para chegar de frente a escola. E antes mesmo de descer eu já conseguia ver Hwasa na entrada, vestindo ainda seu uniforme do time de vôlei, tomando um sorvete calmamente enquanto me aguardava. O céu estava nublado e a noite estava fria, com certeza iria chover.

Constatando o óbvio, paguei o motorista e saí do carro no mesmo instante, me arrependendo de não ter vestido um casaco quente já que meus braços estavam nus devido a camiseta. A sorte é que eu não demoraria ali dentro, e possivelmente voltaria com Jungkook.

— Finalmente! — Hwasa gritou assim que me viu voltando a sua atenção para o sorvete. — Está muito frio, acho que vai chover.

— E você tomando sorvete aqui do lado de fora. — sorri pequeno e neguei repetidamente. Ela estava com a maior cara de menina travessa, certeza que ia aprontar.

— O treino terminou mais cedo, e já faz uns dez minutos que todo mundo foi embora. Jungkook está no vestiário sozinho nesse exato momento, então, é melhor você correr.

— Só se for pra casa né?

Certo. Meu estômago embrulhou.

Você sabe bem como é aquele garoto idiota, não sabe? Tenho medo de ir até lá e ele simplesmente me ignorar e sair andando como se nada tivesse acontecido. Só que bom, essa é a coisa mais calma que ele poderia fazer, ainda tinha coisas como gritar, ficar irritado, quebrar a quadra de basquete por puro ódio.

Minha mente está dizendo que ele não faria isso, mas sei lá né, Seokjin me deixou traumatizado e com um medo absurdo, apesar de que Jungkook parecia um cachorro de pequeno porte. Latia o dia inteiro, mas no fim era só isso mesmo. Não era um perigo iminente.

— Para de tentar estragar o meu plano perfeito e vai logo, garoto! — ela exclamou já começando a perder a paciência que a restava. — Você entra lá e pede pra ele te levar em casa. Ele está de moto, e aí chegando lá vocês fazem o trabalho.

— Já mudou o plano? — gargalhei vendo ela revirar os olhos e continuar comendo a casquinha do sorvete despreocupadamente. Ela estava confiante demais, e até meio que ajudou a me sentir um pouco mais seguro. — O plano era eu sair puxando ele.

— Você é pequeno comparado a ele, não vai conseguir. — agora foi eu que revirei os olhos, cruzando os braços logo em seguida. Quem ela pensa que é? Eu sou alto sim, ele é exagerado.

— Eu vou indo antes de ter um surto de ódio, sua ridícula.

Quase cuspindo o sorvete, Hwasa teve a coragem de gargalhar após me ouvir. Mas não é como se eu tivesse ficado para ver ela continuar me difamando, porque eu dei as costas e fui em passos firmes para dentro da escola, decidido mais do que qualquer outra coisa que iria encontrar Jeon galinha Jungkook, e forçá-lo a fazer finalmente o trabalho que tanto queria.

Tudo bem que não seria lá essas coisas fáceis né? Logo que aquele cara parece fazer as coisas ao contrário. Mas sim, eu iria acabar com a marra dele, porque se for para eu fazer sozinho, melhor levar a nota sozinho não é?

🏀


Quando passei pela porta do vestiário, pude ouvir nitidamente o som do chuveiro ligado e a voz de alguém cantarolando uma música que conheci sendo Dynamite, de um grupo que havia esquecido o nome, mas que estava sendo um sucesso.

"Então vou acender tudo como dinamite, woah"

Tapei a boca com a minha destra contendo a vontade de sorrir por notar que a música literalmente lembrava ele. Afinal, ele é uma bomba relógio né? Mas nem era disso que a letra falava, se falasse de um cara explosivo, com certeza seria ele.

Acabei olhando para os lados e notando que ele havia deixado as roupas em cima da pia, e estava no outro cômodo onde ficavam os banheiros. Decidi então esperar ali, até que ouvi ele falar alguma coisa que eu não havia entendido bem.

— Taehyung?

Ele chamou pela segunda vez, só que dessa vez um pouco mais alto.

Foi aí então que dei passos meios incertos, até a entrada dos banheiros onde ele estava para avisar que não era o Taehyung, antes que ele ficasse chateado com aquele silêncio já que ele chamava e ninguém respondia. Só que quando passei pela porta onde ficavam alguns armários e as divisórias do banheiro, escutei um barulho alto que era a porta se fechando como se alguém a tivesse empurrado com força, fazendo com que não desse para abrir pelo lado de dentro.

Dei um sobressalto pelo susto e me virei para olhar se realmente havia acontecido aquilo mesmo, e bom, não foi uma surpresa quando encontrei a porta trancada.

Fui até ela e comecei a bater e puxar desesperadamente como se a minha vida dependesse daquilo. Porque ora, vamos. Quem gostaria de estar preso naquela situação que eu estava? Preso em um banheiro com Jeon Jungkook, sabendo que suas roupas estavam do outro lado da porta, e que provavelmente ele já estava saindo do banho.

— Droga, droga!

Resmunguei sem nem perceber e continuei batendo, sentindo a cada segundo minhas mãos desistirem, porque nitidamente alguém nos queria presos ali dentro. E não é como se tivesse alguém ali dentro da escola naquele horário, o que significava que só estava eu, Jungkook e a pessoa que nos prendeu e que provavelmente havia ido embora para não ser pego.

Uma ótima noite de sexta feira.

— Mas o quê-

Ouvi a voz do capitão do time de basquete soar surpreso atrás de mim, e acabei me virando de supetão pelo susto. Mas veja só, me assustei ainda mais quando notei que ele estava enrolado apenas com uma toalha pequena da cintura para baixo, enquanto tinha os cabelos molhados e as bochechas vermelhas, que foram resultado do banho quente possivelmente.

— Fecharam a porta pelo lado de fora, Jungkook. Não tem como sair daqui.

Tentei falar devagar para não enrolar as palavras e mostrar o quanto eu havia ficado nervoso, mas acho que ele não entendeu nada, porque a sua cara se contorceu em surpresa, como se tentasse entender a situação.

Soltei o ar que nem sabia que segurava e fixei meu olhar em Jungkook que parecia confuso. Mas fui traído pelo os meus próprios olhos, quando acabaram deslizando aos poucos para baixo, até que eu notasse o que havia acontecido segundos depois.

A toalha que até então estava fixa na cintura do jogador, escorregou e caiu, deixando ele completamente sem nada ali, diante de mim.

Sem.

Roupa.

Nenhuma.

Senti as minhas bochechas queimarem no mesmo instante, não é como se eu não estivesse olhando né? E como se não bastasse a situação vergonhosa que estávamos, o sorriso travesso brincava nos lábios do descarado, deixando claro que ele estava se divertindo com a situação.

Um grande filho da puta.

Quando comecei a raciocinar direito e notei que havia perdido vários segundos, olhando para o mesmo lugar, que no caso um ponto fixo bem.. indiscreto digamos assim, eu acabei me virando rápido quase tacando a cabeça na porta, e me amaldiçoando por não ter ficado em casa naquele dia em questão.

Era incrível como eu atraia confusão, sem nem tentar fazer isso.

Ouvi uma risadinha debochada atrás de mim, e quase grunhir de ódio por ter me colocado naquela situação. Hwasa com certeza já devia ter ido embora, e para melhorar eu havia esquecido o meu celular em casa porque estava descarregando, e não havia motivos para que eu trouxesse, não é? Pois é, eu estava errado.

— O que está fazendo aqui, meu doce?

Grrrrrr.

— Levanta essa toalha, Jungkook.

— Já levantei, gracinha.

Pronto. Os apelidos estavam ficando cada vez piores.

Acabei me virando devagar para constatar o que ele havia falado, e de fato ele estava coberto. Bom, pelo menos com o pedaço de pano que podia.

— O que acha que vim fazer aqui? Vim te buscar para a gente fazer o trabalho. — falei alto demais sem nem perceber, pois a adrenalina já tomava conta de todo o meu corpo. Era horrível estar trancado sem previsão de quando iria sair. Não tinha como saber, mas provavelmente seria às seis da manhã quando alguém aparecesse.

— Não lembro de ter marcado com você — Jungkook cruzou os braços enquanto tinha o peitoral exposto e bem marcado pelo os seus músculos. Não que eu estivesse prestando atenção nisso, mas ele tinha a vline marcada, deixando amostra na curvatura onde estava presa a toalha.

— Hoje é sexta feira, Jungkook. Precisamos entregar na segunda, você tem noção disso? — parecia que já fazia um ano que eu falava sobre a mesma coisa. Todos os dias eu acordava falando nesse trabalho, e passava o resto do dia falando. Eu próprio já estava cansado.

— Estou mais preocupado agora em saber como vamos dormir aqui, porque não é como se tivesse uma cama aqui dentro, e para ser sincero, já estou ficando com frio. — ele apontou para a toalha e voltou a me olhar como se dissesse o óbvio, afinal, já estava fazendo muito frio lá fora quando entrei, e possivelmente estava chovendo visto que por uma pequena janela de vidro que havia ali dentro, dava para ver raios cortando o céu. Uma droga.

— Tem outra toalha aqui dentro? Você vai ficar doente se continuar usando essa ensopada. — meus olhos varreram o lugar onde estávamos e eu consegui ver alguns pontos importantes. Como por exemplo, tinha armários, um banco de madeira longo, e alguns daqueles colchões que usam para exercícios físicos. Bom, não tinha muita coisa. — Deve ter algo dentro desses armários que ajude.

— Está preocupado comigo, Park?

Voltei a olhá-lo, e vi ele com os olhos semicerrados parecendo muito confortável com a situação. Não parecia preocupado nem nada, estava completamente tranquilo, coisa que não era comum de se ver.

Nem parecia que estava trancado dentro de um vestiário, onde não tinha água e nem comida. Bom, tinha água da pia, mas ainda assim, nada higiênico.

— Se você ficar doente, não vai fazer o trabalho, Jeon.

— Não vou fazer de qualquer jeito.

Com a fala ele sorriu grande mostrando seus dentes salientes e seu nariz enrugado, deixando a sua cara um pouco mais infantil do que já era. Como podia um cara tão másculo e forte ter esse rostinho de bebê?

— Não vamos conversar sobre isso agora, Jungkook. Precisamos dar um jeito de sair daqui. — me virei novamente para a porta, e comecei a empurrar já que abria para fora, só que uns dois minutos inteiros fazendo isso foram capazes de me mostrar que não adiantaria nada.

Estávamos presos e só me restava aceitar aquilo. Agora como iríamos passar a noite naquele frio, e naquela situação é que eu não sabia.

Felizmente sábado pela manhã tem o treino de basquete e era certo aparecer alguém por ali, apesar de que não seria uma situação agradável, porque provavelmente iriam entender errado e a escola inteira iria ficar falando sobre isso. Ótimo, uma atenção completamente desnecessária.

— Enquanto você tenta sair daqui, eu vou arrumar algum lugar para a gente dormir. — ele falou manso e eu pude ouvir ele mexendo em algo atrás de mim. Me virei para olhar, e vi ele tirando os colchonetes de cima dos armários com um pouco de dificuldade por estar segurando a toalha, mas com êxito, acabando por jogá-los no chão. — Eu acho que deve ter uma coberta por aqui em algum lugar, de quando a gente foi acampar...

— Você não acha que eu vou dormir aí, com você né?

— Você já assistiu Meteor garden? — ele me olhou por um instante e voltou a dar atenção aos armários despreocupadamente, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

— Bem a sua cara gostar daquilo. — comentei e fiz uma careta por lembrar do rumo da história que havia sido contado naquele drama. — Mas respondendo a sua pergunta, sim eu assisti, por quê?

— Lembra da cena onde os principais ficaram presos no meio da neve, em uma casa pequena que só tinha um cobertor para esquentá-los?

Bom, talvez. Deixe ver se eu me lembro. A moça lá havia se perdido, e o carinha que ela gostava a levou para um tipo de cabana que não tinha nada além de um pano fino para ajudar. Estava fazendo muito frio, e ambos não podiam fazer nada, a não ser tirarem a roupa, para se esquentarem e… espera!

— Jungkook? O quê você..

Vi ele sorrir soprado enquanto puxava um cobertor não muito grosso de dentro de um dos armários. Parecia estar falando o óbvio já que me olhou e voltou a atenção para o pano em suas mãos. Inacreditável.

— Está fazendo muito frio, e você não está agasalhado. Eu estou usando uma toalha molhada, e ainda nem atingiu o momento mais frio da noite. Se a gente não fizer alguma coisa, vamos morrer congelados.

Olhei para o chão porque provavelmente era lá onde minha boca estava e fiquei alguns segundos pensando naquilo. Ele de fato estava falando sério, e o pior é que fazia sentido já que quando falamos, víamos claramente a brisa fria se misturando com o calor de nossa respiração. Com certeza o frio aumentaria, e com isso a minha vergonha sem fim.

— O que você está querendo dizer com isso, Jungkook? Céus, não entendo você garoto.

O capitão do time de basquete sorriu ladino e arqueou a sobrancelha possivelmente pronto para rebater o que eu havia falado. Mas antes que o fizesse, ele se aproximou, ainda segurando o tecido em mãos, parando de frente a mim com um olhar indecifrável.

— Estou dizendo que eu vou ficar quietinho ali sentado naquele banco, enquanto você fica sentado aqui nesse amontoado de colchonetes. E aí.. — ele amansou a voz, falando baixinho como se contasse um grande segredo. — Quando você notar que está morrendo de frio e que precisa de mim, você me chama que eu venho te socorrer, meu doce. Entendeu?

Ok, seria uma noite bem longa.

🏀

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top