O charminho de Mu Qing
O dia em si não foi muito diferente do usual: Feng Xin tomou café da manhã com Mu Qing, permaneceu no campo de arquearia e instruiu seus alunos até às seis da tarde.
O próprio retorno não teve nada de especial. Ele também não notou diferença alguma na casa quando chegou.
Ouviu um cantarolar suave do quarto. Sorriu, e andou na pontinha do pé para surpreender o marido. Espiou pela porta, e seu coração saltou no peito.
Mu Qing estava de frente para o espelho de corpo inteiro do quarto, apenas de cueca boxer. O cabelo estava húmido, e a cor preta contrastava com a extrema palidez de sua pele e combinava com suas pintinhas. Penteava as mechas longas e lisas com uma escova, e com a melodia que cantarolava, ele parecia uma pintura à óleo duma ninfa.
As orbes cor-de-mel deslizaram lentamente por toda a figura do marido, as bochechas rubras e o coração disparado como se fosse a primeira vez que o visse naquele estado.
Novas pintinhas apareceram na tez. Duas nas costas, uma no braço direito e mais uma no interior da coxa esquerda.
(Teve que segurar a vontade de mordê-las. Foi difícil. Era fofo demais para o seu coração aguentar.)
Arregalou os olhos. Perdeu o ar. Fitou a barriga do marido, piscando para ter certeza.
A barriga de Mu Qing estava mais cheia. Deslizou os olhos levemente, e notou pele saltando do elástico da cueca.
De repente, Feng Xin não conseguiu mais ficar apenas admirando. Entrou no quarto e, a passos largos, foi até o marido e abraçou-o por trás.
Mu Qing deu um pulinho de susto. Virou a cabeça levemente, uma sobrancelha erguida em confusão. O coração do castanho transbordou de ternura.
— O que foi, Amor?
Apertou seu agarre e deu-lhe um beijo estalado na bochecha.
— Eu me casei com a coisinha mais linda do mundo.
O moreno corou. A vontade de mordê-lo apenas aumentou. Beijou-lhe a bochecha de novo. Ele aconchegou-se mais no abraço.
— Você precisa tomar banho.
— Não quero. — Apoiou a cabeça sobre o ombro alheio e beijou-lhe o pescoço, o que o fez estremecer.
— Não foi uma pergunta. Vai tomar banho. Você 'tá todo suado.
— Hmmm ... — Resmungou, inspirando o cheiro do marido e sentindo seu corpo relaxar. — Depois 'cê deita comigo?
— A gente tem que jantar.
Grunhiu com um pouco de dramaticidade demais.
— A gente tem que namorar.
— A gente pode namorar no sofá, comendo, depois que você tomar banho.
Suspirou pesarosamente, derrotado. Mu Qing deu uma risadinha muito, muito adorável. (Feng Xin sentiu seu coração derreter feito manteiga.) Seu tom foi, no entanto, meio tímido e inseguro ao dizer:
— Eu pensei em pedir comida ao invés de cozinhar. O que você acha?
Sentiu seus olhos arderem com lágrimas de emoção. Deu mais três ou dez beijinhos em seu pescoço, e seu marido soltou mais risadinhas.
— Boa ideia. Pede tudo que você tiver vontade, ok?
O moreno brincou com o próprio cabelo, os lábios comprimidos, nervoso. Braços fortes e quentinhos apertaram o agarre em seu corpo. Quando enfim pareceu reunir coragem, perguntou:
— Pode ser sushi?
— Quantas barcas você quiser, e do que você quiser.
Assentiu lentamente. Respirou fundo, e voltou-se para o marido.
— Mesmo?
Uma mão foi de sua cintura para sua bochecha.
— Mesmo, Qing'er.
Assentiu de novo, mais confiante. Inclinou-se e deu um selinho no marido, longo o suficiente apenas para deixa-lo com vontade de mais.
— Vai tomar banho, então. — Cutucou-lhe o nariz com o dedo, o nervosismo substituído pela malícia. — Senão eu como tudo sozinho.
"Queria que você fosse capaz de fazer isso mesmo, Qing'er ..."
— Sim, senhor. — Revirou os olhos exatamente como o marido revirava, ganhando um tapinha estalado.
Beijou-lhe a bochecha uma última vez antes de se afastar. Pegou um pijama e foi até o banheiro, o sorrisinho bobo sempre presente.
Feng Xin e Mu Qing tinham cinco anos de casamento, mas se conheciam praticamente a vida toda. Agora, olhando para seu Amor e para sua relação com ele, o orgulho era inevitável.
Eles não brigavam mais – discutiam, sim, mas como um casal saudável. Eles procuravam o afeto um do outro e confiavam um no outro. Eles trocavam toques suaves e dividiam a cama toda noite.
E não era apenas isso.
Mu Qing não mais finge não ter fome. Mu Qing não tem mais medo de comer a parte da comida de alguém que ama sem querer e deixá-lo com fome. Mu Qing não mais sente que tem que pular refeições.
Mu Qing engordou. Ele agora tem gordurinhas e barriga e pede por comida quando sente fome ou vontade e isso deixa Feng Xin tão, tão feliz e orgulhoso ...
Feng Xin gastaria uma fortuna em comida de aplicativo com o maior sorriso no rosto se isso fizesse seu Amor feliz.
Ele tomou banho pensando na imagem da barriga cheia e nas gordurinhas nos flancos do marido. Seu sorrisinho bobo apenas aumentou, a ternura inundando seu ser.
Mesmo lavando o cabelo, foi breve. Vestiu cueca e bermuda e saiu do banheiro ainda enxugando o torso e a cabeça. Quase largou a toalha sobre a cama, mas lembrou de não fazê-lo no último segundo. Colocou-a de volta no suporte e correu para a sala.
Quando se mudaram para aquela casa, a decoração foi decidida principalmente por Mu Qing. Os móveis eram todos de madeira escura, as paredes claras e o chão dum porcelanato que imitava madeira. O sofá verde profundo estava completamente ocupado pelo moreno, agora com uma camiseta larga, que rolava pela Netflix da televisão.
O castanho parou bem na frente do aparelho, braços cruzados e expressão ladina. Mu Qing levantou uma sobrancelha.
— 'Tá se achando filho de vidraceiro?
Ele deu dois passos e subiu no colo do marido. Tirou o controle da mão dele, deixando-o sobre a mesa de centro, e deslizou as próprias até a cintura alheia. Notou um arrepio percorrer o corpo dele, e sorriu com isso.
— Praguinha. A gente não ia namorar?
Obsidiana encontrou o mel. Feng Xin perdeu o ar – como todas as vezes que seu Amor olhava-o olho no olho.
— Cinco anos de casamento e você continua tão desesperado por mim, Amor?
Borboletas fizeram a festa em seu estômago. Brincou com a barra da camiseta alheia, o rosto ardendo de leve.
— Eu nunca vou ter o suficiente de você, meu Amor. Nunca.
Mu Qing riu daquele jeito leve que ele quase nunca ria. Levou a destra até uma coxa do marido, e a canhota foi para o cabelo e puxou de leve. Quando seus rostos estavam bem pertinho, sussurrou:
— Que bom, Amor, porque você não vai se livrar de mim.
E ele engoliu o suspiro apaixonado de Feng Xin com um beijo.
O castanho literalmente derreteu sob o toque de Mu Qing.
Mu Qing mordeu seu lábio e inclinou a cabeça para ter um melhor ângulo. Feng Xin enfiou suas mãos debaixo da camiseta do marido e tomou-lhe a cintura, tendo as coxas arranhadas pelas unhas curtinhas dele.
Sentiu as gordurinhas sob seus dedos. Antes que conseguisse evitar, beliscou de leve. Mu Qing arfou. Feng Xin achou aquilo tudo esplêndido.
O moreno chupou sua língua. O castanho apertou a região de antes com vontade, colando mais seus corpos. Mais arranhões superficiais nasceram em sua coxa. A temperatura da sala pareceu subir ao menos dois graus.
Feng Xin explorou o abdômen do marido, procurando toda e qualquer carne fofa com a ponta dos dedos. Seu coração inchou e inchou de amor ao notar o quanto Mu Qing engordou desde a primeira vez que tocou nele daquela forma durante uma sessão de amassos.
— Q-que ... que mãozinha boba é essa, A-Xin? — Suspirou entre os beijos, a voz meio rouca fazendo coisas com a sanidade do castanho.
— Eu tenho a coisinha mais linda do mundo bem na minha frente. — Sorriu, beijando sua testa com carinho. — Não consigo só olhar. Quero tudo p'ra mim.
Mu Qing revirou os olhos com um esboço de sorriso, todo vermelhinho de vergonha. Feng Xin bebeu da visão, sedento por tudo dele.
— Que gay, A-Xin.
— Você é gay por mim.
— Touché.
O moreno ergueu mais o tronco para retornar onde pararam. Houveram mordidinhas no lábio e selinhos brincalhões antes de que a campainha soasse.
— Seja um bom menino e pegue a nossa comida. — Tirou uns fios castanhos do rosto alheio.
— Palavrinhas mágicas?
Recebeu um sorrisinho maligno e um puxão de cabelo.
— Senão, Amor ...
Não, Feng Xin definitivamente não gostou daquele tratamento. Magina. Jamais.
— Praguinha. — Resmungou, saindo do colo do marido com a maior má vontade do mundo.
— Babaca.
...
O casal comeu aproximadamente cem peças de sushi enquanto assistiam A Casa Coruja.
Mu Qing pediu todos os favoritos de ambos, e no lugar que mais gostavam de pedir. Mesmo com medo da fatura do cartão no fim do mês, a alegria de ver seu marido comendo algo que tinha vontade despreocupadamente foi inigualável.
Houve uma época em que discutiram o assunto quase todo dia. Mu Qing cresceu num ambiente de grande insegurança alimentar, e Feng Xin num de fartura. Mesmo com terapia, superar hábitos antigos e mentalidades de sobrevivência é deveras complicado.
Mas, agora, Mu Qing estava comendo. Porra, ele estava fazendo a festa. Ele estava engordando.
Observou o marido mastigar. Suas bochechas estavam inchadas com a comida, e chupava o molho dos palitinhos. Alguns fios ainda húmidos escaparam de seu coque bagunçado, emoldurando seu rosto.
Feng Xin catou seu celular e bateu uma foto. O barulho chamou a atenção do outro, e com as bochechas cheias, sua expressão confusa foi mortalmente adorável.
— P'ra quando eu não tiver mais vontade de viver. — disse, simples, e bateu mais uma foto dele. — Daí eu abro essas fotos suas.
O moreno grunhiu, enrubescendo. Largou os palitinhos e o prato que segurava antes de atacar o marido em busca do celular.
— HU DUH ISSU!
— NÃO! — Gargalhou, esticando os braços para impedí-lo. — EU PRECISO DE FOTOS SUAS P'RA SOBREVIVER!
O casal rolou no sofá, Mu Qing resmungando de boca cheia e Feng Xin rindo até ter dor de barriga. Houveram chutes, empurrões e berros.
— ME DÁ LOGO! — Quase ordenou ao enfim engolir.
— NÃO!
— FENG XIN!
O castanho conseguiu agarrar ambas as mãos do marido, prensando-o contra o sofá. Largou o celular no chão e usou a mão livre para acariciar o rosto que tanto amava.
Ambos estavam ofegantes, mas Mu Qing estava mais vermelho. A obsidiana de seu olhar fuzilou-o, e teve um arrepio gostoso. Riu-se.
— Brincar assim logo depois de comer bastante não é uma decisão sábia, Qing'er.
Ele bufou feito uma criança mimada.
Feng Xin o ama tanto ...
— O que eu posso fazer? Um idiota 'tá me stalkeando.
— Esse idiota só quer poder apreciar a beleza do amor da vida dele quando e onde quiser.
O moreno revirou os olhos.
— Eu me casei com um golden retriever.
— Há cinco anos e contando. — Exibiu o anel em sua canhota e piscou, sacana.
— Me beija logo, palhaço.
— Mi-ma-di-nho do caralho.
Antes que Mu Qing pudesse rebater, selou os lábios dele nos seus. Ouviu-o ronronar baixinho.
Desta vez, estavam menos afobados. Saborearam a boca um do outro com calma, e enquanto o interior delas estava geladinho por conta do sushi, o resto de seus corpos estavam muito quentes.
As mãos de Mu Qing se retorciam sob o agarre de Feng Xin, mas não fez qualquer esforço para livrar-se dele. A canhota do outro, então vagou livremente.
Tocou o queixo do moreno para conseguir um ângulo mais prazeroso. Dedilhou-lhe o pescoço e pressionou dois dedos sobre sua pulsação. Ela estava errática. Ambos perderam o ar por um segundo.
— Eu te deixo ansioso, Qing'er?
— Nos seus sonhos, Amor.
E Feng Xin beijou-o mais, sabendo que, de fato, ele não deixava seu Amor ansioso – pelo menos, não de forma negativa.
Escorregou a mão pelo peito e abdômen vestidos dele. Brincou com a barra da camiseta. Sorriu no beijo.
— Por que usar isso? 'Cê 'tava tão lindo sem ...
Ele também sorriu, uma sobrancelha erguida. Era uma expressão tão, tão sacana que deixou o castanho nervoso feito um adolescente apaixonado.
— P'ra te dar o gostinho de tirar ela você mesmo, Amor.
Era normal sentir tanta satisfação com uma resposta daquelas? Eles estavam casados, então- sim?
Enfim libertou as mãos do marido. Puxou a camiseta pela cabeça dele, e ambos exibiam sorrisos iguais. Tomou-o pela cintura, colando seus corpos durante mais um beijo.
Apertou a carne, maravilhado com como ela enchia suas mãos, e desejou que deixar marcas na pele. Mu Qing contorceu-se todo, puxando o cabelo castanho e arranhando sua nuca e Deus, que beijo gostoso. Feng Xin casou com a melhor pessoa do mundo e com o melhor beijo do mundo.
Falta de ar. Engasgaram, afobados, e o agarre de ambos afrouxou enquanto recuperaram o fôlego.
— Q-que obsessão é essa com a minha cintura?
— 'Tá mais gordinha. — Confessou numa respiração só, fascinado. — É gostoso de apertar.
Comprimiu os lábios. Sua expressão tornou-se quase acanhada, incerta.
— ... Você não se importa?
Seu coração apertou, apertou, apertou.
É claro que Mu Qing perceberia qualquer mudança de peso que tivesse. É claro que isso o deixaria inseguro, mesmo que apenas um pouquinho.
— Eu me importo com o seu bem-estar e felicidade. — Beijou sua testa com ternura. — O resto é resto. Você continua sendo a minha coisinha linda. Além disso ... — Encheu as mãos com a carne e apertou com vontade, arrancando um arfar surpreso do marido. — é mais do meu Qing'er p'ra mim.
Mu Qing assumiu uma expressão especialmente rara: toda aberta e amorosa, o sorriso bobo, as pupilas dilatadas ao máximo e o rosto rubro.
— Eu amo você.
— Eu também te amo, Coisinha Linda.
E eles se beijaram. E se beijaram mais. E se beijaram mais, mais, mais.
Não passaram dos amassos e das mãos bobas. Adormeceram no sofá, mesmo. Mu Qing reclamou da dor nas costas na manhã seguinte e Feng Xin, depois de uma boa gargalhada, fez uma massagem gostosa em seu Amor.
A barriguinha de Mu Qing cresceu mais um pouquinho com o passar dos anos, e as gordurinhas também. Feng Xin ficou mais e mais encantado com seu marido por isso.
Ele fez questão de beijá-lo e tocá-lo e afirmar para ele a todo momento o quanto tudo isso não o deixava nem um pouco menos atraente.
Porque é a verdade. Feng Xin ama a alma de Mu Qing, e não importa se ele ganhe ou perca alguns quilos. O que importa é o amor e o respeito entre eles, e que sua Coisinha Linda esteja bem e feliz.
Até porque aquela barriguinha e gordurinhas, em sua humilde opinião, são um charme à parte de seu Amor.
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