Capítulo 16

 𒁂Theo Albuquerque

Nunca fui muito bom quando se tratava de escolhas, pois elas poderiam ter consequências irreversíveis, mas caso não as tivesse feito tudo continuaria igual. Observava de longe Anabel brincar com um dos cachorros da nossa fazenda do interior. 

Nossa mãe chegou silenciosa tocando meu ombro esquerdo. Ela mais do que todos nos precisou de coragem ao renunciar a um casamento de quase trinta e cinco anos. Todo o processo jurídico foi cansativo para todos nós.

— Filho, tem certeza do que vai fazer? Estamos todos bem agora que estamos longe da cidade grande. — compreendia o que ela queria dizer, mas minha resposta continuava a mesma de antes.

— A senhora sabe o quanto esperei. Foram seis meses que parecem anos. — disse justificando minha escolha. — Eu não consigo mais, mãe. Durante meses tenho insônia e até mesmo pesadelos. Ficar recluso neste paraíso ajudou na minha recuperação, no entanto, não tirou Pamela dos meus pensamentos. Entendo quando diz que sou louco por não ter ido atrás dela, mas ambos precisávamos desse tempo.

Como aguentei ficar esse tempo inteiro sem contato? O contato não foi totalmente zero durante esses meses. Anabel continuou próxima dela, apesar da vergonha que todos sentíamos pelo que nosso pai fez com ela. 

Eu sabia que falavam de mim em suas conversas, contudo, preferia fingir que não sabia de nada. Me recusei trocar qualquer palavra que fosse com ela, não porque era um imbecil, mas porque não achava que ela merecesse se prender em um doente.

Quando sua cabeça insistir em dizer pra você desistir, ignore-a, não deixe de lutar devido aos tropeços. Grandes vencedores nascem da dor, fortalecem suas fraquezas e a vitória tão esperada chega.

Após uma breve conversa com minha mãe, adentrei nossa casa. Diferente de alguns meses atrás, não sentia mais dor ao caminhar. Passava despercebido por todos após me recuperar totalmente do meu problema no joelho. 

E a minha depressão? Bom, não posso mentir, ainda existia um pouco dela, todavia, não como anteriormente. Um dia estaria sem qualquer vestígio da sua passagem pela minha vida, tinha certeza disso.

No meu quarto terminei de fazer as malas. Minha irmãzinha bateu na porta antes de adentrar.

— Theo, estou torcendo por vocês! — disse ela, abrindo um largo sorriso.

— Vem cá, dar um abraço no seu irmão! — pedi, deixando as malas de lado indo em sua direção. Abracei com carinho uma das minhas maiores incentivadoras de que tudo acabaria bem. Ela me viu no fundo do poço, e assim como nossa mãe, acreditou na minha recuperação.

— Traz ela com você porque estou com saudades dela viu? — sugeriu quase implorando.

Trazê-la era uma das coisas que mais gostaria, mas isso tinha que ser o desejo de ambos. Não sabia se ela conversaria comigo ou se me mandaria embora.

— Não depende apenas de mim, Ana. Ela tem que ao menos escutar tudo que tenho para lhe dizer. — respondi, soltando minha irmãzinha.

— Claro que ela vai te ouvir! Ela sempre pergunta de você! Nem acredito que vocês vão se encontrar novamente. Pamela vai ter uma surpresa e tanto ao te ver tão bem.

Minha irmã falava com tanta certeza que me restou somente acreditar em cada palavra. Continuei com o planejado, com meu motorista seguimos para a capital, mas especificamente em direção ao litoral. Anabel disse exatamente onde minha ex fisioterapeuta estava curtindo seu final de semana, certifiquei-me obviamente de que ela estava sozinha.

Reservei um quarto próximo ao seu propositalmente. Ela havia conseguido um trabalho em uma clínica nova que uma de suas amigas decidiu abrir. Eu sabia de cada passo e escolha sua durante todo esse tempo. Não vou dizer que fiquei feliz em saber de alguns caras com quem saiu, porém, nunca foi nada sério.

Fui para aquela viagem seguro, pois não tinha como saber qual seria sua reação ao me reencontrar. Meus sentimentos por ela tinha que ser tão forte como pensei que fosse, para caso algo saísse fora do planejado. O que impediria dela me rejeitar? Nada! Mas era um risco necessário que precisava passar.

Quase sete da noite foi quando chegamos ao nosso destino, uma das primeiras coisas que fiz foi telefonar para minha irmã, em seguida me instalei no quarto. Busquei por informações de onde encontrar Pamela até que as obtive. Ela estava em algum lugar na praia. Tirei os sapatos e decidi caminhar pela praia até encontrá-la.

Meu coração estava guiando meus passos. A noite estava linda, o céu estrelado e a lua enorme. Abri três botões da minha camisa e continuei andando sem rumo certo. Não seria difícil encontrá-la porque a praia à noite estava bem deserta. Ensaiei novamente tudo que tinha para lhe dizer. Conversei comigo mesmo muitas coisas, entre elas, para não ser nenhum pouco grosseiro ou algo assim.

No momento em que finalmente a vi, o coração acelerou. Pamela estava em pé perto do mar. Foi fácil reconhecer suas poucas curvas em um vestido rosa rodado. Quem usa um vestido como aquele em uma praia? Ela, claro! Sem conseguir me conter, logo dei um jeito de lhe chamar atenção.

— Eu também adoro a praia à noite, principalmente agora! — afirmei, aproximando-me mais da minha amada. — Finalmente te encontrei, senhorita Campos!

Ela virou-se na minha direção. Seus cabelos soltos ao vento destacavam ainda mais toda sua beleza natural.

— Theo Albuquerque? — questionou, acredito que mais pra si mesma. Era eu mesmo bem em sua frente. Sorri enfiando as mãos no bolso da calça jeans que usava. — É você mesmo! O que faz aqui?

Sequer tive tempo de respondê-la, sua reação foi tão eufórica que não tive outra opção a não ser ir no embalo. Nos abraçamos forte, como se não quiséssemos que um de nós fugisse.

— Tenho tantas coisas para te dizer... — murmurei, emocionado. Tinha esperado muito para sentir aquele abraço. Tê-la nos meus braços parecia um sonho.

— Pensei que não quisesse me ver novamente. — comentou, possivelmente recordando do nosso último encontro desastroso, com o qual queria esquecer as partes ruins, deixando somente o que valeu a pena que foi nosso beijo.

— Desculpe ter demorado tanto para procurá-la. Tive medo e muitas outras coisas que não vem ao caso agora. — falei com o coração. Acariciei sua bochecha direita com meu polegar. — Você foi, e é, importante para mim. Graças a você consegui me recuperar com o pouco que aprendi de exercícios com você. Eu sei que você sabe que deixei de mancar e constou isso ao me ver aqui agora.

— Nunca perdi a fé da sua capacidade de vencer as dificuldades, Theo. — disse ela, tocando a ponta do meu nariz. — Parou de ser rabugento? Devo confessar que fiquei muitas vezes triste porque não quis mais conversar comigo, mas tentei compreendê-lo.

Aquele assunto era algo que mexia muito com ela, não precisei de muito para notar isso.

— Errei tentando acertar. Achei que o melhor para você era ficar longe de mim, mas olhe pra mim agora, não consigo ficar mais longe de você!

— Não estou entendendo. O que você quer dizer com tudo isso agora? — perguntou, segurando minha mão. — Pode me falar o que tem na cabeça? Como veio parar aqui?

Para responder suas perguntas e tirar qualquer dúvida da minha presença naquele instante, puxei-a pela nuca e tasquei um beijo em sua boca gostosa. Dei beijinhos por todo seu rosto em seguida.

— Respondi todas as suas perguntas? Eu quero você! Mas você precisa me querer também, não é mesmo?

Sua reação foi impagável, pulou em cima de mim, envolvendo seus braços no meu pescoço.

— Vou te mostrar o jeito certo de pedir alguém em namoro! — afirmou, beijando meus lábios e chupando-os. Segurei-a firme, dando passagem para sua língua que ansiava tanto pela minha.

Para quê mais palavras? Ela também me queria, a partir daquele momento foi a primeira vez que entrei em um relacionamento tão rápido sem ao menos fazer o pedido oficial. Aquela noite, com certeza, seria lembrada pelo resto de nossas vidas. 

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