Capítulo XXII
Já havia amanhecido um novo dia na Califórnia, o sol e o vento meio quente entrava sobre a janela do quarto – que provavelmente estava aberta. O canto do galo ecoava sobre a fazenda da família Zinavoy, anunciando que mais um dia começado. Na cama de casal para visitas, encontrava-se Elena deitada sobre a mesma acordada e pensando em algo profundo. Que no momento o pensamento não tinha nenhuma conclusão. Logo a mesma se levantou e seguiu para o banheiro, onde vestiu novas roupas, tomou um bom banho, saiu do banheiro e decidiu pentear o seu longo cabelo loiro escuro. Enquanto penteava o mesmo, se perguntava sobre onde Noah estava? Ela logo chegou numa imaginação de que ele estava na cozinha tomando café, mas logo descartou isso. Quando terminou de pentear os cabelos, calçou um dos seus três sapatos vermelhos e deixou o quarto, seguindo rumo à cozinha, ela passou por um corredor e logo chegou ao seu destino. Laura estava sentada folheando uma revista qualquer, quando Elena chegou radiante.
— Bom dia Laura!
— Oh... Bom dia, Elena! — A mulher respondeu com um belo sorriso. — Dormiu bem?
— Oh sim. Tive uma excelente noite! — Elena respondeu e pegou uma xícara que estava com outras sobre a bandeja. — Por acaso, a senhora viu o Noah por aí?
Laura parou de folhear a revista e pensou. Enquanto isso, Elena colocava um pouco de café na xícara.
— Bom, ele tomou café aqui nesta mesa e depois saiu com Freddie. Mas não demorou muito e eles chegaram. — A mulher disse e depois voltou o seu olhar para as imagens na revista. — Além disso, não tem nem quinze minutos que ele foi ao riacho aqui pertinho.
Elena bebericou um pouco do café e pegou uma fatia do bolo de chocolate – que fora feito no dia anterior – que por sinal, estava como se ele estivesse sido feito à dez minutos atrás.
— Ah sim! Noah é um rapaz muito eufórico. — A bailarina comentou. — Sempre gosta de fazer coisas divertidas demais!
Laura assentiu e sorriu.
— Ele sempre gostou de brincar com Stan, um amigo que morava aqui perto. Ambos se divertiam a tarde inteira brincando no riacho. — A mais velha disse com um sorriso encantador no rosto. — Ele dizia que quando crescesse iria ser marinheiro. Mas acabou se tornando um doutor.
Elena sorriu e bebericou mais um pouco do café.
— Noah é um anjo para mim. — A espanhola disse. — Um verdadeiro anjo!
Laura sorriu e assentiu. Logo depois, Anthony adentrou na cozinha apressado e parecia querer dizer alguma coisa.
— Mamãe, há um homem lá fora procurando por Elena. — Anthony disse ofegante. — E ele não está nada gentil.
Elena arregalou os olhos e logo ficou nervosa. Quem poderia ser? Matthew? Schneider? Ernesto? Essas questões ainda estão sem resposta.
Laura, Elena e Anthony seguiram até o segundo andar da casa, onde a vista de lá era mais ampla e muito bonita. Eles olharam para baixo e logo os olhos dos mesmos puderam ver Matthew, ele estava lá parado e parecia impaciente e furioso.
— Meu Deus! — Elena sussurrou. — Não pode ser.
— Você conhece esse homem?
Elena engoliu a seco.
— Sim! Ele era meu ex-namorado e nós iriamos se tornar noivos, porém deixei ele e conheci Noah. — Elena disse apresentando medo. — Agora ele vive me mandando bilhetes com ameaças e está procurando por vingança.
— Misericórdia! — A mulher mais velha disse em tom de impressionada. — Irei expulsa-lo daqui. Venha comigo!
— Está bem!
Elena seguiu em direção a saída.
— Anthony fique aqui por favor.
— Mas porquê, mamãe?
— Por questão de segurança.
Anthony assentiu. Laura deixou o local acompanhada de Elena, ela seguiram até a porta, onde a mais velha olhou pelo olho mágico e viu Wormwood bufando de raiva. Elena e ela soltaram um suspiro e decidiram abrir a porta, passaram pela mesma e posicionaram-se em frente à Matthew.
— O que queres, homem? — Laura perguntou em um tom frio. — Vamos diga logo, não tenho o dia todo, diga?
Matthew soltou um suspiro de raiva.
— Eu quero ela! — Ele apontou para a bailarina. — Pois, o seu sobrinho tomou ela de mim. Aquele idiota.
Laura bufou de raiva e Elena deu um passo a frente da mulher.
— Eu não quero mais viver com você! Entendeu? EU NÃO QUERO MAIS! — Elena gritou. — Você sempre me maltratou e por isso que EU ODEIO VOCÊ!
Laura puxou a bailarina de volta para onde estava e ela se acalmou um pouco.
— Agora, peço que você desapareça daqui e nunca mais retorne. Entendeu? — a dona de casa pegou uma vassoura que estava ali pertinho. — Suma daqui, seu idiota.
Matthew sorriu maldosamente e deu um passo à frente.
— Minha senhora, por acaso eu tenho cara de quem tem medo de vassoura? — o herdeiro debochou. — Eu sou um verdadeiro homem de caráter. Coisa que o seu sobrinho, Noah, não tem.
Laura sorriu maliciosamente.
— Uma boa notícia que você me deu, insignificante senhorio.
Ela largou a vassoura e virou-se de costas para Wormwood, olhou para cima e juntou as duas mãos perto da boca.
— Anthony, filho! — Ela o chamou. — Filho, Anthony.
— Senhora? — O garoto respondeu da janela de cima e com a cabeça para fora. — O que a senhora deseja?
— Jogue o brinquedo do seu pai para mim, vamos jogue logo.
— Está bem! — ele sumiu da janela e logo voltou para a mesma com um cesto. — Aí vai ele descendo.
Anthony soltou o cesto, que caiu e Laura pegou o mesmo. Depois virou-se para Matthew.
— Eu também não tenho medo de cestos, minha senhora.
— Oh não! — Ela disse e depois sacou um revólver que estava no cesto. — Agora vamos ver se você tem medo disto aqui!
Wormwood se assustou.
— Vamos levante as mãos, seu idiota. — Laura ordenou. — Vou lhe dar apenas dez segundos para desaparecer daqui. Começando agora.
Matthew mudou a sua expressão de assustado para a de raiva. Laura começou a contar os números em voz alta.
— Você vai me pagar, Elena. Você e Noah irão me pagar.
— Três, quatro, cinco... Sete! — dizia Laura. — Nove, nove e meio.
— Seus idiotas!
Wormwood correu e entrou dentro do carro, rapidamente deu a partida e deixou a fazenda às pressas.
— Pronto, agora aqui ele não irá lhe infernizar! — Laura disse largando o revólver no cesto e vendo o automóvel de Matthew seguir viagem. — Aqui ele não virá mais.
— Obrigada, Laura. Muito obrigada.
Tinham se passado cerca de uma hora desde o ocorrido, Elena e Laura já se encontravam fazendo o almoço, enquanto os homens faziam algumas atividades por ali. Elena cortava um tomate sobre a pia da cozinha onde tinha uma janela, de lá, ela pôde ver Noah brincando com o cachorro da família, Polar. Quando ela percebeu que o mesmo parou e sorriu para ela, depois jogou um beijo. Elena sorriu e fez o mesmo. Alguns minutos depois, todos estavam se deliciando com o almoço.
[...]
Berlin
Base de submarinos alemães
14 horas e 30 minutos
Quase toda a América, Irlanda, Inglaterra e o Canadá havia reagido ao desastre do Queen América condenando a Alemanha. Vários jornais anunciavam a tragédia e muito deles se desencontravam nos números dos mortos. Mas cerca de 200 corpos foram resgatados durante os dias 20 e 21 de outubro, mas a maioria dos outros corpos se perderam no mar azul. O New York Times dedicou uma matéria inteira ao desastre, possuindo fotografias das sepulturas coletivas. As tragédias pessoais dos sobreviventes logo viraram propaganda de guerra, a Alemanha logo foi riscada da lista de nações civilizadas. Enquanto tudo isso acontecia, na Base de submarino alemães, a população de Berlin não estava nada contente pelo ataque ao navio Queen América. Muitos estavam revoltados contra o comandante da base, Drexler, que poderia ser o culpado de tudo.
— Senhor, há uma multidão de manifestantes lá fora. — disse o tenente do comandante. — Todos estão chamando o senhor de idiota e cruel.
O comandante – que anotava alguma coisa em uma folha de papel – olhou assustado para o tenente e pensou um pouco.
— Idiota e cruel? — Drexler disse. — O que raios esses manifestantes nojentos querem de mim?
O tenente deu de ombros, em sinal de não sei. Drexler levantou-se da mesa e seguiu até a janela, olhou para baixo e avistou uma multidão com cerca de 50 pessoas juntas em protesto.
— Esses protestantes não tem outra coisa para fazer? — o comandante indagou observando a multidão. — A não ser vir me infernizar?
— Creio que não, senhor!
O comandante saiu do seu local e caminhou um pouco pela sala, depois voltou à sua mesa, onde avistou um jornal avisando sobre o naufrágio do Queen América. Ele – num surto de raiva – pegou o jornal amassou o mesmo e atirou a bola de papel no lixeiro ali por perto.
— Maldito Queen América, irá estragar a minha reputação de uma vez por todas. — Drexler seguiu até a sua cadeira e passou a mão direita no cabelo. — Dengler!
— Senhor!
— Quero que mande uma mensagem ao comandante Gustloff, avise-o que quero a presença dele no dia seguinte de sua chegada à Berlin. — o comandante ordenou. — Além disso, ordeno que ele traga o diário de bordo dele como requisitado.
— Sim senhor, comandante. — Dengler saiu do local rapidamente.
— Assim espero resolver logo esse assunto.
[...]
Não se passava das 23 horas e 30 minutos, quando a lua cheia brilhou no alto do céu escuro e pintado de pontinhos brancos – simbolizando estrelas brilhantes. Perto da fazenda da família Zinavoy, havia uma pequena montanha e lá tinha uma árvore de maçã, até que dois jovens se apresentaram como presentes debaixo da mesma. Noah e Elena se sentaram debaixo da árvore, com as estrelas como testemunhas, eles se encostaram na árvore onde Elena pós a cabeça sob as pernas do doutor. O lampião – que ajudara eles a chegarem naquela árvore – brilhava debaixo das folhas e galhos daquela macieira.
— Quero que saiba desde já que eu... Te amo! — Noah disse. — E que se um dia eu partir, nunca irei te esquecer e que sempre lembrarei como o amor de minha vida.
Elena sorriu e pôs a mão na bochecha do lado direito do rosto de Zinavoy, onde fez um carinho no local.
— Eu também nunca te esquecerei Noah! Nunca mesmo! — a bailarina sorriu apaixonada. — Eu te amo e... Te quero!
Ambos abriram sorrisos e ali selaram um belo beijo romântico, calmo, cheio de desejo e nenhum pouco selvagem. Se separaram com falta de ar, sorriram e voltaram a encarar uma paisagem que apresentava diversas luzes passando ao horizonte. Essas luzes eram carros e caminhões que atravessavam a rota 66* da Califórnia, além de uma única luz que seguia ao lado da rodovia, aquela estrada eram trilhos e uma Bavarian S/6* seguia fumegando pelos trilhos. Aquilo era um perfeito espetáculo para o casal, que por sinal, não se importavam se passava das onze e meia da noite.
— Onde deve estar mamãe e papai uma hora dessas? — Elena indagou. — O que eles estão fazendo? Onde estão morando? Para onde foram?
Noah sorriu.
— Ah não Elena! Você vai fazer questionários de novo? — Ele zombou. — Só hoje você já fez três vezes esse mesmo questionário. Que foram um pela manhã, um pela tarde e mais um agora.
Elena gargalhou.
— Tem razão! Preciso parar com esses questionários.
— Assim espero, querida.
O silêncio se prevaleceu por alguns longos segundos.
— Você já soube que Matthew veio até aqui?
O doutor arregalou os olhos.
— O quê? Não pode ser! — Ele se levantou retirando a cabeça de Elena de suas pernas. — Não, isso é balela.
Ele caminhou em círculos.
— O que esse idiota veio fazer aqui? O que ele queria com você ou comigo?
Noah estava em um misto de sentimentos.
— Acalme-se querido, ele veio apenas conversar comigo.
— E você conversou com ele?
— Claro que não! — Elena disse cruzando as pernas. — Laura expulsou ele com uma vassoura, porém ele disse que não tinha medo de uma vassoura, até que Anthony apresentou à ela um cesto com um revólver. Ela ameaçou Matthew, que correu daqui e até agora não apareceu mais.
Noah ficou impressionado e começou a rir.
— Sério mesmo que tia Laura ameaçou ele com um revolver que estava num cesto?
— Sim! Inclusive eu nunca pude imaginar Laura fazer aquilo.
— Meu Deus!
Noah abriu um sorriso fraco. Elena fez sinal para ele se deitar ao lado dela. Assim se fez, ele deitou e ela pôs a cabeça no peitoral dele.
— Eu te amo, Noah Zinavoy!
— Eu te amo, Elena Torres!
Os lábios dos mesmos se entrelaçaram um ao outro, formando um beijo doce e romântico, sem muita selvageria.
¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤
1.*A Rota 66 foi uma rodovia que cruzava cerca de sete estados americanos e fora aberta em 1929, a rodovia era uma estrada perfeita para viajantes, que tinham acesso à pequenas cidades e vilarejos. Na década de 1980, a rodovia foi fechada e substituída pela Interestadual 40, que passou a dominar aquela área. O fechamento da rodovia causou grandes dificuldades financeiras nas cidades que precisavam da rota 66 para viver. Até hoje, a rodovia continua fechada e é apenas usada por motoqueiros e visitantes.
2.*Bavarian S/6 foi uma locomotiva a vapor da Nuremberg Steam Railway. Fora construída em 1906 e lançada em 1907, a Bavarian possuí 60 metros de comprimento e 03 de altura, ela alcança uma velocidade de 154.5 mph (100 km/h). Ela teve o seu triste fim em 1920, sendo desmontada em 1921.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top